sábado, 3 de fevereiro de 2024

[#1230][Jul/98] ULTRAMAN TIGA & ULTRAMAN DYNA: Aratanaru Futatsu no Hikari

Eu... eu tenho uma confissão a fazer, e uma da qual eu não particularmente me orgulho: eu nunca exatamente peguei qual é a graça de Ultraman. Sim, eu sou um grande fã de assistir japoneses adultos em roupas de borracha batendo de mentirinha em outros japoneses adultos com roupas de borracha, mas então se teve algo que nunca chamou minha atenção foi a franquia Ultraman. Eu gosto de Super Sentai, gosto mais ainda de Kamen Rider e amo Godzilla, mas então... Ultraman é algo que eu nunca entendi pq existe ou qual o apelo exatamente - pra ser honesto eu nem acho sequer o visual do alien cinzão gigante particularmente bonito.

Sim, eu sei que Ultraman é uma franquia de séries anuais que existe a decadas, tal como todos os outros outros tokusatsu citados, mas eu nunca tinha parado pra assistir realmente até então. Mas então veio o jogo de hoje, um jogo levemente baseado no filme "Ultraman Dyna e Ultraman Tiga: Guerreiros do Planeta Luz" e eu pensei "diabos, pq não?".

Eu assisti alguma coisa de Ultraman na vida. Ao que uma hora e pouco após (não é um filme longo, é quase mais um episódio de TV extendido), minha reação foi:


Esse filme em particular nem é considerado o melhor filme da melhor série de Ultraman nem nada, e eu realmente não sabia nada a respeito da série. Ainda sim, eu ri, me emocionei e torci por esses aliens que eu mal conheço e já considero pacas. E após assistir o filme decidi ir atrás de corrigir esse meu grave defeito de carater de nunca ter assistir adequadamente Ultrahomem - estou assistindo Ultraman Geed no momento... bem, no momento agora eu estou escrevendo isso, mas vc entendeu... e por isso eu queria aproveitar o post de hoje para explicar algumas coisas sobre Ultraman que eu aprendi pesquisando a respeito e tendo assistido algumas poucas coisas.

Afinal, do ponto de vista de um leigo como eu, pra que Ultraman existe e qual é o ponto dessa franquia? É o que responderemos a seguir.


1. ORIGENS e PUBLICO ALVO:

Eu já contei as origens de Ultraman aqui em ULTRA SEVEN, mas não é da história que eu quero falar e sim da razão de existir dessa franquia. Hoje, Ultraman existe basicamente como um programa infantil que vende brinquedos - tal qual como Kamen Rider e Super Sentai, o que banca essa brincadeira é a venda de acessórios e bonecos.


Porém, diferente de Kamen Rider e Super Sentai, Ultraman não começou como um programa infantil. Tudo começou com Ultra Q em 1966, uma série de ficção científica que tinha mais haver com Twilight Zone do que com um programa de super-heróis. Era um seriado normal para adultos onde toda semana tinha um problema exótico a ser resolvido, a única diferença é que a causa desses problemas que desafiavam a física e a lógica eram misteriosos kaiju. 

Assim como Star Trek toda semana mostrava um planeta novo e a tripulação desvendava seus mistérios e vivia altas aventuras, Ultra Q o fazia e não era mais infantil do que Star Trek o era. E embora hoje Ultraman seja financiado essencialmente pela venda de brinquedos, de alguma forma a franquia ainda mantém alguma dessas raízes durante a maior parte da história da empresa. Claro, algumas séries são mais infantis e heroicas do que outras, mas essas tendiam a ser a exceção e não a norma.

A empresa realmente oscila entre um tom sério e um tom mais alegre ao longo da história da franquia enquanto tenta agradar AMBAS as crianças e o público mais velho. Ainda sim, Ultraman nunca realmente perdeu 100% sua essencia de "seriado uma equipe que investiga coisas misteriosas"

2. TOM DO SHOW

Isso nos leva ao ponto da franquia toda: não é sobre lutar contra monstros. Ultraman (o herói original) é mais uma arma secreta do time de investigadores, imagine algo tipo Supernatural onde Sam e Dean tivessem um homem de 60 metros de altura para lutar contra fantasmas do que escopetas com balas de sal... okay, essa possivelmente é a frase mais estranha de todos quase sete anos desse blog... mas sim, o ponto é que ter um alien que luta não tira o ponto principal de ficção científica e mistério que existe desde o Ultra Q permaneceu. 

Uma regra petrea da série, desde sua origem em 66, é que por qualquer motivo que o seja Ultraman nunca pode ficar na sua forma de Ultra por mais do que 3 minutos, então a maioria dos episódios é sobre humanos investigando todas as coisas estranhas que acontecem por todo o Japão.

A parte do super-herói é importante, mas na verdade é apenas uma pequena parte do episódio médio. A grande maioria dos episódios tende a ser sobre Kaiju assustando e machucando os humanos. É a interação da humanidade com os Kaiju a parte mais importante do episódio.

Tá, algumas séries são definitivamente mais sérias do que outras...

3. GOJIRA

O que nos leva a um ponto bem interessante: diferente do que pode parecer a principio, na verdade, Ultraman compartilha mais pontos em comum com Godzilla do que Sentai e Kamen Rider. Sim, a série Godzilla tem toneladas de batalhas de kaiju contra kaiju, mas se vc for parar para assistir o elemento central da maioria dos filmes não é sobre as lutas, mas sobre a interação humana com os kaiju. São muito raros os filmes de Godzilla em que a parte dos humanos fazendo humanices não ocupe pelo menos metade do filme. 

Ultraman tem bastante desse tom, ele é sobre humanos fazendo humanices em um mundo onde kaijus existem, e enquanto por poucos minutos por dia um homenzão gigante aparece pra resolver tudo no soco, não é essa exatamente a essencia da coisa.


4. WORLD BUILDING

Agora, o fato de a série Ultra ter um tom e abordagem diferentes de Sentai e Rider significa que a maneira como eles abordam a construção de mundos é totalmente diferente. Sim, Kamen Rider e Sentai têm séries onde os heróis fazem parte do governo ou algo assim, mas mesmo nesses casos o foco principal deles não é sobre as organizações governamentais nem o papel de seus heróis na sociedade humana mais ampla.

Em Ultraman isso é diferente. Você tende a ver mais envolvimento dos governos mundiais e como eles reagem aos ataques de kaiju e à presença de Ultraman. Você não tem apenas a equipe de ataque (da qual o humano que se transforma em Ultra geralmente faz parte) como tem todo uma organização governamental para lidar com kaiju. A equipe de ataque tem que responder aos superiores e não raramente eles tem que lidar com burocracia ou governos corruptos que tem seus próprios interesses e agendas de como usar os kaijus a seu favor.


Isso quer dizer que ações das equipes de ataque são sempre políticas em algum aspecto, no sentido de que as suas ações são sempre julgadas pelos seus superiores e pelo resto da sociedade. Por exemplo, agora eu estou assistindo Ultraman Geed, como eu disse, e enquanto o Geed em si não faz parte de nenhum órgão do governo, um tema central da série ainda é como o Ultraman é visto e temido pela população. Provar para a sociedade que ele é um dos mocinhos e não apenas outro monstro destruindo suas casas e pisoteando pessoas é um aspecto pivotal do show.

Assim como a forma como os militares e a polícia do mundo real são responsabilizados pelo público, o mesmo se aplica à equipe do Ultraman. Vemos os membros da equipe de ataque agirem mais como oficiais do que como super-heróis. Eles respondem a uma cadeia de comando, que tem o direito de demiti-los caso o comando discorde da equipe de ataque. De vez em quando até vemos a equipe de ataque ser dissolvida pelos superiores (só para eles perceberem o seu erro, claro), mas o facto de poderem ser dissolvidos reforça a ideia de que a equipa de ataque são oficiais de uma estrutura governamental.

5. ULTRAMAN É SOBRE HUMANOS

Embora algumas séries definitivamente tenham mais foco no Ultraman/host do que outras, você vai encontrar muitas séries em que as pessoas sentem que o Ultraman/host é relegado a um papel secundário. E isso porque é disso que se trata a franquia desde seu início na década de 60. O verdadeiro herói da franquia Ultraman não são os heróis titulares, mas os humanos.

Uma das coisas frequentemente mencionadas sobre o papel dos Ultramen na defesa da humanidade é que eles não interferem no progresso da humanidade. Eles podem ajudar, mas, em última análise, não ditam a direção que a humanidade irá tomar. Conseqüentemente, você obtém episódios em que a humanidade realmente fez coisas moralmente duvidosas, levando os vários Ultraman a questionar se deveriam realmente proteger a nossa espécie.


Mas o tema e o foco na humanidade e sua luta são o coração da franquia. São os humanos que passam a maior parte do tempo lidando com monstros. Mas em vez de depender inteiramente da ajuda de um super-herói para salvar o dia, a humanidade fará tentativas para se defender.

E essa é a principal diferença aqui: embora Sentai e Rider eventualmente tenham uma força-tarefa para tentar resolver as coisas sem os protagonistas, isso raramente dá em alguma coisa. A humanidade quase inteiramente dependente dos super-heróis para derrotar os bandidos, só que esse não é o caso de Ultraman. Sim, a humanidade tem enormes dificuldades em lidar com a maioria dos kaiju sem a ajuda do Ultraman, mas isso não quer dizer que as defesas humanas são irrelevantes ou desimportantes para a série.

Na verdade, Ultraman lembra algumas histórias do Superman em que o ponto é justamente esse: a gente não vai colocar tudo nas mãos de um alien e torcer para que ele decida ser um dos mocinhos. A gente tem que ter um plano não apenas para lidar com as ameaças sem o cara, como lidar com o cara se ele decidir que não vai ser um dos mocinhos. 


A humanidade está plenamente ciente que não controla o Ultraman (assim como em várias histórias o governo se preocupa que eles não controlam o Superman), e é necessário um plano melhor do que apenas deixar tudo na mão do cinzão. Em várias das séries é o ponto narrativo da história, que a humanidade pode chegar a um ponto em que o Ultraman não seja mais necessário.

Ultraman é antes de tudo um aliado da humanidade, não o seu salvador. Em algumas séries, foi feito um ponto de virada no final onde é mostrado que foi a humanidade quem veio em socorro dos vários Ultramen.

E essas são algumas reflexões que eu descobri pesquisando, afinal, qual é a graça de Ultraman e pq ele não é apenas "outro tipo de Kamen Rider". Tirando o uso de efeitos especiais tokusatsu, essas franquias são fundamentalmente, são conceitualmente diferentes. E essa é a beleza da coisa toda.


Isso sendo dito, agora que eu reuni alguns pensamentos a respeito do Ultradude, suponho que vamos falar sobre o jogo de PS1 de Ultraman Dyna e Ultraman Tiga. O que é um caso curioso, pq é um jogo bem esquisito mas ao mesmo tempo não tem muito o que falar a respeito dele, vamos a isso então.

Okay, vamos começar do começo: e por começo eu quero dizer que eu não tenho muita certeza de como classificar esse jogo exatamente. Quer dizer, supostamente ele é um jogo de luta, mas também um beat'm up 1x1, eu suponho?


Seja como for, no modo arcade vc não pode escolher o personagem e joga com o Ultraman Dyna, embora ele possa alterar suas formas e no final (assim como no filme) seja possível jogar com o Ultraman Tiga. Qual a diferença entre o Ultraman Dyna azul, vermelho e o camisa do Paraná Clube? Essa é uma boa pergunta, para a qual eu jamais terei uma resposta. Como eu não assisti a série e como o jogo nunca foi lançado fora do Japão - ergo, o manual se acharem é só em japonês - então realmente eu não sei dizer qual é a diferença.

O que eu sei dizer é que o seu objetivo aqui é socar o monstro inimigo dentro de uma arena até a energia dele acabar, sendo que as vezes tem objetivos especificos como "impedir que ele chegue a lugar X do mapa" para ele não pisar no orfanato de crianças com enfizema pulmonar ou algo que o valha.


Descrevendo assim o jogo parece um update 3D de KING OF MONSTERS, e suponho que é onde eles estavam tentando ir aqui: um beat'm up estilo arcade onde vc tira 1x1 contra um monstro iconico da franquia dentro de uma cidade destruível.

E é isso que ele entrega: você tem um beat'm up com controles decentes, hit detection decente, gráficos decentes e lutar no meio da cidade é divertidinho - embora você perca pontos por destruir as coisas, suponho que o Ultramacho deveria proteger as coisas e não quebrar elas, mas onde está a graça disso?


SEJE como for... esse é meio que o jogo todo também e vc pode se perguntar qual a graça de um beat'm up com só um inimigo na tela, um boss rush de beat'm up se quiser um termo mais tecnico... e vou te dizer que não é muita. Mas então, eu nunca afirmei que ele é um jogo particularmente divertido, apenas que ele funciona diferente dos demais.

Mas então, suponho que o objetivo do jogo não seja exatamente ser bom e sim ser mais uma merchandising colecionavel para os fãs da série. Assim como ULTRAMAN FIGHTING EVOLUTION e MOBILE SUIT GUNDAM, algo para os fãs da série verem versões 3D dos seus heróis e monstros favoritos (ajuda muito que o monstro do filme "Ultraman Dyna e Ultraman Tiga: Guerreiros do Planeta Luz" já pareça um monstro de PS1, feito de poligonos e tal) e algumas trivias colecionaveis como artes conceituais e clipes de som.

Para quem não é tãooooo fã assim da franquia, assim como os anterioremente citados esse jogo não tem muito a oferecer. O pouco que ele faz é bem feitinho e funciona perfeitamente, mas então ele faz tão pouco que não dá pra considerar muito o jogo realmente. Para quem é fã da série, entretanto, esse jogo é uma bela adição a sua coleção entre o CD de músicas oficiais da série e suas... 

... ultrameias. Sim, eu poderia mostrar as ultracuecas que tambem existem, mas qualé, ultrameias é um trocadilho pronto e quicando na area, eu jamais me perdoaria se deixasse passar. E no fim do dia, esse jogo é sobre isso.

SOBRE ULTRAMEIAS?

Não! ... bem, meio que sim na verdade.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 132 (Outubro de 1998)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 055 (Outubro de 1998)