domingo, 11 de junho de 2023

[#1124][Nov/97] KIRBY DREAM LAND 3



Hoje, temo dizer, é dia de uma review melancólica e muito triste.

SÓ VOCÊ CONSEGUE SER MELANCÓLICO E TRISTE FALANDO DE UM JOGO DO KIRBY...

Não é exatamente pelo Kirby, Jorge, e sim pelo que ele esse jogo representa. Sabe, é muito dificil apontar com exatidão quando um videogame oficialmente termina sua vida. O critério que eu uso, o que me parece fazer mais sentido é quando a sua fabricante lança seu último jogo para ele. Depois disso alguma softhouse aventureira pode tentar a sorte com algum título caça-níquel, mas esse navio já deixou o porto.

Mesmo quando a capa japonesa é praticamente a mesma que a americana, ainda sim a japonesa é melhor

Foi o critério que eu utilizei, por exemplo, para dizer que WARIO'S WOODS foi o último jogo da Nintendo para o NES, e onde esse console encerrou oficialmente sua carreira. Seguindo o mesmo critério, hoje falaremos do último jogo lançado pela Nintendo mundialmente para o Super Nintendo.

O Super Nintendo é um console muito especial não apenas para mim, pela história da minha infancia, mas para esse blog. Parece que foi ontem que eu joguei pela primeira vez, apenas na edição 007 da Ação Games, o primeiro jogo de Super Nintendo: FINAL FIGHT.

Isso foi dia 26 de junho de 2017, e tanto o mundo quanto a minha vida eram muito diferentes seis anos atrás. Seis anos é muito tempo na vida de alguém e um tempo infinito na internet, mas eu lembro ainda da sensação do quão animado eu estava. A vida do Super Nintendo estava apenas começando e haviam tantas possibilidades pela frente, era um sonho de infancia poder dizer que eu acompanhei toda a vida do SNES do começo ao fim.

Hoje, quase seis anos e 403 reviews depois, essa jornada chegou ao fim. Claro, ainda vai ter um que outro jogo aqui e acolá de alguma empresa caça-níquel, mas jornada do Super Nintendo chegou ao fim. É hora de descansar, meu velho amigo.


Você, meu querido Super Nintendo, foi tudo que eu poderia esperar que você fosse. Eu ri, eu chorei, eu me diverti, passei raiva, me desapontei e me surpreendi. Foi uma vida plena e completa junto, foram seis ótimos anos que tivemos junto nesse blog.

Eu sempre carregarei essas experiencias dos últimos seis anos comigo assim como carrego comigo até hoje a textura da caixa e o cheiro do isopor do meu Super Nintendo. A vida continua, esse blog continua, mas o Super Nintendo termina por aqui.


Antes de terminar, no entanto, vamos falar sobre esse último jogo lançado mundialmente pela Nintendo, a Terra dos Sonhos do Kirby 3. O que, temo que dizer, não é exatamente uma grande experiencia.

Mas vamos começar do começo: embora não sem algumas falhas, KIRBY SUPER STAR é um passo gigantesco na direção certa. Ele pega a formula do Kirby do Nintendinho/Game Boy e dá um banho de loja next gen ao dar vários power ups que variavam conforme a fase do jogo que você selecionava, sendo que cada uma tinha seu próprio gimmick que a diferenciava das demais, criando uma estrutura única. Ele é tudo que se podia esperar de um jogo do Kirby no Super Nintendo, e tranquilamente o melhor jogo da bolinha rosa onivora até esse ponto da história.


Kirby's Dream Land 3... é claramente um retrocesso. E por retrocesso eu quero dizer que esse jogo não é nem sequer um passo para trás e essencialmente um jogo de Game Boy lançado no Super Nintendo, eu quero dizer que ele consegue de alguma forma ser pior que o próprio jogo anterior de Game Boy.

Sério, pra começo de conversa esse jogo é por algum motivo MUITO mais lento do que Kirby Dream Land 2 no Game Boy. Agora porque causa, motivo, razão ou circunstancia você consegue fazer um jogo rodar PIOR no Super Nintendo do que no Game Boy é algo que eu não faço a mais remota ideia de como aconteceu.


O que eu sei é que esse jogo tem um ritmo terrivelmente sonolento, algo que nunca aconteceu na série. O único palpite que eu posso ter para o fato de tudo acontecer tão devagar aqui é que esse jogo foi talhado sob medida para crianças pequenas, que afinal era o publico alvo do Super Nintendo no final de 1997 - dado que o publico gamer que já saiu da idade pré-escolar tinha migrado para a próxima geração a esse ponto.

E talvez esta tenha sido a razão pela qual o jogo não foi lançado na Europa - com a perda de velocidade dos jogos na para 50Hz, esse jogo ficaria injogável


Seja como for, o fato é que Kirby é conhecido por três habilidades bastante iconicas: flutuar no ar como um balão gigante, sugar e cuspir inimigos e usar os poderes dos inimigos engolidos. Infelizmente nada disso é divertido em Dream Land 3, principalmente ao fato de como tudo é lento e burocrático nesse jogo. 

Do que eu estou falando, especificamente? Veja um exemplo: Kirby não pode se mover e realizar uma ação ao mesmo tempo, como correr e flutuar. Isso quer dizer que você só pode correr no chão, se vc precisar pular o personagem trava e volta para a velocidade de caminhada enquanto flutua.


Na prática isso gera um arranca e para que é profundamente irritante, é como estar em um carro com alguém que não sabe dirigir e fica socando quando erra a primeira marcha. 

E não ajuda que a velocidade de caminhar/flutuar seja a coisa mais lenta que eu já vi em qualquer jogo de plataforma ever. Pra achar algo com a movimentação a essa altura, eu preciso a recorrer a coisas obscurar profanas como... meu deus... STORMLORD


E isso as sessões de plataforma, pq nem queria saber sobre as parte de agua que o jogo fica MAIS lento ainda... eu nem sabia que isso era possível... e eu preciso mencionar que esse jogo ama partes da água por alguma razão.

Adicione a isso que o level design de Dream Land 3 é essencialmente básico - pra não dizer chato. Não tem muito mais no design das fases do que ir par aa direita,  mesmo que cada fase dá a percepção de que existem vários caminhos, mas na realidade existem apenas muitas portas que levam ao mesmo lugar. Você pode pegar a primeira porta ou a porta seguinte no final do corredor, elas vão dar no mesmo lugar.


 Pode parecer estranho implicar com isso, mas Kirby's Dream Land 2 era um maldito jogo de Game Boy, e ainda conseguia oferecer vários caminhos diferentes e toneladas de segredos. Dream Land 3 está em uma máquina que é pelo menos quatro vezes mais poderosa que o Game Boy, mas não pode oferecer o mesmo tanto quanto um jogo que veio antes dele em um sistema inferior.

Como os níveis são tão lineares, você esperaria pelo menos algum design novo, certo? Esse não é o caso aqui. Ainda existe um mundo de floresta (com Wispy Woods como chefe), um mundo aquático, um mundo montanhoso etc. Se colocar no chatGPT sobre como gerar um jogo no Kirby, esse vai ser o jogo descrito. Tudo já foi feito antes com uma variedade melhor de inimigos (mais sobre isso daqui a pouco), um desafio maior e mais segredos. Novamente, no Game Boy.


Muitos dos poderes mais clássicos dos jogos do Kirby anteriores estão presentes, como fogo, pedra, mago e slash, mas então KIRBY SUPER STAR tinha mais de 30. E ainda sim, a maioria é vista apenas uma ou duas vezes. 

A maioria dos inimigos não oferece nenhuma habilidade e é superfácil de derrotar. Para apimentar as coisas, seus ajudantes animais estão de volta e o jogo até tenta usar uma mecanica nova pra eles: aqui, se você tiver um poder e estiver montado (ou sendo montado) em um companheiro, ele ganhará um ataque único. Por exemplo, enquanto normalmente Kirby atiraria bumerangues para a frente com a habilidade Cutter, mas se você tiver com a montaria gato eles serão atirados diagonalmente para cima. Cada poder funciona de maneira diferente com cada companheiro, então é curioso experimentar e ver o que eles fazem.


Agora, enquanto isso é legal na teoria, na prática com exceção dos peixes, eles não ajudam muito realmente (a única razão pela qual o peixe não é inútil é porque é mais fácil navegar com ele nas fases da agua, e realmente tem várias dessas MESMO). 

O hamster gigante era ótimo em Dream Land 2 para passar por níveis que exigiam isso, mas agora ele se move muito lentamente e na prática torna a vida mais difícil. A coruja e o pássaro normalmente seriam ótimos para cruzar o céu, mas eles sofrem dos mesmos problemas que a flutuação do Kirby. Então tem isso.


Como aspecto positivo, eu gosto da direção de arte desse jogo. Ele tem uma pegada de desenho infantil como em SUPER MARIO WORLD 2: Yoshi's Island. O efeito não é tão bonito quanto (especialmente pq o jogo não usa o chip FX-2 como o jogo do Yoshi)... e com efeito ele é menos colorido que o próprio KIRBY SUPER STAR... mas ainda sim eu gosto da escolha de tom. 

Então, é, eu entendo que esse jogo foi feito para apelar para crianças pequenas e eu nem digo que ele é um jogo de plataforma quebrado e injogável como um CHAKAN: THE FOREVER MAN da vida nem nada. 


A pior coisa a respeito de Kirby's Dream Land 3 é que o jogo inteiro é completamente insípido e frequentemente desleixado na sua execução. Certamente existem jogos piores no próprio Super Nintendo, mas então o SNES velho de guerra merecia uma despedida um pouquinho melhor do que isso. Eu totalmente entendo pq ninguém investiria tempo e dinheiro em faze-lo, mas ele definitivamente merecia.

Não por acaso, não é muito difícil entender o porque esse é geralmente considerado o pior jogo do Kirby junto com Kirby 64. Se você olhar os créditos desse jogo e do Kirby 64, você verá por que - o criador de Kirby, Masahiro Sakurai, não participou de nenhum dos dois.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 122 (Dezembro de 1997)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 045 (Dezembro de 1997)