quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

[#1623][Ago/2000] REISELIED: Ephemeral Fantasia


Como você já deve ter percebido a esse ponto, eu sou um gamer velho. E não quero dizer velho no sentido de "joguei PS2 quando criança" — quero dizer velho da primeira geração que cresceu com videogames. Vivi a era dos aluguéis de fim de semana, o ritual sagrado de assoprar cartuchos, e a ascensão e queda das revistas de videogame como instituições culturais. Eu estava lá quando os jogos ainda estavam tentando descobrir o que eles sequer queriam ser. Estou aqui desde o começo. E como qualquer velho vai admitir de bon grado (geralmente sem ser solicitado), acompanhar as tendências modernas é... ocasionalmente desafiador.

Pegue os RPGs, por exemplo. O que é um RPG hoje em dia? Tudo que tem uma barra de progressão e algum tipo de skill tree é chamado de RPG. Assassin's Creed é um RPG. FIFA é um RPG. Você é um RPG. Eu sou um RPG. A esse ponto, preencher o imposto de renda vai ser chamado de de RPG.

Não. No meu tempo — insira aqui o momento obrigatório de "velho gritando com a nuvem" — RPG significava algo muito específico. Significava encontros aleatórios. Significava lojas de armas. Significava upar de nível para aprender magias novas. Significava combate por turnos, menus dentro de menus, e números subindo de formas profundamente satisfatórias. 


Então não, NieR e The Witcher 3 não são RPGs. São jogos de ação — hack'n slash, ação-aventura, chame do que quiser — que pegam elementos de RPG emprestados. Colocar pontos de experiência em algo não o transforma magicamente em Dragon Quest. Por essa lógica, sua mãe é um RPG, porque todo mundo faz grinding—

…tá, me passei. Peço desculpas. Seguindo em frente.

Mas o ponto aqui é: quando um fóssil como eu diz que algo é um RPG, eu quero dizer no sentido mais antiquado e purista de gênero possível. Rolagens de numeros aleatórios por baixo do sistema. Sistemas em cima de sistemas. Combate por turnos e ritmo lento, goste você ou não. E agora que estamos todos na mesma página — e eu já balançei minha bengala o suficiente para o design de jogos moderno — suponho que você já viu onde eu quero chegar com isso: Ephemeral Fantasia é um RPG. Um de verdade. Um RPG raíz. Um RPG moleque. Um RPG toco-y-mi-voy.

Mais especificamente, ele é o equivalente em RPG de THE LEGEND OF ZELDA: Majora's Mask — que, devo lembrar, não é um RPG.

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

[#1622][Mai/1994] TOKIMEKI MEMORIAL

Okay, antes de começarmos, um disclaimer: originalmente, essa deveria ser a review de  Tokimeki Memorial 2 Substories: Dancing Summer Vacation (suponho que o jogo vinha em uma caixa mais alta  só pro titulo caber na lombada). Mas calha que esse jogo é uma visual novel/jogo de ritmo nunca lançado fora do Japão, e eu perderia toda a parte da visual novel. O que eu vou fazer então é aproveitar a chance para conhecer essa franquia famosa nos dating sims pelo único jogo que foi traduzido por fãs, o original de 1994. 


A coisa que eu mais amo nos videogames é essa oportunidade única que ele nos dá de viver outras vidas – de calçar os sapatos de outra pessoa e viver seus dilemas e aventuras por dentro. Não literalmente em primeira pessoa, claro… tá, às vezes é em primeira pessoa. Mas o ponto não é esse, e sim que as vezes os jogos te jogam em cenários incrivelmente fantásticos, como ser um explorador à deriva pela Galáxia de Andrômeda. Outras vezes, eles te arrastam para rotinas pé-no-chão, dolorosamente mundanas – mas rotinas que você nunca viverá na vida real, como trabalhar como oficial de imigração na fronteira de um estado comunista. Eu não me importo se o cenário é plausível ou não. Apenas me faça pensar como outra pessoa por um tempo. Me faça seguir uma linha de pensamento diferente da minha.

E normalmente, jogos são muito bons nisso. Até as premissas mais estranhas tendem a se sustentar, contanto que respeitem alguma lógica interna. Mas então há momentos em que um jogo apresenta um cenário tão completamente alienígena à minha realidade que até a minha normalmente generosa suspensão da descrença me dá um tapinha no ombro e diz: “Opa, calma lá, meu patrão”. Porque há coisas que são simplesmente muito desconectadas do meu entendimento do universo para eu conseguir imergir.

Como um jogo onde ser extremamente popular com as garotas seria apenas o estado padrão da minha existência, mas um problema real. Uma maldição, até. Um jogo onde o interesse romântico não é algo que você alcança com muito esforço, suor e ranger de dentes, mas uma força da natureza que você deve administrar com cuidado, para que não saia do controle e acabe com sua vida. Esse jogo existe, saiba você, e se chama "Memorial das Coisas que Abalam o Coração".

E sim, essa é a tradução mais próxima que dá pra fazer, japonês tem palavras para coisas muito específicas.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

[#1621][Ago/1994] THE KING OF FIGHTERS '94

Bem, eu disse que a Super Game Power estava num frenesi de SNK, não disse? E, olha, isso até que é uma coisa boa realmente. Por alguma razão as revistas brasileiras pularam The King of Fighters '94 completamente em 1994, então finalmente estou tendo a chance de preencher essa lacuna na minha cobertura dessa franquia icônica. Então, sem mais delongas, vamos começar do começo com o "Rei dos Brigadores: O Ano do Tetra".

domingo, 14 de dezembro de 2025

[#1620][Mar/2000] METAL SLUG 3

Bem, essa vai ser rápida. Ontem, falei sobre THE KING OF FIGHTERS 2000, e por alguma razão, a Super Game Power entrou num frenesi da SNK. Agora, vamos mergulhar em outra grande entrada de franquia da SNK do ano 2000. E isso até que facilita um pouco meu trabalho, porque Metal Slug 3 é essencialmente o THE KING OF FIGHTERS 2000 dos run-and-gun.

sábado, 13 de dezembro de 2025

[#1619][Jul/2000] THE KING OF FIGHTERS 2000


Neil Gaiman, em sua mais famosa citação sobre a Morte, certa vez escreveu: “Quando a primeira criatura viva existiu, eu estava lá, esperando. Quando a última criatura viva morrer, meu trabalho estará terminado. Vou colocar as cadeiras sobre as mesas, apagar as luzes e trancar o universo atrás de mim quando eu sair”. E essa é realmente a única certeza que temos sobre qualquer coisa, não é? Tudo eventualmente termina. Algumas coisas terminam mais cedo que outras. E essa é a história que contaremos hoje, uma história sobre um fim.

[DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO? ESSE NÃO É O FIM DE KING OF FIGHTERS, TEM UM MONTE DE JOGOS DEPOIS DISSO! NEM É O FIM NEM DA SAGA NESTS, QUE VAI ATÉ O KOF 2002!]

Você está absolutamente certo, Jorge. Este não é o fim da franquia, nem o fim do arco NESTS. O que termina aqui é a própria SNK — ou pelo menos a SNK que um dia conhecemos. Então puxe uma cadeira, porque precisamos falar sobre isso porque a situação da SNK importa muito para falar de "O Rei dos Brigadores 2000: Sobrevivemos ao Bug do  Milênio... Mas Não Realmente!"

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

[#1618][Out/2001] PROJECT EDEN

Quando eu escrevi sobre TOMB RAIDER: The Last Revelation, disse que a Core Design já meio de saco cheio de saquear tumbas e queria fazer qualquer outra coisa. Eles estavam tão de saco cheio que literalmente tentaram matar Lara de vez no final de TR IV. Diante disso, a Eidos olhou para eles, olhou para a montanha gigante de dinheiro que Lara produzia todo ano fiscal, e respondeu: “Hahaha. Não.” Para a Eidos, Lara Croft era uma vaca leiteira de ouro puro, e o plano era ordenhá-la até as suas tetas poligonais cairem.

Exceto que o público não compartilhava do mesmo entusiasmo. Depois de Tomb Raider 5, os números de vendas entregaram uma mensagem bem clara: as pessoas estavam de cansadas da mesma fórmula, das mesmas tiradas com sotaque londrino, das mesmas acrobacias nas mesmas tumbas com as mesmas coisas de sempre. E quando o dinheiro fala, os executivos ouvem. Então a Eidos se voltou para a Core e perguntou: “Ok, isso não está mais funcionando... o que mais vocês têm?

E isto — Project Eden — é a história desse “o que mais”.
Uma ideia que eles vinham cozinhando quietamente desde 1997.
Uma ideia que tentava ser ousada, estranha, diferente.
Lost Vikings 2077: Electric Boogaloo.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

[#1617][Nov/2000] CRASH BASH

Crash Bash é um daqueles jogos. AQUELES jogos, sabe? Bom… provavelmente ainda não, mas me permita explicar sobre que tipo de jogos estou falando.

Existem alguns títulos que você percebe imediatamente quem realmente jogou a coisa e quem está apenas papagaiando qualquer bobagem que ouviu na internet. Pegue WILD ARMS, por exemplo. Se alguém declarar que é um "RPG de tema de faroeste", parabéns— você pegou um impostor com a mão na massa. Porque, apesar do título e de uma música do mundo aberto que realmente parece composta pelo Ennio Morricone, Wild Arms contém aproximadamente zero, nada, niente de elementos western. É um mundo de fantasia medieval padrão com reinos, castelos, princesas e essas porra tudo, e um bem genérico nisso.

Ou então CONKER'S BAD FUR DAY. Se alguém afirmar que a girassol peituda é a coisa mais chocante do jogo, essa pessoa não jogou coisa nenhuma. Porque a girassol não pega nem top dez da lista de "Como diabos isso foi lançado num console da Nintendo?". Aquele jogo escala de um jeito que os censores da ESRB ainda acordam gritando a noite até os dias de hoje.

E agora que estamos todos na mesma página sobre AQUELES jogos, me permita dizer o seguinte: Crash Bash é absoluta e inequivocamente um DAQUELES jogos. Porque no momento em que alguém te diz que Crash Bash é "MARIO PARTY do PS1", pronto, pego na mentira. Essa pessoa ou nunca jogou Crash Bash, ou nunca jogou MARIO PARTY… ou, o mais provável, nenhum dos dois. Crash Bash não é o "MARIO PARTY do PS1" — nem de perto. Crash Bash é mais o "A Naughty Dog pegou o chapéu e disse 'Pessoal, a gente tá meio de saco cheio do Crash, vamos fazer outra coisa da vida agora' e a Sony disse 'Legal, mas a gente vai continuar ordenhando essa vaca mesmo assim'" do PS1.

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

[#1616][Out/2000] BUZZ LIGHTYEAR OF THE STAR COMMAND

Sabe, a parte que as pessoas nuncam pensam muito na hora de fazer um pacto com o diabo é que, mais cedo ou mais tarde, o diabo vem cobrar a sua parte. Eu entendo, de verdade. Você está naquela encruzilhada à meia-noite, o luar refletindo nas poças das suas escolhas de vida duvidosas, pensando em todo o poder, dinheiro e Pokémon que poderia ganhar do Príncipe das Trevas em troca da sua alma mortal. É difícil pensar nas letras miúdas que vão aparecer num futuro distante. Isso é um "problema do você-do-futuro", certo?

Bem, mais cedo ou mais tarde, você vira o "você-do-futuro". E então a conta chega.
A Pixar aprendeu isso da pior maneira.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

[#1615][Fev/2000] KEYBOARDMANIA

 



A série Bemani da Konami não é nenhuma estranha para este blog – a essa altura, ela aparece aqui com mais frequência do que alguns dos meus amigos de verdade. Tá, não é verdade, eu não tenho nenhum, mas eu imagino que seria isso que aconteceria se eu tivesse. Seja como for, vamos recapitular rapidamente: no natal de 1997, a Konami lançou um arcade no Japão chamado BEATMANIA. Você jogava usando uma mini cabine de DJ, girando um toca-discos de plástico. Foi um sucesso estrondoso, do tipo que faz executivos de empresa se inclinarem para frente em suas cadeiras com slots de pachinko nos olhos. E uma vez que eles perceberam que as pessoas torrariam fichas felizes da vida em uma máquina só para fingir ser um DJ, a lógica foi óbvia: "Hmm… tem outros instrumentos que a gente pode vender pra eles, né?"

Assim, BEatMANIa virou Bemani, a coletanea em eterna expansão da Konami de jogos de ritmo construídos em torno de controles-gimmick. Como por exemplo GUITAR FREAKS, com seu controle proto-Guitar Hero. Ou DRUMMANIA, permitindo que os jogadores vivessem o sonho de ser o... hã... okay, eu sou uma negação em música e não conheço nenhum baterista famoso, mas esse aí que você pensou. E, claro, temos também a joia da coroa da franquia: DANCE DANCE REVOLUTION, um jogo tão icônico que mesmo se você nunca jogou, certamente já viu um no fundo do fliperama de um shopping ocupado por um adolescente tentando ascender a um plano superior de cardio.

Então, agora que estamos todos na mesma página sobre o que é a série Bemani, não é preciso ser um gênio para adivinhar o que é o KeyboardMania. Sério, eu acredito em você. 
Pensa (vai doer um pouco, mas eu sei que você consegue). 

domingo, 7 de dezembro de 2025

[#1614][Set/2000] SABAN'S POWER RANGERS: Lightspeed Rescue


Como você já deve ou não ter percebido a esse ponto, eu sou muito o que os cientistas chamam, usando um jargão estritamente técnico, de um weeaboo. E sempre fui — muito antes mesmo de descobrir que existia uma palavra especifica para "desenhos animados japoneses". Meus programas de TV favoritos quando criança eram os tokusatsu na falecida TV Manchete, especialmente Kyojuu Tokusou Juspion — ou "O Fantástico Jaspion", para os íntimos. E até hoje, mantenho que as lutas do Daileon estão entre as melhores batalhas de tokusatsu já coreografadas. Quer dizer, com que frequência você testemunha uma nave espacial se transformar num robô gigante só para dar um suplex em um kaiju, como se estivesse fazendo teste para o WrestleMania? Lembre disso para (o verdadeiro) Pacific Rim 2, Del Toro. De nada.

E claro que ajuda muito o Akira Kushida esmerilhando

Mas divago. Esse momento de nostalgia é relevante porque eu também cresci assistindo uma tonelada métrica de Super Sentai — sendo Choushinsei Flashman, o famoso "Comando Estelar" sendo meu favorito pessoal. E sinceramente, dá pra me culpar? Eles tinham armas únicas, trajes chamativos e, mais importante, um robô que usa a carreta de um caminhão-baú como armadura. Um caminhão. Como armadura. Isso aí é o ápice do encantamento infantil.

Eu sempre racho como o monstro olha pro tamanho da munalha do robozão e fica "Senhor, calma senhor, a gente pode conversar, também não precisa ser assim na violencia também, né..."

Então, quando eu assisti Power Rangers pela primeira vez em 1994, não foi exatamente uma experiencia chocante. Minha reação foi basicamente: "Ah, tá. É daqueles programas japoneses... mas trocaram o elenco não transformado por americanos porque os americanos são inseguros desse jeito". Na época eu usei uma expressão menos polida, temo dizer. Mas o ponto é que não ajudou em nada o fato de eu estar mergulhado — e quero dizer, numa profundidade nível Fossa das Marianas — na minha fase otaku hardcore, onde qualquer coisa que não fosse japonesa ia automaticamente para a lata de lixo do meu gosto refinado de dez anos.

Claro, eu nem era um pré-adolescente naquela época. Hoje, como um adulto plenamente funcional, amadureci imensamente. Agora eu acho que tudo é lixo, inclusive as coisas japonesas. É brincadeira. Sério. Não sou esse tipo de cara. Sinceramente, eu realmente tento ser positivo. Tento gostar das coisas, porque quanto mais coisas você gosta, mais coisas você tem que podem te fazer feliz. Certo? Então eu abordo tudo com a mente mais aberta possível —

— e mesmo assim, mesmo com uma mente mais aberta que a de um candidato à próxima reencarnação de Buda, ainda não consigo me forçar a gostar de Power Rangers.

Mas suponho que o dever chama, e ainda tenho que falar sobre isso. Então vamos ser rápidos.
Na verdade, não — 
Vamos fazer isso... na velocidade da luz.
Pegou o que eu fiz? Hein?
Hein?

sábado, 6 de dezembro de 2025

[#1613][Dez/1999] BOMBERMAN 64: The Second Attack!

"Bomberman 64: O Segundo Ataque" não é realmente o segundo ataque, considerando que esta é tecnicamente a terceira aventura estrelada pelo adorável terrorista favorito de todos no N64. Mas então, a Hudson Soft estava lançando tantos títulos de Bomberman naquela época que eu não posso culpá-los por perderem a conta e se esquecerem do BOMBERMAN HERO. Qualquer um que já jogou aquela coisa sabe que "esquecível" é seu nome do meio. Mas divago.

E já que estamos no tema de títulos enganosos, suponho que eu deva dizer que este também não é realmente Bomberman 64, porque não é a sequência dos sessenta e três jogos anteriores de Bomberman. Quer dizer... talvez seja? Eles ordenharam esse pobrezinho tão selvagemente que, na época em que o BOMBERMAN 64 original saiu, quele era o terceiro jogo do Bomberman lançado em menos de três meses. Se vacas produzissem jogos em vez de leite, a PETA teria uma conversinha com a Hudson. Enfim — onde eu estava? Certo. Mentiras. Enganação.