terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

[#1232][Abr/90] PHANTASY STAR 3: Generations of Doom


Phantasy Star é uma série de RPGs bastante única e por isso eu quero começar dizendo que ela se enquadra na especifica categoria "eu deveria realmente amar essa série, mas a Sega tem uma dificuldade colossal em entregar um jogo redondinho e polido". E uma categoria bastante especifica, eu sei.

O que eu quero dizer com isso é que - contando esse jogo agora - tendo completado a quadrilogia de jogos para o Mega Drive, e olhando o que eu escrevi no papel sobre o conceito da série (vide as reviews de PHANTASY STAR do Master System e no Mega Drive PHANTASY STAR 2 e PHANTASY STAR 4: The end of Millenium), eu deveria amar PS... só que não amo.

Porra, eu gosto imensamente mais de sci-fi do que fantasia medieval, então uma saga de quatro jogos que se passam em um mesmo sistema solar no intervalo de 1000 anos a cada jogo? Que idéia mais pica, irmão! Imagina que foda, vc vai e salva o mundo e tal, e no próximo jogo que se passa dali a mil anos os seus feitos do jogo anterior são contados como lendas de heróis lendários! Porra, arrepiei!

Que ideia grande pica, irmão!

Então, é, no papel eu devia amar PS pra caceta... só que na prática não. E nem é porque os jogos são ruins, o primeiro PHANTASY STAR do Master System batia de frente (e não raramente ganhava) dos RPGs de Nintendinho como Dragon Quest e Final Fantasy 1 em algumas areas... mas então entregava uma dificuldade inaceitavel (mesmo para os padrões da época), os menus eram abusivamente clunky (mesmo para os padrões da época), os picos de dificuldade eram fora de controle com inimigos de nivel infinitamente mais alto do que aquele ponto do jogo andando pelas areas como encontros aleatórios raros pra te wipar em um golpe (o que mesmo para a época era uma filha da putisse) e a história beirava o inexistente (isso sim era bem comum para a época).

Lançado dois anos depois em 1989, PHANTASY STAR 2 igualmente é um jogo surpreendente para sua época, e pensando bem até eu diria que a esse ponto é o RPG mais avançado do mundo. Infelizmente não foi apenas em sistemas e gráficos que o jogo avançou, mas também em dificuldade, necessidade de grinding e picos de dificuldade, fazendo desse um dos jogos mais dificeis de todos os tempos.

Então essa é a coisa, a série Phantasy Star sempre é tecnicamente impressionante mas nunca é realmente divertido de jogar. Minha reação de pegar um PS nunca é de empolgação, mas sim de "ai meu deus, não vai ser fácil mas vamo lá né...". O mais perto que um Phantasy Star chegou de ser um jogo top top dos top top pra mim foi PHANTASY STAR 4: The end of Millenium, se ele tivesse saído pra Sega CD e recebido o tratamento que LUNAR: The Silver Star Story recebeu no remake para PS1/Saturn pela Working Designs... foi quase QUAAAASE, mas não foi.


Ainda sim, eu gosto de Phantasy Star mais do que Dragon Quest, se isso serve de alguma coisa - o que não é muito, pq dos dois DQ que eu já joguei nesse blog meu santo não bateu com nenhum dele, nem e DRAGON QUEST 3: The Seeds of Salvation nem DRAGON QUEST 6: Realms of Revelation. E bem, agora que recapitulamos a franquia até então, podemos falar do ultimo jogo de PS que falta: Estrela Fantasia 3 - Geração da Perdição...

... que frequentemente é citado pelos fãs da série como o pior Phantasy Star ever. O que, saibam vocês, é uma coisa extremamente positiva no meu livro. Quer dizer, se fãs da Sega completamente abominam esse jogo é porque algo certo ele está fazendo, né? Se caras que acham que SONIC 2 é um puta jogo não curtem muito esse, definitivamente isso conta pontos a favor deles não gostarem de PS3... né?

Então... por mais que eu goste de zoar a Sega, e por mais ainda que eu tenha como dever moral zoar os fãs da Sega, eu também tenho o compromisso de falar sério sobre as reviews desse blog (apesar de todos os meus defeitos) e por isso sou obrigado a dizer que os fãs da Sega estão certos, PS3 é de facto a ovelha negra da série e que não fosse o título, sequer seria reconhecivel como um Phantasy Star.


Isso é uma coisa necessariamente ruim? Não exatamente, o que eles tentam fazer não é nada ruim - com efeito, mesmo que não pareça Phantasy Star ainda sim é absolutamente brilhante. Ao mesmo tempo, enquanto as intenções são estelares (estelares, pq Phantasy Star, hã hã?)... sua execução... hã... vamos conversar sobre isso, ok?

Pra começar, esse jogo foi feito por um time inteiramente diferente dentro da Sega. Saem a grande Rieko Kodama e seus boys e meninas magia (que voltariam para PHANTASY STAR 4: The end of Millenium), e entra o diretor Hiroto Saeki que até então só tinha sido assistente em outros jogos da Sega (como GOLDEN AXE e o primeiro Super Monaco GP) e um time inteiramente diferente, o que em grande parte justifica o jogo parecer tão diferente.

Eu li com bastante frequencia que esse jogo deveria ter sido uma IP inteiramente nova, e na metade do caminho a Sega deu um carteiraço e mandou transformar em um PS because vendas. Enquanto eu não achei nenhuma fonte real que confirme isso, esse jogo definitivamente é tão diferente de todos os outros jogos que a ideia é justificada.


O que rola aqui: a coisa de Phantasy Star é que a série se passa no sistema Algol (uma estrela da galaxia de Andromeda) e seus três planetas, com cidades futuristas, viagens interplanetárias, computadores assassinos, robos e a porra toda do pacotão sci-fi. Isso é o que literalmente define Phantasy Star, ele é um jRPG de sci-fi ... então você começa a jogar Phantasy Star 3 e ele é full fantasia? Uada fãqui?

Quer dizer, sério: nossa história aqui é que Rhys é o principe dos Orakianos e vai se casar com uma garota misteriosa sem memória que ele encontrou na praia alguns meses atrás e se apaixonou. Só que na hora do casamento a garota é raptada por um dragão, então vc tem que literalmente resgatar uma princesa.

Mas calma, se isso não é fantasia medieval o suficiente, então segura essa manga: mais pra frente você descobre que a garota sem memória sequestrada é a princesa dos Laya, e rola que os Orakianos e os Laya tem uma treta entre os reinos que já rola a mais de mil anos quando o rei Orak e o rei Laya se enfrentaram no campo de batalha e desapareceram ambos.


Então, sim, isso é essencialmente o jRPG de Romeu e Julieta com direito a castelos, reinos e tudo mais. Se existe alguma forma disso ficar MAIS fantasia medieval que isso, eu absolutamente desconheço. O que isso tem haver com Phantasy Star e suas aventuras futuristas interplatenárias?

Surpreendentemente, sim. E é aqui que as coisas ficam interessantes: conforme você explora o reino de Landen em busca da princesa desaparecida, eventualmente vc pega a ideia que o mapa do reino é isso:


Hã, ele é um reino de fantasia medieval literalmente cercado por paredões de rocha instranponíveis. Estranho. E coisa fica mais estranha ainda quando vc viaja para reino vizinho através de um sistema de cavernas que passam por baixo dos paredões. O que isso tem de tão estranho? Bem, tem que as cavernas que conectam ambos os reinos são assim:


Espera, que porra é essa BÁTIMA? Pq tem uma dungeon ultra tecnologica de vidro e metal ligando um reino de fantasia medieval ao outro? Então, é nessa parte que PS3 começa a mostrar suas verdadeiras cores e que é sim de facto um Phantasy Star! 

O que, saibam vocês, é imensamente cool e me pegou totalmente desprevenido. Claro, o jogo também tem androides espalhados pelo reino (inclusive versões androides do Wren, um androide PHANTASY STAR 2.

E estruturalmente o jogo é bastante interessante também: depois de rodar pra cima e baixo e resolver as tretas de outros reinos, ele resgata a sua noiva raptada e lhe são apresentadas duas opções: casar com ela, como planejado, ou então casar com uma outra mina que vc conheceu durante a jornada e que totalmente está afim da sua.


Pq isso importa? Bem, segura essa manga: dependendo de com quem vc casar muda seu filho, e na segunda parte do jogo começa uma geração nova. Agora você joga com o filho de Rhys (que agora é um rei de idade) e dependendo de quem for a mãe dele a storyline é diferente. No fim dessa segunda geração, é apresentada outras duas escolhas que dão opções diferentes para o terceiro capitulo, onde vc joga com o neto de Rhys.

O resultado dessa brincadeira é que existem 4 finais possiveis dependendo de quem forem as mães dos seus filhos:


Agora, você pode estar se perguntando como cacetas de caralhas mutagenicas eles meteram 4 ramificações diferentes em um jogo de 1990? Não daria um trabalho do caralho fazer apenas UM jogo, eles fizeram 4? Bem, não, mas eles fizeram uma coisa bem inteligente dada as limitações da época.

Eis como funciona: dependendo das suas escolhas, na segunda geração você enfrenta uma treta que o tema são robos atacando as cidades e na terceira você enfrenta uma treta envolvendo androides, ou então então primeiro enfrenta a treta dos ciborgues e depois a dos mutantes. Os dialogos são diferentes (mais sobre isso daqui a pouco), porém o cerne do jogo em tipos de inimigos e masmorras apenas são realocados diferentes.

Descrevendo assim não parece tão incrível, porém isso é uma visão de 2024. Em 1990, entretanto, era uma coisa absolutamente sem precedentes vc redistribuir os assets do seu jogo assim e dado o que eles tinham para trabalhar, uma solução bastante criativa para dar um gimmick criativo ao jogo essa coisa das gerações. Adicionalmente, um RPG com 4 finais diferentes?



Uau, isso DEFINITIVAMENTE é algo sem precedentes não apenas para um RPG, mas para qualquer jogo dessa época. Novamente, estamos falando de 1990, um ano antes de FANTASIA. Cara, dali a um ano o Mega Drive sofreria com essa abominação, e em 1990 PS3 entregando quatro finais diferentes. Não é pouca bosta, definitivamente.

Então, como dá pra ver, conceitualmente Phantasy Star 3 é um jogo absurdamente ambicioso e criativo não apenas na sua narrativa, mas em si como o jogo é estruturado. Mas então, o problema da Sega nunca foi falta de criatividade ou ambição nos seus jogos. O problema da Sega é que eles nao sabem entregar suas ideias em um pacote arrumadinho com o padrão Nintendo ou Squaresoft de qualidade. 

Raramente um jogo da Sega é um blockbuster que vc pega e diz "puta merda, que jogão", mais frequentemente acontece que tem um jogo bom soterrado debaixo de menus esquisitos, UI desconfortável, dificuldade toda cagada e porras assim - o que é um dos principais motivos da série Phantasy Star nunca ter pegado em primeiro lugar.



Então, como é tipico da Sega, você esperar que esse jogo tenha os mesmos problemas que vc esperaria de um jogo tradicional da Sega... e ele tem todos esses e mais além. E o problema está no "mais além", pq realmente os fãs da Sega tem razão nesse aspecto: tecnicamente, PS3 não é apenas o pior jogo da franquia, eu diria que a melhor palavra que o descreve é "inacabado".

Pq sério, se esse jogo foi lançado 100% pronto eu sou um Fiat Palio com escada no teto a 110km/h na Rodovia Regis Bittencourt. É esse o nível da coisa por aqui.

Pra começar, eu tenho que dizer que por toda ambição narrativa, eu realmente preciso dizer que esse jogo foi escrito com a bunda. E então a bunda pegou lepra. Pra vc ter uma ideia de como esse jogo é escrito, me permita descrever uma cena dos primeiros 5 minutos do jogo: você, o príncipe Rhys, está prestes a se casar com uma garota que encontrou na praia, como eu já contei anteriormente. Então, na sala do trono de um castelo que, aliás, não acredita em ter portas para tapar os buracos na parede que você usa para entrar e sair dele, você está pronto para se casar, quando um dragão chega voando, diz em nome de Laya que você não pode se casar com ela e foge com sua futura esposa. 


Naturalmente, você está chateado e promete recuperá-la fazendo guerra com os Layans por ela. O rei, que é seu pai, diz que não, porque a guerra é ruim, então você muda de tática e diz que não se importa e que irá procurá-la de qualquer maneira, o que implica que está tudo bem se os militares não apoiarem você nisso.

Até aí tudo bem, parece fazer sentido, certo? Certo, exceto pelo que acontece em seguida: seu pai joga  você, herdeiro do trono e príncipe do país, na masmorra para ele "esfriar a cabeça e não fazer merda". O que ainda faria sentido, não fosse o fato que por alguma razão ele guarda os baús do tesouro contendo 100 meseta e uma faca. São coisas bem estranhas para guardar na cela dos prisioneiros do castelo, sabe?

Sério, como isso faz qualquer sentido? E se isso parece que apenas os desenvolvedores meteram um foda-se, daí pra frente o nível de atenção de interesse da escrita vai caindo exponencialmente a cada momento. Na primeira cidade você encontra um velho que diz que só vai te levar de barco se vc trouxer um androide pq... androides dão sorte? Hãn... tá?


A partir disso sequer explicação eles dão. E eu quero dizer bastante literalmente, se um personagem que se junta ao seu grupo diz qualquer coisa mais profunda do que "oi, eu vou me juntar ao seu grupo"... hmm, na verdade isso nunca acontece, ninguém se junta ao seu grupo por mais do que isso. Os andróides Mieu e Wren que acompanham as tres gerações na sua party (já que eles são androides e não envelhecem), por exemplo. Eles estão com você 99% do seu jogo, mas nunca mais falam após suas introduções de 3-4 linhas.

No começo do jogo mesmo, quando Rhys é mandado para a cela de prisão com armas e dinheiro pelo seu pai, ele é libertado por uma personagem chamada Lena. Lena nunca explica pq ela faz isso... na verdade ela nunca fala nada, e então no fim da geração você tem a opção de casar com ela ao invés da princesa raptada. Hã, é assim que as novinhas estão flertando agora, tirando caras da prisão e nunca mais falando com eles?


O jogo é todo assim, saiba você. Não é nem que o desenvolvimento de personagens é ruim, ele sequer existe. Então quando uma geração termina vc pode escolher entre uma esposa que teve duas linhas de dialogo o jogo inteiro ou outra que teve duas linhas de dialogo o jogo inteiro. Grandes bosta, heim?

Ah, e sabe o que é pior ainda? Sim, pq piorar sempre dá: esse jogo foi lançado no Brasil pela Tec Toy, só que eu não vou dizer que ele foi lançado em português pq eu não sei que lingua esses caras acham que a gente fala por aqui, só posso dizer que não é nenhuma que eu conheça. Pq sério, olha o nível "joguei no Bing" dessa tradução:


Porra Tec Toy, o que é que isso ao menos deveria significar? O tradutor de vocês teve um AVC no meio do serviço por acaso? FALA BRASILEIRO ALIENIGINA FILHA DA PUTA!

Ou então saca só essa loja de itens: 


O que diabos deveria ser uma CLT Força? Eu compro um item para entrar para me filiar a alguma força sindical? E PRT? Como que eu vou sequer adivinhar ao menos o que isso deveria significar? Some a isso então que o jogo não dá descrição de bosta nenhuma (algo que os RPGs jogos de Nintendinho já faziam) e você não sabe o que está comprando, para quem serve e se é melhor do que o que vc está.

Sabe como você descobre isso? Simples, salvando o jogo, indo até a loja, comprando e equipando nos seus personagens pra ver o que muda. MAS PUTA QUE ME PARIU, SE QUER ME FODER ME BEIJA CARALHO! Nessa época já tinha sim jeitos mais práticos de comprar itens, vcs que tão de sacanagem comigo!

Mas enfim, uma última coisa sobre a tradução Bing desse jogo: se os caras da Tec Toy nem português sabiam falar direito, não espere que eles soubessem traduzir do inglês, né? Tipo isso: 


Porra Tec Toy, se era pra atrapalhar então melhor deixar quieto né? 

Mas enfim, antes de divagar sobre essa enorme caca que a Tec Toy fez eu dizia que o jogo passa essa sensação de que os personagens estão lá apenas como placeholder e que mais tarde eles iam completar com conteúdo de verdade só que esse "mais tarde" nunca chegou se aplica a todo o resto do jogo. Tudo é tão vazio e feito de uma forma tão básica que não tem tem como você acreditar que esse jogo estava pronto quando foi lançado.


Dizer que as cidades são vazias de vida não é um eufemismo, em muitos casos é bastante literal: várias cidades nesse jogo não tem NPCs para falar, apenas os lojistas que vendem os serviços básicos de um RPG (estalagem, loja de itens, loja de armas, loja de equipamentos, etc). E se isso não parecesse estéril o suficiente, elas são literalmente iguais com os prédios apenas copiados e colados sem alterar nada.

Vocês acham que eu to exagerando, mas chupa essa manga:

Essa é a cidade de Ilan, no reino de Landen

Essa é a cidade de Rysel, no reino congelado de Aquatica

Essa é a cidade Razatak no reino desertico de Aridia

Cês tão entendendo do que eu to falando aqui? Porra irmão, olha como as cidades eram diferentes no PHANTASY STAR da porra do MASTER SYSTEM!



Cês tão de sacanagem comigo! As dungeons a mesma coisa, todas as dungeons desse jogo são o mesmo cenário com passarelas de metal e fiações tecnologicas e mais uma vez, isso era algo que nem no Master System acontecia. Aí fica dificil te defender, amizade

E se as coisas já não parecem boas agora, espere até eu falar de como esse jogo é desenhado. Alias, melhor que isso, vou dar um exemplo bem prático! Na segunda geração, existe uma cidade chamada Divisia - ela se chama assim a vila está dividida em duas metades pelo Castelo. Para progredir de um lado a outro da cidade, o jogador é obrigado a passar pelo castelo. Um pouco tedioso, mas nada para reclamar, certo? 

Bem, então, para passar pelo Castelo o jogador é obrigado a atravessar a masmorra - que está sempre abarrotada de monstros, obviamente. Em primeiro lugar, tenho que questionar por que isso faz qualquer sentido, mas ok. O que torna essa palhaçada pior é que se o jogador não estiver perdido (e a menos que vc siga um walkthrough vai estar, pq os raros NPCs com suas falas de uma frase não ajudam nada), você precisa passar por essa dungeon QUATRO vezes no minimo. QUATRO FUCKING VEZES tem que atravessar essa dungeon! Me diz um, eu imploro, me diz UM apenas RPG no mundo que decidiu colocar uma dungeon no meio do caminho e te obriga a passar por ela QUATRO vezes? Não existe isso, essa palhaçada não tem como!


Bem, se tem pelo menos um único ponto positivo que posso citar é que pelo menos os layouts das masmorras não são nem de longe os pesadelos exagerados de voltas e reviravoltas e desce um andar para subir de volta em outro ponto que foram nos dois episódios anteriores. Na verdade, eles são bastante compactos agora. Graças a Deus.

Mas ainda sim não resolve muito o problema que o jogo nada mais é do que uma sequencia de fetch quests te mandando ir de um lado a outro do mundo apenas pq... bem, nem mandar eles mandam direito, imagina explicar o pq. Ah, e só de zoeira todas as magias de teletransporte para visitar cidades já visitadas que existiam desde o PHANTASY STAR da porra do MASTER SYSTEM foram tiradas, então sua única opção é caminhar mesmo!


Agora, tecnicamente, existe sim um item que permite ao jogador viajar para uma cidade anterior. Infelizmente, uma vez iniciada a segunda geração, esses itens não são mais vendidos sem motivo aparente, apenas pq foda-se você, apenas por isso.

Não, sério, me diz o que custava deixar a porra de um warp spell nesse jogo? Em todos os outros jogos da série existe isso, menos nesse. E justamente nesse onde um teleporte seria mais importante do que em qualquer outro e sabe o pq? Eu te digo o pq, pq a velocidade de caminhada nesse jogo é ISSO:


Não cara, tudo bem, sem pressa, pode caminhar no seu próprio tempo amigo, no seu próprio tempo campeão. MAS VÁ A PUTA QUE TE PARIU DESGRAÇADO, QUER UM ANDADOR PRA IR MAIS DEVAGAR AINDA? Sério Sega, me diz, apenas me diz, o que é que custava ao menos colocar um botão pra correr nesse jogo? Em primeiro lugar não devia nem ser essa a velocidade de caminhada, mas já que é, podiam ao menos botar um botão pra correr né?

Isso é uma coisa tão escrota, tão sacal que a própria Sega percebeu a cagada que eles fizeram e isso foi uma das poucas coisas que eles mudaram no jogo quando relançaram ele no Sega Ages Collection para PS2: a velocidade de movimentação pode ser aumentada. Porém no jogo original de Mega Drive, é essa tortuguita manca mesmo que vc tem e foda-se, é com isso com que vc vai atravessar o mundo pq ELES TIRARAM A DESGRAÇA DOS WARP SPELLS.


Então sem nenhuma forma de quick travel, frequentemente você estará passando novamente por recapitulando masmorras previamente limpas apenas para passar para um mundo diferente para uma conversa de uma frase apenas para ter que voltar. Quando os dois primeiros jogos já tinham teletransporte.

Mas tá, respira, tudo bem, não é como se o jogo te obrigasse a andar nessa velocidade E ainda por cima tivesse encontros aleatórios a cada...


Respira... calma... respira...


Tá, o jogo te obriga a se mover com uma velocidade de platelminto com caimbra, e sim, a taxa de encontros aleatórios foi atingida após séculos de estudos da NASA sobre como enlouquecer uma pessoa... mas ao menos PHANTASY STAR 2 tinha um sistema de combate bastante sólido. Dificil pra uma caceta, mas ao menos a culpa não era do sistema de combate em si.

Então é óbvio que o sistema de combate do PS3 é uma versão melhorada disso, né? O jogo já tava pronto, era só melhorar alguma coisa mas nem isso precisava, era só deixar igual que já tava bom. Fosse qual fosse a escolha que eles fizessem, a unica coisa que não podia acontecer era eles PIORAREM o sistema de combate do jogo anterior, mas então qual a chance disso acont...

Caras, eu não sei se vocês notaram isso, mas tivemos um retrocesso aqui. Você não vê mais as costas dos personagens como em PHANTASY STAR 2, por algum motivo retrocedemos ao Master System onde os personagens também não aparecem. Só que ao menos no Master System tinha um efeito de paralaxe para dar uma apimentada nas coisas, aqui nem isso temos. Ou seja, a tela de combate não apenas regrediu ao Master System, como consegue ser menos interessante que um sistema mais fraco de quase três anos atrás. Deus.

Como era o gif animado dos inimigos no Master System...

... e como ficou no Mega Drive três anos depois. O do Master é muito melhor, parabens a todos os envolvidos

Bem, pelo menos o combate é funcional, ao menos isso. Existem agora duas fileiras de inimigos em combate, a primeira ocupada por criaturas pequenas e inexpressivas, enquanto monstros maiores e mais legais geralmente ficam na parte de trás, onde não podem ser tocados por armas de curto alcance até que a primeira fileira seja eliminada. A boa noticia é que ao contrário de PHANTASY STAR 2, agora é possível atingir um inimigo específico. 

Outra grande mudança é que agora você pode levar cinco personagens consigo e há mais armas que danificam linhas inteiras, às vezes com força suficiente para eliminá-las todas de uma só vez, então definitivamente esse jogo não é tão dificil e deseperador quanto PHANTASY STAR 2, o que com certeza é algo bom. Não que eu ache ser humanamente possível fazer algo tão dificil quanto PHANTASY STAR 2, mas ainda sim é bom.

Alias uma curiosidade é que embora o jogo permita 5 personagens na sua party, eu recomendo levar 4 persoangens ativos e manter um sempre morto. Pq? Bem, pq os programadores fizeram alguma bosta no código desse jogo que o personagem morto pode lançar magias sem custo de mana. Então não apenas um personagem morto pode ressucitar a si mesmo, como você pode mante-lo morto para usar magias de cura de graça infinitamente. O que é muito util, até pq PS3 continua a tradição da série que a magia de cura é essencial e todo o resto é praticamente inútil, já que até mesmo a magia de ataque mais forte não é melhor do que as armas normais.


Falando ainda em magia, eu preciso dizer que como as magias funcionam em PS3 é de uma forma bem esquisita e totalmente irritante. O que aconteceu: os personagens entram no grupo já conhecendo todos os feitiços que podem aprender... pq é claro que Phantasy Star 3 iria te tirar o prazer até disso e nega a você qualquer sensação de progressão satisfatória do personagem. Você pode esquecer sobre desbloquear novas habilidades à medida que sobe de nível. Os personagens conhecem todo o seu conjunto de técnicas especiais desde o início. Embora essas habilidades melhorem com a experiência (causando mais danos, restaurando mais saúde perdida ou qualquer outra coisa), suas funções básicas permanecem sempre as mesmas.

Mas então, eu dizia que vc tem suas skills e que aqui vc pode configurar a força deles. Então vc pode colocar a força das magias de cura de um único alvo em 70% e as de cura em grupo para 30%, por exemplo. Se você quiser que um personagem tenha um feitiço de cura de alvo único muito forte, você pode manipular a grade dessa forma, por exemplo, diminuindo o poder de todos os outros feitiços de cura. 


E pq isso é irritante? Bem, pq as magias de curar status tambem funcionam desse jeito. Como Anti, que cura veneno, ou Rever, que revive um personagem. Veja, Anti e Rever funcionam conforme você distribuir sua força. Se vc colocar 60% em Anti e 40% em Rever, então curar veneno funciona em 60% das vezes e a magia de reviver funciona em 40% das vezes.

Vc pode colocar a magia que vc precisa naquele momento em tipo 90% pra ela funcionar e a outra em 10%? Bem, apenas abrir o menu para ficar mudando isso TODA VEZ QUE VC PRECISA TIRAR UM STATUS já seria uma puta ideia de girico... exceto que vc não pode fazer isso. Vc só pode reconfigurar suas magias com um NPC especifico na cidade, pagando uma taxa.


Dada a velocidade de deslocamento desse jogo, isso já seria bem ruim. Porém se se vc está embretado no meio da dungeon... ajoelha e chora. Claro, vc pode deixar as duas em 50% gastar uma cacetada de manatentando lançar Anti repetidamente, na esperança de curar o veneno. Mas eventualmente você apenas vai desistir porque o veneno é um status incrivelmente comum no PSIII, então no momento em que você cura alguém, você tem a mesma probabilidade de ser envenenado imediatamente a seguir. Não tenho ideia de por que os desenvolvedores pensaram que seria uma boa ideia fazer com que a cura do veneno e o status de KO dependessem da SORTE, mas isso certamente não aumenta a diversão do jogo.

Ah, alias eu suponho que tenho que explicar que veneno não funciona nesse jogo como funciona em qualquer RPG. Ao invés de tirar HP gradualmente a cada turno ou a cada passo, como funciona em Final Fantasy ou Pokemon, por exemplo, o que o status envenenado realmente faz aqui é que ele impede que o personagem seja curado de qualquer forma até o status ser retirado. 

Apenas isso, imagine um RPG onde vc NÃO PODE CURAR SEU PERSONAGEM, e para retirar esse status depende de uma rolagem de sorte baseada em parametros que só podem ser alterados na cidade. E que por algum motivo cerca de 80% dos inimigos do jogo causam esse status. Imagine isso, apenas imagine isso.


Eu já conheci muitos jogos que eu odiava, mas eu realmente nunca conheci um jogo que ME odiava tanto assim, sabe? Quero dizer, é óbvio que os desenvolvedores fizeram esse jogo única e exclusivamente pelo fato que eles me odeiam pessoalmente, não existe nenhuma outra explicação possível para o combate desse jogo ser desenhado dessa maneira. Nenhuma.

O combate de Phantasy Star 3 nasceu com o único e simples proposito de me fazer infeliz e miserável, e isso foi algo que eles conseguiram atingir com maestria. Eu não sei pq essa meta especifica ser colocada num jogo feito quando eu tinha 6 anos de idade, mas não tenho como negar que PS3 é exclusivamente sobre isso.


Então dá pra dizer que tudo, e eu me refiro a tudo mesmo nesse jogo falha catastróficamente. Os menus são ruins, gerenciar seu inventário é ruim, comprar itens é ruim, as cidades são ruins, a taxa de encontros é ruim, o dialogo é ruim, a tradução da Tec Toy é pior ainda, o backtracking é ruim, o combate é ruim, ANDAR é ruim, os personagens teriam que melhorar muito pra chegarem ao nível de serem apenas ruins, a história... é boa até, porém contada da pior maneira possível.

Tem alguma coisa que esse jogo faz de minimamente competente? Bem, eu gosto dos designs dos inimigos, eles são tão aleatórios que parecem algo criado por uma IA. Quero dizer, sério, alguém pode me dizer onde mais no multiverso eu veria ISSO:


... ou isso:


Pq eu estou enfrentando placas de transito com anal beads com penisinhos aos seus pés é algo para o que eu jamais terei uma resposta, mas definitivamente é algo incrível.

A outra coisa que eu gosto nesse jogo é a trilha sonora: ela não apenas é melancólica e triste (o que é perfeito para o quão vazio esse jogo é, parece que o compositor foi o único que se deu conta do que eles estavam fazendo aqui), como ela tem um truque interessante que é adicionar um novo instrumento a música principal a cada personagem que entra para o grupo.

Geralmente vc começa uma geração com dois personagens, e a música de fundo tem dois instrumentos. Conforme outros vão entrando ela vai ganhando mais sons, ficando menos melancólica e mais animada conforme mais amigos vc tem na party. Porra, essa é uma ideia maneiraça despediçada num jogo todo cagado viu...


Mas é aí que termina até onde esse jogo acerta alguma coisa. Pra vocês terem uma ideia em como ele consegue errar em tudo TUDO MESMO, eles até erraram na história e ela teve que ser arrumada na versão americana! Puta que pariu, mas eu nunca vi uma desgraça dessas na vida antes, a versão americana corrigindo a narrativa japonesa! Era só o que me faltava mesmo!

O que acontece aqui, com spoilers do jogo mas foda-se pq quem liga pra essa desgraça: 
O planeta Palm foi destruído no final de PS2, porém alguns sábios daquele mundo já haviam previsto isso e preparam 400 arcas nas quais o mundo foi evacuado. Por isso, o mundo onde PS3 se passa na verdade é uma das naves-colonia que fugiu de Palm antes da sua destruição, esse é o grande plot twitter duplo carpado desse jogo.

O problema é que a linha do tempo não bate. O jogo japonês diz que PS3 se passa mil anos depois do PS2 e portanto mil anos antes de PS4. Qual o problema disso? O problema é que a conta não fecha com o que é descrito no jogo. No jogo é dito que mil anos atrás, a nave Alissa III já existia e que foi onde Orakio Laya supostamente lutaram, então se a nave já existia mil anos atrás com reinos bem estabelecidos, ela tem que ser mais antiga que isso. Logo, como as arcas fugiram instantes antes da destruição de Palm, elas não podem ter apenas mil anos.

A versão americana do jogo percebeu que isso não tava batendo e mudou a cronologia da série: PS1>mil anos>PS2>mil anos>PS4>mil anos>PS3, assim dá tempo das coisas acontecerem como são descritas no jogo. Claro, isso não é uma coisa radicalmente importante, mas ilustra mais do que bem sobre como os japoneses da Sega que fizeram esse jogo não tinham a MAIS FODENDA REMOTA IDEIA DO QUE ESTAVAM FAZENDO!

Entre sua narrativa esquelética, apresentação monótona, mecânica de combate nada feliz e ritmo insultuosamente lento, Phantasy Star III tem a duvidosa honra de ser a desculpa mais horrível para um RPG que já sofri desde então, bem, BREATH OF FIRE 2. Mas tunga la catunga tunga ta toma limonada pra acordar de madrugada, eles conseguiram aqui. Essa pilha aborrenta de desgraça consegue errar em quase tudo que faz, chega a ser quase artistico como eles conseguiram fazer isso.

E se essa review de quase 6 mil palavras ainda não deixou claro, eu odeio este jogo. Não por ser diferente dos outros Phantasy Star, como normalmente é o chilique que os fãs da Sega dão, eu odeio esse jogo por ser um fracasso espectacular em quase todos os sentidos. Se este jogo tivesse alcançado os seus objectivos e ao mesmo tempo conseguisse ser uma “ovelha negra” diferente eu aceitaria de bom grado. Em vez disso, odeio o jogo pelo que ele é – um fracasso. 

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 132 (Outubro de 1998)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 055 (Outubro de 1998)