sexta-feira, 9 de julho de 2021

[SEGA CD] BOUNCERS (Janeiro de 1995) [#720]


Eu fiquei bastante em dúvida se iria realmente falar sobre esse jogo, porque via de regra eu não falo sobre jogos de esporte - depois de certo ponto é muito dificil ter o que falar de interessante como o NHLPA 96 é diferente do NHLPA 95. A questão é que enquanto tecnicamente Bouncers é um jogo de esporte, eu não tenho muita certeza se classificaria ele assim... ou classificaria de qualquer maneira.

E se ele é esquisito o suficiente para não se ter certeza, então é algo que vale falar a pena. Infelizmente, mais falar sobre ele do que jogar.


Mas vamos começar do começo: Bouncers é um jogo de basquete que você joga com a bola.

HÃ, EXISTE ALGUM JOGO DE BASQUETE QUE VOCÊ NÃO JOGUE COM A BOLA?

Ah sim, esse idioma, certo... eu quis dizer, é um jogo que você joga COMO a bola. Não existem atletas na quadra, apenas bola se quicando em direção a cesta. Yep, eu vou deixar você assimilar o peso dessas palavras.

Mas como isso pode funcionar na prática? Bem, é aqui que as coisas ficam mais estranhas ainda porque Bouncers é meio que um jogo de basquete tanto quanto um jogo de luta ao ponto que eu não tenho certeza de como classificar esse jogo realmente. 


Desde que a internet existiu, nerds discutem sobre a classificação de certos jogos por gênero. Eu não sou tão fã assim de classificar as coisas em caixinhas, mas suponho que tenha sua utilidade prática especialmente para explicar o conceito de um jogo. Ainda sim, nem sempre é algo simples. Os survival horror combinam o inventário e os puzzles de point'n click com o jogo de tiro em terceira pessoa. As estratégias em tempo real combinam o planejamento cuidadoso dos boardgames com o imediatismo dos jogos de ação, e não é fácil nomear um único título na última década e a metade que não tem algum tipo de mecânica inspirada em RPG embutida.

No entanto, apesar dos gêneros híbridos serem tão comuns, Bouncers que é uma combinação de jogo de basquete/luta ainda parece um jogo bem esquisito. E embora a imagem mental evocada por essa descrição possa representar dois caras altos e magros batendo um no outro disparando hadoukens de bolas de basquete, a realidade é ainda mais estranha: cada jogador controla uma bola de basquete antropomórfica cujo objetivo é fazer seu corpo atravessar dois ou três aros de basquete no cenário mais vezes pontos do que o outro jogador antes que o tempo acabe. Mesmo para o Sega CD, um sistema sem escassez de jogos estranhos e inescrutáveis (como KIDS ON THE SITE que vc é uma criança operando máquinas pesadas em FMV) a existência de Bouncers é nada menos que desconcertante.

O que pega aqui é que as bolas não conseguem chegar até as cestas sozinhas, então você precisa pular em cima da cabeça do seu oponente - e impedir que ele faça o mesmo com você, obviamente. Essa é a teoria... na prática esse é um daqueles jogos que você aperta os botões sem ter qualquer resposta correspondente no jogo.

Isso se deve principalmente ao fato de que o desenvolvedor Dynamix optou por criar um jogo que apresenta física realista para equipamentos esportivos sencientes. Como você pode ver, algo nessa frase parece errado. 

Na pratica isso quer dizer que o seu personagem patina muito para ganhar momentum (a sensação do jogo inteiro ser uma grande fase do gelo, um velho conhecido de jogos de Amiga) e uma vez no ar, o personagem tem o peso e a trajetória de uma bola de basquete real, o que significa que o jogador perde quase toda autonomia e controle de seu personagem assim que está no ar - porque bolas de basquete não mudam de direção no ar, todo mundo sabe disso. 

Além de correr e pular, os quicadores também têm um botão para dar um ataque no outro jogador, mas eu não tenho muita certeza de qual a utilidade disso. Como o que marca pontos nesse jogo é quicar na cabeça do seu oponente, dar um tapa (que não corta o movimento dele) não tem utilidade real nenhuma .

O que acontece então é que durante a sessaõ de jogo um personagem vai estar no ar, e o outro parado no chão esperando o adversário cair pra tentar "dar o bote" e pular em cima dele - mesmo com os controles horriveis de fase do gelo. Se isso parece remotamente divertido pra você, então você é uma pessoa melhor do que eu.

Periodicamente, power-ups entrarão na arena. A maioria deles aumenta as habilidades do jogador de alguma forma que ajuda ou atrapalha, como aumento da quicosidade da sua bola ou deixar seu personagem mais rápido. No entanto, nenhum deles torna o jogo mais jogável ou divertido. Os únicos itens úteis são joias que, quando tocadas, dão pontos ao jogador como se fosse cestas. Isso parece menos uma benção para o jogador, no entanto, e mais uma admissão tácita dos desenvolvedores de que eles lançaram um jogo quebrado, tão injogavel por design que eles tiveram que adicionar algum tipo de coisa extra para sair pontos.

Embora as circunstâncias exatas que levaram a esse desastre de jogo nunca foram revelada (porque ninguem se importa o suficiente com Bouncers para ir atrás), é claro que alguma ideia maior existia. Cada um dos oito personagens tem videos introdutórios - alguns deles dublados pelo Mark Hamil, olha só. Sua existência sendo divorciada do jogo principal sugere um desenvolvimento fraturado e apressado (supostamente isso deveriam ser cutscenes para a campanha do jogo, mas que acabaram socadas como um menu de opções). Se isso foi feito com as cutscenes, quem sabe o que mais foi cortado das ideias para esse jogo?

O resultado é que faz Bouncers parecer menos como um híbrido único e cheio de estilo e mais como alguma coisa abandonada pela metade e que foi lançado mesmo assim porque foda-se. O que ele é.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 013


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