Oh boy. Oh giga boy da boylandia, antes de sequer começar eu preciso te dizer que esse vai ser um dia daqueles. Um senhor dia daqueles. Pq, vc pergunta? Bem, pra começar temos um jogo de luta em um sistema que a cada dia se notabiliza por NÃO SER exatamente grande em jogos de luta. Yeah, nada abre o seu dia melhor que um jogo de luta no Nintendo 64...
... exceto se esse jogo for de uma franquia que, sejamos honestos, já não era lá grande coisa no Super Nintendo. É verdade que eu até gosto do primeiro CLAYFIGHTER, mas é mais pq eu sou um grande fã de animação stop motion e não existe nada como isso no Super Nintendo (exceto pelo outro jogo da mesma empresa, o tb-não-incrível CLAYMATES). Mas passada a novidade de ter um jogo em animação stop motion, o que resta é um jogo de luta beeeeeem marromenos.
E não é como se CLAY FIGHTER 2 realmente tornasse as coisas melhores. Qual é caras, ao menos decidam como se escreve o nome da franquia já que o primeiro é Clayfighter tudo junto e o segundo tem esse espaçamento.
Mas é, jogo de luta medíocre que tem sua versão em um console famosinho por seus jogos de luta terríveis... o que possivelmente poderia dar errado, não é mesmo?
Pois então, vamos começar abordando o elefante na sala: o ponto sobre o qual Clayfighters (ou Clay Fighters, se eles se decidirem) sempre se vendeu é que "é um jogo de luta de comédia". O problema é que essa série nunca foi realmente engraçada desde a sua primeira iteração.
Sério, este é o tipo de jogo em que um cachorro anda na tela, peida, cheira e depois diz que “cheira a uma vitória limpa”. Isso não é uma piada, quer dizer, o jogo acha que devia ser, mas eu quis dizer que eu não estou fazendo piada, isso é algo que realmente acontece no jogo. Então esse é o nível do humor aqui, haha, humor y piadas.
Só que piora, e muito. Pra começar, um dos personagens é... isso:
Sim, alguém na Interplay pensou "hey, vamos pegar os estereotipos orientais racistas da época da segunda guerra mundial e fazer um personagem sobre isso, pq isso é fucking hilário!". Tá que nos anos 90 esse tipo de pensamento era realmente tipo como "humor", mas sério mano, na moralzinha:
Humor y piadas.
Temos ainda no elenco outros estereótipos raciais disponíveis para escolher: Zappa Yow Yow Boyz, três pigmeus canibais que lutam empilhados e Houngan, um feiticeiro vodu que parece saído de um desenho do Pernalonga dos anos 40. Não deixa de me impressionar como os personagens são feitos de argila e podem ser literalmente qualquer coisa imaginável, mas a escolha dentre QUALQUER COISA IMAGINAVEL são caricaturas racistas.
O engraçado disso é que era pra ter outro personagem, Hobo Cop. Ele seria um vigilante bêbado e sem-teto, mas a Nintendo interveio e disse que estava indo longe demais. Então o policial mendigo foi longe demais, mas o chef dentuço que literalmente saiu de propaganda de guerra pra desumanizar os asiáticos estava ok? Conhecendo a Nintendo, provavelmente foi mais sobre zoar a policia do que espancar mendigos ...
Bem, então o humor definitivamente não é tão engraçado quanto a Interplay achou que seria (definitivamente esse é um jogo para rir dele, não com ele), e a escolha do elenco... não envelheceu bem, vamos dizer assim... tá, é ruim, mas não pode ser de todo ruim, certo? Sim Clayfighters 63 e 1/3 faz algumas coisas bem.
Primeiro, inclui
EARTHWORM JIM como personagem jogável. Tá, não é "minha nooossa com eu amo esse personagem", mas o Tiago Minhoca é um rosto reconhecido e okay. Outro nome conhecido que está como convidado nesse jogo é uma escolha muito menos óbvia:
BOOGERMAN. Ao contrário do Minhocão da Massa, o homem-catota não foi exatamente um sucesso de público e crítica ao ponto que sequer teve uma continuação (sem a qual o mundo seguiu adiante perfeitamente bem, diga-se de passagem). Suponho que o objetivo aqui fosse fazer o jogo mais anos 90 de todos os tempos, de modo que um personagem que tem como unica característica ser nojento não parece realmente deslocado aqui.
Agora tem algo que eu genuinamente gosto nesse jogo é que se você acertar um personagem de uma certa maneira em uma determinada posição na tela, você o joga em outro cenário e a luta continua lá.
MORTAL KOMBAT 3 e
X-MEN VS STREET FIGHTER tem essa mecanica, mas lá isso acontece apenas uma vez por round e aqui a coisa é muito mais fluída. Não apenas é muito mais frequente essa troca de cenário, como os cenários tem 3, 4 telas concatenadas para isso. Bravo, Interplay, não ironicamente parabens!
E eu também preciso dizer que o elenco de dubladores também é bastante maneiro. Tem Jim Cummings (dublador tradicional de centenas de personagens na Disney, incluindo o Tigrão e o João Bafo de Onça), Rob Paulsen (Yakko e o Pinky de
ANIMANIACS) e Dan Castellaneta (apenas o Homer Simpson, o dublador mais bem pago da televisão), entre outros. Tá, as falas que eles repetem indefinidamente são muito irritantes pq a qualidade do som é uma porcaria devido a compressão para caber no cartucho, mas o esforço para reunir esse elenco é louvável.
O mesmo se aplica a música tema, que sofre dos mesmos problemas de compressão de som, mas ainda é bem cativante. Na verdade, se você apenas parar na tela de título, Clay Fighter 63 1/3 seria uma boa experiência.
Infelizmente poucas pessoas param por aí (eu incluso) e o jogo só piora depois disso. Mecanicamente, esse jogo é essencialmente um clone do
KILLER INSTINCT GOLD, usando o mesmo sistema de combos daquele jogo: acertar o oponente com um openner e, em seguida, encadear isso com um auto-duplo em um linker. E se você não entendeu nada dessa última frase, recomendo ler meu texto sobre
KILLER INSTINCT GOLD, mas a ideia geral da coisa é a seguinte: o sistema de combos de KI2 é absurdamente complexo e repleto de terminologias que beiram a insanidade, e não é transportar isso para um jogo medíocre que fará a vida de ninguém melhor.
Pior ainda é que como o jogo depende muito desse sistema, golpes únicos só são capazes de causar dano residual. Só que piora: boa sorte ao iniciar combos, porque a IA neste jogo é positivamente não conflituosa - uma escolha de característica estranha para um JOGO DE LUTA - e entrará em um loop perpétuo de pular para trás sempre que você tentar se aproximar deles. Se este jogo tem uma meta, é ficar perfeitamente parado e esperar que seu oponente canse de disparar projéteis e venha até você.
Às vezes, no entanto, eles ficam perfeitamente parados e você tem que dar um passo à frente para triggerar a IA deles e tentar a estratégia de atraí-los como quem está caçando um servo usando uma clava molhada. Se isso parece uma descrição estranha e que tende a não funcionar em um jogo de luta... bem, é exatamente isso que acontece aqui.
Adicionalmente, cada partida tem um cronômetro de 90 segundos que, de alguma forma, parece que leva cinco minutos para passar pq quando digo que Clayfighter é um jogo lento, ELE É FUCKING LENTO COMO UMA PREGUIÇA QUE FUMOU MACONHA DOMINGO A NOITE DEPOIS DO FAUSTÃO.
Portanto, enquanto existe de fato mais de profundidade aqui do que em algo como
WAR GODS, o fato de que parece que os personagens estão lutando cobertos por melaço não faz o jogo sentir mais divertido de se jogar. E não ser mais divertido que o fodendo
WAR GODS é foda, irmão.
E enquanto os personagens são, mais uma vez, sprites feitos de animação em stop motion, os cenários dessa vez são outra história. Tudo tem uma aparência turva e lamacenta. A decisão de fazer os cenários em 3D pode ter ecomizado algum espaço no cartucho, mas a que preço? Distantes são os dias dos backgrounds interessantes do Super NES. E mesmo que a troca de cenário seja frequente durante a luta, nenhum deles é interessante.
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Os cenários no Super Nintendo podiam ser um pouco perturbadores as vezes, mas sempre se tinha algo para olhar... |
... ao contrário de agora:
Os cenários aqui são bem chatos e eu arrisco dizer que "chato" não é o adjetivo que você deseja para o seu jogo de supostamente humor. Clay Fighter 63 1/3 também não tem muito em termos de conteúdo, e por "não muito" eu quero dizer nada: você tem o Vs padrão de 2 jogadores, o modo arcade e isso é tudo. Tá que eu não esperava um
TEKKEN 3 da vida de conteúdo extra no Nintendo 64, mas porra, mesmo os primeiros jogos de luta de Super Nintendo davam seus pulos pra oferecer outros modos de jogo.
E como coup de grace, se esse jogo não te ganhou até aqui, saiba que todos os problemas que eu citei nesse jogo (exceto o dos personagens) são reconhecidos pela Interplay e adereçados em seu patch de update, a versão "Clayfighter 63 1/3 Sculpter's Cut".
TÁ, MAS SE RESOLVE OS PROBLEMAS DE VELOCIDADE E TORNA OS COMBOS MELHORES, PQ ISSO É ALGO RUIM?
"Resolve" é uma palavra forte. Melhora um pouco, se tanto. Mas de qualquer forma, meu caro Jorge, essa versão é um daqueles jogos exclusivos da Blockbuster. Então para jogar a versão jogável de CF63 1/3 vc dependia exclusivamente de alugar o jogo em uma cadeia de videolocadoras americanas. Uau, resolveu pra caralho os problemas do jogo, minha nossa como resolveu.
Ainda sim, mesmo Sculpter's Cut também parece estar em um estado um tanto inacabado, já que High Five, um dos personagens recém-adicionados, não tem o chute baixo brutal, supers, fatality ou a habilidade de arremessar. Show de bola, heim campeões?
E, bem, essa foi a última vez que se ouviu falar da franquia Clayfighters (ou Clay Fighters, se preferir), ao que não se pode dizer que é uma grande perda para a humanidade, ou mesmo perda alguma. Sua ultima entrada no mundo dos games é um jogo horrível, mas também não é particularmente quebrado. Ele nunca atinge os níveis desfuncionais de
ADVANCED DUNGEONS & DRAGONS: Iron & Blood: Warriors of Ravenloft, apenas é um jogo absurdamente medíocre, chato, e dolorosamente lento. E racista.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 117 (Julho de 1997)
Edição 122 (Dezembro de 1997)
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 028 (Julho de 1996)
Edição 038 (Abril de 1997)
Edição 039 (Junho de 1997)
Edição 044 (Novembro de 1997)
MATÉRIA NA GAMERS
Edição 018 (Maio de 1997)
Edição 025 (Dezembro de 1997)