Slave Zero provavelmente é mais lembrado por ser o irmão quase siamês de SHOGO: Mobile Armor Division no quesito "jogo que vinha nos CDs de revistas como a CD Expert ou algo assim". Popularmente conhecido como JQVNCDRCACEOAS.
Entre as dezenas de shovelware que dificilmente vc poderia dizer que estão terminadas enquanto jogos, usualmente vinha um jogo que era bom o bastante para ser chamado de "jogo", mas não tão bom assim para que as pessoas pagassem dinheiro de verdade por apenas ele - ergo, funcionavam muito bem como "brinde" de revistas.
Um favorito desse tipo de publicação, Slave Zero é de tiro em terceira pessoa (por padrão, mas pode ser em primeira tambem) que coloca o jogador no controle de um mecha gigantesco, você atira em outros robôes, explode prédios, all the good fun. O que há para não amar em um robozão da porra metendo pipoco numa cidade cyberpunk?
É o que veremos a seguir.
Nossa história aqui começa 500 anos no futuro e século 26 o mundo se tornou o pior pesadelo de Donald Trump: Lu Chen, um sinistro overlord do mal chinês mais conhecido como SovKhan, governa a Terra a partir de um enorme complexo chamado Megacity S1-9.
Obviamente que um senhor do mal que odeia o bem não está completo sem uma resistencia lutando pela liberdade... e perdendo homericamente, diga-se passagem. Isso porque SovKhan tem a sua disposição um exército praticamente infinito de Slaves: mechas gigantes operados por fetos geneticamente modificados para crescerem e viverem como parte intrínseca do mecha.
O que é bem pouco ético e provavelmente lhe garantiria um cancelamento no Twitter, se ele já não tivesse extinguido o Twitter no ano 2479 - o que me faz perguntar sele é realmente o vilão aqui.
Seja como for, para que haja uma história aqui acontece que a Resistencia conseguiu capturar um protótipo especial de Slave chamado, aposto que vocês nunca vão adivinhar isso, SLAVE ZERO. Tambores dramáticos.
O Slave Zero é então modificado pelos rebeldes para que ele possa ser fundido (irremediavelmente, diga-se de passagem) com um Zé qualquer e é aqui que nossa aventura começa. Pilotando o Slave Zero nosso herói deve liderar a resistencia rumo a liberdade ainda que tardia!
Surpreendentemente, a ordem das missões é até coerente com rebeldes tentando derrubar um overlord do mal. De posse da Slave Zero o objetivo do jogo não é ir lá chutar a porta do malvadão, você tem um mecha foda mas não é um exército de um homem só.
Então o que você faz no jogo são missões pontuais de inteligencia: destruir a linha de produção de Slaves e fabricas de naves e armamentos do SovKhan. Em uma missão você tem até que escoltar uma flotilha dos rebeldes que vai fazer um ataque de guerrilha a uma das fábricas do vilão.
Obviamente, como a lei dos anos 90 exigia, Slave Zero conta sua história através de uma dublagem de qualidade que ofenderia aos amadores ser chamada como tal, muitas frases pseudo-profundas que parece sairam de um biscoito da sorte e um vilão estereotipadamente malvado (do tipo que mata seus subordinados para mostrar como ele é mau) com nenhum outro objetivo na vida do que odiar o bem. You know, all the good stuff.
Mas este sendo um clássico "jogo que vinha de brinde na CD Expert", obviamente o que importa aqui é o pewpewpew mãedefoca... e se alguma coisa, não se pode dizer que Slave Zero tenta reinventar a roda. Você se move com o WASD, mira com o mouse, o botão direito do mouse atira a metralhadora (que você pode alternar para um laser) e o esquerdo atira misseis. E... meio que é isso, realmente. Ao contrário do que os FPS faziam desde os dias de WOLFENSTEIN 3-D, você não tem uma grande variedade de armas a sua disposição. É uma metralhadora, um míssil, beijomeliga.
Claro, você pode ugradear suas três armas para... hã... um laser de outra cor, uma metralhadora mais forte e um missil que causa mais dano em area maior, mas não espere muita loucura disso realmente.
Na verdade na verdade, não espere muito de nada realmente, até porque existem bem poucos tipos de inimigos contra os quais lutar, e eles não são tão variados. Além dos chefes e de alguns raros mechas gigantes que conseguem se destacar, o resto é tão parecido que é bem fácil confundir um com o outro.
A boa notícia é que o combate é extremamente dinamico e seu robozildo vai estar trocando pipoco com os inimigos sempre de forma muito ágil sem parar um momento - o que lembra um pouco o estilo de gameplay como dos Doom modernos, por exemplo.
A outra boa notícia é que o jogo tem ciência das suas limitações e foca inteiramente na ação frenética. Isso uqer dizer que os níveis são mais ou menos lineares e é dificil se perder - entretanto caso você se perca, é só andar até onde tem inimigos que você não matou ainda, é pra lá que você tem que ir.
E O JOGO SER LINEAR É UMA COISA BOA?
Entre fases labirinticas genéricas desinspiradas e uma ação linear que faz um uso divertido da ideia de ganhar terreno, um modo de pensar que fez HALF-LIFE revolucionar a indústria dos FPS, eu definitivamente prefiro o segundo.
Eu não estou dizendo, é claro, que Slave Zero é HALF-LIFE nem nada do tipo, apenas que ele é um ponei de um truque só e a única coisa que ele faz é confortável enquanto vc não cansar dela. Não é algo que se diga "minha nossa que jogo lendário" nem nada do tipo, mas então para um "jogo de brinde da CD Expert" é exatamente o que você esperaria e o jogo sabe que ele é só isso desde o começo.
Diferente de SHOGO: Mobile Armor Division, Slave Zero não vai muito fundo no estilo de arte. Enquanto o primeiro não tem a menor vergonha de tentar ser um FPS de anime, Slave Zero é um FPS de mechas gigantes em uma cidade cyberpunk que parece ter um pouco de vergonha de abraçar suas origens. Isso quer dizer que o design dos mechas não é tão anime, os misseis não são tão anime e as cidades não são tão anime, resultando em um design mais voltado pro lado militar serião da coisa... e justamente por isso bem sem graça.
Adicione a isso que demolir edifícios parece destruir caixas de papelão e geralmente o jogo não tem o “peso” necessário para você sentir que está com um robozão realista, mas também não é anime-like o suficiente.
O que eu quero dizer é que Slave Zero não é feio, apenas que as suas escolhas artisticas são as mais genéricas possiveis. Não é ruim, é apenas... desinteressante.
Slave Zero definitivamente tem um pouco daquela aura de hidden gem incrível, mas no fim do dia não é um clássico cult, porque, como um todo, cai mais pro lado do repetitivo e artisticamente sem ambição. A ideia de ser um robô gigante que luta contra outros robôs gigantes em uma megacidade futurista e gigantesca parece deveras tentadora... mas Slave Zero não é o sonho molhado de Mecha/Kaiju que tanto sonhamos. Nesse aspecto, SHOGO: Mobile Armor Division está mais perto disso e ele nem é essas coisas toda.
É um jogo okay para brinde da CD Expert e era isso.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
EDIÇÃO 142 (Agosto de 1999)
EDIÇÃO 150 (Abril de 2000)
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 054 (Setembro de 1998)
EDIÇÃO 064 (Julho de 1999)
EDIÇÃO 069 (Dezembro de 1999)
EDIÇÃO 073 (Abril de 2000)