Em 1987 a produtora japoensa Technos havia acertado o pote de ouro ao tomar conta dos arcades do Japão no ano anterior com seu sucesso "Nekketsu Kōha Kunio-kun" . Esse jogo foi o primeiro a introduzir várias marcas registradas do gênero beat 'em up, incluindo andar com o personagem em 4 direções na tela (ao invés de só ir par frente e para trás), ação com botões separados para pulo, soco e chute e inimigos que aguetavam vários hits. Como você pode imaginar, é considerado um dos títulos mais influentes da indústria de videogames.
Então a Technos estava toda toda e não estava prosa. O que levou a um projeto mais ambicioso ainda: se Kunio-kun havia tomado conta do Japão, agora eles queriam o mundo! Por isso eles chamaram o diretor de Kunio-kun e o incumbiram de criar um jogo que caísse no gosto dos baka gaijins ocidentais.
Em 26 de abril de 1986 ocorreu o pior e mais grave acidente nuclear da história da humanidade. Durante um procedimento padrão de segurança (um teste simulado de blackout), a combinação de péssimo treinamento de um funcionário publico da burocracia soviética com aquela manutenção carinhosa que só algo gerido pelo camarada Estado pode ter resultou na explosão de um dos tanques do complexo.
A explosão criou um incêndio que durante nove dias. Mais de uma semana jogando material radioativo na atmosfera e eu te garanto que algo que você não quer na vida é uma chuva de plasma radioativo durante mais de uma semana. Como material radioativo não se apaga com água, a solução do governo comunista foi literalmente construir uma cúpula de chumbo e concreto ao redor da usina.
Eventualmente mesmo isso começou a vazar radiação e de tempos em tempos ela tem que ser refeita Felizmente hoje em dia essa operação pode ser feita por robôs, como aconteceu em 2016, mas o mesmo não pode ser dito da época.
Um belo dia de verão de 1992, provavelmente numa terça-feira, alguém na temível e malfadada LJN teve uma ideia incrivelmente boa: hey, e se a gente fizesse um jogo com os heróis mais populares da Marvel nesse momento?
Obviamente que esse cara foi demitido no ato, porque a LJN tem um compromisso vitalicio de só lançar jogos merda, mas por um terrível acidente de logística essa ideia acabou indo para frente. Nascia assim "Spider-Man and the X-Men" e não tem como isso dar errado, certo? Quer dizer, é o fucking Homem-Aranha e os X-men juntos em um jogo, como isso POSSÍVELMENTE não seria épico?
Bem, a LJN... LJN never changes... Havia uma brecha para cagar tudo, e nessa brecha eles se agarrariam como se a sua vida dependesse disso, afinal uma reputação de jogos ruins eles tinham a zelar!
Ora, acontece que a Marvel tem uma galeria praticamente infinita de vilões a disposição para ser usada em seus jogos (isso se deu antes da distribuição de direitos dos personagens, isso é) e de todos os possíveis e incríveis vilões que eles poderiam escolher para antagonizar este jogo, é claro que a escolha obvia seria... ARCADE!
Permita-me ir direto ao ponto: eu nunca gostei dos desenhos da Hanna-Barbera. Mesmo quando criança, eu achava terrivelmente chatos. E como tanto Will Hanna quanto Joe Barbera já estão mortos, eles nunca terão a chance de deschatizar também.
Eles eram inovadores em poupar dinheiro, verdade, mas essa era uma das suas maiores fraquezas. As recliclagens intermináveis de background eram uma forma de baratear o custo, mas à custa de fazer o desenho parecer terrivelmente preguiçoso e, em alguns casos, de ter falhas de continuidade terriveis. Na maioria das vezes, erros grandes e óbvios foram cometidos, que ninguém corrigiu, sem dúvida para economizar mais dinheiro. O mais frequentemente notado é o clássico "Pessoa A abre a boca, a pessoa B fala" ou "Por que o cabelo de Salsicha está loiro?", erros desse tipo. Não acho que custaria tanto voltar e recolorir alguns frames de cabelo, mas não é como se alguém estivesse se importando.
O mais interessante é que havia uma clara distinção entre os desenhos que eles se importavam e os desenhos que eram feitos a toque de caixa porque foda-se, as crianças eram idiotas mesmo. Tom & Jerry e os Flintstones, por exempo, eram feitos com muito carinho pelos produtores... já Jambo e Ruivão eram produzidos tipo uns 150 episódios em uma tarde.
Mas o pior mesmo pior é que eles sempre pegaram uma ideia e secavam ela até a fonte. A ideia de fazer uma sitcom que se passava na idade da pedra foi muito boa na época, passou em horário nobre e tudo mais. Show de bola. Então eles fizeram isso no espaço. Então eles fizeram isso nos tempos romanos.
A cara de pau deles era impressionante. Havia, entretanto, um desses desenhos feitos a toque de caixa e com esforço nenhum que eu gostava, e apenas um: Corrida Maluca. Não sei exatamente porque, talvez porque houvesse algo imprevisivel na competição que os demais desenhos não tinham. Você sabia que o Zé Colmeia ia se dar bem em cima do Seu Gualda antes que o desenho sequer começasse, mas você não sabia quem ia ganhar a corrida.
Eu também gosto de como o Dick Vigarista poderia facilmente ganhar qualquer corrida já que ele ia de último a ficar na frente de todo mundo sem nenhum esforço, mas escolhia deixar a vitoria de lado para sacanear os coleguinhas - o que sempre falhava, mas suponho que ele queria provar um ponto aqui... seja ele qual for.
De qualquer forma, não é uma ideia ruim que tenham adaptado isso como um jogo. O NES era capaz de ter jogos de corrida decentes, então uma versão 8 bits de Super Mario Kart com personagens querido dos desenhos não seria a pior coisa ... eh? Como é que é, produção? Wacky Race não é um jogo de corrida e sim um jogo de plataforma genérico sem muita ligação com o desenho? Sério?
... é, esquece o que eu disse. Parece que esse vai ser outro dia daqueles...
Videogames, hoje, são conhecidos por terem horas (as vezes dezenas) de cutscenes mostrando personagens, contando histórias, tentando fazer com que nós importemos emocionalmente com aqueles bonequinhos virtuais. Claro, a imensa maior parte deles é uma merda e muito frequentemente essas histórias são escritas e dirigidas por programadores e não autores ou diretores de verdade, mas enfim, de vez em quando, aqui e ali, nós temos um Nier: Automata, um Metal Gear Solid ou um Spec Ops: The Line.
É assim que videojogos são, mas eles não foram sempre assim. Videojogos nasceram como brinquedos, e eram vendidos como brinquedos em lojas de brinquedos. Isso quer dizer que, obviamente, eles não tinham nenhum esforço em sua parte artistica ou narrativa - no máximo o esforço era para fazer o jogador achar bonito, não para sentir coisas. Em Super Mario Bros. o objetivo era resgatar a princesa porque, sei lá, tinha que ter um objetivo eu acho. Em Double Dragon o objetivo era resgatar a namorada de um dos irmãos Lee (que no final lutariam para decidir quem ela namora, isso parece tão certo nos dias de hoje...) porque ... tinha que ter um objetivo. Eu acho.
Então, em 1988, houve um jogo que mudou tudo. Que mudou todas as regras dos videojogos e sua relação com narrativas e as coisas nunca mais seriam as mesmas. Um dos jogos mais importantes da história dos videogames.
Mas nossa história começa em 1987, quando uma empresa relativamente desconhecida chamada Tecmo lançou um arcade não particularmente digno de nota chamado "Ninja Ryukenden" (Legend of the Ninja Dragon Sword) e era um gun'n gun em que um ninja corria em linha reta socando cultistas do mal que odeiam o bem para impedir o apocalipse.
Ninja Ryukenden não era muito diferente de jogos como Rolling Thunder em que o objetivo era seguir em frente enquanto o jogo tentava tudo que era possivel para comer suas fichas, e como tal não foi um sucesso tão grande assim.
Vergonhosamente, o SNES e o Mega Drive nunca receberam um jogo de Doctor Who... muito porque não havia um para ser recebido. Isso é o mais perto que se podia chegar, no entanto: a maior ladra de todo o tempo e o espaço está a solta, e cabe aos agentes viajantes espaço-viajantes da ACME deter esta Timelady com gosto pelos roubos mais absurdos apenas porque ela pode.
Então, a pergunta que realmente deve ser feita é: onde no tempo está Carmen Sandiego?
Geralmente é difícil encontrar uma única frase que possa representar um jogo perfeitamente. Há algumas muito boas, claro, como o famoso "Keep you waiting, huh?" de Metal Gear ou "War never changes" de Fallout. Mas de modo geral isso não é muito comum e geralmente explicar um jogo - mesmo um jogo ruim - é algo que exige mais palavras do que isso.
Monkey Island 2: A Vingança de Le Chuck pode ser facilmente explicado pela fala do aspirante a pior pirata do mundo, Guybrush Threepwood: "Eu roubei um monte de coisas e causei duas grandes explosões."
Obviamente, com um resumo assim, este jogo é um trabalho de qualidade que todos vocês devem tentar jogar. Na verdade, o restante do review para além desse ponto, é quase inútil - mas estou me sentindo generoso hoje, então aqui vai o meu comentário a respeito.
Videojogos dependem bastante de ter algo que os diferencie dos 8 octilhões de jogos que foram lançados antes dele no mesmo genero, senão qual é o ponto de comprar algo que é apenas igual aos outros? Esse diferencial pode ser os gráficos, a narrativa ou mesmo o próprio conceito do jogo.
No começo dos anos 90, entretanto, suas opções de variedade eram bem mais limitadas. Basicamente o que você podia mexer era apenas no gameplay, salvo raras exceções, e a essa "mecanica diferenciadora" dos jogos eu chamo de gimmick.
Bem, e o que acontece então quando um jogo tem um gimmick até certo ponto criativo mas então devota toda e qualquer energia para não faze-lo funcionar? Esse é o caso de Xardion, mas antes disso - como de costume - vamos ver a história horrível por trás desta aventura!
Ranma 1/2 é um manga (posteriormente portado como anime) bastante... peculiar. Conta a história de um jovem mancebo chamado Ranma que durante uma viagem de treinamento em artes marciais caiu em uma fonte amaldiçoada da garota afogada e agora se transforma em uma novinha toda vez que é molhado com água gelada.
Na verdade parece que as fontes amaldiçoadas estavam em liquidação, porque ao longo da sua jornada para tentar encontrar uma cura para sua maldição de ter magumbos Ranma encontra vários personagens que tem seus próprios tipos de maldição ativadas por água gelada: seu pai vira um panda, seu melhor amigo/rival vira um porquinho e (uma das) sua noiva arranjada Shampoo vira uma gata.
O anime é um hibrido de anime do começo dos anos 90 harém com battle shonen, com todos os clichés que você pode esperar de ambos (de torneios de luta a episódios em fontes termais), mas com o diferencial de que o manga foi escrito por uma mulher e Rumiko Takahashi tem alguns insights muito inteligentes sobre como explorar a formula. O humor lembra bastante o nonsense do Dragon Ball original, mas com mais tetas de fora.
Isso sendo dito, é claro que uma franquia tão grande (o anime tem quase 150 episódios) eventualmente faria seu debut nos videojogos, e naturalmente seria um jogo de luta. O que mais poderia ser, não?
Bem, a coisa é que no começo de 1992 (ou seja, numa época pré-Street Fighter 2) ninguém tinha muita ideia de como fazer um jogo de luta e isso transparece muito. Os controles são duros, os golpes especiais simplistas, nenhuma das transformações dos personagens entra no jogo e o modo história só pode ser jogado com o personagem titulo (em sua forma masculina, é preciso um truque para jogar como menina).
Não é um jogo terrivelmente ruim, é mais esquecível do que irritante. Claramente é a primeira tentativa no genero. Ora, enquanto é verdade que todo mundo tem que começar de algum lugar, quando o jogo foi adaptado para o ocidente a distribuidora Irem achou que precisava começar em um lugar muito, muito diferente...