Vamos começar esse texto fazendo uma das coisas que eu mais gosto de fazer nesse blog: apontar como os desenvolvedores concordam com tudo que eu disse no jogo anterior. Não é lindo quando isso acontece? Pois eu acho que é.
Pq sério, se você pegar o meu texto do primeiro TUROK: Dinosaur Hunter eu aponto problemas animais, canibais, colossais com os controles e várias escolhas de design daquele jogo. São coisas nível atirar o controle na parede e perguntar como caralhas ninguém percebeu que isso cagava o jogo antes de vender a porra toda.
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Okay, eu tenho que dizer que a capa japonesa do jogo é muito louca. Não apenas o jogo tem um nome muito mais irado radical como VIOLENCE KILLER (ele assassina a violencia?) e o close no olho de um dinossauro que está prestes a levar um socão do nosso Turoqueta. Arte, eu te digo. |
Pois bem, a PRIMEIRA coisa que essa continuação faz é adereçar esses exatos problemas. Por exemplo, naquele jogo eu reclamei que a camera sempre auto-centrar foi uma das ideias mais imbecis que eu já vi nessa vida, tipo vc vira a camera pra cima pra mirar num inimigo no alto e o jogo fica puxando a camera pro centro da tela e vc fica nesse cabo de guerra pra mirar EM TODO E CADA INIMIGO que estiver numa altura diferente, minha nossa senhora do passaquatro molhado, que ideia bosta.
Entretanto ao abrir o menu de opções desse jogo qual foi a primeira coisa que eu vi?
Aaaah moleque, taí, resolvido o problema. "Look Spring" é essa coisa da visão ficar centrando como uma mola, desativa isso e tá resolvido o problema. Outra coisa que o jogo conserta que tava cagado no jogo anterior: as sessões de plataforma. Se
TUROK: Dinosaur Hunter tinha horas que parecia que queria ser
TOMB RAIDER 2 Starring Lara Croft em primeira pessoa... feito pela Acclaim (a sucessora espiritual da LJN)... o que definitivamente não soa promissor, e entrega tanto quanto parece.
A boa notícia é que essa continuação se deu conta da cagada que eles fizeram e pega bem, mas BEM mais leve nas sessões de plataforma. Mas MUITO mais leve mesmo. E assim por diante, todos os problemas de design que eu apontei no primeiro jogo são em maior ou menor grau atendidas. Então a gente começa daí, com os devs admitindo que eu estava certo. Grande dia.
Mas então, agora que tiramos isso do caminho podemos falar sobre o jogo em si. Que tipo de jogo "Turokas 2: Sementes do Mal" é? Bem, vamos colocar assim: eu acho que TUROK: Dinosaur Hunter - apesar dos seus defeitos - tem sim várias qualidades, como eu apontei naquele texto também.
Dito isto, eu acredito firmemente que muito dos motivos pelos quais o jogo é lembrado com carinho se deve bastante ao excelente timing do seu lançamento: foi lançado quando quase não havia jogos no Nintendo 64, o que significa que as pessoas estavam mais abertas muito pq elas não tinham muitas opções melhores. Ou muitas outras opções quaisquer, na verdade.
Adicionalmente, foi o único com classificação etária M no console por vários meses, e por acaso era o único jogo de tiro em primeira pessoa no console no lançamento. Todos estes factores, levaram TUROK: Dinosaur Hunter a ser um grande sucesso de vendas.
Para a continuação, entretanto, a Acclaim não teve tanta sorte do ponto de vista competitivo: em 1998 já havia
GOLDENEYE 007 para mostrar o que é um EXCELENTE FPS no N64, e o ano em que o jogo foi lançado foi um dos maiores de todos os tempos para videogames. Ao contrário do jogo anterior, Turok 2 teve bastante competição, basta olhar o que mais já existia:
- RESIDENT EVIL 2 (PS1)
- Pokémon Azul/Vermelho (Game Boy)
- Half-Life (PC)
- Banjo-Kazooie (Nintendo 64)
- Star Wars: Rogue Esquadron (Nintendo 64)
- The Legend of Zelda: Ocarina of Time (Nintendo 64)
- Metal Gear Solid (PS1)
Mas o que isso importa realmente no desenvolvimento desse jogo? Bem, importa pq a Acclaim estava sentindo o bafo quente na nuca e plenamente ciente que a competição tinha aumentado muito do primeiro jogo para esse. Então se eles queriam ter alguma chance de serem notados tinham que pensar GRANDE. E grande eles pensaram. Mas, como diz o ditado, maior nem sempre significa melhor. Especialmente quando é a Acclaim tentando ser maior.
Turok 2: Seeds of Evil se passa após uma quantidade de tempo não especificada depois da derrota do The Campaigner em Turok: Dinosaur Hunter. Não querendo que o recém-formado Chronoscepter caísse em mãos erradas, Tal’Set - o Turok original - jogou a arma em um vulcão ativo. O que na hora pareceu uma boa ideia.
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Okay, o logo da desenvolvedora Iguana nesse jogo é realmente maneiro, isso eu tenho que dar ao jogo |
O problema foi que a sua destruição desencadeou uma onda de energia que desperta um mal antigo e a muito selado conhecido como The Primagen, que reúne um exército para destruir os totens de energia erguidos ao redor do Vale Perdido que o mantêm aprisionado. Se esses totens caírem, isso significaria a erradicação não apenas do Vale Perdido, mas também do nosso mundo. Para combater esta ameaça recém-despertada, um novo Turok chamado Joshua Fireseed é convocado para impedir a aniquilação total do cosmos.
Então desde o segundo em que o jogo começa, o jogador sabe imediatamente que Turok 2 está realmente se esforça para ser maior e melhor. A cena de abertura, por exemplo, tem modelos de personagem bastante bons para um jogo de Nintendo 64 e um trabalho de dublagem realmente bom para a época - especialmente pq dublagem é complicada em cartucho, dado o espaço que ocupa.
Bem, verdade que Turok como personagem não recebe nenhum desenvolvimento, nem nos é dito por que há um novo Turok para começar, mas você recebe uma tarefa muito mais importante do que pegar pedaços de uma arma, agora todo o destino do espaço-tempo depende você!
A epicidade da proposta segue com que cada fase é apresentada através de uma cutscene e para cada nível você é informado até que ponto o alcance do Primagen se espalhou pelo Vale Perdido, bem como quão terrível é a situação em que Turok está sendo colocado. O que é bem cool na verdade, mesmo que você não encontre o vilão principal até o final do jogo, sua presença é sentida através da corrupção que suas tropas espalham pelo Vale Perdido. Isso torna Seeds of Evil um jogo muito mais sombrio do que seu progenitor, fazendo jus aquela grande letra “M” na classificação etária que vai na caixa do jogo.
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Bem, isso é o fato que o jogo é fato bastante sangrento |
Visualmente, o jogo também resolve outro dos problemas que eu mencionei no jogo anterior: a draw distance era muito curta e os inimigos se materializavam muito em cima de você. Turok 2 ainda tem um pouco disso, mas você pode ver muito mais longe do que no primeiro jogo. Alias falando em ver, todo o jogo, desde os designs dos inimigos, as texturas e os níveis foram refeitos para serem muito mais nítidos e com mais detalhes... o que vem com um preço: esse jogo roda muito mais lento do que o primeiro. Os movimentos e pulos passam a sensação de que o personagem-título está andando na lama até os joelhos, enquanto no jogo anterior Tal’Set se bem mais rápido pelas selvas e ruínas em sua aventura.
Não é apenas o framerate que baixou: os dinossauros desempenham um papel bem menos importante aqui do que no primeiro jogo, porém você pode montar um tricerátops equipado com uma metralhadora e um lançador de foguetes, então sim, eu posso viver com isso.
Outra coisa que havia de bom no primeiro Turok eram suas fases grandes e abertas, que retornam aqui com muito mais variedade. Em vez de apenas estar em selvas e aldeias, você agpra tem cidades ribeirinhas, ruinas antigas, pântanos, um sistema de cavernas subterrâneas e até mesmo uma nave espacial. A variedade torna cada nível muito mais ambicioso do que o original, embora os cenários abertos do primeiro marcam mais do que aqui - justamente pq era novidade na época, e no final de 98 ja haviam vários jogos que faziam cenários 3D assim
O que me leva ao grande problema desse jogo: as fases em Turok 2 são grandes demais para o seu próprio bem. Esse jogo precisava desesperadamente de uma edição melhor e cortar conteúdo pq sério, completar a primeira fase desse jogo demorou mais de uma hora e meia e cada nível depois só fica mais longo. Existem apenas seis fases neste jogo, mas todas parecem incrivelmente mais arrastadas do que realmente são, e juro que houve casos em que pensei comigo mesmo que eu terminei o TUROK: Dinosaur Hunter em menos tempo do que o necessário para terminar uma fase em Turok 2.
Eu sei que é comum os jogos do Nintendo 64 serem collect-a-thons, mas a quantidade de coisa que você tem que coletar em cada fase aqui é realmente ridicula. Você não só precisa procurar chaves da fase que dão acesso aos níveis posteriores, mas também chaves Primagen que lhe permitam chegar ao nível final. Para obter essas chaves especiais, você precisa ter acesso a habilidades especiais obtidas ao sacrificar penas de águia, outro item colecionável que você deve caçar, em portais que você precisa encontrar a chave para abrir, o que também se aplica para acessar as melhores armas mais tarde - mais colecionaveis. Além de tudo isso, você também tem que completar vários objetivos de missões que são dados a você antes do início de cada nível - mais ou menos ao estilo GOLDENEYE 007, só que implementado mais capenga e usualmente envolve... adivinhe... coletar alguma coisa - tipo salve 5 crianças antes de terminar a fase.
Isto é ainda pior pelo fato de que você é forçado a repetir fases para conseguir coisas que vc não tinha acesso antes. Por exemplo, se você desbloqueou uma habilidade especial no nível dois que lhe permite obter uma chave na primeira fase - então você tem que rejogar a primeira fase, toda uma hora e pouco dela!
Para agravar todos esses problemas e tornar o jogo ainda mais exaustivo, está o péssimo posicionamento dos pontos de save... ou a ausencia deles, no caso. É comum passear por horas sem sequer vislumbrar um ponto de salvamento, então, eu recomendo fortemente tentar evitar morrer pq não é raro vc perder tipo 4 horas de jogo de uma vez só. Isso não é exagero, nas ultimas fases isso é um problema muito reals e não é como se esse fosse um jogo fácil.
Poucos jogos, mesmo os mais antigos, exigem que você sente por tantas horas sem salvar e Turok 2 é um desses. Mesmo para um adolescente dos anos 90 isso era tempo demais de ter que jogar sem parar. E mesmo quando vc salva as coisas não ficam tão mais faceis assim, já que um arquivo de Turok 2 ocupa 90 páginas de um cartão de memória do N64 - que normalmente tem 123 páginas para salvar. Então, como dá pra ver o jogo QUANDO decide deixar você salvar ocupa quase todo seu memory pak para isso. Simplesmente delicioso, eu te digo.
Enfim, Turok 2: Seeds of Evil é um jogo maior em todos os sentidos do que o primeiro: níveis maiores, mais armas, mais coisas para coletar, mais inimigos, mais mecanicas, mais tudo. E esse é exatamente o problema, tudo é tão grande e exige tanto trabalho que é acaba sendo muito exaustivo. Enquando ele de facto resolveu vários problemas do anterior, também apresenta novos problemas tão cansativos quanto em áreas tão importantes quanto.
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