Uma forma bastante comum de criar jogos é começar pelo brainstorm: você coloca os caras numa sala e eles atiram ideias pra ver o que cola e no que eles vão começar a trabalhar. As vezes essas sessões rendem boas ideias (como por exemplo a discussão de pauta do jogo que viria a ser FINAL FANTASY 7, duas ideias levantadas ganharam seus próprios jogos posteriormente e ambos muito bons: PARASITE EVE e XENOGEARS).
Outras vezes, no entanto, essas ideias resultam em jogos que não são uma ideia tão boa assim (tipo transformar a fase da agua do SONIC THE HEDGEHOG em um jogo inteiro só disso, né ECCO THE DOLPHIN?). E algumas vezes, bem poucas vezes, o resultado da reunião de pauta do jogo é: "heh... hehe... bolas!".
E enquanto eu não posso provar que as coisas aconteceram exatamente dessa forma, eu não consigo pensar em absolutamente nenhuma outra explicação que justifique esse jogo. Sério, o nome do jogo é "Iggy Detonação de Bolas" que outra explicação tem para esse jogo existir?
Atender as demandas da enorme comunidade de BDSM no Nintendo 64 que clamava um jogo só pra eles? Mas enfim, detonação de bolas a parte, se isso não está estranho o suficiente a essa altura calma que piora! Isso pq basta olhar a capa americana desse jogo que eu desafio alguém a começar a me explicar o que diabos é essa coisa!
Sério, alguém viu o design de uma bola baseada em uma iguana (dado que o jogo foi feito pela Iguana Entertainment, eu entendo a coisa de colocar o seu mascote como protagonista) e decidiu que o que faltava nessa imagem, o que REALMENTE faltava era um cavanhaque que pode tambem ser um apendice ao qual jamais questionaremos sua função biológica - principalmente pq temos medo das respostas. Que porra é essa na nossa bolota Iggy? Jamais saberemos, e certamente seremos mais felizes por não saber.
Porém se as escolhas questionáveis se resumem ao nosso protagonista, saiba você que não: grande parte do elenco jogo parece saído da grande convenção anual de tiozões do pavê. Quer dizer, saca só essas figuras:
Não é muito segredo então que Iggy é baseado no mascote da desenvolvedora, a Iguana. Mais segredo é que ele também é californiano, implicando que ou esse jogo se passa no nosso mundo e essa bola nasceu de um lixão quimico mutante, ou por alguma razão existe uma California nesse mundo onde seus habitantes são bolas dudes cheias de atitude. Qual das duas hipoteses é mais perturbadora, jamais poderemos apurar realmente.
Juntam-se a ele Q-Tee (pq ela é cute, sacaram?), Chatter (pq... é uma boca... então ele é o "falador", eu acho?), o robô Rob-ERT e o solzinho Sonny - pq "sunny", sacaram, heim, heim? Esses são trocadilhos ... bem bregas... mas ainda meio que compreensíveis. O que é mais do que pode ser dito de uma bola chamada Charlie que é o "homem medalhão" do grupo, e por "homem medalhão" eu quero dizer que ele anda com uns correntão de ouro bling bling mano. Como uma bola que não tem pescoço usa correntes é que é a real questão que precisa ser feita aqui.
E se "Amanda" não é uma indireta pra crush de alguém, eu sou um Marea Turbo com escada de firma no teto. Claro, vc pode argumentar se nomear uma bola poligonal em um jogo altamente questionável (mais sobre isso em breve) de Nintendo 64 ajudaria realmente a conquistar alguém.... o que eu não faço a mais remota ideia de como responder, pq se vc esta olhando para mim para obter dicas de conquistar o seu crush... mano, vc está com problemas bem mais sérios que os meus e isso quer dizer alguma coisa, heim?
Mas falando sério, inicialmente eu achei que esse jogo tivesse alguma ligação com as Mad Balls, uma linha de brinquedos até meio que famosinha no final dos anos 80 e que eu suei um pouco para lembrar o nome, pq acredite que pesquisar "bolas voadoras com caras" no Google tem menos eficiencia do que vc poderia imaginar. E honestamente eu só lembrava desses brinquedos pq eu tinha um gibi dos Ursinhos Carinhosos que tinha crossover com essas coisas...
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Olhando em retrospecto, eu diria que o estilo das Madballs não exatamente casa com o que vc esperaria de uma revista dos Ursinhos Carinhosos... tanto que eu lembrava dessa pagina exatamente (apenas o meu gibi era em portugues, obviamente) |
... o que levanta mais perguntas sobre a minha infancia do que responde... mas não, esse jogo não tem relação nenhuma com esses brinquedos e eu só mencionei isso pq provavelmente essa vai ser minha unica chance na vida de falar sobre isso e deixar registrado em algum lugar que isso não é algo que só existia na minha cabeça.
SEJE como for, se os personagens do jogo parecem estranhos, saiba você que isso é nada comparado com a sua história. Sim, esse é um jogo de corrida de bolas e ele tem uma história, lide com esse fato:
Deixa eu ver se eu entendi: esse tal de reino de Cho-Dama tem umas estruturas misteriosas criadas por civilizações antigas, aí esse tal de Iggy convidou uma galera pra ir zoar o lugar? Quer dizer, é tipo o pessoal decidir ir tirar racha no Moai da Ilha da Pascoa ou jogar uma goleirinha em Stonehenge. E os inimigos do jogo são apenas o pessoal local tentando defender o seu patrimonio histórico?
Uau, nossos personagens são meio que uns babacas, não? Yeah... Detonação de bolas do Iguinho, minha gente...
Mas enfim, suponho que a essa altura eu deva falar do jogo em si... que de alguma forma é tão estranho quanto tudo até aqui. Essencialmente, esse é um jogo de corrida que usa a estrutura de um jogo de plataforma. E se isso não pareceu fazer muito lá sentido é pq é por aí que a banda toca, mas vamos lá:
Imagine um jogo de plataforma que quatro malucos da madeira competem para chegar primeiro ao final da fase, e ao chegar lá você é transportado de volta para o começo - isso é uma "volta" no circuito, cujas corridas usualmente tem por volta de três voltas. Algo mais ou menos como o modo versus de
SONIC 2, só que um pouco mais estranho que isso pq aqui o final da fase fica pra cima.
Então vc tem um jogo de plataforma que vc precisa escalar a fase - com direito a um botão para disparar um gancho, ou lingua, ou o que quer que possa ser projetado e grude - com comandos de jogo de plataforma (um botão para pular, um para atirar, anda para os lados no direcional)... mas tambem tem trechos de corrida que realmente parecem saídos de um jogo do
SONIC.
Adicione a isso power ups como em
SUPER MARIO KART - e por isso eu quero dizer literalmente como os de
SUPER MARIO KART, tem cascos teleguiados (que aqui são nuvens de gas perseguidoras), armadilhas que vc pode deixar no chão (aqui são bombas e não cascas de banana) e um raio fodanchador que vc só ganha se estiver na ultima posição (que aqui não encolhe os oponentes, mas sim inverte os controles dele).
O resultado disso é uma mistura do modo versus de
SONIC 2 (que muita gente nem lembra que existe esse modo) com
SUPER MARIO KART numa corrida de bolas californianas em monumentos históricos... e acho que essa é a sequencia de palavras mais aleatória que eu já escrevi tipo na vida... só que fica mais estranho que isso ainda.
Isso pq embora o jogo possa visualmente lembrar
UNIRACERS do Super Nintendo (eu devo ser uma das 6,75 pessoas no mundo que lembra desse jogo), na prática funciona um pouco diferente já que aqui suas bolas podem interagir umas com as outras... e essa frase soou mais estranha do que parecia na minha cabeça. Mas então o que rola: o grapple (ou qualquer que seja a porra que sai das suas bolas... tá, esse jogo não tá me ajudando...) não serve apenas para escalar a fase!
Não! Aqui vc pode usar sua lingua ou o equivalente disso para agarrar as bolas dos coleguinhas e girar elas furiosamente, o que os vai incapacitar por alguns instantes afinal nunca se pode subestimar o poder de uma boa torcida nas bolas, é o que eu sempre digo!
Isso torna o jogo bem mais interativo do que apenas vc correndo contra o cenário acidentado (que é o ponto de
UNIRACERS que torna o jogo meio chato), não, como esse é um jogo de Nintendo 64 vc pode ter até outros três amigos para uma tarde de alta diversão torcendo as bolas dos coleguinhas e atrapalhando o progresso deles!
Mas muito que bem, chega de falar das bolas dos amigos, agora vamos abordar a questão que realmente importa: Reckin Balls do Iggão pode ser ... hamm... vamos dizer.... único... mas é divertido?
Bem, mais ou menos. Em bursts curtos e em pleonasmos bilingues, o jogo é agradável, especialmente jogando com seus hommies na broderagem. Brincar com suas bolas sozinho, entretanto, não é algo que se possa dedicar horas e horas e o jogo fica cansativo principalmente por parecer um pouco sloppy, para ser honesto.
Apesar de ter 100 pistas, os designs das fases são todas muito simples e parecem muito semelhantes. E torna menos divertido ainda que como o computador não comete muitos erros, a forma como Reckin Balls funciona é que você só terá sucesso contra a máquina memorizando os níveis. Você precisa memorizar onde ir para a esquerda/direita e em quais pontos você obterá mais benefícios ao usar o boost. Jogando com os broders não é tanto problema pq é dedo na bola e gritaria pra todo mundo, mas a CPU não tolera erros desse tipo.
Então temos um jogo em que falta variedade em geral para ser muito interessante, mas ao mesmo tempo as pistas têm diferenças suficientes para que você tome no Iggy se não decorar cada uma delas contra a máquina. Tá que o Nintendo 64 ficou famoso por seus jogos multiplayers de 4 jogadores, porém um pouco mais de atenção aos forever alone como eu teria sido interessante também.
Ainda sim, o modo multiplayer desse jogo diverte o suficiente e enquanto vai destronar
DIDDY KONG RACING, Iguinho e seus detonadores de bolas é bastante divertido quando você tem alguns amigos com quem brincar - especialmente no modo battle que rola nos mesmos percursos das fases, mas o que é diferente agora é que você tem bolinhas que te seguem e cada vez que você é atingido por um item ou arremessado pelo oponente, você perde um. O último sobrevivente vence. É bem básico, mas o modo de batalha é uma diversão bastante decente.
O Nintendo 64 não tem lá muuuuitos jogos de corrida de qualidade (na verdade ele não tem muitos de nada, essa é meio que a coisa do N64) e eu reconheço que Reckin Balls optou por algo diferente, mas os resultados são mistos. Por um lado, é decente jogar em sessões curtas e definitivamente não tem nada parecido em lugar nenhum, e o multijogador é bastante divertido. Isso é o suficiente para salvar o jogo, mas não muito além disso também.
O que, no fim do dia, é até mais do que eu poderia esperar para um jogo cujo todo conceito se baseia em "heh... hehe... bolas!". E hey, definitivamente é o melhor jogo de corrida/plataforma baseado em bolas sentientes que você encontrará! Você sabe... pq não existem outros... essa foi a piada... tá, okay, chega dessa tolice...
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 133 (Novembro de 1998)
MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 035 (Novembro de 1998)