Se existe um jogo pouco conhecido ou mesmo completamente obscuro (do tipo foi lançado em apenas dois bairros do Japão com 13 cópias vendidas), pode ter certeza que haverá uma review no YouTube dizendo que essa é a "perola perdida" do sistema. Na imensa maioria das vezes, entretanto, essas tais "perolas perdidas" são jogos medíocres que ficaram perdidos por uma razão em primeiro lugar e que só são chamados de "tesouros escondidos" pq isso dá views - ninguém vai clicar para ver um video sobre um "jogo absolutamente mediano, nem tão ruim, nem tão bom, que vc nunca ouviu falar e definitivamente não tem nenhuma memória afetiva dele". É assim que o jogo é jogado.
Entretanto, aqui e acolá, quando o vento sopra corretamente e as estrelas estão certas, eis que a tal "perola escondida" é realmente uma jóia oculta, um jogo magistral, fenomenal, supimpático como é o jogo de hoje!
TAIL CONCERTO É UMA "PEROLA OCULTA" DO PS1?
Definitivamente! Um tesouro da história dos videogames que passa desapercebido dos olhos do grande público!
SEI. E VOCÊ ESTÁ DIZENDO ISSO POR CAUSA DO GAMEPLAY, OBVIAMENTE, E NÃO PQ ESSE JOGO ENVOLVE PEITINHOS FURRIES, NÉ?
Eu... hã... bem... eu posso ou não ter reparado que esse jogo envolve exibição gráfica de furries macias com cheiro de baunilha e decotes, é, suponho que é algo que possa ter vindo a minha atenção.
E SE VOCÊ FIZER UM GRANDE ESFORÇO E TIRAR AS PEITOLAS PELUDINHAS DA EQUAÇÃO, ESSE JOGO ENQUANTO JOGO MESMO ... ELE É GRANDE COISA?
O que? Bem, se cometermos o crime inafiançável de desconsiderarmos as furriezinhas fofinhas chocolatantes e gatíneas (literalmente)... é, não, definitivamente esse jogo não é tão grande coisa assim. Mas quem faria isso quando estamos falando de pequenos magumbos felinos?
OH BOY, ESSE VAI SER UM DIA DAQUELES...
Concerto de Rabolas (concerto com C é no sentido musical, esse jogo não é sobre uma oficina de furries... embora taí um excelente conceito ainda a ser explorado...) é definitivamente um dos nomes mais estranhos que eu já vi em um jogo na minha vida e que definitivamente pega o podium. Não é suficiente para vencer HEY PUNK! ARE YOU TUFF E NUFF? MASTER THE MOVES TO MASTER ME! pq eu acho que nada nesse multiverso um dia será, mas qualé, "Concerto de Rabos" definitivamente é um dos nomes de jogos que já foram nomeados.
Falando sério agora, desenvolvido pela CyperConnect (que hoje é mais conhecida pelos jogos da série .HACK e Naruto Ultimate Ninja Storm) e publicado pela Atlus & Bandai, uma das primeiras coisas que você notará ao jogar Tail Concerto pela primeira vez é que o jogo é realmente fofo. Quero dizer, MUITO fofo. Níveis KLONOA: Door to Phantomile de fofo, papo sério.
Nosso protagonista é um dogíneo policial e os principais antagonistas são três irmãs gatas... quero dizer, literalmente gatas, embora sejam bem gatinhas também, mas meu ponto é que todos os personagens deste jogo são animais falantes... o que em grande parte explica o fracasso comercial desse jogo, já que em 1998 isso era visto nos US and A como "ai tem cores e bichinhos, é jogo de bebezinho não quero nem olhar!". Anos 90, vcs já estão calvos de saber como as coisas funcionam...
Porém se você é um degererado que não consegue apreciar toda magia furrie em sua glória máxima, saiba que o jogo é bastante charmosinho também por seus outros méritos, a começar pelo seu adorável elenco de personagens como nosso protagonista Waffle, o cão policial que só quer aproveitar as férias, mas de alguma forma está preso no trabalho. O jogo ainda é lindamente animado e a história se desenrola através de cutscenes em anime que são dubladas da forma mais brega possível!
E ISSO É UMA COISA BOA?
Eu acho excelente. Sério, parece que deram uma caixa de Diazepam para os dubladores do jogo, pq tudo é dublado tão sem energia e vontade que para quem é fã de dublagens ruins como eu, é puro suco de entretenimento. Claro, não teremos momentos "what am i fighting for" de MEGA MAN X4, mas acredite que se perguntar se esse pessoal estava realmente sendo pago para dublar essas falas (o que eu pessoalmente duvido) é um dos grandes atrativos do jogo
Então, minhas piadas furries a parte...
"PIADAS", AHAM...
... caham, mas eu dizia que esse é um jogo que obviamente alguém colocou muita atenção e esforço. Tem um mundo único, toda arte conceitual é absurdamente bonitinha, só faltava ter uma jogabilidade boa e um level desig bacaninha... o quão dificil pode ser isso, né? Então...
Vou dizer que Tail Concerto começa muito bem, mostrando um mundo que consiste em ilhas no céu que lembra bastante Castelo no Céu de Miyazaki, exceto que este é um mundo habitado por cães e gatos furrecas. No entanto, apesar de todo o charme e entusiasmo envolvidos na criação do jogo, temo que o produto final entregue não seja tão charmoso assim
A cena de abertura deo anime no jogo, por exemplo, é um flashback do nosso herói menino-cachorro Waffle, dando uma coisa de cristal azul para uma menina-gato. Mais tarde, como um cão policial montado em um mecha steampunk, Waffle se vê perseguindo a gangue Black Cat, liderada pela mesma gata cujo nome é Alicia. Este conflito entre aparentemente dois amigos de infância deveria ser o núcleo emocional da história, mas é deixado subdesenvolvido como tantos outros elementos do jogo.
Basicamente, o tema central de Alicia é o suposto racismo entre os cães e os gatos. No entanto, o mundo do jogo e os NPCs que vc interage nunca estabelecem isso como uma coisa, e na verdade o contradiz totalmente. Então quando nas cutscenes Alicia fala sobre o ódio entre cães e gatos, a minha única reação é perguntar "minha filha, do que caralhos vc está falando?" pq vc anda por todas essas ilhas e nunca, em momento algum, em cena nenhuma vemos qualquer menção a isso.
Suponho que eles não quiseram colocar um tema pesado como racismo em um jogo que é tão cutie-wootie assim e eu entendo isso, mas então me permitam um breve conselho de amigo: se vcs não estão dispostos a colocar isso no seu jogo quem sabe NÃO FAÇAM ISSO SER O TEMA DA ANTAGONISTA DO JOGO. Eu sei, é um conceito narrativo muito complexo, mas tentem essa da próxima vez, ok?
Enfim, deixando a narrativa (ou falta dela) de lado, eu mencionei que Waffle pilota um mecha e essa é a parte onde entra a jogabilidade. A boa noticia é que o jogo não usa controles tipo-tanque e o seu boneco vai para o direcional que vc apertar pra ele ir (um conceito que ainda parece revolucionário para o PS1, eu realmente ainda não entendo o que quão dificil isso poderia ser).
A noticia ruim é que o jogo não faz realmente muito mais com esse conceito, infelizmente, e Tail Concerto parece um meio termo entre um jogo inacabado e um jogo infantil - não por causa dos gráficos fofinhos, mas porque ele é completamente vazio de mecanicas. É um jogo tão simples quanto simples pode ser.
Seu objetivo nos combates é capturar os filhotinhos de gato apertando bolinha. A coisa é... que eles não fazem nada realmente além de correr, eles sequer causam dano então é só vc passar perto deles e apertar bolinha. Ainda sim, vc pode prender eles em bolhas de ar, embora eu não achei isso necessário em nenhum momento.
Vc tambem pode usar essas bolhas para atirar em veículos, mas não espere muito mais do que tiro sair em linha reta e é isso. Sem armas especiais, sem pontos fracos em lutas contra chefes, apenas o básico do básico de um jogo de tirinho pew pew pew mesmo.
Não é um sistema ruim, mas você sente que está realmente a versão beta de algum jogo que seriam acrescentadas coisas mais tarde - especialmente pq esse jogo saiu quase meio ano depois de MEGA MAN LEGENDS, que é o jogo de tiro em terceira pessoa que chega mais perto para comparar o feel do gameplay.
Sério, jogando esse jogo eu tenho a nítida sensação que o orçamento acabou no meio do desenvolvimento, e eu vou ficar bem pouco surpreso se um dia descobrir que foi exatamente esse o caso. A maior parte das (não muitas) ilhas são simplesmente duas telas onde vc coleta gatinhos e uma batalha contra chefe que não tem nenhuma mecanica em especial, apenas atirar bolhas e desviar dos seus ataques terrivelmente previsiveis
No total, o jogo pode ser concluído em menos de quatro, e isso parece mais tempo do que o necessário dado o quão pouco conteúdo nesse jogo. As sessões de tiro e plataforma são, como já dito, incrivelmente básicos fazendo jogos como CHAMALEON TWIST parecer um jogo complexo em comparação.
Enfim, Concerto de Rabas é um jogo artisticamente muito interessante e seria um desenho animado bem bonito de se ver - com efeito, toda arte desse jogo têm um profissional sério por trás dela: Nobuteru Yuuki, mais conhecido por Record of Lodoss War, Vision of Escaflowne e X: The Movie. Porém, para além de todo o brilho e glamour do estilo de arte e das cutscenes em anime, o jogo realmente não tem muita mais coisa além disso
Você apenas anda por aí e coleciona gatos entre chefes e faz umas plataformas básicas. Os controles são um pouco escorregadios demais (talvez de proposito para passar a sensação que vc está pilotando um mecha), mas são jogaveis. Se as fases tivessem um level design mais criativo ou se pelo menos você pudesse manter o jetpack (que só existe em uma área), mas então esse não é o que esse jogo é.
O que nos leva ao ponto que no fim é uma coisa boa que esse jogo seja tão curto, teria ficado chato se durasse mais do que durou. Na verdade durando o que dura já é meio chato, mas hey, ao menos temos furrie-boobs, então yay... eu acho?
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 129 (Julho de 1998)
Edição 032 (Julho de 1998)