quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

[#1241][Set/98] C: The Contra Adventure

Existem algumas coisas na vida que não cabem na mesma frase de forma alguma, tipo "vontade de continuar vivendo" e "Appaloosa Interactive". Embora o nome não seja tão famoso, o crime de ódio contra a humanidade que eles cometeram é: ECCO THE DOLPHIN. Porém não satisfeitos em criarem uma franquia inteira que não é nada senão UMA FASE DA AGUA COM LIMITE DE AR (uma ideia tão cruel que mesmo o Dr. Evil não ousaria mencionar isso), após isso eles vão e tentam destruir os jogadores de outra forma: tédio. 

O mais puro e absoluto tédio que vc já sentiu ou sentirá jogando videogame atende pelo nome de CONTRA: Legacy of War. Veja, CONTRA: Legacy of War não é um jogo ruim, ele apenas não é muita coisa realmente. Ele não tem armas interessantes, não tem inimigos interessantes, não tem cenários interessantes e eu tenho certeza absoluta que o chatGPT consegue ser mais criativo que isso.

Ainda sim, tirando sua vontade de viver, não tem nada que seja quebrado ou não funcional nesse jogo, ele apenas é criminosamente desinteressante. Mas a noticia ruim aqui é que o nome Contra ainda tinha peso o suficiente para vender bem o bastante para garantir mais um jogo cometido pela Appalosa contra a humanidade.

A boa noticia, entretanto, é que a continuação C: The Contra Adventure é levemente menos pior que o primeiro jogo. A noticia ruim é que isso não quer dizer muita coisa realmente. Mas vamos começar do começo...

E por começo, eu quero dizer realmente do começo pq explicar o primeiro nível é bastante importante para entender esse jogo. A coisa é que a primeira fase C é um remake da primeira fase CONTRA III: THE ALIEN WARS, embora um remake não muito bom. Você está em uma cidade, inimigos azuis e vermelhos atacam de ambos os lados, fogo cospe de rachaduras, há segmentos de lava e assim por diante, tudo isso um remix do tema original do Super Nintendo toca, só que um remix com mais SALSA, AY CARAMBA!

Não, eu não to zoando, é uma versão mais dançandinha da musica do Super Nintendo mesmo:


Como vc consegue fazer o seu remix soar MENOS interessante do que em um videogame que tinha um tecladinho CASIO como paleta sonora é algo que caberá aos arqueologos das civilizações futuras que descobrirem os nossos destroços finais responderem, aqui nós seguiremos indo ao encontro do mais forte. 

O problema é que essa fase de rolagem lateral é bem menos interessante do que o jogo original de Super Nintendo, especialmente pq ela é muito repetitiva. Funcionou no Contra 3 porque todas essas seções eram curtas e repletas de coisas que vc nunca tinha visto antes acontecendo (literalmente, esse jogo é da primeira geração de jogos do SNES, vários efeitos ali provavelmente vc nunca tinha visto antes), mas em C nada particularmente interessante acontece, tudo se arrasta, criando uma experiência entorpecente. Não ajuda que tudo tenha uma aparência feia e de blocos, quando o Super Nintendo tinha pixels crocantes novinhos em folha.

Mas pq eu estou especificamente falando da primeira fase se ela é a tentativa mais pobre que eu já vi de fazer um remake de uma fase de Super Nintendo? Bem, essa é a coisa a respeito desse jogo: vendo que o primeiro jogo foi recebido com menos interesse que declaração do imposto de renda, a primeira fase aqui tenta apelar para a nostalgia dos jogadores (inclusive o manual do jogo chama ela de "inspirada nos jogos clássicos").

Só que passada essa primeira fase... esse estilo de run'n gun 2D nunca mais é utilizado novamente. Quer dizer, é usado num pedaço de uma fase, mas meio que não muito realmente. Ou seja, depois que o jogo se vendeu pela nostalgia (afinal se alguem pegar para testar o jogo, vai jogar só a primeira fase, além de que todo marketing do jogo passa esse cachorro) é que C mostra suas verdadeiras cores.

Se isso fizer o consumidor pensar que o jogo é todo como a primeira fase, bem, que coisa né Appalosa?

E que tipo de jogo C é em suas outras 8 fases? Ora, é a sequencia de CONTRA: Legacy of War, dã. Eu até diria que foi um golpe baixo da Appalosa tentar enganar todo mundo assim já que eles próprios sabiam que ninguem teria interesse em um jogo que é a continuação de um jogo puta chato como CONTRA: Legacy of War, então meter um bait de "olha, Contra voltou a ser como antigamente" foi baixo... mas então eu estou esperando moral dos caras que fizeram ECCO THE DOLPHIN, olha as minhas ideias também né...

Enfim, tapeação do consumidor a parte, ao menos esse jogo é uma versão levemente melhorada do seu predecessor. Novamente, não que alguém possa realmente se orgulhar de ser menos chato que CONTRA: Legacy of War, mas ao menos eu não me senti induzido a 15 tipos diferentes de coma por tédio ao jogar esse jogo, isso precisa ser dito.

Com isso eu quero dizer que a Appaloosa fez um pouco para melhorar a jogabilidade do jogo anterior, especialmente que o ângulo da câmera agora é ajustável... embora ele se torna fixo em determinadas situações, o que torna as (poucas, felizmente) sessão de pular plataformas terriveis.


Alem disso, o jogo abandonar quase inteiramente (tipo uns 80%) a ideia de ser um top down shooter e agora abraçar a coisa de ser um tiro em terceira pessoa dá mais dinamismo ao jogo, permitindo que vc reaja com mais precisão e velocidade as inúmeras, inúmeras coisas que esse jogo atira em vc.

Claro que por outro lado tem o problema que como a camera é nas suas costas, quando os inimigos spawnam atrás de vc é uma putaria e vc toma um tiro ou dois antes de conseguir virar. Vc poderia argumentar, é claro, que uma desenvolvedora deveria ter a decencia de não usar esse truque barato para tirar vida do jogador... mas então, novamente, criadores de ECCO THE DOLPHIN, vc espera mesmo decencia?


Porém kudos onde kudos são devidos, uma das coisas que torna esse jogo definitivamente mais jogavel é que a mira automática da arma funciona relativamente bem, se o personagem apenas atirasse no que esta imediatamente na sua frente seria sofrimento e dor, mas o jogo enverga a mira para atirar no que está um pouco mais alto ou mais para o lado, e isso funciona okay...

... exceto na luta contra chefes, isso é, pq os chefes precisam que vc mire em partes especificas do corpo dele e alguém na firma não recebeu o memorando, pq a mira automática é meio bunda aqui. Mas okay, eu nunca afirmei que esse jogo era BOM, apenas que era mais jogavel que o anterior e honestamente eu esperava muito pior do apenas as lutas contra chefes serem merda.

... me pergunto se essa é a estratégia da Appalosa, acostumar a gente a esperar tão pouco que eles consigam se safar apenas fazendo o minimo da decencia...

O enredo é essencialmente uma repetição dos jogos Contra anteriores, especialmente do primeiro Contra de Nintendinho.  Aliens chegam, vc vai lá para deixar claro que eles não são bem vindos. De diferente apenas que a infestação alienígena foi causada por um meteoro que caiu perto de um templo maia (ou inca? Nunca lembro a diferença) na Amazonia. Então além das cidades (supostamente o jogo começa em Manaus, pelo que o mapa mostra?) você tem templos para meter o pipoco e tirar uma casquinha do sucesso de TOMB RAIDER.

Ah, você também está investigando o desaparecimento de Tasha (de CONTRA: Legacy of War), mas isso é tão pouco importante que o próprio manual do jogo esquece dela e escreveu seu nome as vezes como Tasha e as vezes Tanya, então aí vc vê o nível de relevancia...


Enfim, essa continuação parece menos apressado/mais polido que seu antecessor e mostra mais potencial. Existem menos bugs e falhas, e o ritmo parece mais equilibrado e meio que faz um papel melhor de tentar ser Contra do Nintendinho, só que em 3D. Mas então, ser a versão 3D de um jogo de 1987 que já estava datado em 1998 (tanto que ninguém mais fazia run'n guns 2D) também não é a melhor maravilha do mundo e desculpados são aqueles que esquecerem que esse jogo existe entre terminar ele e caminhar até o videogame para desliga-lo.

Talvez se tivesse feito uma forcinha para colocar um modo simultâneo para 2 jogadores, sem dúvida teria se saído melhor. Eu meio que entendo pq é dificil colocar tela dividida em um jogo de tiro em terceira pessoa (tanto que até o Gears of War de PC não faz isso!), mas então esse jogo teria que dar aos jogadores algo genuinamente bom para eles se lembrarem!

Você sabe, bom tipo bom mesmo, não apenas "é, okay, isso não é tão terrível quanto eu achei que seria". Como não o faz, bem, C: The Contra Adventure não é tão terrível quanto eu achei que seria e meio que é o que dá pra dizer desse jogo.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 133 (Novembro de 1998)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
EDIÇÃO 052 (Julho de 1998)


MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 035 (Novembro de 1998)