quinta-feira, 5 de agosto de 2021

[SNES] TIMECOP (Fevereiro de 1995) [#739]

Embora o jogo seja baseado no filme relativamente popular do Van Damme, a capa escolheu usar a imagem da capa dos quadrinhos originais que é bem mais obscuro. Eu entendo que usar a imagem do Van Damme pode envolver questões de direitos, mas pq não usar um dos posteres do filme então? Não acho que colocar o Ciclope na capa ajudou muito o jogo, eu certamente nunca me interessei em todas as vezes que vi ele na locadora

Eu vou dizer uma coisa que pegará vocês completamente de surpresa: eu não sou uma pessoa muito boa para me relacionar com outras pessoas.

ISSO NÃO SURPREENDE UMA ÚNICA PESSOA NESSE PLANETA. OU EM QUALQUER OUTRO, PARA ESSE PROPÓSITO.

Sim, chocante, eu sei. Mas o ponto é que empatia não é exatamente o meu ponto forte, eu meio que não sinto automaticamente o que as pessoas sentem quando se relacionam com as outras. Eu consigo deduzir racionalmente o que a pessoa esta sentindo e qual é a coisa certa a ser dita porque eu sou mais inteligente que todos vocês juntos, mas não é uma coisa que me vem institivamente como acontece a qualquer pessoa.

Porém mesmo com meu intelecto imensamente superior, tem coisas que mesmo eu acho dificil de explicar como funcionam, sendo uma das mais dificeis de explicar é o que carisma. O que nos leva a gostar mais de um personagem ou uma pessoa com base em informações mínimas sobre eles, apenas batendo o olho?

Estamos agora nessa retrospectiva atravessando o coração pulsante da febre dos jogos de luta e carisma dos personagens é um fator decisivo a vida ou morte de um jogo (como eu discuti em NIGHT WARRIORS: Darkstalkers' Revenge). Porém jogos de luta não são a única coisa que vive ou morre pelo carisma dos seus personagens, sendo este item decisivo para outro ramo tão prolifico quanto na época: filmes de ação.

Uma quantidade não pequena de esforço e dinheiro era colocado em brucutus brucuteando, baseado simplesmente no fato de que nós nos importemos com esses brucutus pelo simples carisma dos seus atores. Hoje, Schwarzenegger e Stalonne são basicamente sinonimos dos anos 90 e basicamente tudo que eles faziam era relevante, mas... pq? Essa é uma questão que eu nunca achei fácil de responder.


Eu imagino que a imagem mental que a gente tem dos atores ajuda bastante. O Schwarzenegger é um cara bem limitado como ator, mas a gente gosta dele pq... eu não sei exatamente. Ele parece ser ciente da sua limitação e é esforçado quanto a isso, mas eu não sei dizer realmente. Ou então o Stalonne, eu não sei dizer porque exatamente eu gosto dele, mas eu gosto.

Como dá pra ver, como o carisma funciona é um completo mistério para mim. Tanto quanto como ele NÃO funciona, porque eu lembro que das grandes estrelas de ação da época se tem uma que eu nunca dei tanta atenção assim foi o Van Damme e eu não faço ideia do pq. Quer dizer, hoje eu sei ele não era uma pessoa agradavel de se trabalhar e toda a questão das drogas no set de filmagem, mas na época eu não sabia de nada disso e eu apenas não me importava muito com os filmes dele. Pq, exatamente, eu não sei.


Trinta anos depois, não muita coisa mudou realmente. Ainda acho os filmes de ação do Van Damme de uma segunda prateleira no genero de ação e entre os inúmeros filmes "é, estão lá" que ele fez, um dos poucos que eu lembro de ter assistido foi justamente Time Cop pq é sobre um policial viajante do tempo, como isso pode dar errado?


Acontece que em 1994 foi o ano que Hollywood se ligou de uma coisa muito importante: se pegar histórias, universos e personagens prontos dos quadrinhos era uma forma de fazer filmes de conceitos já testados, mais barato que fazer isso pagando licenças a DC e a Marvel era fazer isso pegando de editoras menores - o que significava preços mais baixos e um fandom muito menor para encher o saco.

Nesse ano começaram a ser adaptados títulos da Dark Horse comics com relativo sucesso como O Máscara, Hellboy e 300. Porém o primeiro filme adaptado de um quadrinho da Dark Horse foi Timecop, e já começou com um grande sucesso arrecadando mais cem milhões de Bill Clintons na época  - se mais nada, pq o conceito era basicamente "filme do Van Damme com viagem no tempo".

Mas isso funcionou?

Em 1994, Timecop previu o governo Trump

É menos pior do que você esperaria, mas não é tão bom quanto poderia ser. Como a imensa maioria dos filmes do Van Damme, meio que apenas está lá. O filme se passa no futurista ano de 2004, onde viagem no tempo é possível e pilantras canalhordas a usam para mudar o passado afim de se beneficiar no futuro: roubar carregamentos de ouro durante a Guerra Civil usando armas moderna, ou comprar ações em super liquidação durante o crash da bolsa de 1929.

Para prevenir isso é criado uma divisão de policiais que viajam no tempo e mantém esses safadinhos na linha, os danados, e é aqui que entra nosso herói Max Walker - ele é literalmente um Timecop. Parece uma ideia legal, certo?

Como eles não refizeram essa cena em que o Van Damme xaveca a esposa dele e ela fica com uma cara de sofrimento e arrependimento de todas as escolhas da sua vida, eu só posso imaginar como as outras tomadas ficaram

O problema é que o filme não faz muita coisa com isso, e por "muita coisa" eu quero dizer nada, na verdade. Esses dois exemplos que eu dei são as duas únicas cenas de viagem no tempo mais exóticos, no resto do tempo é um filme de ação tão genérico quanto genérico pode ser.

Em "Timecop", J-C parece ter aprendido mais algumas expressões faciais (aumentando seu repertório para um total de 4). E ele até consegue sorrir na tela sem parecer um psicopata demente... as vezes. Mas o filme em si é estritamente mais do mesmo, um medley de cenas de ação padrões de Van Damme com algumas desculpas de de ficção científica e muitas frases de efeito que sonham se tornar bordões do cinema ao estilo do Arnold.

Mas se o filme não é sobre viagem no tempo exatamente, é sobre o que então? O que os anos 90 fazem de melhor: vingança da forma mais brega possível. O vilão, mau como um pica-pau, matou a esposa de Van Damme nos anos 90 e ele vive atormentado por isso desde então. Dez anos depois, ele descobre que a morte dela foi parte de um plot do vilão usando viagens no tempo para se tornar presidente no futuro (as vezes o que acontece no passado as vezes altera o presente, as vezes não, depende do que a cena precisa - fazendo com que o filme seja confuso de entender).

Ou seja, bem do jeito que o anos 90 gostam: é brega, "é uma motivação pessoal", é... algo que você já viu várias e várias vezes, feito bem melhor em outros lugares. Basta apenas dizer que o filme sequer tem um diretor de coreografia para as cenas de ação e você consegue imaginar o tamanho da mediocridade aqui. A Los Angeles "do futuro" de 2004 é desinteressante e desinspirada, a versão de 1994 não é nenhum pouco melhor e as cenas de ação são, no seu melhor, esquecíveis.


Enfim, é um filme bem mais ou menos de uma estrela bem mais ou menos... o que nos leva ao inevitavel adaptação para Super Nintendo feito pela Ocean. Você sabe, dor, o de sempre.

ESSE JOGO NÃO FOI FEITO PELA OCEAN

Não adianta tentar me animar, Jorge, eu sei que... espera, o que? Não pode ser, um blockbuster dos anos 90 não foi adaptado para Super Nintendo pela Ocean? Mesmo?

NA VERDADE ESSE JOGO FOI FEITO PELA CRYO, QUE FEZ A VISUAL NOVEL DE DUNE

Não... não pode ser... não pode ser...


Um jogo adaptado de um filme que não apenas não foi feito pela Ocean como foi feito por uma empresa com um The Best Of no currículo? Será esse o dia do milagre, do impossível ter acontecido?!?


Em vez de seguir o enredo do filme, Timecop: The Videogame segue o caminho da criação de uma sequência, porque o mundo que o filme original criou era muito rico e detalhado para poder ficar inexplorado. Então, Marcio Caminhante, o herói do filme e não interpretado por Van Damme neste jogo, está prestes a se aposentar da Comissão de Execução do Tempo quando percebe que alguns equipamentos do laboratório têm um novo logotipo e usa essa informação para supor que a história está sendo alterada por um certo Dr. Hans Kleindast, inventor original do processo de viagem no tempo. 

Pelo que posso dizer, acredita-se que Kleindast morreu durante os primeiros experimentos de viagem no tempo, mas descobrimos que ele está bem vivo. Bem, além da parte do seu cérebro que diz a ele como se vestir, essa já morreu já morreu há muito tempo mesmo.

Claro, não passa exatamente o melhor dos sinais que o vilão tenha apenas uma imagem digitalizada para o jogo inteiro...

Dentistas maníacos ... do futuro !! Professor Kleindast, senhoras e senhores. Sendo justo com os desenvolvedores, ele definitivamente parece um vilão de um videogame vagamente ciberpunk dos anos noventa. Entretanto eu não sei dizer se são acessórios mecânicos acima de seus óculos ou sobrancelhas gigantescas de Groucho Marx. Pelo menos ele parece estar se divertindo.

Quanto ao jogo, bem... Eu nem tenho certeza do que dizer, na verdade, nem se eu quero realmente dizer algo sobre essa abominação. No entanto, como eu cometi o erro de jogar isso, então é meu dever moral de compartilhar o sofrimento e dor com vocês. This is the way.

A tentativa de se diferenciar que TimeCop faz são seus personagens digitalizados, uma moda que estava com força total nos PCs, mas acabou sendo mais raro nos consoles. Atores foram trazidos, filmados em frente a uma tela azul, e essa filmagem original compõe a animação do personagem. Para seu crédito, o jogo parece bom para um título de SNES. Não para o crédito deles, os personagens acabam sendo alguns dos mais idiotas e sem imaginação da história dos videogames. 



Primeiro, todos os inimigos de uma fase são iguais. Presumo que isso tenha algo a ver com limites de memória, mas todo cara é um clone de todos os outros. Em segundo lugar, mais uma vez provavelmente por causa da memória, os quadros usados ​​para a animação são bem limitados. A maioria dos jogos nessa época tinha algum tipo de animação de transição para ir de caminhar a sacar a arma, aqui tem pulos nos quadros de animação de um estado para o outro de forma que fica bem tosco.

Isso fica bem evidente em seus inimigos, que tem que parar de andar para disparar uma arma ou terminar de andar antes de dar um soco. O resultado é um bando de bandidos de aparência decente (para um jogo de SNES) mas que se mexem como robos. O resultado é que é muito fácil apenas passar pelos inimigos, mais do que lutar com eles. 


Infelizmente pra vc, seu personagem sofre das mesmas limitações e ele só consegue fazer uma ação de cada vez e isso resulta num gameplay desumanamente travado e burocrático. A sensação que eu tenho é que a Cryo teve mais trabalho do que imaginava para animar fotografias digitalizadas, mas meio que já era tarde demais pra voltar atrás e aí foi essa coisa terrível.

Uma cena comum de jogo é tipo assim: os Músculos de Bruxelas correm por um corredor, procurando a saída da fase. À direita da tela, um inimigo aparece caminhando rigidamente em sua direção. Van Damme então tenta chutar o cavalheiro diretamente no nariz, mas para isso ele tem que parar e ficar no lugar para fazê-lo. Como isso é muito imprático, seu timing erra  enquanto o inimigo caminha direto para ele, causando danos. Van Damme então tenta chutar novamente, mas o bandido parou nesse ponto e está dando um soco, o que faz com que Van Damme congele e carregue sua animação de “reação”, levando mais um segundo ou mais antes que ele possa fazer outro movimento.

"Ei, eu não me importo se os playtesters odiaram, levei seis meses para digitalizar este sprite de polvo e por Deus vou ter certeza de que ele será bastante utilizado neste jogo!"

Como você pode imaginar pela descrição acima, a "ação" nesse jogo poderia muito bem ser realizada preenchendo formulários para a burocracia soviética, tudo é muito lento, tudo é muito travado o tempo todo.

Então o TimeCop não é rápido, nem cheio de ação, mas você recebe um limite de tempo na tentativa de te apressar - o que chega até a ser engraçado, quando você considera como cada luta se desenrola conforme descrito acima. O alcance dos personagens e a detecção de colisão são bem ruins também, apenas pq sim.



Em última análise, o método mais fácil é simplesmente SALTAR SOBRE TODO MUNDO, porque você pode. O homem salta limpo sobre as cabeças de todos os bandidos que se aproximam. A desvantagem desse método é que você obtem a recuperação de energia que é dropada  generosamente dos inimigos (pelo menos isso). Você, no entanto, chega na saída a tempo.

Ah sim, devo mencionar que você tem uma arma, mas começa com seis balas. Isso lhe dá munição para derrotar três caras, pq leva dois tiros pra matar um inimigo (o mesmo numero de chutes, então ou ele chuta muito forte ou essas balas são muito fracas). Os três inimigos que você pode despachar não fazem muita diferença, no grande esquema das coisas. 

A última prova contundente que prova que Timecop foi projetado única e especificamente para me causar dor chega quando você é forçado a uma fase de shmup pilotando o submarino mais idiota de todos os tempos através de um campo esparso de minas subaquáticas e os polvos alieniginas. Você deve ter notado que seu submarino é ridiculamente grande, então você não ficará chocado ao saber que este não é um passeio emocionante de manobras radicais entre obstáculos mortais. É chato, isso é o que é. Muito, muito chato e muito, muito feio. A vida me ensinou que você deve evitar dizer "Eu poderia fazer melhor do que isso", mas, neste caso, estou cem por cento certo de que poderia projetar um submarino mais interessante do que aquele. Eu projetei um submarino mais interessante do que isso, eu fazia submarinos de Lego quando era criança. Meus submarinos de Lego tinham nadadeiras e lançadores de foguetes e decorações tematicamente inadequadas tiradas dos sets de Castelo, o que obviamente seria uma melhoria clara em qualquer coisa que essa coisa deveria ser.

Devem ser mencionados também os buracos frequentes nas plataformas, em que os inimigos gostam de te dar um murro e que te fazem cair de volta ao início do nível. Também tenho que falar falar sobre a horrível música de fundo, incluindo o tema de esmagamento da alma para a primeira e segunda faes, onde uma voz digitalizada e alterada canta "FBI ... vamos lá!" sem nenhum acompanhamento. Mas, realmente, suponho que fiz meu ponto. 

Esse level design tho

Então, esse é o Timecop: um jogo terrível que você definitivamente não deveria jogar. Comete todos os pecados que um jogo de ação pode - o nível de design é completamente desprovido de imaginação, seu personagem é lento e difícil de controlar, as lutas de chefes são ridículas e tudo é muito mal animado. Eu realmente não culpo os desenvolvedores, não inteiramente, porque o Timecop tem o ar inconfundível de um trabalho feito no desespero. Eu ficaria chocado se Cryo não tivesse um prazo insanamente curto para ter feito esse jogo, fazendo com que parecesse quase inacabado.

Adicionalmente, olhando em retrospecto, suponho que foi ingenuidade minha achar que só por um jogo adaptado de filme não ser feito pela Ocean faria ele automaticamente ser bom. Mesmo sem a Ocean, a noite é longa e repleta de horrores.




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Edição 076


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