sábado, 24 de fevereiro de 2024

[#1243][Jul/98] RAKUGA KIDS

Quando eu comecei esse projeto, eu não apenas não sabia muito a respeito do Nintendo 64 como, honestamente, só tinha pegado em um controle de N64 na mão uma vez na vida. Hoje jogamos o jogo numero 56 de Nintendo 64, e com ele empatamos o número de jogos jogados em toda vida útil do 3DO - sendo que o N64 ainda está pela metade da sua existência. E embora o 3DO seja uma coisa flopada que não sirva de lá muita comparação, dá pra dizer que eu aprendi uma coisa ou duas sobre o console da Nintendo.

VOCÊ VAI FALAR DOS JOGOS DE LUTA DO NINTENDO 64, NÉ?

Eu vou falar dos jogos de luta do Nintendo 64, Jorge. Pq puta que me pariu la catchanga, taí uma coisa que eu definitivamente não esperava era que houvessem tantos e em os havendo, eu temia que eles fossem terriveis. Infelizmente, os muitos muitos muitos mesmo jogos de luta do N64 se enquadram numa categoria pior do que horríveis: eles são "meh".


Jogos como SUPER ROBOT SPIRITSBIO FREAKSGASP!! Fighter NEXTreamFLYING DRAGONFIGHTERS DESTINYDUAL HEROES... e eu poderia passar mais algumas horas puxando os jogos de luta do N64 que eu já joguei aqui... não são quebrados e terríveis, eles apenas... definitivamente são jogos que existiram.

Uma coisa que eu tenho certeza a essa altura que não vou encontrar no Nintendo 64 são os jogos de luta top top das tiptops. Não vai ter para o console da Nintendo uma versão de SOULCALIBURSTREET FIGHTER ZERO 3 ou sequer um MARVEL SUPER HEROES VS STREET FIGHTER pra remédio. Não, tudo que eu vou encontrar aqui é uma pasta marrom de jogos que "meh, eles existem".


O que nos leva ao jogo de hoje, mais um jogo de luta para o Nintendo 64 que com certeza se enquadra na categoria "esse definitivamente é um dos jogos já feitos", até pq ele nunca sequer foi lançado nos Estados Unidos. Até foi lançado na Europa (o que não ajuda muito, pq os jogos lá rodavam a 50 hz por causa das televisões e não a 60 hz, o que fazia tudo parecer em camera lenta), mas só. Por aí tu vê o nível da coisa, se o mais longe que esse jogo que saiu do Japão foi ser lançado na Letonia, com certeza não dá pra esperar muito disso daí não.

Mas tá, vamos ver quem foi que fez essa tolice do dia, deve ser alguma empresa de fundo de quintal tentando emplacar o bilhonéstimo jogo de luta pra ver o que colava e...


Espera pera pera pera, o que? É um jogo de luta da Konami? Da fodenda fucking KONAMI? Uma top dogs produtoras japonesas da época? Quer dizer que enquanto eles soltavam um METAL GEAR SOLID e um CASTLEVANIA: Symphony of the Night, eles fizeram um jogo de luta para o N64 que nunca saiu do Japão?

Quer dizer, a Konami era uma produtora colossalmente grande na época e não tem muito jogos deles que nunca sairam do Japão, pq o que eles faziam vendia bem no mundo todo dada a qualidade dos seus jogos. Então eu imagino que pra um jogo de luta da Konami em um console que urrava por jogos de luta bons nunca ter saído do Japão, tem que ser um jogo de luta muito meme.

Sim, é a única explicação, tenho certeza que assim que eu começar esse jogo já vai dar pra ver a bomba que isso é e...


... mas ...
... que ...
... caralhas ...

Mas puta que me pariu tanga la katchanga tanga ta toma limonada pra acordar de madrugada, como é que a música de título desse jogo é ESSA FODENDA SENHORA PEDRADA?!? Mas vão se foderem na maionese umedecida a temperatura ambiente, como é que a música de abertura desse jogo é melhor que a de SOULCALIBUR! Puta la mierda que música boa!

Serião, eu sequer sabia que era possível ter uma música maneirona assim no cartucho do Nintendo 64!  Pq sério, a Konami trouxe só os cachorros grandes pra fazer a trilha sonora desse jogo, estou falando de figuras tipo Tomoya Tomita e Masahiro Kimura que trabalharam juntos na trilha sonora de jogos como CASTLEVANIA: Symphony of the Night e MYSTICAL NINJA STARRING GOEMON  - ORE WA GORGEOUS IMPAKITUUUUUU!!!! Dash! Dash!

Vão tomar na rabeta seca, é só pedrada a trilha sonora desse jogo!  Mas tá, a trilha sonora é realmente fodenda, mas então imagino que a razão que esse jogo nunca saiu do Japão é pq ele deve ao menos ser feio. Quero dizer, deve ser o biscoicentésimo jogo de luta 3D genérico com personagens que parecem blocões feios e...


... que? Mas tipo... que?! Cara, esse jogo é lindo! Não apenas lindo, é fodendamente bem animado com uma quantidade de quadros de animação por personagem que faria a memória RAM do PS1 implodir numa bola termonuclear de chamas e o Saturn exigir comprar um cartucho de expansão de memória do tamanho da Malasia!

Eu gosto batante dessa fase que tem um espelho no fundo com objetos na frente, apenas pq a Konami queria ostentar o quanto de memória o Nintendo 64 era capaz

Alias é uma coisa que sempre me causou espanto sobre o quão poucos jogos de luta 2D haviam no Nintendo 64 pq o hardware parrudo do console colocaria a concorrencia para chorar como uma criança obesa no dia de dar volta na quadra correndo na aula de educação fisica!

ESSA FOI UMA COMPARAÇÃO ESTRANHAMENTE ESPECIFICA, SABE?


Eu... hã... sim, foi algo aleatório que passou pela minha cabeça sem nenhum fundamento com a realidade, é, aleatório... mas de toda forma, eu dizia que esse não apenas é um dos raros jogos de luta 2D do Nintendo 64, como é um fodendamente bonito e bem animado!

Eu realmente curti muito o estilo de arte desse jogo, e saiba que ele não é aleatório: "rakugaki" em japones significa rabisco, logo "Rakuga Kids" é um trocadilho com essa palavra que remete ao tema do jogo - A Turma do Rabisco!


Nossa história aqui é que estamos na férias de verão e uma galerinha do barulho que apronta altas confusões está curtindo essa época mágica quando explorando uma caverna da região encontram uma caixa crayons mágicos que trazem a vida tudo que é desenhado com eles!


Tendo encontrado a Fruta do Desenho de One Piece, você poderia imaginar que as crianças usariam isso para altas aventuras e confusões, mas infelizmente não há tempo para tal! Isso pq o bully da região acabou descobrindo e tomou para si dois dos crayons - usando seus desenhos para causar vandalismo e baderna! Oh noes!


Cada uma das crianças então decide usar o seu crayon para desenhar um herói e com isso tentar impedir o bully de fazer bulinices, e estes são os personagens jogaveis do jogo - os heróis desenhados pelas crianças. E apenas pq está no manual não escrito dos jogos de luta, as crianças usam os bonecos para lutarem entre si para decidir quem iria enfrentar o bully - ao invés de apenas ir todo mundo junto moer o safado na pancada.

Mas então vários e vários outros jogos de luta nunca perderam tempo tentando explicar pq os heróis lutam entre si mesmo que isso não faça sentido pra história, e definitivamente não será esse jogo que quebrará a norma. Seja como for, o que importa é que essa história toda dá uma vibe bastante Sessão da Tarde gostosa ao jogo, e a coisa toda é muito MUNITINHA CUTIE CUTIE.

Então bonito esse jogo é, então talvez o motivo desse jogo nunca ter saído do Japão é que o jogo em si é uma merda?


Bem, não. Acreditem vocês ou não, Rakuga Kids pode ser descrito melhor como a resposta da Konami ao X-MEN VS STREET FIGHTER da Capcom. Não na coisa do Tag Team, obviamente, mas no dinamismo de combos - especialmente aereos - e no combate dinamico com movimentos mutcho lokos. Com efeito, dá pra ver que os movimentos cartunescos dos personagens lembram bastante a inspiração de POCKET FIGHTER, embora não tão divertidos quanto os cartoons da Capcom.

A configuração básica do controle também é parecida com os jogos de luta da Capcom, com três botões de soco e três botões de chute – o que fica um pouco estranho usar os botões amarelos do N64 desse jeito, mas nada que não dê pra se acostumar – além de um botão de provocação e “Magic”. Cada personagem pode dar um salto duplo e assim como na série VS da Capcom, tem um golpe de launcher para atirar o oponente no ar e permitir iniciar o combo.


A única parte não tão boa assim dos controles é que se você segurar para frente e apertar o botão de chute, ele se torna um arremesso. Se você quiser apenas chutar, lembre-se de não apertar nada no direcional enquanto faz isso. Não é assim o maior problema do mundo, mas definitivamente minha vida seria mais feliz sem isso - eu entendo que eles tentaram copiar o sistema de agarrões de Street Fighter, mas se era pra fazer isso então talvez fosse melhor dar um botão dedicado, talvez o de taunt que não faz nada particularmente útil afinal.

Isso não quer dizer, entretanto, que a Konami se limitou ao básico especialmente no sistema de opções - outro problema muito comum nos jogos de luta do console, falta de modos de jogo adicionais devido a falta de espaço no cartucho. Aqui, além dos modos básicos de história e versus, tem também um modo de treino... embora ele não seja nada como o que os outros jogos chamam de modo treino.


Ao invés de ter um boneco parado para vc praticar seus movimentos, não é para isso que esse modo treino existe e sim o seguinte: VOCÊ literalmente treina um personagem. Com isso eu quero dizer que você faz algumas lutas, e após elas a IA da máquina aprende o seu estilo de jogo e torna isso em um personagem enfrentável.

Claro, vc pode questionar o quão confiável é uma IA de 1998 em um Nintendo 64 (ao invés, vc sabe, em uma rede neural do tamanho do Arkansas) aprender alguma coisa... e o resultado é mais ou menos o que vc imaginou mesmo. Não é genial, mas ainda sim é interessante e vc sempre pode salvar o seu boneco para levar na casa dos amiguinhos e ver o quão bem eles lutam contra o seu pupilo... embora o Memory Card do Nintendo 64 é uma coisa que não faz muito sentido já que ele é quase do tamanho do cartucho, não tem muita diferença de salvar o progresso na fita e levar ela mesma... mas enfim, divago.


O que nos leva, obviamente, a grande questão final sobre esse jogo: se ele é o melhor jogo de luta do Nintendo 64 - e ele é - então pq ele não foi lançado nos US and A? E a resposta, como vc é um biscoitinho muito esperto, é algo que vc já sabe: esse jogo é bunitinho.

Estamos ainda em 1998, o coração pungente dos anos 90, a era da ATITUDE SEU COROA e qualquer coisa que tivesse mais do que 4 cores ao mesmo tempo na tela era PARA BEBEZINHOS. As crianças americanas eram particularmente sensíveis a isso e tão importante quanto o jogo ser bom, ele tinha que parecer ADULTÃO.


Claro, vc pode argumentar que especificamente a Nintendo jogava pelas suas próprias regras e emplacava títulos que as revistas descreveriam como "apenas para crianças de 7 anos" - como com efeito, a Ação Games descreveu Rakuga Kids, como veremos daqui a pouco. Jogos como SUPER MARIO WORLD 2: Yoshi's Island e BANJO-KAZOOIE tinham um passe pela magia Nintendista, mas se fossem lançados por qualquer outra empresa as revistas e os jovens da época cagariam em cima pq "é coisa de bebezinho, nhé nhé".

A Konami, que não é a Nintendo, decidiu não tentar a sorte dando murro em ponta de faca e não gastou dinheiro para lançar o jogo onde ele seria recebido na base da patada. A GT Interactive ainda tentou a sorte trazendo ele para a Europa... mas isso e nada pra gente é a mesma coisa, pq como eu disse os jogos na Europa rodam a 50 hz por causa do sistema bizarro das televisões e na prática esses 10 hz a menos fazem o jogo parecer estar rodando em camera lenta. Fica ó, uma bosta.

Rakugakids conta com apenas nove lutadores, sendo dois deles secretos. Isso não é muito, mas não é exatamente sem precedentes para a época. E eu não diria que algum deles é ruim. Como eles poderiam ser? Uma delas é apenas uma garota com uma galinha na cabeça. Just because.

Enfim, embora mecanicamente não faça nada radicalmente diferente do que vc poderia esperar dos jogos de luta top tops das topzera do PS1 ou do Saturn (ataques especiais, combos, personagens), temos que lembrar que estamos falando de um jogo do Nintendo 64 e não existe nada remotamente parecido com ele. O que seria apenas um jogo bonitinho, mas ordinário, no PS1 e sumiria na sombra de jogos mesmo mid-tier como GUILTY GEAR: The Missing Link, no Nintendo 64 esse jogo é o rei absoluto dos lutadores que não encontra competição alguma para sequer dar a saída.

Estamos falando de um console que não tem nenhum Street Fighter, King of Fighters ou mesmo um Samurai Shodown para chamar de seu, então a Rakuga Kids não tem competição alguma no console da Big N. Até pq, realisticamente, quais eram suas outras opções de jogos de luta no Nintendo 64? CLAY FIGHTER 63 1/3MORTAL KOMBAT 4? Fucking WAR GODS?

Rakuga Kids leva essa com um pé nas costas, doodles down.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 133 (Novembro de 1998)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
EDIÇÃO 056 (Novembro de 1998)