sexta-feira, 29 de maio de 2020

[AÇÃO GAMES 050] MEGA MAN 6 (Nintendinho, 1994) [#385]





E então esse dia chegou, e chegou mais cedo do que eu achava que viria: o último jogo do Mega Man no console da Nintendo.

Mega Man 3 é o jogo de Nintendinho que eu mais aluguei quando criança, e naturalmente o meu favorito. Claro, podia ser que eu odiasse esse jogo e alugasse ele porque meu ódio por Mega Homens é apenas menor que o ódio por mim mesmo, mas garanto que não é esse o caso. Posso garantir também que sou um recuperado de ouvir Radiohead. Mas sim, chegou o fim de uma era.

Se tem uma coisa que eu nunca fui muito fã na série, entretanto, são as capas japonesas dos jogos. Elas sempre tem esse formato de colocar todos os robos na capa, ficando uma coisa visualmente poluida.
 Realmente me surpreende que esse jogo tenha sido lançado no final de 93, achei que seria mais pra frente. Pensando sobre isso, suponho que é porque eu praticamente nunca ouvi falar dele mas isso é porque nessa época eu totalmente já tinha abandonado acompanhar qualquer coisa do NES. Já adianto que Mega Man 6 não é um jogo ruim (nenhum dos jogos do bombardeiro azul nos 8 bits é realmente ruim), mas sendo o sexto jogo da série ela exibe claros sinais de fadiga.

Talvez o maior exemplo disso seja que a Capcom sequer tentou colocar uma história aqui. Claro, não que Mega Man seja exatamente complexo em sua narrativa, mas pelo menos a Capcom sempre tentou alguma coisa. Aqui não, ocorreu um torneio de luta com os 8 robos mais fortes do mundo organizado pelo Dr. X. Para surpresa de ninguém, ele sequestrou os robos e os reprogramou para dominar o mundo. Como o jogo precisa de dois castelos vilanescos, mais tarde descobrimos que o Dr. X na verdade era ninguém menos que o Dr. Willy que se disfarçou por... hã... bem, o jogo precisa de outro castelo com mais quatro fases, eu suponho.

No Japão era comum haverem concursos para os fãs desenharem robos mestres para o próximo jogo do Mega Man. Yusuke Kurata, hoje desenhista de One Punch Man, começou sua carreira vencendo um desses concursos e desenhando o Crystal Man do Mega Man 4
Compare isso com Mega Man 3, por exemplo, onde ao invés de ter dois castelos de quatro fases na verdade você joga outra versão das fases anteriores com os chefes de Mega Man 2. Em Mega Man 5 você tem um castelo temático do Proto Man antes do Dr Willy. O meu ponto é que a Capcom realmente não colocou muito esforço aqui - o que é compreensível, já que em 94 o Nintendinho estava quase esquecido no Japão já.

Ao menos na parte que realmente importa para o bombardeiro azul as coisas estão melhores porque aqui a Capcom utilizou ideias que foram rejeitadas do jogo que eles realmente queriam fazer: Mega Man X, para o Super Nintendo. O doguinho robo favorito dos videogames, Rush, acabou não saindo no jogo do Super Nintendo e aqui estão as ideias que a Capcom tinha para o que fazer com ele: ao invés de ser um helper durante as fases, agora ele se transforma em uma armadura que dão habilidades ao Mega Homem.

Na América, para Mega Man 6 dois robos-mestres foram desenhados por leitores da Nintendo Power. O premio que eles receberam foi uma carta da Capcom, um relógio customizado com o personagem que eles criaram (um premio ... inusitado ... para uma criança) e o seu nome nos créditos do jogo. Daniel Valee teve seu nome escrito errado no jogo, o que deve ter tornado muito dificil ele usar isso para impressionar novinhas
Uma das armaduras modifica o ataque, transformando o ataque em corpo-a-corpo com a vantagem de ser mais forte - o que permite quebrar blocos e abrir caminhos alternativos. A outra armadura do Rush é a mais famosa, já que está na capa do jogo, que permite o Mega Man voar por alguns poucos segundos com propulsores. Em um jogo de plataforma, isso faz toda diferença do mundo - sendo que o preço disso é que o Mega Man não tem tiro concentrado enquanto está com a armadura voadora.

São modificações interessantes ao gameplay que justificam a existencia do jogo, e em um jogo que nunca é ruim realmente, bem isso funciona. Eu não diria que Mega Man 6 é um jogo espetacular, mas definitivamente é um okay+ redondinho. E, bem, agora que eu já expliquei o conceito geral do jogo, vamos ao que viemos realmente fazer aqui: falar dos novos 8 robos mestres.

Você acessa as armaduras do Rush através do menu, como as armas, mas o ruim é que você tem que ver essa animaçãozinha TODA vez

FLAME MAN



Quando eu me refiro a desgaste da franquia, é justamente esse tipo de coisa que eu estou me referindo. No primeiro Mega Man tinha um Fire Man, mas agora temos não um reaproveitamento do tema mas sim algo totalmente novo, o Flame Man! Que totalmente não é o Fire Man, não!

...

Veem o tipo de merda a qual eu estou me referindo?



A ideia central desse jogo é que os robos foram tirados de um torneio de luta, que é a regra numero um japonesa de encheção de linguiça: na dúvida, mete um torneio. Assim sendo, Flame Man é o representante do oriente médio e daí o seu turbante. Porque seu fogo vem do oleo, petroleo, oriente médio, entenderam? De qualquer forma, a fase é bem desenhada com vários poços de oleo que podem ser inflamados, o que é legal.

Vencer Flame Man dá o seu ataque, mas mais importante que isso vence-lo também dá a armadura que dá o ataque melee - importante para abrir passagens secretas, de modo que ele é uma boa escolha para começar o jogo.

BLIZZARD MAN



O Blizzard Man é o robo master tematico de neve em Mega Man 6. Como no caso do coleguinha anterior, nada que já não tenha sido feito antes em Mega Man 1 onde tem o Ice Man. Na ideia do tornio de luta, Blizzard Man é o representante canadense do jogo. Talvez por isso ele tenha um feito muito raro em um jogo de videogame: é uma fase de gelo que não é horrível de se jogar.

O segredo aqui é que ao invés de fazer uma fase onde o personagem escorrega e é uma putaria nojenta de se jogar, eles tiveram outra abordagem para representar que “o gelo escorrega”, a fase usa enfatiza o movimento de slide do Mega Man. Simples e elegante, passa a ideia e a fase não fica uma caca de se jogar. Classy.



E, como faz bastante sentido, a arma eficiente contra ele é o fogo do Flame Man.

PLANT MAN



E chegamos ao representante brasileiro amazonino, com muito orgulho, com muito amoooooorr!!! E para celebrar nosso represenante brasileiro em Mega Man 6, a fase dele se passa em nenhum outro lugar que senão ...

Forgotten Area. Olha só a Capcom criticando a falta de atenção que a região norte recebe no Brasil. Um tema inustitado para ser abordado em um jogo de plataforma japones, porém um não menos válido por conta disso. Infelizmente a brasilidade da fase é bastante desinteressante e não se passa no Teatro Amazonas, é só uma fase genérica de floresta sem nada único senão esses power ups colocados na flores aqui, que ficou bonitinho:



Plant Man é vulneravel contra o gelo do Blizzard Man, o que também faz sentido. E é aqui que você ganha a armadura voadora do Rush, então o Mega Man é patrocinado pela Embraer?

TOMAHAWK MAN


 Eu me perguntava como seria o representante norte-americano do jogo, já que existem muitas coisas que dá para fazer com um robo representando os US and A. Um robo indio não é algo que eu diria como inesperado. A fase do Cyber Pele Vermelha se passa em uma reserva indigena, com direitos a robos pistoleiros do velho oeste... por um minuto, então o jogo entra em uma base subterranea generica. Sexto jogo da série, né?



Bom, pelo menos a fase não se passa na instituição americana mais famosa mundialmente: um school shooting. Podia ser pior.

Tomahawk Man é fraco contra as plantas do Plant Man porque... indios e natureza, eu acho...?

YAMATO MAN



De posse da arma norte americana conseguida com Tomahawk Man, qual o robo mais apropriado para usar o poder do Tio Sam? Sanatori, quem é fraco contra os USA senão ninguém menos que o Japão? Hmm, me pergunto da onde eles tiveram essa ideia...



Se o visual de samurai não te deu a deixa, o nome baseado no mais famoso porta-aviões japones na segunda guerra deveria dar a deixa. Eis um jogo de declarações politicas-históricas ousadas, não? A fase se passa em um castelo japonês. O que é igual a todas as outras fases, só que com aquelas janelas de papel japonesas.

KNIGHT MAN



O representante Britanico no jogo é o primeiro chefe de Mega Man não desenhado por um japonês, foi desenhado por um canadense em um concurso que teve na época. O bom e velho cavaleiro medieval, algo que nunca teve na série até então. De fato um cenário medieval é algo tão diferente que a fase dele foi escolhida como capa do jogo, porque se um Mega Man medieval não chamar sua atenção, nada mais chamará. Isso considerando um mundo nonsense onde uma capa com uma cybermaidcatloli não é uma possibilidade, isso é.


A luta contra o Knight Man foi bem estranha, porque eu fiquei esperando uma abertura no escudo dele para atacar. Só que o escudo dele é puramente cenográfico, dá pra atacar ele normalmente. Como um cavaleiro, ele é fraco contra a lança que você ganhou do robô japonês anterior porque lanceiros vencem infantaria. Ok, até aqui parece kinda intuitivo...

CENTAUR MAN



Homem Centauro é o representante grego no jogo, e sua fase se passa no equivalente megamanico de Atlantida - talvez o mais famoso mito grego logo depois das 12 casa do zodiáco. Ok, essa é a justificava mais elaborada que eu já vi para fazer uma fase da agua em um jogo, mas eu meio que consigo entender a lógica disso.



Centauroman é fraco contra a arma pega do cavaleiro porque... cavaleiros usam espadas, heróis usam espadas para derrotar criaturas mitologicas... eu acho? Hem?

WIND MAN



Em um jogo que não se furta a comentários políticos abrasivos (o descaso com a zona norte do Brasil, a submissão japonesa aos Estados Unidos no pós guerra), claro que não poderia faltar a maior polemica da geopolitica atual: um mestre robo Tibetano, obviamente. A treta a respeito da independencia do Tibet da China é tão grande que originalmente o Ancião que treinou o Doutor Estranho é um monge tibetano, mas para o filme não ser censurado na China (e perder o maior mercado do mundo) ele foi alterado para uma mulher branca inglesa.


Mas a Disney não tem a fibra moral da Capcom, que colocou um robô tibetano que tem haver com o ar ... porque... montanhas ... tem vento? Eu não sei, na real eles só queriam reaproveitar as ideias do Air Man do Mega Man 2. E ele é fraco contra o poder de parar o tempo do Centaur Man porque... err... veja, porque o Tempo ... e o Vento ... e a Capcom é fã de Erico Verissimo?

Olha, gente, é o 48o chefe da série até esse ponto, é o último chefe desenhado do jogo então o argumento da Capcom é basicamente "I'm gonna need you to get all the way off my back".



No fim das contas, Mega Man 6 é um paradoxo dos videogames.

A última interação do Mega Man no console no qual ele nasceu deveria ser um grande evento histórico, e no entanto é uma nota de rodapé que pouca gente jogou. Mega Man 6 foi feito três anos após o lançamento do Super Nintendo, e por isso um jogo que quase não chegou aos Estados Unidos. Com a geração de 16 bits em andamento, a Capcom não achava que valia o trabalho de lançar o jogo fora do Japão. No fim das contas, a própria Nintendo assumiu o trabalho de fazer a distribuição no ocidente



O que não é uma coisa ruim porque Mega Man até este ponto nunca foi ruim, mas por outro lado jogando esse jogo é bem claro que a inspiração da Capcom para esses jogos - que antes parecia interminável ​​- já tinha secado. Mega Man 6 não é tão criativo quanto 2 ou 3 e não é tão refinado quanto 4 ou 5. É verdade que este jogo tem alguns dos chefes menos interessantes da série e, de fato, alguns de seus ataques são mesmo reciclados de títulos anteriores.

Mas Mega Man 6 ainda oferece excelentes plataformas, ação satisfatória e até algumas novas adições como as armaduras do Rush. Por outro lado, já estamos em 1994. Ano de Donkey Kong Country. Ano de Super Metroid. Mais importante, foi o ano do Mega Man X. Então o meu ponto é que não importa muito o quão espetacular Mega Man 6 fosse, mesmo que fosse o melhor da série até então não fazia mais diferença a essa altura.

O que não é o caso dele ser o melhor, como eu já argumentei aqui. Mega Man 6 não é Mega Man 2. Na verdade, nem é Mega Man 5. Mas é um Mega Man old school em 8 bits. E até onde o Nintendinho vai, não fica muito melhor que isso realmente. Afinal, como já dizia a propaganda do Mega Man 3:



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