sexta-feira, 23 de julho de 2021

[ARCADE/SATURN] VIRTUA FIGHTER 2 (Dezembro de 1994) [#731]


Existe uma coisa no cinema que se chama de "filme feito para ganhar o Oscar", Oscar Bait é a expressão em inglês. Esses filmes geralmente são dramas deprimentes, filmes inspiradores de pessoas perseverando em condições socialmente adversas  e de desumanidade do homem para com o homem. Há também um grande foco em doenças mentais ou personagens vitima de discriminação. 

É bem raro um filme de comédia ir bem no Oscar, ficção científica e o terror não se saem muito melhor, e os filmes de animação receberam suas próprias categorias pra não passar em branco pq nunca vão ganhar um Oscar de melhor filme mesmo quando são de fato o melhor filme do ano (Your Name e Spiderman in Spiderverse mandaram um salve). 

Mais importante, esses filmes são facilmente reocnheciveis por serem tecnicamente impecaveis em cinetografia e simbolismo, se for em preto e branco então... Só tem um probleminha: são filmes chatos de se assistir. Não dá pra dizer que eles são RUINS pq são tecnicamente impecaveis, mas puta merda que filme desinteressante.

O Regresso, Roma e Nomadland são três exemplos perfeitos que me vem a mente do que eu estou querendo dizer, mas certeza que você consegue pensar em alguns também. Tá, mas pra que eu estou falando de Oscar num blog sobre videogames, terei eu finalmente enlouquecido?

ISSO SEQUER PRECISA SER DISCUTIDO, NAVERDADE

Justo. Mas meu ponto é que pra mim Virtua Fighter é o equivalente videogamístico de Oscar Bait. São jogos tecnicamente impressionantes, espetaculares para a tecnologia de sua época... só tem o probleminha que eu não consigo me divertir com eles nem que minha vida dependesse disso. Claro, é questionável como alguém conseguiria se divertir com sua vida dependendo justamente de se divertir com um jogo, mas divago.

A sequência do jogo de luta da Sega que revolucionou os videogames, mostrando que jogos 3D eram o futuro dos videogames e que influenciou fortemente a Sony no design do Playstation (mais do que influenciou a Sega no projeto do Saturn, na verdade), Virtua Fighter 2 conseguiu elevar a barra (mais uma vez) em termos de visual e jogabilidade. 

Virtua Fighter 2 no arcade em sua época foi facilmente um dos videogames mais bonitos (período) de todos os tempos. Hoje um jogo rodando a 60 fps é algo tido como apenas obrigatório, se o jogo não entregar isso é um grande desapontamento. Nos anos 90, não. Essa suavidade de animação de 60 quadros por segundo não era algo comum naquela época, gerando algumas das animações de artes marciais mais suaves e autênticas que já apareceram em um videogame.

Os poligonos podem não ter envelhecido bem, mas a fluidez da animação é algo bonito até hoje. 

Na parte da luta, o jogo também foi mais aprimorado ainda, cada personagem Virtua Fighter luta com seu próprio estilo único, agora muito mais definido nos movelists atualizados. Qualquer fã de artes marciais na vida real pode identificar o estilo de cada personagem, como karate, Jeet Kune Do, Ninjitsu, Pro-Wrestling e Drunken Fist. Sim, Pro-Wrestling é uma arte marcial pra mim e pra Sega, lide com isso.

E sim, agora VF2 adicionou ao seu rol de lutadores o estilo marcial mais legal de todos, o Punho Bebado através do novo personagem Shun (o outro personagem novo é Leon, que luta Kung Fu estilo Louva-Deus). As animações desses novos estilos realmente definem o quão longe a Sega chegou com a animação de artes marciais em seus jogos, e embora nessa época não se usasse captura de movimento ainda com certeza parece ser o caso de tão bom que ficou.

Ui, divei

E claro que isso não é exclusivo dos estilos novos, os antigos receberam novos golpes, novos movimentos, a fisica dos personagens foi refinada, o peso dos personagens esta melhor, o sistema de counters está mais realista e recompensa muito o tipo de jogador especializado que conta frames de animação para apertar o botão certo na hora certa, entre outras coisas que elevam o cenário competitivo dos jogos de luta a outro patamar nunca antes imaginavel em termos de complexidade...

... e é justamente esse o problema. Ao menos pra mim. Pra vc ter uma ideia do que eu estou falando, eu gostaria de ilustrar como o agarrão funciona nesse jogo. Ou, melhor dizendo, como funciona em TEKKEN:


No agarrão do Tekken, o personagem dá um passo a frente e pega o oponente. Isso serve porque o proposito do agarrão é quebrar a defesa do oponente que fica só defendendo. Se o cara fica só apertando defesa e empacando o combate, mete-lhe um agarrão e o jogo segue.

Em Virtua Fighter, o agarrão é... complicado. Depende basicamente do golpe que o adversário der, e depende de você apertar o comando no frame exato. Quando sai é muito satisfatório porque encaixa no golpe do oponente de uma forma muito organica, mas pra chegar nisso vc precisa ler o oponente como se fosse um artista marcial de verdade.


O que é excelente e fica realmente lindo em campeonatos competitivos, quase um filme de kung-fu. Porém para os reles mortais como eu... eh, não funciona tão bem assim. E por "não tão bem assim" eu quero dizer que não funciona at all.

Mas que fica bonito quando vc sabe o que está fazendo, fica.


Talvez  o jogo fosse mais palatavel pra mim se ele pudesse se basear no carisma dos personagens, mas meio que não existe nenhum aqui. Isso porque a Sega decidiu não colocar história nenhuma nesse jogo, você escolhe um personagem, luta até o último chefe, rolam os créditos e fim.

Aí você pode argumentar que "é um jogo de luta, não faz diferença história". Só que entre você não perceber que faz e não fazer, são duas coisas completamente diferentes.

A própria intro do jogo se foca na evolução tecnica do jogo, o que no espaço de apenas um ano e pouco foi impressionante

Todo mundo lembra do jogo da velhinha beijoqueira (POWER INSTINCT), todo mundo lembra da obsessão de Tekken com penhascos e todo brasileiro lembra do Blanka com muito orgulho, com muito amoooooor. Ou da Orchid mostrando os peitos (mais ou menos) em um jogo de luta da Nintendo. Em Virtua Fighter não tem nada para lembrar.

Eu já disse um milhão de vezes aqui e continuarem dizendo (pq eu estou certo, afinal) que o jogo que realmente importa não é o que você joga com seus dedos e sim o que você joga com a sua mente. E é aqui que os backgrounds entram, algo que o wrestling já entendeu a pelo menos 50 anos. A ação só importa se você se importar com quem esta executando ela, é por isso que jogos de luta tem história.

Mas VF não tem.

"I know kung-fu" - Neo, após 560 horas jogando Virtua Fighter 2

Verdade que um pro-gamer de VF tem narrativas emergentes o suficiente para ter seus próprios vinculos com os personagens, especialmente em um jogo que permite lutas como se fosse uma arte marcial. Ele vai lembrar de adversários (humanos) que teve jogando o jogo, movimentos que fez e lutas que ganhou no detalhe, porque nesse sentido o jogo te dá muito o que trabalhar já que são várias possibilidades.

Para o publico leigo que só queria colocar uma ficha e se divertir... bem, VF não te joga nenhum osso realmente. Eu não estou dizendo que isso é ruim, pelo contrário, se você tirar tempo para se dedicar e aprender nenhum jogo te dá mais ferramentas do que Virtua Fighter para isso valer a pena.

Mas para mim, meh. I've always been a Tekken kind of guy.

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