domingo, 25 de dezembro de 2022

[#1017][Dez/96] BOMBERMAN B-DAMAN

 

Olá crianços do meu Brasil baronil, como passaram as festas de natal? Sentados sozinhos em um quarto escuro contemplando a futilidade da sua existencia devido ao fato que absolutamente ninguém se importa com a sua existencia devido a sua absoluta e completa falha como ser humano? Ah, que bom ouvir isso, eu também.

Mas chega de falar de mim e vamos aproveitar esse dia glorioso de festividades para falar da única coisa que realmente importa no natal: ganhar brinquedos. Bem, é verdade que depois que vc se torna adulto passa a apreciar outras coisas como rodinho de pia ou porta-louças, mas vamos nos focar nos clássicos, sim? Então, brinquedos.


Vê, eis uma coisa curiosa pra você: apesar das pessoas terem um tesão inesgotável por essa coisa de raças e nacionalidades, no fim do dia seres humanos são todos uma mesma espécie e dentro disso, crianças são crianças em qualquer lugar do mundo. E brincam mais ou menos das mesmas coisas, o que muda é a forma como os adultos se metem nisso.

Por exemplo, provavelmente você já brincou alguma vez de bolinha de gude, bolita, baleba, búrica... o nome não importa, você sabe do que eu to falando. O que talvez você não saiba é que no Japão, literalmente do outro lado do mundo... as crianças também são crianças e brincam dessas coisas do mesmo jeito. O que muda é que, no Japão, uma companhia de brinquedos viu as crianças brincando de bolinha de gude e pensou "sabe o que mais? A gente bem que podia ganhar uma grana em cima disso...".


Claro, alguém poderia se perguntar como caxavascas alguém monetiza bolinhas de gude, mas então estamos falando do país que gourmetizou brincar de pião (vulgo Beyblade), então impossível é nada. E foi exatamente o que a Takara fez.

A Takara é uma empresa japonesa não é particularmente incrível no mundo dos videogames, sendo mais conhecida pelos seus ports (não tão incríveis) para Super Nintendo dos jogos da SNK (como SAMURAI SHODOWN e ART OF FIGHTING) e mais recentemente nesse blog, pela série BATTLE ARENA TOSHINDEN. Não é nada particularmente impressionante, saiba você.

Porém, contudo, todavia, entretanto, no ramo dos brinquedos o papo é outro. Bem outro. Na verdade, a Takara tem meio que um toque de midas e inventam umas paradas que do nada viram mania mundial, como já citado Beyblade por exemplo. Porém seu maior sucesso nem foi esse, e sim a linha de brinquedos Diaclone e Microman Microchange, isso sim abalou geral.

Damn, Takara, apenas pegue o meu dinheiro logo!

ACREDITO QUE VOCÊ ESTÁ ENGANADO, EU NUNCA NA MINHA VIDA SEQUER OUVI FALAR DESSES NOMES

Provavelmente não, Jorge. Mas com certeza já ouviu falar do nome ocidental de quando a Hasbro trouxe essa linha de brinquedos para cá, rebatizada com o nome de TRANSFORMERS. Com efeito, a parceria entre a Takara e a Hasbro se mantem desde desses dias e atualmente eles ganham mais dinheiro do que sabem o que fazer com ele distribuindo os produtos da Hasbro no Japão: Jogo da Vida, Play-Doh, Banco Imobiliário, Magic: The Gathering e uma infinidade de outras coisas. Então quando você pensa em alguém que sabe fazer dinheiro com brinquedos no Japão, totalmente está pensando na Takara.

Como quando eles decidiram lucrar em cima de bolinhas de gude, mas... como? SUPER SIMPLES, SEQUER UM INCONVENIENTE, eu te digo! Basicamente eles aplicaram a mesma lógica de Beyblade e criaram toda uma linha de lançadores de bolitas colecionaveis, com poderes e personagens e os caralho A4. O que acabou recebendo o nome de B-Daman (ou biidaman, como os japoneses pronunciam).

Aí juntou a fome com a vontade de comer, pq pegou uma brincadeira popular entre as crianças e meteu não apenas colecionaveis como robozinhos maneiros, pra ser mais japonês que isso só se metesse umas waifu no meio, aí fechava o pacote. 

E tal como viria a fazer com Beyblade anos depois, a Takara fez o serviço completo para transformar o biidaman em uma mania nacional. E por serviço completo, é claro, eu quero dizer manga, anime e videogame, a santissima trindade do marketing infantil japonês.

E é aqui que o jogo de hoje entra, porque na época a Takara tinha os direitos para fazer produtos licenciados do Bomberman (o que faz sentido, nosso terroristinha branco é realmente adorável) e decidiu que era nesse bonde que eles iam pular. Então eles criaram a primeira linha de biidaman como temática do Bomberman, como eu disse, com o pacote completo de anime, manga e videogame.


Vou te dizer que eu assisti o primeiro episódio e... achei bonitinho. Não é algo "minha nossa o mundo tá perdendo por não conhecer isso", mas como um comercial de brinquedos é fofinho. Os personagens tem personalidades simples, mas definidas, eu achei uma sacada inteligente dar nomes para eles de acordo com as suas cores (o bomberman branco virou literalmente "Shirobon", a bomberman vermelha é a "Akobon", o bomberman preto é "Kurobon" e por aí vai), os robozinhos que eles usam para disparar as biidamas são visualmente maneiros e tudo funciona como deveria para um bom comercial infantil. Definitivamente não é ruim.

E eu dei uma pesquisada, o mesmo se aplica aos brinquedos: eles tem o aspecto montável e colecionavel dos gunplas de MOBILE SUIT GUNDAM, como cada nova linhagem aprimora suas capacidades e até recursos de disparo colocando efeitos mecanicos nos disparadores das bolitas para te dar vantagem nas batalhas de bolitagem. O melhor de dois mundos, eu te digo.


Não é realmente nenhum absurdo saber que os B-Daman ainda existem hoje, sendo que é claro que hoje não é mais restrito apenas a Bomberman tendo inúmeras linhagens anuais, animes, mangas e as porra tudo.


Porém estou tergiversando... se eu soubesse o que isso significa... e o que eu vim aqui falar foi sobre o primeiro jogo de Super Nintendo criado para divulgar o brinquedo, este Bomberman B-Daman nunca lançado fora do Japão.

Mas... como você faz um jogo sobre B-Daman, exatamente? Embora nos anos posteriores a Takara bolou jogos de videogame sobre B-Daman propriamente dito, no natal de 1996 eles meteram um bom e velho puzzlezão da massa mesmo e foda-se.



O que você faz aqui é disparar bombas com o objetivo de explodir todas as bombas da tela com um único tiro... e é isso realmente todo o jogo. Tem uma mecanica de atirar com curva que é usada em poucas fases, mas na maior parte do jogo é só acertar o timing do seu disparo.

As primeiras fases fornecem a ideia da coisa, e como é esperado se torna muito mais desafiador determinar onde e com que tempo disparar sua próxima bomba. Com 100 fases disso, seria mais legal o jogo ter outras mecanicas além do básico, mas não tem. Mire, acerte o timing, atire. Enxague e repita 100 vezes.


O que pode agregar algum valor extra ao pacote é o modo para quatro jogadores onde vc tentar acertar os coleguinhas sem ser acertado, mas não é nada particularmente incrível também. Kudos que você pode criar seu próprio Bomberman personalizado, editando as cores do corpo dele e escolhendo a expressão facial de sua preferência ... bem, é só isso. É Bomberman, o que você esperava?

Bomberman B-Daman, em teoria, não é um jogo terrível - nada é mal programado e os gráficos e o áudio são agradáveis o suficiente, como deveriam ser para um lançamento de última geração - mas seu fator de atração é muito limitado pelo fato de que é apenas um jogo de bolinhas que não se mantém divertido por longos períodos de tempo. A ação multijogador pode prolongar sua diversão, mas ainda não disfarça muito que é só um produto licenciado para vender brinquedos. 


Nada senão um intervalo comercial, um bonitinho e com 100 fases de um puzzle simples de entender (embora dificil de executar, acertar o timing é frequentemente tenso), mas... não menos um comercial por conta disso.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 113 (Março de 1997)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 036 (Março de 1997)