domingo, 8 de agosto de 2021

[3DO] IMMERCENARY (Maio de 1995) [#742]


Mais um dia sob o sol, mais um dia em busca do lendário, aguardado e por que não mítico "The Best of" de um jogo exclusivo do 3DO. Será que dessa vez vai?

Padaria Céu da Boca, agora pertinho de você!

Bem, o que eu posso te dizer é que a esse ponto nem é mais má vontade, porque os caras tão realmente tentando. Immercenary, por exemplo, é um jogo que não faltam ideias interessantes. Mais do que ideias interessantes, nesse caso Immercenary é um jogo afrente do seu tempo. 

Hoje jogos de tiro competitivos online são não apenas abundante, mas são um dos generos mais lucrativos ever. O que jogos como Fortnite e Free Fire arrecadam é maior do que o PIB de vários países.

O sistema é bastante simples: você larga um monte de crianças online em um mapa, o último que ficar vivo vence. Usualmente esses jogos tem alguma mecanica ou outra para os diferenciar (como Fortnite tem um sistema de craft rudimentar, por exemplo) mas a ideia geral da coisa é essa.

Eis uma mensagem que você recebe constantemente depois dos 30

Isso todo mundo no mundo dos games e é um fato amplamente estabelecido. O que menos gente sabe, e eu não sabia, é que em 1995 o primeiro battle royale online do mundo foi criado para o 3DO.

ISSO NÃO FAZ SENTIDO. NÃO APENAS AS VELOCIDADES DE CONEXÃO A INTERNET ERAM INSUFICIENTES EM 1995 PARA ISSO, COMO O 3DO SEQUER TEM CONEXÃO ONLINE.

Verdade, e é aqui que entra todo vanguardismo de Immercenary: de alguma forma os caras da Five Miles Out previram com uma precisão até mesmo impressionante o que seria o futuro dos jogos de tiro através de um jogo offline (pq como eu disse não havia capacidade nem do 3DO nem da internet para isso) em que os inimigos emulam um jogo online - novamente, em uma época quando jogos online não existiam realmente.

Se tem algo que eu sempre aprecio em um jogo é quando os NPCs lutam entre si, dá a sensação de estar vivendo um mundo vivo. E vc pode ninjar o XP que os NPCs dropam quando morrem mesmo quando mortos por outros NPCs

Immercenary é um jogo sobre um jogo online onde existem 255 jogadores, seu objetivo é ser o último sobrevivente. Ao derrotar um dos outros jogadores você sobe de ranking e ganha atributos - o que, novamente, não é uma prática incomum nos jogos online hoje.

Cada vez que você "morre" seu personagem desloga do jogo e perde alguns atributos, mas então você pode "logar novamente" para tentar subir o seu rank.

Fenomenos climáticos também passam a sensação de um mundo vivo, como quando começa a relapear e os pontos de restauração se tornam perigosos

Agora, enquanto eu não sou o maior fã desse genero de jogo... ou mesmo tenho interesse, com efeito eu nunca joguei uma partida de Fortnite na vida... eu não posso negar que esse genero é atraente para muita gente, e não vejo porque uma versão disso em 1995 não teria apelo para algum tipo de publico. Então novamente eis a pergunta que cabe  ser feita: será esse o escolhido? Será esse o lendário jogo foda de 3DO? Será que agora finalmente vai?

A história do jogo, em como chegamos nesse "jogo online battle royale" é bem criativa, devo dizer, e de certa forma tão visionária quanto o gameplay porque é uma releitura de Matrix - vários anos de Matrix sequer cogitar existir.

Durante a década de 1990, o Dr. Marcus Rand estava fazendo experiências em "projeção astral através do tempo e do espaço" (o que pra mim soa muito como uma forma de dizer "usou todas as drogas conhecidas pelo homem e algumas novas", mas o manual tá chamando né) quando recebeu uma mensagem do futuro de uma mina fazendo cosplay feminino de Nazgul (muitos anos antes dos filmes de Senhor dos Anéis, então olha outro futurismo pra vc aí).


A mina (mais tarde identificada simplesmente como "Raven") explica que em alguns séculos toda a humanidade estará conectada a uma rede de realidade virtual chamada Perfect, e não pode se desconectar, fazendo com que as pessoas definhem até morrer. As visões da Raven não explica COMO a raça humana chegou nessa situação, se houve uma rebelião das máquinas e as pessoas foram obrigadas a se conectar, ou se a humanidade apenas não lembra mais de Sword Art Online pq ninguém mais lembra disso (ou seja, que o futuro tem esperança).

Seja como for, o Dr. Rand decide responder a visão da mina de biquini do futuro e desenvolve um programa para enviar a mente de pessoas para a internet do futuro onde elas poderão lutar dentro do Perfect para derrotar a IA e libertar toda a raça humana.

No futuro a moda será... chocante! *ba-tum-dss*

Eu não faço ideia  do que ele disse para conseguir financiamento pra pesquisa, suponho que não falou exatamente "tive uma visão de uma mina de biquini do futuro", mas o fato é que ele conseguiu a grana... até dois voluntários morrerem usando sua tecnologia experimental - morrer online no futuro vazia a pessoa morrer no presente também. O projeto de Rand foi encerrado e o uso da tecnologia proibido. 

Muitos teriam ficado desanimados, cabisbaixos, quem sabe até mesmo desmotivados, mas não Marcus Rand. Rand continuou a pesquisa usando a si mesmo como cobaia. O resultado foi que ele foi encontrado em seu laboratório três dias depois, consciente, mas incapaz de se mover ou se comunicar, o que o fez ser internado em uma instituição de reabilitação psiquiatrica.

Ficar meses em estado catatonico em um hospicio teria feito muitos ficar desanimados, cabisbaixos, quem sabe até mesmo desmotivados, mas por Deus, não Marcus Rand! Dezoito meses depois, Rand fugiu da instituição e formou uma organização terrorista dedicada a responder ao apelo de ajuda de Raven, chamada Projeto de Comunicação Intertemporal (PIC). 

*Pilar Men theme*

Durante sua pesquisa, o PIC descobriu que todos em Perfect estão envolvidos em um tipo de MMORPG de realidade virtual no qual eles não têm escolha a não ser batalhar incessantemente entre si por classificação e sobrevivência. Aqueles envolvidos neste MMORPG são conhecidos como ritmos, e quando um ritmo é "morto", o humano que o controla freqüentemente entra em um estado de choque potencialmente fatal. O seu personagem é o último de cinco agentes PIC  que não necessariamente foram "recrutados voluntariamente", que tem sua mente enviada até a Matrix  do futuro em uma missão para desligar o sistema operacional, Perfect1. 

Só que antes de chegar até o Perfect1, você precisa subir no ranking começando de 255. Existem 11 Rithms no topo do ranking que agem como chefes, para fazer Perfect1 aparecer você tem que derrotar todos os chefes que ficam em lugares especificos do mapa. O restante dos habitantes do MMORPG são compostos por 244 Rithms e um número infinito de programas buchas de canhão chamados Goners - que não dão rank ao serem derrotados, mas dão atributos. Sua tarefa básica é matar os Rithms mais fracos, aumentar sua força e, quando sentir que é poderoso o suficiente, enfrente qualquer um dos chefes na ordem que quiser. 


Mas nem tudo é tiroteio, há uma zona neutra chamada DOAsys, onde você pode se curar e conversar com os vários Rithms para obter informações sobre fraquezas dos chefes ou apenas conhecer os outros usuários como NPCs mesmo.

De um ponto de vista tecnico, Immercenary é tão ambicioso quanto sua premissa: todo o mapa da cidade é bastante grande e é carregado direto do disco sem tempo de loading. Só tem loading (que é rápido até) ao entrar em uma luta contra um chefe, ou numa zona neutra de cura.

Esse é o mapa do jogo, as areas vermelhas são zonas dos chefes e cada um dos pontinhos verdes é um prédio - fazendo desse o maior mapa de um jogo até então na história dos videogames.

Então vamos recapitular: até aqui temos um  jogo com um plot sci-fi que previu Matrix/SAO e uma proposta de jogo que antecipou como os jogos de tiro online funcionariam numa época que a internet mal existia. Definitivamente este não é um jogo feito de qualquer jeito só pra fazer volume na biblioteca do 3DO, então podemos dizer que dessa vez foi? Agora o 3DO decolou, o gigante acordou?


Então... tudo é muito bom e muito bonito, o jogo tem conceitos a frente do seu tempo, tudo é muito bem pensado, mas só tem um pequeno, minuuuuuuusculo detalhezinho: vc ainda tem que jogar o jogo, e é aí que a porca faz a Dança das Horas de Ponchielli. Pois é.

Isso porque os controles do jogo funcionam de uma forma estranha, mais ou menos como um jogo de carro: aperte pra frente uma vez e começa a andar infinitamente nessa direção. Aperte para frente novamente para aumentar a velocidade e pressione para baixo para reduzi-la. Não é a coisa mais prática do mundo para um jogo de tiro em primeira pessoa, como você pode imaginar. Ou prática at all.

Para piorar, não existem botões de movimento lateral como em Doom, por exemplo, tornando muito dificil - para não dizer impossível - desviar dos tiros. É um jogo de tiro que não tem como você evitar os tiros, geez, imagino como isso pode afetar negativamente o jogo...

Uma coisa que eu gosto nesse jogo é que os botões são inteiramente configuraveis, não apenas qual tiro vai em cada botão mas vc pode configurar os botões de mapa e power ups

Para tornar as coisas piores, ainda tem a questão de gerenciar sua stamina. Qualquer tipo de movimento a uma velocidade razoável esgota sua barra de stamina bem rápido e, a menos que você tenha um item para recarregá-lo ou upado seus stats até o limite máximo, você frequentemente se verá encalhado e incapaz de se mover até que ele recarregue. Novamente, geez louise, imagino como isso pode afetar o gameplay...

Verdade que tem um código secreto para stamina infinita, mas essa é uma solução pobre para um problema que sequer precisava existir porque não acrescenta nada de positivo à jogabilidade, apenas serve pra te ficar parando pra recarregar a stamina a cada poucos segundosalém de forçá-lo a parar e fazer uma pausa a cada poucos segundos. 

Isso seria até de certa forma, mas não muito, gerenciavel se na prática o jogo não fosse um enorme sistema de grind. Vc mata rogues para ganhar atributos e então conseguir derrotar um ou quem sabe dois usuarios rankeados. Como você não tem muitas ferramentas para evitar tomar tiro e como os inimigos rankeados vão ficando mais rápidos, não é muito provavel você conseguir mais que isso - verdade seja dita, na imensa maioria das vezes não chega nem a isso.

Tem uma coisa no seu rosto ae cara, não, mais pra direita, err, deixa pra lá

Como você perde atributos quando morre,  então o jogo é um eterno grind de tentar dar dois passos para a frente e um para trás, e como você pode imaginar isso não é muito divertido - ou divertido at all, para esse proposito. 

E esse é o principal problema da coisa toda, JOGAR esse jogo não é realmente divertido. A história é interessante, os conceitos são visionários de uma forma inacreditavel para sua época, mas no fim do dia o sistema de progressão é uma merda e a movimentação não funciona para esse tipo de jogo.

E no fim, na cidade de Immercenary também não tem muito o que se olhar, nenhum segredo para se descobrir, nada. Os inimigos são mais chatos do que inteligentes, e os controles tornam o combate um tipo especial de terrível. Não tem nenhuma razão para você não ficar entrando e saindo da zona segura (que recupera o seu HP) até grindar atributos o suficiente até que o jogo diga para você parar. Não há urgência na música e o som é básico. Adicionalmente, o jogo não muda à medida que você se torna mais poderoso e mais ciber-heroico. O Rank 255 é igual ao Rank 200, 100 ou 50. Os personagens não dizem nada de novo e não tem nem uma música nova.

Quando você morre recebe essa tela dizendo os stats que ganhou ou perdeu na run, embora eu não sei dizer qual é o critério exatamente

Immercenário requer muito esforço para ser apreciado. Dá pra relevar as texturas de baixa resolução devido ao hardware da época, mas é bem mais dificil se aclimatar aos controles rígidos e ao tempo necessário grindando.

A intenção foi boa, mas ainda não foi dessa vez.

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 014


Edição 016


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Edição 003