É o natal de 1998 e você tem apenas dez anos. Todo natal, você ganhava um novo jogo de Nintendo 64 para adicionar à sua modesta coleção - e como jogos de N64 eram caros, esse é o jogo que você ganhará e era isso. Então você vai e ansiosamente pega o pacote brilhantemente embrulhado. Era isso. Este era o novo jogo de Nintendo 64 que você jogaria nos próximos meses. Tinha que ser THE LEGEND OF ZELDA: Ocarina of Time. Tinha acabado de ser lançado, tinha que ser isso. Você rasga o embrulho de presente como um cortador de grama na grama seca do verão.
Não era THE LEGEND OF ZELDA: Ocarina of Time.
"O que diabos é isso?", você se pergunta confuso.
Era Glover. Feliz natal.
Mas vamos começar do começo: a Hasbro é uma empresa mais conhecida por fazer os brinquedos e jogos de tabuleiro - menos conhecida por ser a dona da marca Dungeons and Dragons e menos ainda por uma breve febre de verão nos anos noventa em que a Hasbro teve uma divisão inteira dedicada ao desenvolvimento de videogames - um projeto que durou cinco anos antes de uma inevitável venda para alguem mais insano ainda, a francesa Infogramas que já tinha adquirido o que sobrou da Atari.
Majoritariamente, a Hasbro Interactive se contentava em publicar jogos - a maioria muitos dos quais eram ports de videogames dos seus jogos de tabuleiro como MONOPOLY ou CLUE, ou então remakes de jogos inofensivos de arcades antigos como MS. PAC-MAN ou SPACE INVADERS. No entanto, na lista de jogos publicados por esta obscura editora, um deles ecoa diferente e ainda ressoa até hoje como um dos títulos mais... diferentes não apenas desta editora, mas de fato na plataforma Nintendo 64 como um todo. O que não é necessariamente uma coisa boa, e esse jogo foi Glover.
A história de Glover faz tanto sentido quanto a Nintendo ter dado a Phillips os direitos de fazer jogos de Mario e Zelda no infame CDI de Phillips no início dos anos 90: o jogo começa com um mago, que é simplesmente conhecido como "O Mago", cozinhando uma poção estranha em seu caldeirão no último andar de seu castelo.
O que é estranho, embora não tão estranho quanto alguem cozinhar meninas perfeitas no seu porão... o que o plot de Meninas Superpoderosas é bem estranho quando você pensa sobre isso. Mas divago, eu dizia que "O Mago" pega mais ingredientes para colocar em seu caldeirão e quando os coloca, uma explosão acontece. O mago se transforma em pedra e cai pelo chão do castelo em um poço aparentemente sem fim. Antes de se transformar em pedra, suas luvas voam de suas mãos. Uma luva cai na mistura misteriosa do mago, e a outra sai pela janela e cai no chão. Essa luva é nosso herói Glover.
Assim que ele se levanta, os sete cristais no topo do castelo caem. Para evitar que quebrem, Glover transforma os cristais em bolas de borracha vermelhas e amarelas, o que pareceu uma boa ideia na hora... exceto que seis bolas passam por portais. Agora você precisa recuperar as bolas para... não vou dizer que tenho lá taaaaanta certeza de para que, mas enfim vc precisa pegar os cristais que viraram bolas.
Porém isso não é tudo: a outra luva sai do caldeirão do mago, onde carbonizada no caldeirão de fogo. Ele é apresentado como Cross-Stitch, e é o inimigo de Glover. Cross-Stitch solta uma risada maníaca que me assombrará até o fim dos meus dias, e o jogo começa.
Bem, falando do jogo em si, entender Glover é bastante simples: você controla a luva-título e as bolas tem a sua própria física... o que me imediatamente me deu flashbacks do Vietnã com THE ADVENTURES OF KID KLEETS. Sim, lembra daquele jogo de plataforma em que você tem que controlar uma bola que supostamente deveria ter uma física própria? Provavelmente não, apenas eu carrego essa mácula eternamente no que restou da minha alma.
Seja como for, o que eu posso dizer é que poucas coisas nessa vida me geram menos interesse em jogar uma versão plataforma 3D de THE ADVENTURES OF KID KLEETS. E as coisas ficam menos interessantes ainda a cada minuto:
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 135 (Janeiro de 1998)
EDIÇÃO 055 (Outubro de 1998)