E hoje é dia do meu tipo favorito de review nesse blog: o review que mostra que eu não sou um completo maluco. Quer dizer, eu sou, mas não no que se tange as reviews... majoritariamente. E de qual jogo eu estou falando quando digo que a review de hoje é um "eu estava certo, NA SUA CARA SEU MAMÃO"?
Bem, hoje é dia de mostrar que eu estava absolutamente certo quando falei que OGRE BATTLE: The Marsh of the Black Queen é mais feio que encoxar a mãe no tanque. Eu digo isso pq "Força Dragão 2: A Terra Onde Deus Picou a Mula" é um jogo que tem exatamente a mesma premissa de OGRE BATTLE: The Marsh of the Black Queen... só que sem ser pavorível de tão terrível. Vamos a isso, sigam-me os bons!
Desenvolvido pela Chime (que existe ainda hoje e atualmente é mais conhecida por publicar jogos licenciados de anime que nunca são lançados fora do Japão, como o jogo de Made in Abyss ou Re:Zero) em abril de 1998, esse jogo chegou quando o Saturn já estava morto e enterrado no Ocidente. Isso fez com que DF2 se junte a grande lista de jogos de Saturn que nunca sairam da Terra do Sol Nascente, como os episódios 2 e 3 de SHINING FORCE 3: Scenario 1 - The Titan of Aspia, GRANDIA, VANDAL HEARTS, DEAD OR ALIVE, X-MEN VS STREET FIGHTER. e muitos, muitos outros jogos que se provaram grandes sucessos quando lançados para o PS1.
E enquanto jogos como DEAD OR ALIVE ou X-MEN VS STREET FIGHTER são completamente jogaveis em sua forma japonesa (no máximo precisam de um cartucho de conversão regional para ser inserido no slot do Saturn), o mesmo não pode ser dito da enorme quantidade de JRPGs que precisam do domínio da língua japonesa para serem jogados.
O que seria o fim dessa review, dado que eu sou um otaku triste mas não tanto a ponto de dominar o idioma japones e não tenho como jogar esses jogos... não fosse o fato que por algum motivo que foge a minha compreensão (sindrome de Estocolmo, meu palpite), o Saturn tem uma comunidade engajada e que está trabalhando em muitas traduções de jogos menos mainstream que eu sinceramente nem sonhava que alguém se daria ao (enorme) trabalho de traduzir. E é onde nos encontramos com a tradução justamente deste Dragon Force 2: Kamisarishi Daichi ni, traduzido para o inglês como Dragon Force 2: The Godforsaken Land. Ou "A Terra Onde Deus Meteu um Vasari", em uma tradução livre.
Traduza como quiser, o fato é que esse é um ... bem, eu não sei exatamente como classificar esse jogo pq tirando OGRE BATTLE: The Marsh of the Black Queen, eu nunca vi nada parecido com isso. As reviews gringas chamam ele de "jRPG de estratégia", então vamos usar esse termo na falta de um melhor, sim?
Seja como for, esse é um jogo no qual comandamos as forças militares de um dos 8 reinos do continente de Legendra, encarnando o seu líder. Portanto, a primeira escolha que faremos será a do reino ou império com o qual queremos jogar. Isto determinará a personagem principal que encarnamos, cada uma com as suas características e tropas associadas, bem como os seus principais generais. E também com suas próprias motivações. Já adianto que nenhuma dessas histórias é particularmente incrível ou marcante, classificando no máximo como "anime filler médio dos anos 90".
Enquanto a ideia de ter 8 facções distintas para escolher no papel aumenta a rejogabilidade com teoricas 8 campanhas diferentes, na prática não funciona bem assim. Dragon Force não apenas não tem um enredo complexo, nem mesmo perto disso, como não espere que as histórias se entrelacem formando um quadro geral maior da situação do continente. Se é isso que você deseja, eu recomendo jogar TRIALS OF MANA, esse sim é um jogo que entrega a premissa de te recompensar por rejogar a história mostrando ela por outros angulos (sim, mais uma vez o Saturn perde pra um jogo de Super Nintendo, nada de novo no front).
Além disso, independente da qualidade da história o fato é que os outros generais não dão a esse jogo um grande valor de replay. Talvez você consiga 1 minuto de história em cada hora de jogo, e isso sendo muito generoso. Depois, nos outros 59 minutos, você luta as mesmas batalhas repetidas vezes com as mesmas estratégias, o que não é algo que eu classificaria como muito interessante.
Isso sendo dito, eu também não vou dizer que isso é algo ruim. A opção de escolher o seu protagonista é bacana e o fato que cada um tem a sua própria historinha (por mais marromenos que ela seja) dificilmente seria o que eu classificaria como um defeito no jogo. Então kudos onde kudos são devidos, não há que se falar em rejogabilidade mas sim em opção de escolha e isso é maneiro.
Mas enfim, falando do jogo em si, Dragon Force é um jRPG de estratégia e - como eu já disse - a jogabilidade é semelhante a OGRE BATTLE: The Marsh of the Black Queen. E por isso eu quero dizer que Temos a nossa disposição o mapa do continente, no qual podemos ver a todo o momento tanto as nossas forças como as do inimigo. Nossos exércitos estão localizados em castelos, sendo que seu trabalho é mandar suas tropas se deslocarem para outro castelo inimigo para atacá-lo, ou estacionar forças em castelos seus (ou vilas, ou rotas, os pontinhos no mapa, vc entendeu) para defender quando forem atacados.
Cada força de ataque ou defesa pode transportar no máximo cinco generais com suas tropas correspondentes, e eles enfrentarão os generais adversários um por um (ou seja, se um general seu cair em combate, a luta continua com o próximo general entrando com a vida cheia - mais ou menos como o Team Battle de STREET FIGHTER ALPHA 3). Quem defende dentro de um castelo ganha um bônus que depende do nível do castelo - sendo que as batalhas dentro do castelo causam danos ao mesmo, diminuindo seu nível após cada batalha.
O legal é que o visual da construção muda conforme o seu nível, então um castelo de nível 1 é uma pequena torre enquanto um castelo de nível 50 é uma enorme fortaleza com múltiplas torres e pátios. Grandes castelos tambem são capazes de acomodar mais generais com suas tropas e também permitirão recrutar muito mais soldados.
Isso quer dizer que grande parte do jogo envolve gerenciamento de recursos: conforme você vence batalhas e conquista vilas, castelos e minas, você ganha recursos para distribuir entre as suas tropas que vão desde equipamentos para seus generais a materiais para upgradear os seus castelos. Ao vencer batalhas você também ganha condecorações que são a experiencia do jogo, para distribuir entre os seus generais.
E aqui está a primeira grande diferença desse jogo para OGRE BATTLE: The Marsh of the Black Queen: enquanto o jogo de Super Nintendo te dá 100 personagens para administrar como se cada um deles fosse um protagonista customizavel onde vc precisa se preocupar com o setup de magias, equipamentos e disposição de CEM PERSONAGENS (e exige que vc faça isso na dificuldade do jogo), DF2 é muito menos um exercicio de insanidade, louvado seja Cthullu.
O que vc precisa customizar são apenas os seus generais - que nem são tantos assim, e portanto isso é totalmente dentro do escopo do fazível sem vc precisar fazer uma faculdade apenas para administrar a planilha de excel das informações. O restante das suas tropas é composto por pacotes de 100 soldadinhos que não são tão customizaveis (embora eles tenham um tipo e um nível) e portanto não exigem tanto microgerenciamento.
Vc pode dar a cada general duas tropas, como por exemplo magos lv 3 e cavaleiros lv 4. Pronto, é isso. Vc tem tipo 50 magos e 50 cavaleiros, é o que vc precisa escolher. Claro que o tipo importa, onde por exemplo, a cavalaria será muito eficaz contra soldados ou magos, mas muito pouco contra dragões, mas ao menos o jogo tem a cortesia de te explicar isso:
Adicione a isso que o jogo não tem condições secretas de vitória que são ativadas por parametros que o jogo nunca te diz claramente e vc pode começar a entender pq eu digo que esse jogo faz o simples porém não sai do seu caminho para te enlouquecer como OGRE BATTLE: The Marsh of the Black Queen.
Isso pq as batalhas são bastante visuais e práticas: o objetivo da batalha é drenar a vida do general adversário e para isso seus mobs vão correndo pra cima do cabra encher ele de piaba. Só que como o adversário tem seus próprios soldados, eles se atracam no caminho e vc precisa acabar com eles ou pelo menos abrir um corredor no campo de batalha pra galerinha chegar nele e socar o lazarento.
Durante o combate você pode dar comandos bem ao estilo Coração Valente, mandando a galera ir pros flancos, segurar a onda no lugar, atacar pelo centro ou apenas correr como fosse uma bucha de canhão sem importancia dos filmes de guerras históricas (pq por algum motivo Hollywood assume que as pessoas na idade média cagavam pra própria vida e se jogavam sem ordem nenhuma no combate apenas pra morrer).
E se isso não for suficiente, seu próprio general tem magias e ataques especiais que você pode lançar para atingir o general adversário - ao ponto que nas fases mais avançadas do jogo é melhor usar suas tropas apenas para defender o seu general enquanto seus ataques especiais causam o real dano ao general inimigo.
A batalha termina quando todos os generais de um lado forem derrotados, sendo que em caso de derrota os generais podem ser capturados. Pode ser que um general morra, mas geralmente é por causa do script do jogo, não algo que acontece no curso normal de uma partida. Os generais capturados podem ser convertidos e, claro, o inverso também funciona e os seus generais capturados poderão se aliar ao inimigo. Existe até uma mecanica de lealdade dos seus generais, que envolve gerenciar as promoções e tropas que eles ganham para permanecerem satisfeitos.
Como você pode ver, não faltam opções nesse jogo e coisas para gerenciar, mas em nenhum momento eu me senti afogado por isso. Não é realmente complicado uma vez que você pega o jeito da coisa, e na verdade se torna meio simples demais até pq a IA desse jogo não é exatamente brilhante. Ou mesmo boa.
Isso quer dizer que uma vez que você encontrou uma estratégia que funcione, ela vai funcionar durante todo o jogo desde que você mantenha a força dos seus generais atualizada e o tipo da tropa correto para cada enfrentamento e considerando que o jogo tem pelo menos umas 10 horas de combates... é, tende a ficar um tanto repetitivo mais cedo do que tarde.
Adicione a isso que as vezes o jogo não deixa claro qual é o próximo objetivo, para onde vc tem que ir ou se apenas tem que esperar as semanas passarem (a unidade de turno desse jogo) para alguma coisa acontecer. Sem seguir um detonado, vai ter vários momentos em que você literalmente fica sem objetivos e só precisa esperar que algo aconteça.
Tem também alguns momentos um pouco chatos com dois generais inimigos aparentemente imortais, que spawnam em qualquer lugar: geralmente em seus castelos com muito pouca defesa. Você os mata e logo eles reaparecem, ad infinitum - acho que a intenção era que você tivesse uma maneira de grindar o nível dos generais mais pra trás, mas é mais um incomodo do que qualquer outra coisa realmente.
Concluindo, direi que Dragon Force 2 é impressionante do ponto de vista técnico. O Saturn ser capaz de gerenciar 200 unidades agindo individualmente no campo de batalha e trackeando a vida delas é algo que eu realmente não esperava que ele fosse remotamente capaz de fazer. Ainda sim, ele o faz e o faz bem, sem nenhum slowdown ou o console implodir numa bola de chamas lovecraftianas.
Tanto que eu realmente duvido que esse jogo conseguiria ser lançado para o PS1, devido a quantidade maior de memória RAM que ele consome para gerenciar tudo - e RAM sempre foi o ponto fraco do console da Sony. Ainda sim, suponho que se de alguma forma esse jogo tivesse sido lançado para PlayStation em inglês seria frequentemente mencionado como referencia do sistema - se mais nada, apenas pela própria façanha técnica. Mas como ele saiu para o Saturn, só no Japão e em 1998... bem, não é exatamente a combinação mais incrível para popularidade, não é?
Veja, como eu disse nem é um jogo particularmente incrível e que fica um tanto quanto chato depois que vc entende como ele funciona, mas ainda sim é um jogo que merece ser visto por entregar uma performance totalmente okay de uma formula bastante diferente de qualquer outra coisa lançada no ocidente na época - ou em qualquer época depois disso.
A verdadeira Dragon Force são os amigos que fazemos pelo caminho! |
E esse é o meu ponto: quando eu disse que OGRE BATTLE: The Marsh of the Black Queen era uma bagunça desordenada que exige niveis insanos de microgerenciamento sem entregar nenhuma diversão em troca, DF2 é exatamente a prova que dava pra fazer bem feitinho sim. Mais uma vez está mais que provado eu não realmente exijo loucuras e o que eu peço dos jogos é totalmente razoavel!
EXCETO QUE AQUELE JOGO ERA NUM SUPER NINTENDO E ESSE É EM UM SATURN, AÍ FICA MAIS FÁCIL, NÉ?
Ema ema ema, cada um com seus pobrema.
MATÉRIA NA GAMERS
Edição 027 (Fevereiro de 1998)
Edição 030 (Maio de 1998)