sábado, 10 de fevereiro de 2024

[#1235][Set/98] FUTURE COP: LAPD

Quando eu comecei esse projeto, uma coisa que me atraia era ver os começos humildes não apenas de grandes franquias como de grandes estúdios de hoje (como por exemplo a Naughty Dog que começou no 3DO com WAY OF THE WARRIOR, só Jesus na causa). O que eu não esperava, entretanto, era me surpreender com as origens de alguns generos.

Por exemplo, eu achava que os RTS tinham começado com alguma das grandes franquias como COMMAND & CONQUER: Tiberian Dawn ou WARCRAFT: Orcs and Humans. A ultima coisa que eu esperava era que, de todas as coisas, o primeiro RTS foi DUNE 2: The Battle for Arrakis. Eu jamais imaginei que não apenas Duna começou o RTS e ainda mais a sequencia quando o primeiro jogo era uma visual novel, então foi DU NEIDA MESMO.

Poucas coisas tem menos a ver com o jogo do que a capa japonesa, mas que ficou bonitaça, ficou

Eu estou falando isso pq o jogo de hoje é um desses casos, aqui temos o começo de um genero e meio que veio DU NEIDA também.

UÉ, MAS ESSE JOGO NÃO É APENAS UM TOP DOWN SHOOTER?

Então, sim, mas não apenas isso e é aqui que as coisas ficarão loucas. Mas vamos começar do começo...

Pra começar, é necessário dizer que esse jogo era pra ser uma continuação da série Strike (que começou com DESERT STRIKE), porém no desenvolvimento foi virando a sua própria coisa e acabou... tendo um nome menos chamativo, tipo beeeem menos pq quem caralhas repararia num jogo chamado POLICIAL DO FUTURO, puta nome genérico meo... 

... mas enfim, esse jogo não apenas foi feito pela Eletronic Arts, mas por um time muito especifico dentro da EA: a EA Redwood Shores. Esse time eventualmente viria a mudar seu nome para Visceral Games e seus jogos viriam a deixar uma nota digna de atenção na história dos videogames como Lord of the Rings: The Third Age, 007: From Russia with Love, The Simpsons Game mas especialmente a trilogia Dead Space. Sim, esse é um jogo feito pelos caras de Dead Space, então definitivamente isso já começa chamando atenção positivamente.

Nossa história aqui é que estamos em Los Angeles no ano 2098 e nosso herói é um policial novato fazendo sua estreia no mundo da PULIÇA. Agora PQ ele - ou qualquer um - quer ser um policial na Los Angeles de 1998 é um mistério que jamais saberemos já que LA 2098 tem muito crime acontecendo. Tipo muito mesmo.


Cada um desses pontinhos vermelhos é um crime acontecendo, então essa é definitivamente é uma cidade com muitos crimes. E não é apenas a questão dos caras te receberem com tiro, porrada e bomba, quer dizer também, mas não apenas isso. É sobre respeito, sabe?


Po, os misseis eu até aceito, agora o tomate aí já é palha assada! A gente tem que traçar a linha em algum lugar, e eu traço a minha no tomate no parabrisa do Metal Gear Transformer! Sim, pq a grande diferença nesse jogo é que seu veículo alterna entre carro e mecha bipede... mas já vou te adiantar pra não esperar muito disso.

 A única coisa que isso faz realmente diferença é que o modo carro flutua sobre minas e na agua, o modo mecha pula... e meio que é isso, no resto eles funcionam exatamente da mesma forma. Em vez disso, os níveis são bastante confusos e claustrofóbicos enquanto você luta entre paredes e edifícios, ou em saliências e telhados. Por causa disso, mudar o jogo para o modo carro atrapalha mais do que ajuda. Sim, eu sei, o jogo tem um gimmick que supostamente deveria diferencia-lo e eu já abro dizendo que o gimmick tá ali só pra ocupar espaço... isso não é uma coisa boa, né?

Não, não é. Porém a boa noticia é que isso é a última coisa que o POLICIAL DO FUTURO DEPARTAMENTO DE POLICIA DE LOS ANGELES faz realmente de errado, daqui pra frente é só vitória! Confia!


E pra começar, eu preciso falar sobre a trilha sonora do jogo, ou mais especificamente a falta dela: no lugar de um batidão tutz tutz que vc esperaria em um top down shooter do genero como em MACHINE HUNTER, aqui temos o rádio da policia como a dispatcher falando com você. A grande coisa aqui é que a faixa de audio é semi-dinamica, o que quer dizer que a operadora reage ao que vc está fazendo.

O que torna esse detalhe particularmente especial é que a dublagem de Shannon Finn é espetacular e vc realmente consegue imaginar que está ouvindo uma funcionária publica de uma cidade cujo obituário diario ultrapassa mais de 8 mil. O trabalho dela é orientar o rookie (no caso, vc), mas claramente ela não bota muita fé em você e se você morrer antes de dar o horário do turno dela, heh, mais gente matou o diluvio.

Isso dá bastante charme ao jogo, porém o que dá mais força ainda é que o jogo entende o quão ridicula sua premissa é e em nenhum momento tenta se levar a sério. Apesar do jogo ser bastante violento (você literalmente vaporiza caras a pé com misseis e fica só a poça de sangue no chão), é uma violencia mais cartunesca do que os outros jogos do genero como LOADED que tentam se levar a sério e serem trevosões e tal.

E essa violencia cartunesca over the top combina com o fato que cada um dos níveis do jogo coloca você contra chefes do crime de Los Angeles cada vez mais famosos (e cada vez mais loucos), todos com truques diferentes na manga. Na primeira fase enfrentamos, Myles Mysterio (pq obviamente ser um overlord do crime luchador é uma coisa) transformou o observatório Griffith em um laser espacial gigante - pq é algo que todo vilão do mao que odeia o bem é contratualmente obrigado a fazer em algum ponto. Não se preocupe, fica exponencialmente mais brega daí pra frente (tipo o traficante cuja droga que transforma as pessoas em zumbis, o que é um modelo de negócios bem ruim para um traficante mas hey, vencedores não usam drogas!)

A camera faz um bom trabalho de seguir as costas do seu personagem, o que pode parece óbvio, mas minha nossa da querupita molhada, como isso é totalmente menos comum do que deveria nessa época. Sério, eu perdi alguns anos de sanidade por conta de jogos que não fazem algo tão óbvio assim

Os cenários também são bem interessantes, eles são baseados em locais reais iconicos de Los Angeles – LAX, Venice Beach etc., mas uma versão cyberpunk desolada e abarrotado de crimes, cheio de maníacos psicóticos e mutantes engajados em guerras de gangues por território. O que também resolve um dos meus maiores problemas que eu tenho com top down shooters, que todas as fases parecem iguais. 

Aqui não, temos por exemplo uma fase (que se passa no bairro Studio City, um bairro real de LA) que a região toda virou um enorme laboratório de drogas repleto de cogumelos gigantes, because dorgas. Os níveis de Future Cop variam entre fantástico e mediano – mas majoritariamente as coisas são boas. Considerando que esse é um jogo de PS1, é realmente impressionante a quantidade de pequenos detalhes de prédios destruídos, laboratórios de metanfetamina ou nas ruas cheias de lixo.

Pra ter uma ideia da quantidade de detalhe no jogo, tem uma missão que vc precisa resgatar refens. Só que quando você os solta eles não apenas desaparecem, vem um camburão para busca-los e leva-los embora. Até aí normal, o que é menos normal é que os caras da Visceral programaram rotinas de movimentação dentro do jogo (eles realmente programaram as rotinas respeitando a fisica do jogo) para os bonequinhos e o camburão de resgate também atira nos inimigos - afinal estamos na cidade mais perigosa do multiverso, faz totalmente sentido o camburão de resgate ter um trabucão!

Esse é um detalhe tão pequeno que eu vou confessar que não prestei atenção nisso quando joguei, só reparei quando vi um review que apontou isso - e os caras colocarem atenção nisso conta muitos pontos a favor do jogo.

Claro, nada disso adiantaria muito se não fosse o fato que seu mecha X1 Alpha é bastante bom de controlar. Utilizando a combinação clássica de controles de tanque com L2 e R2 para sidestep, desviar das balas enquanto dispara com os botões frontais é fácil e satisfatório. 

Especialmente satisfatório pq a Visceral colocou bastante pensamento em como melhorar a parte de tiro do jogo - olha que loucura, um jogo de tiro onde eles se preocuparam que atirar fosse divertido! Loucura, eu te digo! Funciona assim: ao invés de só atirar para o lado que o seu mecha está virado, ele na verdade tem um leque no qual ele trava a mira laser. Isso quer dizer que você não precisa estar na frente e apenas na freeeeente do seu mecha para acertar nele, o jogo é mais tolerante com isso e isso torna o combate bem mais fluído e divertido.

Você tem três tipos de armas, cuja munição estão mostradas  na tela na ordem dos botões do controle que os ativam, o que facilita muito enquanto vc atira. Pode parecer um detalhe pequeno, mas é nos pequenos detalhes que se revela o bom game design

Você conta com três armas básicas: armas leves para inimigos em quantidade, pesadas para estruturas e inimigos armadurados mas que tem um rate of fire baixo, e armas especiais - como morteiro que voa sobre barreiras ou acerta inimigos em lugares altos. Geralmente, novas armas são desbloqueadas a cada missão concluída, mas as armas anteriores ainda são eficazes o suficiente para que você possa misturá-las de vez em quando. Existem também algumas armas secretas desbloqueáveis para jogar depois de completar a campanha.

Então, eu já disse isso, mas direi novamente: a Visceral sentou e realmente fez o melhor que podia ser feito nessa formula. Andar é satisfatório, atirar é satisfatório, o level design é satisfatório, os cenários são satisfatórios, o mapa é satisfatório, o audio é satisfatório. A única coisa que ficou meio meh foi alternar entre o modo bipede e o modo carro, mas como vc ignora isso na maior parte do tempo então tanto faz.

Sério, os caras se divertiram tanto fazendo esse jogo (e isso é algo que dá pra notar) que esse é o único jogo na vida que eu lembro de me fazer rir nos créditos do jogo. Quero dizer, sério:


Mano, essa musiquinha de cinema mudo me quebrou muito, eu esperava qualquer coisa da vida menos isso vão se foderem hahahaha

Então se parasse apenas por aí, esse já seria tranquilo o melhor top down shooter do Playstation, mas felizmente tem mais e é agora que entra o que eu estava falando no começo do texto. Isso pq depois de erradicar toda a escória criminosa de Los Angeles, há ainda mais diversão a ser tirada com o que muitos classificam como a verdadeira experiência do Policial do Futuro. Existe um segundo modo de jogo, "Assalto à Delegacia" e é aqui que as coisas ficam realmente loucas.

O Precinct Assault funciona assim: são dois jogadores, e cada um tem uma base. Sua base fica spawnando soldados que marcham em direção a base adversária para toma-la - ganha quem tomar a base do coleguinha primeiro. Você controla uma unidade especial "um campeão" se assim quiser chamar, e no caminho existem torres de defesa que podem ser tomadas ou destruídas, para deter as tropas inimigas e ajudar as suas. Você também pode capturar postos avançados, que permitem construir tanques e torres mais próximos da base inimiga a um custo maior (2 pontos em vez de 1).

Conforme você destrói peões adversários, torres ou mesmo o campeão adversário, vc ganha pontos que pode usar para comprar melhorias - no caso, aqui vc pode incrementar as unidades que sua base produz

ESPERA, ESSA DESCRIÇÃO ME SOA FAMILIAR DE ALGUMA FORMA...

Sono tori, Jorge, exactamundo! Esse modo de jogo - que de outra forma passaria apenas como um modo de jogo extra largado no jogo - é o primeiro MOBA de todos os tempos. Estamos falando de 1998 aqui, isso é cinco anos antes do spin-off Defense of the Ancients de Warcraft 3 e 9 anos antes do lançamento de League of Legends!

Esse modo de jogo, como foi o que consagrou o genero MOBA, é que sempre tem muito pensamento tático envolvido (como você quer correr de volta para sua base e comprar mais tanques, ou economizar um pouco mais e comprar uma unidade mais avançada?) e pequenas adições como a capacidade de comprar um dreadnaut ou uma fortaleza voadora sempre mantem as coisas bem interessantes

Se você jogar sozinho, você estará lutando contra o Sky Captain, um inimigo que tem a vantagem de voar e se torna realmente dificil nos niveis avançados, porém provavelmente vc vai passar a maior parte do tempo com esse jogo no modo de tela dividida para dois jogadores... a menos que você seja um perdedor sem amigos como eu... 

Mas enfim, foi realmente uma grande surpresa que o primeiro MOBA que eu jogaria nesse blog nasceu de um modo de jogo alternativo de um jogo com um nome tão genérico quanto POLICIAL DO FUTURO, e eu não vou ficar surpreso se apontarem que o jogo ter esse nome genérico pra porra é um dos principais motivos pra ele ter flopado nas vendas ao ponto de nunca ter ganho uma continuação.


Porque os poucos que se aventuraram a jogar um jogo com um nome tão esquecível assim foram presenteados com um jogo de tiro que os desenvolvedores colocaram atenção em detalhes a um nível que você esperaria ver em um jogo indie feito com carinho por anos (por exemplo, não apenas muito do cenário é destruível como exploda uma torre e os inimigos caem para a morte com seus bracinhos balançando e roupas em chamas). E que apenas de zoeira criou um dos generos mais populares da atualidade, você sabe, apenas pq sim.

Normalmente na internet quando se usa a expressão "hidden gem", o cara está falando apenas de um jogo mediocre que foi esquecido por um motivo mas quer views então foda-se. Esse não é um caso aqui, FCLAPD é realmente um grande jogo que passou batidaço mesmo.

E se ainda resta alguma dúvida, eis aqui meu argumento final: o modo campanha permite coop como tela dividida. Mic Drop.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 134 (Dezembro de 1998)

MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 055 (Outubro de 1998)


MATÉRIA NA GAMERS
Edição 035 (Novembro de 1998)