[#1204][Abr/98] FORSAKEN

O jogo de hoje é um daqueles casos que é o que eu chamo de "efeito Phalanx": todo mundo e a mãe de conhece a capa do jogo... não necessariamente pelos motivos certos... mas bem menos gente efetivamente já pegou o jogo pra jogar ou sequer sabe do que se trata essa bagaça

DO QUE TU TÁ FALANDO, CARA, EU NUNCA VI ESSA CAPA NA MINHA VIDA!

Isso pq eu coloquei a capa japonesa na introdução pra fazer um charme, a capa ocidental do jogo é o que causa aquele efeito de "aaaaaaah, isso, é, sim eu já vi essa bizarrice antes...":

AAAAAAAH, ISSO, É, SIM EU JÁ VI ESSA BIZARRICE ANTES...

Não disse?

Bem, o resumo geral da coisa é que Forsaken é um jogo de tiro em primeira pessoa ambientado em um futuro apocalíptico, onde mercenários viajam pelos subterraneos para matar uns aos outros e saquear uranio ou algo assim. Enquanto eu entrarei em maiores detalhes sobre a história do jogo daqui a um minutinho, por hora é importante ressaltar que em nenhum momento o jogo apresenta uma mulher em CHOQUE com uma tatuagem de Forsaken na bochecha chorando na lua. Mas suponho que vc já tinha deduzido isso a essa altura mesmo que eu não falasse nada.

Verdade que a Acclaim (que é a empresa que incorporou a LJN, e por aí tu já começa a imaginar o nível de qualidade a ser esperada) tem sua boa cota de capas de jogos bizarras pq é política da empresa que chamar atenção é o que importa, custe o que custar e "Depois a gente ve o que faz" Taí a capa de Bust-A-Move 3 DX (o puzzle que é o nome ocidental de PUZZLE BOBBLE, não confundir com a série de jogos de ritmo BUST A GROOVE que no Japão se chama "Bust a Move") que não me deixa mentir:

Achou que eu tava brincando quando disse que eles não se importavam em chamar atenção negativamente desde que chamasse atenção? Pois é, e esta é igualmente bizarra. Ainda sim, eu meio que consigo entender a lógica que um executivo teria por trás da capa de Forsaken: “Ninguém dá a mínima para alguma merda genérica de FPS futurista, então, em vez de colocar soldados e coisas do gênero na capa, vamos colocar uma DELICIOUS BABE. E faça com que ela pareça que está chorando, então ela fica toda vulnerável e tal”.

Eu já estou nessa indústria vital a anos o suficiente pra saber que é EXATAMENTE isso que um executivo pensaria, embora não tenha nenhuma explicação realmente do pq o jogo que se passa nos subterraneos da Terra tem uma capa ambientada na Lua. O que nos leva a essa capa que absolutamente todo mundo na locadora ou na loja repararia - como a Acclaim planejou... mas apenas pra apontar pros amigos e dizer "mano, olha essa coisa bizarra" e nunca sequer cogitar realmente tocar no jogo.

Suponho que ninguém aqui vai ficar realmente surpreso ao saber que não muitos anos depois disso a Acclaim faliu. Mas bem, agora que tiramos isso da frente... o que resta pra falar sobre Forsaken? Não tanta coisa assim, eu temo. Começando o jogo, uma vez passados os logos da desenvolvedoras/publishers vemos nossa a história que...

... what the actual fuck? O jogo tá realmente fazendo propaganda do seu detonado oficial na intro do jogo? POURRA ACCLAIM, mas cês são foda heim? O espirito da LJN realmente vive forte em vcs, cacete maluco...

A maioria dos games de Nintendo 64 não foram pensados em cima de um grande enredo, e com Forsaken não é a exceção a regra. Em um futuro distante, o mundo era um lugar bonito e arborizado quando algum DJENIU decidiu que seria maneiro fazer experiencias subatomicas no interior do planeta... seja lá o que "experiencias subatomicas" signifiquem, eu tenho certeza que não soa como algo que está muito na cara que vai dar merda. Definitivamente não.

CHOCADO. Mas enfim, a Terra INESPERADAMENTE QUEM PODERIA PREVER ISSO foi jogar no Vasco e um ano depois, o planeta foi classificado como “Forsaken” pela teocracia imperial dominante, o que significa que agora é legal para qualquer pessoa que estiver por perto dar uma passada lá e saquear o que restou no planeta.

Com isso mercenários de todo o sistema solar vêm para pilhar o planeta morto, forçados a lutar não apenas entre si, mas também contra os robôs sentinelas que o governo deixou para trás por razão nenhuma que ser cuzão é a razão de existir dos governos. Especialmente um que se auto-denomina "Teocracia Imperial".

O maluco tomou pipoco enquanto tava tentando saquer uma parada que literalmente tava pregada na parede, agora isso sim é um saqueador raíz! Mas bem, uma reprodução fiel do brasileiro médio a parte, isso é até onde a história do jogo vai e não espere muito mais do que isso realmente.

E também já aviso que não dá pra esperar muito também do jogo em si, já que Forsaken é essencialmente a interpretação da Acclaim para DESCENT 3. Você lembra de DESCENT? Com certeza não hoje, e já te adianto que já em 1998 ninguém mais dava a minima caralha para o primeiro FPS realmente em 3D. Especialmente em um mundo que QUAKE 2 existe.

Pelo menos o jogo é muito bom em dar nomes, que tipo de monstro não iria querer proteger o BABALAS?

Assim como em QUAKE 2, você pilota sua nave em 360 graus, acelera, recua, sobe, desce, a porra toda. A maior diferença aqui é que você pode escolher jogar com vários personagens diferentes, cada um com suas próprias vantagens e desvantagens. Por exemplo, um piloto pode ter um navio mais rápido, mas com casco mais fraco ou com menor capacidade de manobra. Cada piloto também possui sua própria personalidade - que na prática significa que eles falam coisas diferentes quando explodem os coleguinhas. E, como você pode imaginar, no início do jogo apenas alguns pilotos estão disponíveis com mais sendo desbloqueados conforme você os encontra e os derrota durante o jogo.

Eu não achei essa mecanica TÃO relevante assim já que não é como se eles tivessem ataques especiais próprios nem nada, e as diferenças na jogabilidade não são tão perceptíveis assim, então espere muita coisa disso realmente.

Quanto à jogabilidade em si, bem, eu não estou brincando quando disso que esse jogo é essencialmente DESCENT 3. O que quer dizer os controles funcionam bastante bem e você sente a sua nave muito mais na mão em Forsaken do que qualquer um dos jogos de Descent. Especialmente pq Descent tem a coisa de querer passar uma sensação de inercia da sua nave no vacuo, então vc sempre escorrega a menos que ativamente aperte o freio - já Forsaken não tenta fazer isso, vc larga o botão e a sua nave para, e isso torna a experiencia muito mais na sua mão pra controlar.

Porém se a jogabilidade é um aprimoramento do material base, o mesmo não pode ser dito da dificuldade: Forsaken é um jogo bastante difícil e pelas razões erradas. Sabe o que eu falei em BLASTO que a ideia de dificuldade do jogo é spawnar inimigos atrás de vc e até vc entender de onde tá tomando tiro e virar já levou dois ou três pipocos? Forsaken faz exatamente isso, só que pior.

Isso pq enquanto sua nave vira mais rápido que o fodendo BLASTO manobrando, os gráficos e a paleta de cores do jogo não ajudam e muitos inimigos são quase impossiveis de se ver. Sério, a forma mais fácil de achar os inimigos é esperar eles atirarem em vc e ver de onde saem os raiozinhos pq senão é tudo um borrão incompreensível de poligos. E mesmo quando vc entende no que tem que atirar, sua mira é extremamente caprichosa e só vai acertar se o alvo estiver travado no exato centro do bicho.

O que é o contrário do que FPS normalmente fazem - especialmente em consoles, onde mirar com o joystick não é nada como mirar com o mouse - onde o jogo costuma dar uma roubadinha pra vc e ter uma area de "tá, vou dizer que pegou" bem generosa. Aqui não, tem que acertar no pixel do meio e se vc errou é pau no seu cu, quem mandou não jogar com mouse no Nintendo 64 que nem existe ema ema cada um com seus pobrema.

Mas calma que piora, pq em Forsaken você só pode salvar o jogo de quatro em quatro níveis. Espera, o que? Que porra, a Acclaim tem que pagar do bolso dela pelas oportunidades de salvar o jogo? Pq sério, não tem justificativa você precisar passar quatro fases para poder salvar o jogo. Se você passar três fases e morrer no meio da quarta - o que é algo muito provavel, pq se não ficou muito claro esse é um jogo BEM dificil - perdeu preiboi. Te fode ae nerdão e foda-se. Porra Acclaim, cês são foda né?

O que é que falta fazer pra tornar a sua vida mais dificil? Tirar o mapa que em DESCENT 2 era umas ferramentas mais essenciais pra vc se orientar no jogo? Não, espera Acclaim, era sarcasmo, não é pra vcs levarem a sério e... puta merda, eles tiraram o mapa do jogo.

Ótimo, pq tudo que vc precisava em um jogo absurdamente dificil com inimigos que vc não consegue ver direito e que só da pra salvar a cada QUATRO fases era ficar patetando pela fase já que achar vãos e passagens não é exatamente a tarefa dos sonhos com esses gráficos. Pelo menos um radarzinho pra vc saber de onde tão vindo os tiros? Não? Nem isso? Mah pouta que me pareio, heim Acclaim?

Bem, pelo menos isso torna o modo versus competitivo, pq como é dificil vc se achar onde está no mapa até olhando pra sua tela, espiar a tela do coleguinha no modo versus com tela dividida vai fazer bem pouca diferença na real... então yay?

O resumo disso tudo é que Forsaken já era um jogo datado mesmo quando lançou em 1998. Não apenas porque ele é um clone de um jogo que as pessoas já tinham parado de se importar dois anos antes, mas pq essa lógica de "eu nunca consegui passar da segunda fase" funcionava na época do Nintendinho, mas em 1998 as pessoas esperam mais do que ficar repetindo as mesmas duas ou tres fases infinitamente devido a dificuldade exacerbada e um sistema de save a cada quatro fases ininteligivel.

A graça salvadora desse jogo é que os controles respondem realmente bem e manobrar sua nave em 360 graus é mais suave na nave do que em qualquer outro jogo até então. Isso aliado ao N64 ter suporte nativo para 4 controles cria um modo versus mais interessante do que a campanha... ou então vc poderia apenas jogar GOLDENEYE 007 e ter os dois.

De toda forma, mesmo que a jogabilidade desse jogo impeça que ele seja um jogo catastrófico... bem, tendo jogado algumas boas horas de Descent 3, digo, de Forsaken eu totalmente entendo pq a única coisa que as pessoas lembram desse jogo é a sua capa esquisita. E tão mais do que certos nisso.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 129 (Julho de 1998)