quarta-feira, 28 de agosto de 2024

[#1290][Jan/1999] DEEP FREEZE


Tu sabe que o bagulho vai ser do bão quando a capa do jogo é um mano pra lá de brisado e foda-se

Aqui neste blog eu conto a história dos videogames conforme ela vai acontecendo durante o timming das revistas (neste ponto, estamos em fevereiro de 1999 já). Porém, especificamente dessa vez, é necessário eu dar alguns spoilers para contextualizar algumas coisas

VOCÊ REALMENTE ABRIU O TEXTO FALANDO DE SPOILERS DE UMA COISA QUE ACONTECEU A VINTE ANOS E É CONHECIMENTO PUBLICO?

É assim que eu rolo, Jorge, é assim que eu rolo. Mas então, o spoiler aqui é que no fim do dia o Dreamcast não conseguiu salvar a Sega (não que alguma coisa conseguiria aquele ponto, mas ainda estou devendo a história dele e contarei quando estiver numa review de Dreamcast mais tranquilinha, as reviews de exclusivos do Dreamcast que eu fiz até aqui - SONIC ADVENTURE e GODZILLA GENERATIONS - tinham muito o que ser dito) e esta se retirou do negócio de hardware para sempre - isso todo mundo sabe.

As táticas o que?

O que menos gente sabe, entretanto, é que a Sega não apenas se retirou como eles estavam mal financeiramente depois de sangrar dinheiro por todos os poros desde... bem, desde sempre, a Sega nunca foi uma empresa lá muito bem sucedida. E para sobreviver e continuar existindo até hoje, a Sega então promoveu uma fusão que foi quase uma venda: a Sega entrou com o nome e as IPs, a parceira entrou com a grana. Ou um casamento de conveniencia de romance da Jane Austeen, se preferir.

Seja como for, em 2004 a Sega se fundiu com a Sammy Corporation, e é essa parte que eu queria chegar. A Sammy nunca foi uma grande desenvolvedora de jogos, embora tivesse dinheiro para uma caralha devido as suas maquinas de pachinko - que são essencialmente o jogo do tigrinho japones. Dentre os jogos da Sammy que não são lembrados, o mais perto que eu já cheguei de cobrir algo deles foi o VIEWPOINT de Playstation, embora não dá pra negar que eles tenham títulos mais... exóticos...  vamos dizer assim... como...


... Angel Paradise Vol. 1: Sakaki Yuko: Koi no Yokan ... não, eu não to de sacanagem com vocês. E como legitima parceira futura da Sega, saiba você que esse jogo é um dos pega-trouxa que a Sega adora fazer: a coisa mais picante do jogo é essa capa, o jogo mesmo é um puzzle que no fundo tem imagens de modelos comportadamente vestidas.

VC REALMENTE SE DEU AO TRABALHO DE IR VER, NÉ? ISSO CERTAMENTE NÃO DIZ BOAS COISAS A SEU RESPEITO...

Uma vez que você apenas aceita a derrota, Jorge, sua relação com as mulheres fica bem mais simples. E de toda forma, se isso não for o suficiente, isso é brincadeira de criança. segura então este petardo da futura sugar mommy da Sega:


...

Blitzkrieg: Tobu Sensen 1941~45. E não, eu não estou photoshopando nada, não apenas existe um jogo de Super Nintendo com o tinhoso na capa, como ele foi feito pela empresa que seria a futura detentora da marca Sega. Eu não conseguiria inventar um negócio desses nem que eu quisesse...

Esta, senhoras e senhores, é a empresa que viria a ser a dona da Sega após seu ululante fracasso no mundo dos videojogos. Mais alguma pergunta? Pois é, eu achei que não. Seja como for, estou falando da Sammy Corporation hoje porque estamos aqui para falar de um pitoresco jogo dela para Playstation, Frio nos Fundilho!


Então, o que é Frio nos Fundilho? Bem, é relativamente simples de explicar: imagine um survival horror, okay? Agora tire o gerenciamento de itens, a história, os personagens, enfim deixe apenas a camera, os controles e ação. É isso.

ENTÃO... ELES TIRARAM TUDO QUE FUNCIONA NO SURVIVAL HORROR PARA FOCAR APENAS NA PIOR PARTE DO GENERO E FAZER UM JOGO DE TIRO EM TERCEIRA PESSOA HORRÍVEL?

Sono toori, Jorugetsu! Exactamundo isso, sabe os modos bonus de ação que você desbloqueia nas versões Directors Cut de RESIDENT EVIL 2, ou o modo Battle de RESIDENT EVIL de Saturn? É bem isso o  jogo. Parece uma ideia horrível que propositalmente escolhe o aspecto pior e menos funcional do genero? Parece, mas então essa é a empresa que decidiu gastar milhões para ter ECCO THE DOLPHIN no seu portfolio, bom julgamento não é o forté que podemos esperar deles.


Isso sendo dito, a boa noticia é que o jogo não é tão ruim quanto a premissa poderia sugerir - com efeito, eu nem chamaria ele de ruim realmente. A noticia ruim é que tambem não precisa muito para ser melhor que do que se esperava de um jogo que faz com o tiro em terceira pessoa o que THE CROW: City of Angels fez com os beat'm ups, então não espere lá muito desse jogo MESMO.

Nossa história aqui é que no futurista ano de 2001 (gosto que o jogo se passa num futuro apenas dois anos após o seu lançamento, nem pra isso eles tem ambição), o mundo mudou, e o terrorismo mudou junto com ele. Incapazes de prever o 11/9 daquele ano, neste mundo a Al-Qaeda deu lugar a uma outra organização terrorista mais maligna do mal que o odeia o bem - e com um nome mais comercial tb - a Hefestus. Em resposta, a ONU fundou o "INTERnational ANti Terrorism Service", ou INTER-ANTS como ficou conhecido. Sim, nossos herois aqui são o INTER-FORMIGAS QUE MORREM NO SUCO.

Se você sempre sonhou em ser um INTER-FORMIGA QUE MORRE NO SUCO, esse é o seu jogo. De qualquer forma, no controle do capitão Jack Wired... pq é claro que o nome do herói seria ZÉ LIGADAÇO, é óbvio que essa seria uma escolha da empresa que comprou a Sega... você e mais um companheiro a sua escolha viajam ao redor do mundo resolvendo tretas terroristas.


Isso quer dizer, na prática, que o jogo tem 4 fases e em cada uma você tem um pequeno mapinha para chegar ao final - o que te exige algumas ideas e vindas, mas ainda sim se alguém te disser que isso é um survival horror pode ter certeza que essa pessoa não jogou o jogo. Ele é um jogo de tiro em terceira pessoa que tem mais em comum com T.R.A.G.: Tactical Rescue Assault Group - Mission of Mercy do que com um MIB: MEN IN BLACK - The Game da vida.

SEJE como for, antes de começar a fase você pode escolher um companion que te seguirá e atirará nos inimigos (frequentemente melhor que você, já chego a isso) e eu suponho que em algum ponto a Sammy cogitou fazer desse jogo um coop. Não vou mentir, colocar um modo de dois jogadores melhoraria horrores a diversão aqui, mas então eles esbarraram no pequeno problema que isso gastaria dinheiro e  todo o ponto aqui é ganhar dinheiro, não gastar, dã. 

Com exceção dessa fase onde o seu sidekick é uma criança de 8 anos, que por alguma razão desconhecida o jogo não quis dar um trezoitão pra ela te ajudar a atirar

Mas tá, você tem um bonequinho que anda com vc e atira nas coisas pra você - inclusive com um botão para mudar o comportamento da IA dele. Quais são as opções de comportamento é algo que jamais saberemos, entretanto, pq se vc conseguir achar um manual de DEEP FREEZE e traduzir essa coisa que nunca saiu do Japão... bem, boa sorte com isso.

Alias falando em sair do Japão, como eu disse esse jogo nunca foi lançado fora da nihongolandia, mas então ele é todo dublado em inglês e apenas os menus são em japones - o que considerando que esse é um jogo de ação, não inviabiliza jogar a peroba. O que inviabiliza mais é que a qualidade de audio não é lá essas coisas e quando a Sammy inventa de colocar algum efeito sonoro... meua migo... não tem Cristo montado no colo de Buda que entenda que porra tá sendo dita.


Sério, tipo tem uma hora que o cara tá falando e tem um helicoptero ligado ao fundo, o som do cara parece que eu tava ouvindo o audio do metro das 18:30 e só entendi algo tipo "jkhnjdhgsgas estação guadalupe kajskdahjbhb shhhhhhhh khhhhhhhh desembarque". Infelizmente isso é relativamente comum nesse jogo, pq frequentemente alguem tenta falar com você pelo rádio e tudo que dá pra entender é que o cara deve estar num banheiro de laje falando em uma latinha de Mucilon e os cadarços improvisados como barbante, dada a qualidade do audio.

Mas divago, dialogos a parte que naõ dá pra entender eu estava falando do gameplay... que é relativamente simples: você anda como em RESIDENT EVIL, tem as cameras de RESIDENT EVIL, mira como em RESIDENT EVIL e atira como em RESIDENT EVIL. Claro, como eu disse antes, alguem poderia argumentar que a engine dos survival horror não é a melhor coisa do mundo para um jogo de tiro... mas então foda-se pq nossos INTER-FORMIGAS QUE MORREM NO SUCO fazem assim do mesmo jeito.


Para tornar sua vida menos horrível, entretanto, o jogo tem uma mira semiautomática que trava no alvo se vc estiver mais ou menos virado na direção dele, não precisa ser uma mira com precisão pixelar como os tiros do próprio T.R.A.G.: Tactical Rescue Assault Group - Mission of Mercy te exigem e essa é a graça salvadora que fazem esse jogo ser jogável. Vc não precisa mirar no pixel exato, estar mais ou menos virado na direção do inimigo já bom o suficiente. Isso não torna esse jogo divertido per se (mas então é um jogo de tiro baseado na engine dos survival horror, poucas coisas o tornariam divertido), mas ao menos ele é jogável, isso tem que ser dito dele. 

Vou te dizer que talvez ajudaria um pouco se as armas parecessem diferentes entre si, mas como esse não é o caso e todas as armas parecem mais ou menos a mesma coisa jogando, nem isso tem pra remédio. O que muda basicamente é o rate of fire, mas como os inimigos só aceitam um hit antes de entrar num ciclo de invulnerabilidade em que voce não pode causar dano neles por alguns instantes, meio que não faz tanta diferença entre a pistola e a metralhadora - senão que a metralhadora é pior pq vc tem que recarregar mais frequentemente.


Então esse é um jogo que pega uma premissa de mecanica muito muito ruim e faz dela jogavel... yay... mas é meio que até onde vai tambem. Não espere muito mais do que isso desse jogo pq ele não entrega muito mais que isso - o que justifica que a Sammy nunca se deu ao trabalho de tentar lançar esse jogo fora do Japão. 

Você pode encontrar alguem por aí dizendo que o não lançamento na América foi por causa do tema terrorismo e o 11/9 que aconteceu não combinarem, mas então esse jogo foi lançado no começo de 1999 - mais de dois anos e meio antes do atentado. Esse jogo não foi lançado no ocidente apenas pq ele é bem meh e ninguém se deu muito ao trabalho, e não dá pra dizer que é injusto. Tirando os entusiastas que sonharam a vida toda em jogar com um INTER-FORMIGA QUE MORRE NO SUCO, esse jogo é definitivamente um dos jogos já feitos.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 138 (Abril de 1999)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 060 (Março de 1999)


MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 059 (Fevereiro de 1999)