quarta-feira, 7 de junho de 2023

[#1121][Out/97] RAMPAGE WORLD TOUR



Olha, eu vou começar sendo totalmente sincero com vocês: a minha review do RAMPAGE original... não é brilhante - para colocar humildemente. Mas então, era apenas meu segundo ano de blog e mais importante, o jogo não ajuda também.

Embora hoje eu teria escrito de forma melhor, ainda mantenho minha opinião de que RAMPAGE é um arcade que pertence a primeira geração de fliperamas como Space Invaders e Pac-Man. Você tem uma tela, tenta fazer o máximo de pontos possiveis com uma ação simples antes que o arcade coma sua ficha e é isso, não tem realmente muita profundidade aqui. 

Dizer que RAMPAGE é um beat'm up de uma nota só que você destrói prédios e tenta desviar de tiros é uma supersimplificação... mas então, esse é um jogo supersimples. O que não é muito, mas então para um arcade dos anos 80 está em como as coisas rolavam. Não é um jogo que eu particularmente amo, mas entendo o apelo de jogar um beat'm up no fliperama com mais dois amigos em 1986. Está ok. E até para um jogo de Master System, como o que eu resenhei (bem toscamente, eu sei, mas eu era jovem e cheio de esperança nos olhos).

Agora cortamos para 11 anos após o seu lançamento dos fliperamas e temos uma nova versão dele para todos os consoles de nova geração. Hã... o jogo não era exatamente estelar em 1986, mas relançar o mesmo jogo em 1997 apenas com novos gráficos ... hmm, não é meu conceito de diversão.


Quer dizer, digamos que você compre o jogo (por 60 dolares de 1997, o que hoje daria doze bazilhões de reais) ou mesmo que alugue ele por um fim de semana. Depois de 34 segundos você já viu tudo que o jogo tem para oferecer, então é meio pouco.

VOCÊ ESTÁ DIZENDO ISSO PQ NÃO TEM AMIGOS E NUNCA JOGOU MULTIPLAYER

Possível. Ainda sim, mesmo jogando com a galere eu não vejo muita longevidade na coisa... se bem que essas são as palavras de um nerd solitário amargurado, então tome minha opinião com uma pitada de sal. Mas olha: a Ação Games concorda comigo que o jogo fica terrivelmente entediante depois de 15 minutos, e considere que a Ação Games passa pano pra absolutamente qualquer merda, estamos falando da revista que deu um selo The Best para BUBSY IN CLAW ENCOUNTERS OF THE FURRED KIND.

Então se a Ação Games ficou entediada com esse jogo, cara, acho que eu não estou sozinho em meu sono inabalavel com a jogabilidade de arcade dos anos 70 dessa coisa.

De qualquer jeito e maneira, isso não quer dizer que eu não tenha nada a falar sobre esse jogo pq em 2018 algo realmente estranho, mas eu digo REALMENTE ESTRANHO MESMO aconteceu: saiu um filme de Rampage.

Isso é particularmente esquisito pq de todos os jogos que poderiam ter sido adaptados como blockbuster de 120 milhões de dolares, definitivamente uma das minhas últimas escolhas seria um jogo que não tem absolutamente história nenhuma. Ele mal tem gameplay, verdade seja dita. Então, é, é uma escolha realmente estranha para afundar 120 quilo de picanha.

Porém essa nem é a parte estranha disso, e sim que - de alguma forma - deu certo. Quero dizer, Rampage não vai ser aplaudido no festival de Sundance (o que é uma coisa boa, afinal), mas definitivamente não é um filme terrível. É um filme bacaninha, e taí algo que eu não esperava dizer.


Eu esperava um desastre sem alma que foi filmado com o único intuíto de insultar a inteligência do espectador como, sei lá, "Kangaroo Jack" ou "Buddy 8: Um Cachorro nas Olimpiadas de Inverno". Para minha grande surpresa, Rampage não é uma lixeira pegando fogo, olha só. 

Mas vamos começar do começo: em Hollywood, se você tem uma ideia realmente idiota para um filme e muito dinheiro para fazê-lo, você chama o The Rock. Eu não digo isso de forma ofensiva, pelo contrário: o cara é o único que consegue fazer funcionar coisas que ninguém mais conseguiria... exceto talvez pelo Nick Cage, mas divago.

Aparentemente trabalhar pro Billy Butcher não estava pagando as contas, né Huggie?

O ponto é que do alto de seus quase 130 kg de músculos besuntados em oleo e carisma não besuntado em mada, ele pode vender coisas que você pensou que ativamente não queria: um reboot de Jumanji, sequências de G.I. Joe e Viagem ao Centro da Terra, filmes com Kevin Hart, Baywat… Tudo bem, todo mundo tem seus limites. Seja como for, Rampage é um filme 100% The Rock por excelência. E dentre as coisas impossiveis que só acontecem por casua dele, bem um filme baseado em um videogame sem história ou personagens, de uma época antes do publico-alvo desse filme sequer ter nascido... não vou negar, tudo isso parece uma base terrível para construir um filme. E meio que é, mas também meio que funciona.

Ousando evocar a fúria dos três fãs do jogo original que ainda não tem Alzheimer, o filme começa mudando o cânone do jogo - e para melhor. Rampage, o filme, não apresenta humanos se tornando monstros. Em vez disso, enquanto tentavam encontrar uma cura para o câncer através de “edição de genes”, os cientistas (não tão) acidentalmente criaram um soro que transforma animais normais em monstros enormes e raivosos. Para evitar os olhares indiscretos do governo e de outros que possam notar hamsters de 15 metros de altura devorando pessoas no centro de Nova York, esses cientistas têm realizado seus experimentos no espaço. Mas as coisas dão errado, a estação espacial explode e várias latas de suco de monstro são enviadas para a Terra. Duas caem no deserto e outra cai em uma reserva ecologica em San Diego, onde Davis Okoye (The Rock) trabalha com gorilas. Seu favorito, um gorila albino chamado George, é afetado pelo soro e fica colossal e violento.

Surpreendentemente, isso funciona. Ninguém poderia se importar menos com um humano feioso que vira um monstro, mas quando era o gorila brother do Rock... existe uma conexão emocional aqui. Eu nunca achei que usaria essas palavras para descrever um filme de Rampage, mas é verdade. De forma bastante inteligente, o filme gasta um bom tempo mostrando o quanto o The Rock e o gorila são brothers e isso é feito de uma forma funcional e sincera.

Então quando o gorila vira um monstro gigante com impulsos raivosos de destruir tudo, po cara, é o Jorge, não atira no Jorge, o Jorge é gente boa!

FINALMENTE ESTOU RECEBENDO ALGUM RECONHECIMENTO NESSE BLOG!

Não você, o outro Jorge. Mas tá, vc é legal tb, eu suponho. Seja como for, ta aí, tem esse lance da conexão entre o Rock e o gorila e... também é só o que filme tem, verdade seja dita. O que é mais do que eu esperava em primeiro lugar, mas não vou fingir que isso é muito também.

Vamos dizer que o enredo do filme é, para além disso... apenas funcional. Não tem sutileza, metaforas ou arte nele, e eu nem acho que deveria haver. Este é um filme sobre gorilas socando edifícios. Você não quer que o desenvolvimento de personagem atrapalhe isso, não é? Pq de que outra forma estaria tudo bem quando os vilões dizem que precisam transformar a antena de rádio de seu prédio de escritórios na antena de rádio mais poderosa do mundo, então seus técnicos "modificaram ontem à noite". 

Olha, eu não sou um especialista em comunicação, mas eu realmente acho que precisa mais do que "ontem a noite" para fazer a antena de rádio mais poderosa do mundo, apenas acho...


Da mesma forma, quem está preocupado que a personagem cientista-falas-expositivas obrigatória do filme da Naomie Harris hackeie uma empresa de tecnologia multibilionária usando um termostato que ela encontrou na geladeira, porque está “tudo conectado à mesma rede”? Lógica só vai atrasar as coisas. Esses prédios não vão se socar sozinhos.

Na realidade meu problema não é que o filme abre mão de outras coisas para se focar no esmagamento de prédios, o meu problema é que essa parte poderia ter sido melhor, ter abraçado a galhofada com gosto já que é esse tipo de filme. 

Não que esse filme não seja ridiculo, mas ele poderia ter se dado ao luxo de ser muito mais ridiculo. Brad Peyton, diretor de pelo menos outra meia duzia de filmes com o The Rock (como Falha de San Andreas e Viagem ao Centro da Terra 2), as vezes parece que está tentando fazer o filme a sério.

Enquanto o The Rock está ocupado falando suas frases cool com um movimento de sobrancelha e o Jeffrey Dean Morgan realmente pegou o espirito da coisa (interpretando o texano mais brisado que eu já vi ever) nem todo o filme compartilha do mesmo espirito de pé na jaca.

Tipo os vilões do filme são gananciosos-sessão-da-tarde-maus, mas eles não são tão forçados quanto poderiam ser, eles parecem mais personagens mal escritos do que alguem que que abraça a piada (até pq que eles são claramente inspirados no vilões terrivelmente toscos de TOM & JERRY: THE MOVIE).  E é esse meu ponto aqui: os vilões poderiam ser MAIS ridiculamente bregas, as sequências de ação podem usar mais gags visuais para apreciar o absurdo da situação, e seria pedir demais o gorila, lobo e lagarto fossem ainda maiores? 

Bem, suponho que a Warner Bros já tinha Godzilla e King Kong na manga e talvez estivesse preocupada em pisar nesses pés extremamente grandes, mas quando se trata de monstros lutando no meio da cidade sempre dá pra ser maior. Rampage é uma grande diversão idiota, mas não tão grande, idiota e divertida quanto poderia ter sido.

Então meu ponto não é que o filme é idiota. O problema é que ele não é idiota o suficiente, e isso é mais uma das coisas que eu não esperava de um filme de fucking Rampage. Rampage, man.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 122 (Dezembro de 1997)


Edição 128 (Junho de 1998)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 049 (Abril de 1998)


Edição 050 (Maio de 1998)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 025 (Dezembro de 1997)


Edição 030 (Abril de 1998)