Como temos acompanhado nesse blog, e estamos agora no ano de nosso senhor e salvador Miyamoto de 1997, a vida estava... competitiva para a Sega. No ocidente o Saturn estava tomando um tufo inenarravel ao ponto que mal registrava nos gráficos de vendas.
No Japão, por outro lado, o Saturn ia melhor a ponto de realmente ser uma concorrencia ao PS1... até o dia que a nação do fogo atacou FINAL FANTASY 7 foi lançado. Aí acabou o brinquedo. A situação da Sega, que já era dificil, se tornou desesperadora e o Saturn respirava por aparelhos.
Uma das coisas que mantinham o Saturn vivo eram os jogos da Treasure, uma companhia de longa parceria com a Sega que sempre tirava o máximo possível do hardware - mesmo mais do que a própria Sega. E entre os jogos da Treasure para Saturn estava o que até hoje é um dos melhores e mais ambiciosos beat'm ups de todos os tempos: GUARDIAN HEROES.
GUARDIAN HEROES foi um sucesso cult internacional que ajudou a manter o Saturn vivo, mas não foi um jogo que surgiu do nada. Ele é diretamente inspirado em Mad Stalker: Full Metal Force - um jogo lançado apenas no Japão para PC e PC Engine CD, desenvolvido pelo estúdio Fill-in-Café. Ótimo nome, alias.
Depois de Mad Stalker: Full Metal Force, um de seus principais programadores, Masaki Ukyo, foi trabalhar para a Treasure, continuando as entradas beat-em-up com Yu Yu Hakusho: Makyou Touitsusen e o já citado Guardian Heroes. Agora que você entende a situação que a Sega estava, então não é realmente surpresa imaginar que a Sony estava mais do que interessada em dar o tiro de misericódia e girar a faca no seu oponente caído: eles se aproximaram da Fill-in-Cafe e pediram um jogo para desbancar GUARDIAN HEROES.
Se isso era o que estava ajudando a manter o Saturn vivo, então eles foram até a fonte e encomendaram um beat'm up para por a pá de cal na cova e essa é a origem desse jogo Panzer Bandit
O jogo começa, e já podemos perceber o cuidado dado ao jogo: uma fabulosa intro em anime, com direito a música pop de anime anos 90 na lata, apresentando os grandes-vilões-que-queimam-cidades-pacíficas-e-bucólicas- que chegam tocando terror em ... uma baleia voadora? Claro que sim como não, apenas because anime.
Primeira coisa: o jogo é fluido, extremamente fluido mesmo. Desde GUARDIAN HEROES eu não via um beat'm up tão leve e agil e com efeito, a luta básica parece uma versão simplificada de GUARDIAN HEROES. Você tem dois ataques básicos (fraco e forte) e uma variedade de movimentos de comandos no estilo Street Fighter para executar bolas de fogo e quaisquer outros movimentos especiais que seu personagem possa ter.
Mesmo os personagens mais volumosos são relativamente ágeis, permitindo que você dê um super pulo, pule duas vezes, corra e quase voe pela tela inteira. Além disso, é extremamente fácil pegar inimigos e jogá-los uns nos outros (outro elemento herdado de Gunstar Heroes), fazendo o gerenciamento de espaço na tela (para não ficar no meio do bolinho e levar porrada de todo lado) sua principal preocupação.
Em adição a isso, o jogo funciona com dois planos de profundidade para o personagem seguir em linha reta: na frente da tela ou no fundo (em comparação com os três de GUARDIAN HEROES). Tem também o medidor de energia usual, que pode desencadear um super ataque quando carregado e - como é natural em jogos desse tipo - você pode escolher esmagar bandidos com um amigo ao seu lado. Só que aqui o jogo permite apenas dois jogadores simultaneos e não quatro como em... vc entendeu, né?
Então, é, esse jogo é essencialmente uma versão do homem pobre de GUARDIAN HEROES. Se lá existem três planos de profundidade para você mover seu boneco, aqui tem dois. Se lá podem 4 jogadores simultaneos, aqui podem 2. Se lá cada personagem seu ataque especial próprio que pode ser soltado quando enche a barrinha, aqui o ataque especial é o mesmo para todos os personagens (mudam os gráficos, mas o efeitos é o mesmo). Como eu disse, é a versão do homem pobre do beat'm up do Saturn...
...sem os elementos de progressão de nível de RPG e sem as escolhas de caminho que possibilitam multiplos finais. Ou seja, Panzer Bandit é essencialmente esse meme:
Veja, não é que eu não estou dizendo que esse jogo não é bom, ele é. Com efeito, o sistema de combos e a sensação de bater nos bichinhos é extremamente satisfatória e como eu sempre digo, em um jogo que é exclusivamente sobre bater nas coisas... então bater nas coisas tem que ser divertido. Parece simples, mas você ficaria surpreso em quantos jogos realmente falham em entender isso... né FANTASTIC FOUR?
Com efeito, eu vou dizer que gostei até mais do sistema de combos aqui do que em GUARDIAN HEROES, não apenas é muito satisfatório socar os bichos como você pode fazer combos aereos que não deixam nada a dever para X-MEN VS STREET FIGHTER, permitindo vc permanecer no ar por vários segundos.
O ritmo é bastante bom, as ondas de inimigos fracos seguem intercaladas por mid-bosses ou alguns inimigos mais poderosos, dando um ritmo de respiro que poucos beat'm ups entendem realmente o quão importante é. Adicionalmente, dificuldade é muito bem equilibrada (exceto o boss rush no final do jogo), o que nunca é algo que pode ser dado por garantido num beat'm up.
E, isso realmente precisa ser dito, como muitos jogos japoneses Panzer Bandit apresenta designs de personagens absolutamente fofos e adoráveis para complementar a jogabilidade excelente. Os personagens são desenhados por Yoshitsune Izuna, que também desenhou os personagens para os OVA de Saber Marionette R, bem como anos mais tarde faria como as concept arts de Diebuster.
Por si só, Panzer Bandit já seria um beat'm up bom o suficiente... mas os desenvolvedores da Fill-in-Café não pararam por aí. Existe ainda um modo de jogo de luta mesmo com a possibilidade de quatro jogadores simultaneos, e eu vou te dizer: esse "modo bonus" em Panzer Bandit funciona como um jogo de luta melhor do que MUITA coisa que eu tenho jogado nessa quinta geração.
Sério, se apenas o modo de luta fosse lançado como um jogo solo definitivamente não faria feio na biblioteca do PS1, mas como um extra de um jogo maior bem redodinho e ainda sendo um jogo de luta para 4 jogadores? Agora isso é conteúdo extra de respeito, sim senhor!
E quando eu falo que o "modo bonus" seria um jogo sólido por si só, eu não to brincando: existem até personagens desbloqueaveis! Para desbloquear os chefes para jogar no modo VS, por exemplo, vc precisa terminar o jogo sem gastar continues... o que é imensamente dificil, mas como é para um bonus então é jogo justo.
Bem, sim, também tem como desbloquear os chefes através de cheat codes, mas onde está a graça nisso, não é verdade?
Sendo um beat'm up, é claro que tem a inegável fase do elevador. É a lei. |
Como aspecto negativo, bem, eu não tenho muita coisa que eu queira realmente reclamar desse jogo. Sendo um beat'm up, é meio que esperado o jogo ser um tanto repetitivo por natureza - porém o fato de que você está apenas lutando contra os mesmos dois ou três tipos de inimigos repetidamente não ajuda a aliviar o problema. Quase todos os inimigos são os mesmos robôs esquisitos macacos/esqueletos, com apenas algumas variações. No momento em que você atinge o oitavo e último nível e tem que lutar contra todos os chefes anteriores novamente, bem boss rush nunca foi realmente divertido em jogos e não é aqui que começou a ser.
Além disso, embora a falta de elementos de RPG como seu antecessor não seja necessariamente uma coisa ruim, a ausência de várias rotas, ou mesmo múltiplos finais para cada personagem do jogador, deixa o conteúdo bastante menos do que ele poderia ser.
Considerando tudo, no entanto, Panzer Bandit é um beat'm up bastante elegante em toda a sua simplicidade esmagadora de botões, levando a uma das melhores diversão de apertar botões que você pode encontrar em um beat'm up para Playstation. É uma pena que esse jogo nunca foi lançado fora do Japão, onde ele tem uma certa reputação como "o GUARDIAN HEROES do PS1".
Não é tão bom quanto, verdade, mas então você não realmente precisa ser melhor que o melhor beat'm up de todos os tempos (até esse ponto de 1997, pelo menos). O segundo lugar já é uma posição muito mais do que suficiente.