Era véspera de Natal, e nada no estúdio da Capcom se movia,
Nenhuma criatura, nem mesmo um camundongo;As meias com cuidado foram penduradas na lareira,
Na esperança de que Papai Noel logo chegasse;
Peter CAP e John COM aconchegados, quentinhas em suas pilhas de sacos de dinheiro,
Enquanto cifras de royalties das continuações dançavam em seus sonhos;
Então eis que de repente, não mais que de repente, Peter CAP acorda com um grito "TEMOS QUE GANHAR MAIS DINHEIRO!", ao que John COM responde com "A GENTE NEM SABE MAIS NO QUE GASTAR, PRA QUE?" e então ambos riam. Era uma piada recorrente entre eles, é claro que a Capcom queria ganhar mais dinheiro apenas porque sim.
Tal qual nos jogos de Game Boy, os 8 chefes não estão disponiveis desde o começo. Você luta com quatro e só então o jogo disponibiliza mais quatro. |
Mas a pergunta é... como? Bem, a resposta mais obvia era fazer jogos. Verdade que eles podiam fazer um filme e eles meio que já estava fazendo isso, mas filmes são coisas trabalhosas de fazer que dependem de muitas outras pessoas. Não, eles queriam um dinheiro rápido, um dinheiro ligeiro, um dinheiro toco y mi voy. Então o ideal seria fazer um jogo que desse retorno 100% garantido e que fosse simples de fazer, ou seja criar uma nova IP estava fora de questão.
Felizmente para eles, o que não faltam para a Capcom são nomes reconheciveis. Eles podiam fazer um novo Street Fighter, mas lançar um novo SF a cada 15 dias não estava mais dando tanto retorno... e eles também já estavam fazendo isso com STREET FIGHTER: THE MOVIE. Não, teria que ser outra marca. Os jogos da Disney da Capcom seriam uma boa, como DISNEY'S ALADDIN ou CHIP'N DALE RESCUE RANGERS, mas a verdade é que a Disney comeria a bunda deles com farinha e cuscus se eles fizessem um jogo merda. GHOST'S AND GOBLINS muito dificil, DARKSTALKERS: The Night Warriors não tinha emplacado totalmente ainda. Quem sabe então um beat'm up ou... oooh, isso!
Peter CAP e John COM se olharam, eles sabiam exatamente o que queriam: um titulo reconhecivel, com uma formula pronta, boas vendas garantidas? Só havia uma resposta: o bombardeiro azul, o inimigo de virilhas robóticas, o Mega Homem. Só que tinha um problema: Mega Man X3 já estava sendo desenvolvido e era um dos projetos mais importantes para a Capcom, eles não podiam fazer qualquer merda rapidão só pra faturar um troco...
E a tradicional capa japonesa com todos os personagens do jogo |
... mas será que não podia mesmo? A solução simples fazer um spin-off de Mega Man X, mas como fazer algo do tipo? Foi então que eles se tocaram: espera, Mega Man X JÁ É um spin-off! Peter Cap e John Com então se olharam e a resposta era obvia: Mega Man 7, é claro!
Eu lembro que na época eu vi esse jogo na locadora e fiquei bastante confuso, tipo... pra que? Mega Man X era um dos meus jogos favoritos e já tinha continuações sendo lançadas anualmente, qual era o ponto de continuar os jogos do Nintendinho sem os upgrades de gameplay e movimentos? Assim, o sétimo jogo regular do Mega Homem foi feito.
Só que quando eu disse que a Capcom queria fazer uma grana rápida da forma mais rápida possível, eu quero dizer que isso foi exatamente o que eles fizeram. Todo processo de produção do jogo foi rushado em apenas três meses, com direito a uma produção tipicamente japonesa com os funcionarios dormindo embaixo das suas meses sem ir pra casa por meses, essa merda toda que é assim que o Japão rola.
Mega Homem contra o cyber urso who don't take your kind here |
Porém como você coloca seus funcionários para trabalhar 20 horas por dia e ainda sim entregar um produto de qualidade? Em uma palavra, motivação. Quando você vê as entrevistas da equipe de produção do jogo, normalmente são ditas coisas positivas a respeito dessa época, é dito como "foi um grande acampamento de verão" ou algo assim.
Como eles conseguiram esse milagre pra não ter um jogo bosta feito de qualquer jeito? Eis aqui onde entra a genialidade da Capcom: eles pegaram um pessoal mais novo no estúdio e lhes ofereceu uma grande oportunidade na carreira. Gente grande dentro da Capcom como Shinji Mikami ou Kenji Inafune já estava em uma posição na carreira que eles podiam se dar ao luxo (alguns usariam o termpo "condições humanas básicas") e não passar três meses morando embaixo da sua mesa para entregar um jogo secundário para os planos da empresa.
Agora quando você é um jovem começando na carreira, a oportunidade de trabalhar em um Mega Man não é algo que você deixa passar. Especialmente em uma empresa japonesa, quebrar um galho quando a empresa te pede é algo esperado dos jovens e em mundo ideal (embora na prática nem sempre) recompensado.
Após derrotar o quarto chefe rola essa fase em um museu, que tem os corpos de vários chefes dos jogos anteriores... o que é meio creepy, quando você pensa sobre isso |
Tanto que por exemplo Kazuhiro Tsuchiya, que em 95 era um programador novato com poucos anos de casa hoje é um dos grandes produtores da Capcom - inclusive ele é o produtor de Mega Man 11 que saiu em 2018. Alias falando em Mega Man 11, é curioso que a série Mega Man X que deveria ser a série principal acabou ainda nos dias do Playstation 2 (o ultimo jogo Mega Man X8, de 2004), porém a série numerada que continuou dos dias do Nintendinho e que deveria ser a secundária ainda é feita até os dias de hoje.
Mas então meu ponto todo com essa história é que quando você analisa Mega Man 7 não tem como não considerar o fato que ele efetivamente foi feito em apenas três meses. Quando você leva esse fato em consideração, é um jogo surpreendentemente bem feito, com uma quantidade de detalhes e acabamento que é realmente impressionante. É um trabalho assombroso, dadas as circunstancias
Porém quando você olha o jogo sem esse prisma histórico, como você analisa o jogo apenas como alguém que pega e joga o jogo... hã, bem, Mega Man é um jogo okay. Verdade, Mega Man é como pizza, mesmo quando é ruim é bom, mas Mega Man 7 não vai muito além de "bom" também.
A história do jogo é... curiosa, vamos dizer assim, e certamente seria interessante ve-la desenvolvida em um jogo que não foi feito no time attack - vocês já vão entender o porque. Originalmente, MEGA MAN 6 foi pensado como sendo o último jogo da série regular do menino inimigo de cyber-virilhas e no final dele Dr. Willy é finalmente preso, fim da história finalmente.
Logo, Mega Man 7 começa desse ponto já que o bigodão mais chavoso dos videogames tinha um plano de contingencia para se isso acontecesse, é claro! Ele preparou que se ele ficasse mais de seis meses sem entrar em contato, alguns robôs para despertarem e resgatassem a sua bunda da cadeia, UTI ou fizessem um pacto com cybersatanás para ressucita-lo, algo do tipo.
Os robos do Dr. Willy então saem tocando o terror e resgatam o home da prisão antes que nosso herói fazer alguma coisa. Assim, Mega Boy tem que novamente derrotar oito robos mestres para impedir que o vil vilão vilaneie vilanescamente. Não antes de estar devidamente equipado, é claro!
Okay, foi idiota mas eu ri. Fazer o que? Sou um homem simples de gostos simples. Mas dizia eu que Mega Man agora tem uma jornada, porém ela não inicia antes de nosso herói receber uma visitinha:
Hã, você sabe que podia ter só atirado na nave dele durante esses longos segundos que todos ficaram se encarando de forma totalmente awkward, né? Seria um jogo bem curto, verdade, mas apenas dizendo que você poderia ter feito isso...
Logo na fase introdutória você é atacado por um robo loiro que foi feito para parecer cool e que totalmente não tenta ser o Zero dessa versão, e segundo ele, ele te ataca para "te testar" e logo vê que Mega Homem é suficiente para a missão. Sei...
Seja como for, você não ouve mais falar desse tal Bass durante todo o resto do jogo, até eliminar o último chefe quando então ele aparece novamente todo lascado sei seu pq...
Hã, okay buddy... eu mal sei quem vc é, vc literalmente apareceu em uma cena laaaa no começo do jogo e agora somos amigos? Eu realmente não entendi o proposito desse cara nesse jogo, suponho que era pra ser um grande plot twist quando se revela que ele era um robo criado pelo Dr Willy e na verdade foi criado para ganhar a confiança do Mega Homem e se infiltrar na base do Dr. Light... mas novamente, é dificil uma traição funcionar quando o personagem apareceu por tipo uns 15 segundos no jogo inteiro.
Valeu a intenção, mas em um jogo feito em três meses talvez não é o melhor momento para introduzir um personagem novo na franquia. Esse tempo programando teria sido melhor gasto em outras coisas, como o level design que é básico na real.
Porém se o desenvolvimento do jogo faz pouco sentido, o final é de uma bizarrice impar. Isso porque após derrotar o Dr. Willy, o menino Mega Homem manda essa:
Véi, do nada! Mega Man decidiu simplesmente ir full Chico Castelinho e dar uma Justiceiro e isso é aberrantemente destoante do tom do game. Como assim o Mega Man vai meter uma mega bala na testa do Dr. Willy, assim, do nada?! Que porra ta acontecendo aqui?
Ah, ufa, pelo menos isso. Pelo menos não vamos ver nosso menino sapequinha espalhando miolos de 16 bits pela tela, isso seria a coisa mais hedionda da história dos videogames.
NÃO! MEGA MAN FEIO! PARA! STOP MEGA MAN!!
STAPH!!!!
Ah, ufa, o teto desmorona convientemente sobre um senhorzinho provavelmente quebrando sua bacia (é o que velhos fazem, afinal)... e agora Mega Man vai executar a sangue frio um tiozinho indefeso preso nos escombros, oh noes! Ficou muito pior!
Por favor, alguém salve a inocencia do menino azul e a todos nós! Sério gente, você estão me dizendo que esse menininho vai executar alguém a sangue frio?!
ESSE menino sapequinha é um assassino a sangue frio? Anos 90, apenas pare! Alguém os faça parar!
Ah, ufa. Obrigado Bass por salvar a nossa inocencia!
Mas puta que ideia de girico essa cena, heim? A Capcom da América tem o que na cabeça pra fazer uma porra dessas sem sentido? Sim, eu disse a Capcom da América porque o original em japonês não tem essa bizarrice não. Na verdade é uma cena bem interessante: Mega Man derrota o Dr. Wily e o velho diz que nada daquilo faz sentido porque como o Mega Homem não vai até o fim eles vão continuar fazendo isso até o fim dos tempos - bem aos moldes do Coringa e o Batman.
O menino robo então reflete sobre isso e concorda que sim, ele não vai até as ultimas consequencias, mas que ele deterá Wily quantas vezes forem necessárias. Aí então o teto desaba e Bass salva o véio. O que é bem menos pior, mas a Capcom americana decidiu que não, isso era moloide demais e queria fazer nosso herói um vigilante super edgy darqui trevoso du mauuuu... meu deus anos 90, que época terrível viu...
O jogo termina com nosso herói se afastando do castelo sem olhar para a explosão pq Mega Homem é cool assim. E agora que eu falei do final, que é algo que tava me incomodando, posso finalmente falar do jogo.
A principal coisa a ser dita desse jogo, em termos de gameplay é o quanto a reformulação gráfica do jogo afetou a jogabilidade em si. Sim, Mega Man agora está maior, mais bonito e mais chocolatante do que nunca em gráficos do fim da vida útil do SNES, que são oito multiversos e meio melhores que os gráficos do Nintendinho... mas isso vem com um preço.
Enquanto esse jogo é muito maior e mais detalhado do que tinhamos até então no Nintendinho, agora esses sprites maiores ocupam uma grande parte da tela. Isso resulta em ser acertado mais frequentemente, ter que fazer mais saltos de fé pq não cabe tudo na tela e varios outros problemas que Mega Man nunca teve nos jogos de 8 bits. Mas melhor do que eu falar, basta ver do que eu estou dizendo:
Da esquerda para direito temos o Mega Man original de Nintendinho, o remake para Mega Drive MEGA MAN: THE WILY WARS, este Mega Man 7 e por ultimo o MEGA MAN X de SNES. Repare que apenas nesse jogo acontece o problema do personagem ser grande demais, de modo que você tem os problemas já citados de ser um alvo fácil tanto quanto de não poder ver tudo que tem a frente, fazendo esse jogo o mais dificil da série até então e não pelos motivos certos.
Isso não torna o jogo ruim porque a Capcom sabe o que está fazendo e o jogo foi desenhado com essas limitações em mente - até por isso o level design é bem simples. E mesmo quando o jogo exige saltos de fé, o jogo é consistente o suficiente para você ter uma ideia de onde pular - certamente o jogo não fica brincando de "AHA, TE PEGUEI", como esperado da Capcom.
Então dá pra dizer que eles mais ou menos resolvem o problema que eles proprios criaram, mas... talvez seria interessante não ter criado o problema em primeiro lugar, sei lá.
Esse episódio de Carros foi muito louco |
Outra coisa que chama atenção é que a própria proposta do jogo é contraintuitiva em si mesma. Como eu disse em MEGA MAN X, aquele jogo é uma evolução da proposta dos jogos de Nintendinho tanto narrativamente quanto em gameplay. E dar um passo pra trás depois de ter evoluído é esquisito de jogar. Ao contrário de seu filhote futurista, X, aqui o Mega menino não escala paredes, não tem dash (muito menos dash no ar), não tem tiro concentrado para as armas especiais e não tem tanques extras recarregaveis. Pequenos upgrades de qualidade de vida que é realmente estranho jogar sem eles, mas enfim a proposta é justamente essa.
Por outro lado, Mega Man 7 não totalmente ignora ideias que nasceram na série X e isso melhora bastante a experiencia. Não existem partes da armadura colecionaveis que dão power ups separados como em X, mas você pode coletar as letras da palavra RUSH ao longo das fases para desbloquear a Super Adapter, uma armadura que faz usar o cyber-doguinho Rush em uma armadura que dá pulo duplo e ataque teleguiado.
Sim, você usa uma armadura feita de um cachorro. Faça o que quiser com essa informação.
Outra coisa que o jogo incorporou da série X foi que você pode usar as armas especiais dos chefes para abrir passagens secretas nas fases normais. MEGA MAN 6 já tinha brincado com essas ideias que vieram depois do X, mas em Mega Man 7 é que dá pra dizer que elas são plenamente desenvolvidas. Aço derretido e bots meteorológicos podem ser congelados, geradores ligados à vida, velas acesas e assim por diante
Como nessa fase, por exemplo, que você precisa usar o tiro de gelo para congelar as cachoeiras de lava. |
Uma coisa interessante (e inédita) que esse jogo faz é que existe uma loja para você comprar os power ups que não conseguir encontrar. Durante o jogo você coleta parafusos que podem ser trocados por vidas extras, tanques de energia ou os power ups que você não encontrou. Como os preços dos power ups são salgadinhos, então é recomendado usar apenas para o que você não encontrou mesmo - o que é legal, é uma mecanica que eu não tenho nada contra.
Só tem um problema, um pequeno probleminha... O JOGO NÃO TE FALA QUE TEM ESSA LOJA! Para acessar ela você tem que apertar select na tela de seleção de chefes, mas em lugar nenhum do jogo te diz isso! Durante boa parte do jogo eu fiquei coletando esses parafusos que servem de moeda sem ter a menor ideia de pra que eles serviam, foi só depois da metade que eu vi num FAQ explicando esse comando.
Tá, okay, eu imagino que tem no manual do jogo e tal, mas... me diz, o que custava ter uma frasezinha no jogo dizendo pra apertar Select? É uma mecanica nova na SÉTIMA versão do jogo, como que eu imaginar isso? Po gente, ajuda eu ae pow...
Outra novidade nesse jogo é que após cada chefe nosso herói volta a base e tem uma pequena conversa com o Dr. Light discutindo usos para a nova arma adquirida, dando dicas ao jogador do que fazer. O que é mais legal é que na versão japonesa em vez das dicas e funcionalidades normais da arma, Mega Man pode conversar com Roll para encontrar um uso para a arma como utilizar ela para utilidades domésticas como usar o usar o ataque de vento como aspirador de pó. Infelizmente essas brincadeirinhas não foram traduzidas pq eu já discuti aqui bastante o que americanos pensam sobre crianças e senso de humor, o unico humor que eles achavam que vendiam era a coisa de ser DARQUI TREVOSO DUMAUUUU
Ah qualé! Como que eu vou desviar isso com um bonecão desse tamanho?!? |
Sabe, muitos fãs dizem que Mega Man 7 é a pior entrada da série e depois de ter jogado todos os jogos do 1 ao 7, posso dizer que essa declaração não está tecnicamente errada. Sim, dá pra dizer que consideras as limitações de hardware esse jogo é o "menos melhor" da série (talvez o primeiro Mega Man seja limitado assim também), mas daí a dizer que ele é um jogo ruim também é forçar a barra.
Mesmo o pior dos Mega Man ainda é um jogo acima da média, e Mega Man 7 é um jogo acima da média. Tem uns defeitos que não precisava ter, mas Mega Man sempre é Mega Man e vice-versa.