segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

[#1201][Jul/97] THE BOMBING ISLANDS (ou "Charlie Blasts Territory" na versão de Nintendo 64)


Estamos na metade de dezembro, e lá fora estão fazendo quase 40 graus. Aqui dentro, devidamente munido de ar-condicionado e cachorros (as peças básicas para a vida humana na Terra), eu abro a Super Game Power de junho de 1998 (a revista atual desse projeto) e calmamente a folheio para ver qual vai ser o próximo jogo que eu vou jogar enquanto tomo um café extraforte.

Eis que vejo que, hã, o próximo jogo será Bombing Islands. Estranho, esse nome não me é nada familiar, até abrir essa revista eu jamais tinha sequer ouvido falar nas palavras "Bombing Islands". Curioso, eu me considero um cara informado e são bem poucos jogos que eu realmente sequer ouvi falar, mas tá, eis que eu vou ver do que se trata esse jogo e...


UAU, VC REALMENTE SE DEU AO TRABALHO DE FAZER ESSA EDIÇÃO TOSCA?

Isso é o quanto eu odeio KID KLOWN in CRAZY CHASE. Aí vocês estão me dizendo que esse moleque-palhaço dos infernos ganhou um jogo para PS1 e Nintendo 64?


Mas né, vamos lá...


Nossa história começa em uma insuspeita terça-feira pela manhã, quando um inocente carteiro bate a porta do abominável Kid Klown. Pela cara de puta ressaca dele e pelos balões de festa ainda quicando dentro da casa, só podemos assumir que a putaria da noite anterior foi das grandes!

Seria esse um jogo sobre as aventuras sexuais em busca de meninas-palhaço?


Bem, não, é claro que não. Kid Klown nasceu com o único e solo proposito de trazer desgosto a minha vida e esse não será um jogo sobre garotas-palhaço. Mas se não será sobre isso... sobre o que será a desventura do dia então?


Eu realmente gosto de como o carteiro balança a mãozinha, tipo "pega logo essa merda que eu tenho mais o que fazer". Mas enfim, essa é a história do jogo.

COMO ASSIM "ESSA É A HISTÓRIA DO JOGO"?!?

Sendo exatamente assim, ué. Kid Klown recebe uma carta mandando ele se livrar das bombas em seis ilhas e essa é toda a motivação que ele precisa, e toda motivação que você terá. Sabe, "histórias" como essa sempre me pegam muito em jogos pq eu fico tipo... "pra que?"


É okay o seu jogo não ter uma história, mas se você faz questão de renderizar uma cutscene (o que custa tempo, logo dinheiro a produção do jogo)... pra que você faz uma porra dessas sem nenhuma importancia? Eu não consigo conceber pra que alguém se deu ao trabalho de parar o que estava fazendo e trabalhar nessa cena que não significa nada, ao invés de sei lá, gastar esse tempo fazendo o jogo ser melhor? Quer dizer, é um jogo do fodendo Kid Klown, cada segundo que vc puder gastar fazendo ele ser menos pior é um segundo que a humanidade venceu a guerra contra o mal.

E além disso, eu realmente tenho que comentar como Kid Klown confunde "eliminar as bombas" com...


Uou, calmo salsicho! Era pra salvar a ilha das bombas, não explodir a porra toda seu maníaco! ... embora eu suponho que tecnicamente as bombas foram eliminadas, JUNTO COM A ILHA INTEIRA! Mas enfim, por que as bombas estão ali ou por que o Rei está dando a uma criança uma tarefa aparentemente suicida  ou porque essa criança decide eliminar a ilha inteira do mapa são perguntas bastante válidas para as quais jamais teremos nenhuma resposta.

O que teremos resposta, entretanto, é falar sobre como é o temível terceiro jogo do Kid Klown e... olha, até que não é ruim, na verdade. O jogo é uma mistura de sokoban (aquele jogo de empurrar caixas), BOMBERMAN e Campo Minado do Windows. O que parece uma combinação extremamente louca descrevendo assim, mas na real é um jogo bastante simples.


Cada uma das bombas tem um número de um a três, que é quantos quadrados ela explode. Um explode apenas seu próprio quadrado, dois explode o quadrado ao lado e três explode dois de cada lado.  O objetivo do jogo é fazer uma reação em cadeia para encontrar o inferno ao descobrir o céu paguei o seu preço, o seu destino é meu eliminar todas as bombas usando um único detonador.

Para isso você pode empurrar as bombas e conforme você avança, os padrões ficam muito mais difíceis de descobrir, o cenário oferece empecilhos maiores e o desafio aumenta. Você sabe, o velho rugaru que você poderia esperar de um puzzle tradicional e... bem, isso é bastante okay na verdade.



Na verdade, eu diria que o jogo até mesmo tem uma apresentação que ajuda o jogador: cada fase começa com uma cutscene engraçada que destaca a nova mecânica da fase em questão. É realmente muito bonitinho como o jogo mostra - de uma forma engraçadinha - qual é o objeto, o que acontece quando Kid Klown interage com ele e quais serão as consequências. Empurrar uma bomba para um canto, por exemplo, faz com que a bomba fique lá permanentemente. As bombas não podem ser puxadas, apenas empurradas. As bombas podem ser empurradas sobre poços de espinhos, e farão o palhaço pular se ele mesmo as tocar. E por aí vai.

Os gráficos também não decepcionam; eles são simples, mas eficazes, e eu teria preferido mais opções, mas tudo contribui para uma apresentação decente para um puzzle com uma jogabilidade boa para o que ele propõe a fazer. O que não é muito, esse ainda é um joguinho que você veria hoje no celular, mas funciona.


O jogo pode ficar absolutamente dificil e repleto de busywork nos últimos níveis, mas então o jogo te dá uma feature que você pode ver a solução da fase se vc estiver REALMENTE empacado... o que é bastante cool numa época em que internet não era uma coisa certa e garantida ainda. O que é cool, então tem isso.

Enfim, As Ilhas Bombardeadas foram esquecidas por muitas razões óbvias, mas arrisco dizer que não é uma experiencia ruim realmente. A jogabilidade funciona ao que ela se propõe a fazer, os gráficos são fofos e coloridos e, embora o jogo pudesse ter aproveitado um pouco de esforço nas cutscenes (não é como se o jogo estivesse usando o espaço em disco pra muita coisa podiamos ao menos ter garotas-palhaço renderizadas em CG), e o jogo definitivamente poderia ter capacidade de salvar, porque estamos anotando passwords como nossos antepassados das cavernas é um mistério que jamais saberemos a resposta.


Verdade que se você já jogou KABLOOEY do Super Nintendo esse jogo não oferece nada de particularmente novo (hã, tirando a possibilidade de girar a camera pq esse é um jogo 3D mas whatever), mas ainda sim, The Bombing Islands certamente não ofende.

E hey, o final é melhor do que eu esperava, olha só!



MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 140 (Junho de 1999)




MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 051 (Junho de 1998)