E com esse jogo chegamos a inexoravel, espafurdica, saliente marca de MIL E DUZENTOS JOGOS! Uau, mil e duzentos, parece que foi ontem que mil jogos atrás eu estava jogando OUT OF THIS WORLD para o jogo 200... mas era março de 2019, uma época que eu fazia a menor ideia que sentiria falta hoje.
Mas bem, aqui estamos e para o jogo 1200 vc esperaria algo especial para um numero tão redondo e tão bonito, certo? Bem, não. A vida não é nada senão desapontamento e decepção, quanto antes voce aprender isso melhor. Então para o jogo 1200 não teremos algo especial, teremos o exato oposto de especial!
Ou seja, teremos Blasto.
Um pouco de contexto antes de começarmos: Blasto começou seu desenvolvimento em 1995, o que quer dizer que foi um dos primeiros jogos concebidos para o Playstation. Mais especificamente, em 1995 o PS1 ainda precisava desesperadamente de títulos e uma das ideias da Sony era ela mesma fazer os seus jogos - é o que todas as grandes fabricantes de videogames fazem, afinal.
A ideia era essa, sim, porém o fato de que esse jogo só viria a ser visto na E3 de 1997 (ou seja, dois anos em desenvolvimento) significava que esse jogo seria um tremendo blockbuster que estava a anos sendo preparado... ou que as coisas não sairam como planejado no desenvolvimento. Vou deixar voces adivinharem qual foi o caso aqui.
Originalmente, Blasto deveria ser um jogo de tiro em terceira pessoa/plataforma 3D parodiando os heróis bregas do passado como Flash Gordon ou Buck Rogers. Pense nele como um Zapp Brannigan de Futurama que obviamente pulava o dia de perna no treino, o THE TICK do homem pobre. Entretanto, não posso dizer que ele não seja um herói, já que ninguém mais está aqui fazendo nada sobre as ameaças extraterrestres presentes nesse jogo.
Isso pq o terrível vilão Bosc escapou da 5ª dimensão e assumiu o controle de Uranus – porque é claro que todo o jogo seria baseado em uma piada de quinta série. Bem, já tivemos caras que fizeram um jogo apenas para usar um trocadilho (né, AERO THE ACRO-BAT?), o que é um jogo criado em cima de uma piadoca de YOUR ANUS?
De qualquer forma, a causa de Blasto é totalmente justa pq se não for detido, Bosc não apenas destruirá a Terra (o que podemos aceitar), como também fará com que seus capangas sequestrem todas as Space Babes, e é aqui que traçamos a linha. NÃO AS SPACE BABES, CARA!
... esse jogo tão não seria feito hoje, né? Mas enfim, parece uma aventura legal com alguns temas clássicos, certo? Bem, eu tenho que dizer que pelo menos o marketing do jogo sabia o que estava fazendo. Quer dizer, basta ver a propagando do jogo e me diga que não seria o próximo que você alugaria:
Porque se um bando de pessoas com 120 anos usando roupas de super heróis não te convencer a jogar um jogo, nada mais o fará! Mas falando sério, o jogo tinha como grande chamariz que ele foi dublado pelo comediante Phil Hartmann, bastante famoso na gringa pelas participações no Saturday Night Live, embora para nós seria mais conhecido por ser o dublador original do senhor Wilson de Denis o Pimentinha e do Troy Mclure dos Simpsons.
A atuação de Phil Hartmann é de longe a melhor coisa desse jogo, e ela é tão arrogante e pretenciosa como você esperaria que o nosso herói primo perdido do Overman fosse. Com efeito, posteriormente esse jogo viria a ser mais conhecido como o ultimo trabalho de Phil Hartmann dado que ele foi lançado apenas algumas semanas antes do ator ser assassinado por sua esposa enquanto dormia (que se matou em seguida) por causa de uma discussão doméstica aparentemente boba - segundo os relatos das testemunhas.
Isso deu um bom destaque ao jogo, já que como eu disse Hartmann era figurinha carimbada dos grandes programas humoristicos dos US and A, além de um dublador prestigiado... e eu realmente gostaria que o jogo fosse mais conhecido por ser bom, sabe? Tanto por causa dessa tragédia bizarra nunca ter acontecido, quanto por... bem, Blasto não é realmente um jogo muito bom. Ou sequer vagamente bom.
O que é uma pena, pq Blasto definitivamente tinha ideias ambiciosas para sua época: o jogo foi programado para rodar inteiramente a partir do CD (ao invés de copiar os dados do CD para a memória RAM e então rodar o jogo), o que praticamente zerava os tempos de loading desse jogo. Em vez de usar texturas pré-prontas para preencher os poligonos, o jogo usava um sistema de iluminação dinamica bastante avançado para o PS1- e uma das principais causas do atraso desse jogo.
Parece que é uma coisa com jogos que queriam levar o PS1 a novos patamares de gráficos, hã? Pq não faz muito tempo eu falei aqui de RASCAL que tinha ambições semelhantes e o resultado... foi menos do que excelente, vamos dizer assim.
Com efeito, a respeito dessa coisa de "jogos que atrasaram pq queriam revolucionar o PS1, prometeram tudo e entregaram nada", eu deixarei aqui um recorte da Next Generation sobre o caso:
Bem, eles estavam realmente certos nisso. Passados dez anos, ninguém de fato pensava em Blasto com um expoente das capacidades do PS1. Passados 25 anos do lançamento do jogo, hoje poucas pessoas sequer lembram que isso existiu um dia. O que eu não posso dizer que é injusto, pelo contrário.
Blasto é um jogo de tiro de ação em terceira pessoa/plataforma 3D que a parte de plataforma não funciona muito bem e a parte de tiro funciona pior ainda. Pra começar, a coisa é que os controles são terrivelmente duros já que esse é mais um jogo que caiu vitima de usar controles de tanque para um jogo de plataforma 3D. Sério, quanto mais eu penso sobre esse jogo, mais me veem flashes que isso é essencialmente RASCAL 2: Eletric Boogaloo.
O mais impressionante é que era totalmente possível ter controles naturais e fluídos no PS1, como GEX: Enter the Gecko havia provaddo que dava... mas não, eis mais um jogo de plataforma que você controla o personagem como se estivesse estacionando um carro, o que torna as ações mais simples em desafios terriveis.
Verdade que esse jogo está mais para o espectro CROC: The Legend of Gobbos do que RASCAL: os controles não são TÃO rigidos, vc tem alguma manobrabilidade no ar e todo o jogo se passa em ambientes abertos, então pelo menos vc tem espaço para pular... o que é mais do que se pode dizer de RASCAL... puta merda aquele jogo é só ideia ruim em cima de ideia ruim... então as plataformas de Blasto são jogaveis. Não é bom, não é divertido, mas é jogável.
O que é mais do que dá pra dizer da parte de tiro... o que é meio que importante em um jogo de tiro, algumas culturas costumam acreditar. Vê, a parte de tiro desse jogo tem vários problemas e o menor é que power-ups da sua arma são bem desinteressantes e genéricos. Mas esse é realmente o menor dos problemas e quase passa desapercebido quando abordamos os maiores.
Vê, a coisa é que nesse jogo voce depende inteiramente da mira automatica da sua arma travar no inimigo para você acertar eles. Não existem ferramentas para você manualmente mirar no inimigo, tudo que vc pode fazer é virar na direção dele e esperar que a mira automática faça a parte dela... e meio que que esqueceram de avisar isso pra elas, sabe?
Sério, a mira automática desse jogo é horrível e facilmente a pior que eu já experimentei na vida. Acertar qualquer coisa com menos de três tiros exige mais sorte do que vc mandar um oi no insta para a morena e ela te responder!
MAS É UM JOGO DE PS1 DE 1998 QUE COMEÇOU A SER PROGRAMADO EM 1995, NÃO DÁ PRA ESPERAR MUITO DA IA DE MIRA!
Não, não dá mesmo. E talvez seja exatamente por isso que não é uma boa ideia BASEAR O SEU JOGO INTEIRO NUMA TECNOLOGIA QUE ELES NÃO CONSEGUEM ENTREGAR. Apenas um palpite meu, sabe?
Mas hey, não é como eles realmente não soubessem programar uma mira nesse jogo dado o fato que os inimigos não erram UM ÚNICO TIRO O JOGO INTEIRO. A menos que vc esteja dando o comando de sidestep, todo e cada tiro dos inimigos vai te acertar com uma precisão que faria inveja a qualquer coreano jogando um FPS online.
E não é como se os inimigos spawnassem o tempo todo de qualquer lugar já atirando. E não é como se você precisasse levar pelo menos dois tiros antes de conseguir virar o boneco pq esse jogo usa malditos controles de tanque e só de ver de onde vc está tomando tiro e conseguir atirar de volta com a porcaria da sua mira automática já foi metade da sua vida!!!
... mas bem, pelo menos os locais de spawn dos inimigos são fixos, então depois que vc já morreu meia duzia de vezes meio que já vai ter decorado como se posicionar pra esperar os desgraçados aparecerem. O que torna o jogo ao menos jogável. Sim, vc ainda tem vontade de bater a cabeça contra a parede em mais momentos do que a sanidade recomenda e sua diversão jogando o jogo aprendeu a Execução Aurora por ter chegado ao zero absoluto, mas tecnicamente ele é jogavel.
Também ajuda que os devs perceberam a cagada do tamanho do mundo que fizeram com os tiros NESSE JOGO DE TIRO e os itens de cura são os mais abundantes que eu já vi em qualquer jogo na vida. Vc sabe que os devs estão assinando um atestado que fizeram merda quando enchem o jogo de itens de cura pq essa é a única coisa que eles poderiam fazer em pouco tempo para tornar a coisa jogável - apenas consertar os problemas demandaria um tempo que eles certamente não tinham.
Então eu fico satisfeito que eles tomaram medidas paliativas para os problemas e tornar o jogo ao menos jogável, mas sabe o que eu ficaria ainda MAIS satisfeito? NÃO TER A PORRA DESSES PROBLEMAS EM PRIMEIRO LUGAR, QUE IDEIA LOUCA HEIM?
Suponho que a loucura e a vulgaridade foram o que me manteve ativo por um tempo. O jogo quase sobrevive de citações e falas aleatórias, como na introdução, quando Bosc menciona algo sobre estuprar o gado da Terra. É incrivelmente divertido explodir a cabeça desses alienígenas, saboreando uma violência boba. A natureza atrevida estava lá, e os criadores a abraçaram nos bastidores, já que uma foto nua de uma modelo japonesa foi usada como espaço reservado durante o desenvolvimento, naquela seção onde você pode ver as garotas (Babe O' Rama), o que pode explicar o leve toque de misoginia que surge, talvez para se adequar ao motivo. Não sei, essa parte é muito ruim.
Isso a parte, o jogo tem uma vibe que beira o inacabado. Os cenários amplos e vazios parecem muito com os primeiros jogos de plataforma 3D lançados para o PS1 (como *arrepio* Bubsy 3D) e pouco com os jogos que já existiam em 1998 como o já citado GEX: Enter the Gecko. Realmente dá pra ver no esqueleto desse jogo que ele começou a ser programado em 1995... isso e pelo humor anos 90 que as vezes flerta com o THE REN & STIMPY SHOW com o sexismo das falas do nosso herói, ou quando o vilão diz que vai vir pra terra estuprar o gado pq haha anos 90, ele falou a palavra estupro, humor y piadas.
Enfim, mais uma vez farei minhas as palavras da Next Generation (que realmente tem se provado a minha favorita das revistas gringas ao longo dos anos nesse blog): “No final das contas, apesar de todos os problemas, este não é o pior jogo já lançado para PlayStation, mas não chega aos pés dos melhores, ou mesmo dos medíocres.”
Damn, os caras são bons
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER Edição 051 (Junho de 1998)