segunda-feira, 30 de agosto de 2021

[SNES] OGRE BATTLE: The March of the Black Queen (Maio de 1995) [#754]

Aviso: não há nenhum Ogro nesse jogo. Mas a capa é bonita.

Esse é mais um daqueles jogos que eu realmente estava esperando para chegar nele, pq eu tenho uma história com esse jogo da minha infancia. Ou, melhor dizendo, NÃO tenho uma história com ele porque quando eu fui alugar o cara da locadora me avisou que  eu não ia conseguir jogar se não soubesse ler em inglês. Como eu não sabia ler nem embalagem de Ketchup, eu ouvi o conselho e aluguei MEGA MAN X pela décima quinta vez - nunca uma escolha ruim, saiba você.

Mas... ele estava certo? Como será esse jogo misterioso e inexpugnável aos meus conhecimentos infantis? É o que veremos a seguir.


Em primeiro lugar é necessário observar que hoje eu não sou a mesma pessoa que era vinte anos atrás (uau, temos um Xerox Rolmes aqui heim). Na época eu sequer imaginava o que diabos seria um RPG Tático, hoje é um dos meus generos favoritos. O que eu sabia, no entanto, é que Ogre Battle recebeu uma matéria de três páginas na Ação Games com ilustrações japonesas muito bonitas e era um jogo que eu queria conhecer. O que nos leva de volta a questão inicial: e aí, o balconista da Video Room II de 25 anos atrás estava certo.

Bem, sim e não.

De fato, não havia absolutamente nenhuma chance de eu entender esse jogo quando era criança, nisso ele estava certo. No que ele não estava certo é que nível nenhum de inglês nesse mundo me faria entender esse jogo fosse em 1995, fosse em 2021.

Pra começar, esse jogo não é um RPG Tático aos moldes de SHINING FORCE: The Legacy of Great Intention. Olhando as fotos do combate parece isso, exceto que você não realmente joga as lutas - apenas assiste elas. Existe um número limitado de "cartas de ataque especial" que você usar, mas de modo geral não é algo que você jogue realmente sim apenas assiste.

Então se você não controla os combates, o que você faz nesse jogo afinal? Então...


Basicamente, o que você faz é selecionar unidades no campo e mandar elas irem até outros lugares, frequentemente para tomar cidades ou algo assim. Nesse ponto, o jogo parece mais com um RTS, e se duas unidades se encontrarem no campo a tela fecha e rola uma batalha automática  com base nos stats de cada um.

Durante cada mapa o jogo você recebe algumas missões entre eliminar determinado inimigo (ou todos, as vezes) ou tomar determinada cidade, ou sobreviver por X tempo. Parece simples o bastante de entender esse jogo, certo?


Sim, é. Ou seria, não fosse o fato que eu juro pra vocês que não entendo como os combates desse jogo funcionam nem que um prêmio em catgirls fosse oferecido. Isso porque num jogo do tipo você poderia esperar que os personagens lutam até morrer e isso é fácil de entender, você não precisa nem explicar isso na verdade.

Só que aqui não, aqui os personagens trocam um ou dois golpes... e a luta termina. Quem vence? Qual é o critério? Novamente, eu não saberia dizer mesmo que todos maid cafés do mundo dependessem disso.

Pelo que eu entendi o quão cedo um inimigo desiste depende basicamente da reputação e alinhamento (nível de moralidade) das suas unidades, e o que influencia sua reputação e moralidade é... basicamente tudo, a níveis de complexidade que é até dificil citar aqui. Não, sério, o manual tem 80 páginas, eu li tudo e não entendi como funciona. 

Tem alguma coisa haver, eu entendi por cima, com lutar com as unidades certas contra os inimigos de nível certo para a batalha ser honrada, e tem pelo menos umas 15 páginas de texto no FAQ explicando o que "honra" significa. Agora, se você prestar atenção vai reparar quantas vezes eu disse "eu acho", "pelo que eu entendi" e isso é porque o jogo não te explica NADA.

E por NADA eu quero dizer NADA mesmo, existe uma primeira missão que é um tutorial  de como movimentar suas unidades e depois disso é te vira mameluco da madeira! Você poderia supor que talvez não seja a melhor ideia do mundo chuxar um jogo com páginas de regras sem explicar nada, mas é isso que Ogre Battle é.

A sensação mais próxima que eu consigo explicar é você abrir a caixa de um board game e tentar jogar o jogo sem ler o manual, especialmente alguns jogos do calibre de Campaing for North Africa (que apenas por curiosidade, é um board game com MIL E OITOCENTAS páginas de regras e que tem regras como quem jogar com os italianos precisa ter mais água que as outras facções porque italianos comem macarrão e precisa de água para fazer macarrão, sério). E é basicamente isso que Ogre Battle tenta fazer aqui, ser complexo como um board game mas sem te explicar nada.


Existe um sistema igualmente complexo para promover suas unidades de classe (obviamente que o jogo não te diz quais são as regras de promoção), e se isso não fosse suficiente você precisa microgerenciar, montar partys e equipar cada um dos mais de cem personagens do seu exército como se fosse um RPG comum, com itens especificos para cada um e formas de upgradear os itens de cada um deles.

Se isso não é um exercicio de insanidade, eu não sei mais o que seria.


Se isso ainda fosse um preço a se pagar por uma grande narrativa, ainda poderia ser considerado... o que não é o caso. Ogre Battle tem bem pouca história, basicamente o que você tem são as falas quando você toma uma cidade. Não existem cutscenes nem nada, apesar de o jogo ter treze finais diferentes dependendo de quem você recrutou e qual seu nível de alinhamento.

Olha, eu realmente tenho que elogiar o jogo por ser talvez o jogo mais ambicioso já lançado para Super Nintendo, com muitas camadas de detalhes e sistemas influenciando em sistemas dentro de sistemas. Eu entendo o apelo disso, de verdade. Agora, custava pelo menos compartilhar com o resto da classe?

Tipa me representa jogando esse jogo

Ao contrário do que parece, no entanto, eu não gosto de simplesmente criticar um jogo popular sem motivo apenas para parecer legalzão, como eu digo frequentemente aqui eu QUERO gostar dos jogos... mas cara, Ogre Battle não dá. 

Olha, eu sou nerd, eu sei, mas nem eu sou TÃO nerd assim. Eu sou o nerd que prefere as regras funcionais que auxiliam a criatividade da 5ª Edição Dungeons & Dragons às restrições e os sistemas de regras ''Preciso de um professor particular de matemática!'' da 2ª Edição (sério, até hoje acho que não conheci 5 pessoas que sabem calcular o THAC0 de cabeça). 

O que eu quero dizer com isso é que eu não gosto de jogos onde vc dá um comando e leva horas esperando ele ser executado, não gosto de não ter um feedback imediato do que eu fiz para saber se está funcionando ou não, e tenho um ódio especial em meu coração por jogos que despejam montanhas de detalhes em um único elemento de seu jogo sem explicar nada a respeito... o que no caso de Ogre Battle,  é o jogo todo. 

Se você é fanático por gastar centenas de horas tentado coisas para perceber um padrão e aprender como esse jogo funciona e é um fanático por detalhes, então provavelmente vai adorar este jogo.

Para todos os outros  não dá, véi, apenas não dá.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 085


Edição 114


Edição 121 (Novembro de 1997)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER

Edição 011


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 003


Edição 023