Eiji Tsuburaya é um dos nomes mais importantes do Tokusatsu, mesmo que não seja tão famoso no ocidente quanto seria de se esperar. O que ele fez de tão importante assim, você pergunta?
TA BOM, VAI, O QUE ELE FEZ DE TÃO IMPORTANTE ASSIM?
Bem, ele basicamente inventou o Tokusatsu, foi apenas isso que ele fez.
UAU, ISSO FOI IMPORTANTE!
Em 1954 ele foi o diretor de efeitos especiais de um filme que provavelmente você já ouviu falar, este aqui:
FUN FACT: a maior parte das pessoas acha que o poder do Godzilla de disparar radiação é uma referencia as bombas nucleares usadas no Japão na segunda guerra. Bem, não exatamente. No filme original de 1954 ele dispara rajadas de fogo mesmo (ou plasma, mais tecnicamente), que é uma referencia aos bombardeios incendiarios que Tóqui sofreu durante a guerra. Durante uma série de ataques com bombas incendiarias que durou 9 MESES, cem mil pessoas morreram, um milhão ficou ferida e pelo menos outro milhão de pessoas perdeu suas casas.
A população de Tóquio em 1945 era de aproximadamente três milhões e meio de pessoas, ou seja, UM TERÇO DA CIDADE FICOU DESABRIGADA. Embora seja menos lembrada, esse momento da guerra pesa mais para os japoneses do que os próprios ataques nucleares. Alias as cenas do filme original de Godzilla das pessoas andando desorientadas na rua sem ter para onde ir depois que o monstro destruiu seus lares é bem pesada.
Mas enfim, eu divaguei um pouco mas o ponto é que Eiji Tsuburaya foi o homem responsavel por dar vida ao Rei dos Monstros. Só que não foi tudo isso que ele fez. Tsuburaya era o homem dos efeitos especiais da Toho naquela época, e trabalhou em mais alguns filmes de tokusatsu. Ele, porém, tinha uma ideia e uma ideia muito ambiciosa: levar tokusatsu para a televisão! Fazer uma série sobre monstros gigantes e todas essas coisas legais!
O problema é que, obviamente, isso era muito caro para se fazer na época. Um filme tudo bem, você tinha orçamento para fazer uma hora e meia de monstros, mas ter menos da metade desse dinheiro para gravar cinquenta episódios? Loucura.
Só que, como eu disse, Tsuburaya era o cara dos efeitos especiais e ficou maquinando durante ANOS formas baratas de se fazer isso. E assim ele foi bolando enquadramentos de camera, ilusões de ótica para escalonamento e vários efeitos que seriam usados muitos anos após a sua morte para fazer essa ideia economicamente viavel.
Coisas como fazer o enquadramento de baixo para cima, apenas isso já passa a ideia de que a coisa é gigante. Fazer dois caras em roupas de borracha se pegando é o de menos, fazer isso em um ambiente urbano destruindo coisas é que são elas!
Pois bem, Tsuburaya juntou todas as suas ideias de como fazer um tokusatsu de monstros gigantes que coubesse no orçamento e apresentou a Toho. E assim em 1966 que a sua empresa, a Tsuburaya Productions, criou o primeiro Tokusatsu de kaijus da televisão: Ultra Q!
Ultra Q era um tipo de Supernatural de monstros gigantes: acontecia uma treta, de origem cientifica e sobrenatural e a agência Ultra tinha que descobrir um jeito de despachar o bicho. Mesmo com todos os truques de Tsuburaya, ainda sim foi a série de televisão mais cara já feita no Japão até então, só que felizmente uma das mais populares também.
Tão popular, de fato, que a Toho já tinha encomendado uma continuação antes mesmo da série terminar. Só que essa continuação seria menos sobre investigações e resolver tretas, e mais sobre um cara gigante saindo na mão mesmo com esses monstros. Apenas duas semanas após o fim de Ultra Q, nascia assim Ultraman.
O Japão veio abaixo. Compreensível.
Ultraman foi tão popular que, novamente, Tsuburaya já tinha uma continuação encaminhada antes mesmo de Ultraman terminar de transmitir. E para a continuação, Tsuburaya teve uma ideia que - mais uma vez - moldou o Tokusatsu para sempre. O homem simplesmente não para!
Acontece que, naquela época, era uma grande moda nos Estados Unidos uma série em stop motion de bonequinhos chamada Thunderbird. E o que realmente enlouquecia as crianças dos US and A eram os veículos que eles usavam naquela série, todos queriam aqueles brinquedos!
Tsuburaya coçou a cabeça e pensou "eu posso fazer isso". Se Tokusatsu, que já era amado pelas crianças, se esforçasse para vender brinquedos, bem isso iria dar muito certo, não? Esse era o conceito de Ultra Seven.
Em um futuro distante (os anos 90), a Terra é constantemente atacada por aliens porque eles são cuzões e não tem nada melhor para fazer. Em resposta, a Terra organizou a Patrulha Ultra, uma equipe de defesa possuindo veículos capazes de enfrentrar os monstros.
Até hoje Tokusatsu é uma ferramenta de vender brinquedos, e na verdade ele só existe porque a grana que entra com isso não é pouca! Abençoado seja, seu Tsuburaya!
A patrulha Ultra é composta por seis membros, sendo um segredo que um deles, Dan Moroboshi, é na verdade um alien do planeta M78 (o mesmo do Ultraman) que se transforma e em sua forma de alien gigante é o sétimo membro da patrulha - o Ultra Seven!
Ultra Seven é, ainda hoje, a mais popular das séries Ultra e até hoje ele faz participações e é citado nas séries modernas de Ultra (Ultra é uma série anual da Tsuburaya hoje, sendo que o de 2019 é Ultraman Taiga além de ter um anime pela Netflix). Tão popular, de fato, que foi lançado um jogo de Super Nintendo quase trinta anos depois da exibição da sua série. Ultra Seven foi lançado para o Super Famicom (a versão japonesa do Super Nintendo) em 1993.
O jogo, é claro, é uma bosta. Ele é bastante parecido com Ultraman: Towards the Future , que é um jogo horrendo. Algumas pequenas coisas foram melhoradas, mas os problemas essenciais de jogabilidade não.
Seu boneco ainda é tão terrivelmente lento que faz Karateca parecer um jogo da Arc System em comparação. Em Ultra Seven ele é ligeiramente mais jogavel, mas não muito. Adicione a isso golpes extremamente básicos e temos um jogo, na melhor das hipoteses, sem graça.
Outro grande problema do primeiro jogo que foi atenuado, mas não satisfatoriamente resolvido, é o sistema de vencer as lutas. Vê, você tem essa barrinha aí que vai do L1 até o L4. Ela vai enchendo lentamente durante a luta.
Para vencer, você precisa zerar a energia do inimigo e então usar o ataque especial com a barrinha no L4. O problema é que todos os seus ataques especiais gastam essa barra, então são grandes as chances de você zerar a energia do oponente sem estar com o L4 cheio e não ter como dar o ataque final.
O que acontece então é que o inimigo começa a recuperar vida e volta para a luta. Diversão, yay. A grande diferença aqui é que seus ataques especiais gastam menos energia do que no jogo anterior, então você tem mais chances de chegar ao fim da luta com o L4 pronto. Resolve o problema?
Ééééé....
Enfim, é um jogo ruim, com controles ruins, um gimmick que foi feito para ser notado só quando te atrapalha, e combates repetitivos.
De aspectos positivos eu posso ressaltar a fidelidade a série original: o jogo tem muitas imagens digitalizadas da série, assim como a mecanica de mandar um monstro de capsula antes pra amaciar o inimigo como Ultra Seven fazia - sim, Ultra Seven inventou Pokemon. Algumas cenas da série também são referenciadas no jogo, como a fase bonus em que você precisa salvar o Ultra Seven da cruz - uma cena iconica da série.
A trilha sonora também é bem fiel a série, e tem aquela vibe de série japonesa dos anos 70 que se levava a sério demais. Considerando que o som do SNES é decente, não é uma coisa nada ruim de se ter.
Enfim, Ultra Seven é um jogo bem bosta que pelo menos fez sua lição de casa direitinho e só por isso não leva um selo de "The worst of". Até porque o jogo nunca foi lançado fora do Japão, então ele foi feito mesmo para quem é fanzaço de Ultraman. Não é meu caso, mas eu entendo o ponto aqui.