A primeira coisa que me passou pela cabeça quando vi esse jogo foi: "Tudo bem, eu preciso imediatamente jogar no Ex-Mutants no Google e ler sobre quem tomou processinho tentando fazer uma paródia de X-Me" só de zoeira, apenas para descobrir que, de fato, Ex-Mutants é uma paródia de X-Men de verdade. Mais ou menos.
Mais precisamente, esse jogo é baseado em quadrinhos reais que tentaram surfar na onda dos filhos do átomo ao mesmo tempo que fazer piada com a situação. Eu nunca tinha ouvido de Ex-Mutants antes de pegar essa Ação Games, mas definitivamente foi algo que existiu.
Ex-Mutants foi criado por David Lawrence e arte de Ron Lim (que posteriormente trabalhou na Marvel e foi o desenhista das seis edições da Guerra Infinita). Enfim, no final dos anos 80 os X-Men era (junto com o Homem-Aranha) a propriedade mais valiosa da Marvel, fato que era explorado ao máximo pela equipe de Stan Lee: foi o grande boom das subequipes de mutantes. Quer dizer, tinham os X-Men comandados pelo professor Xavier e em campo (sabe-se lá deus pq) pelo Ciclope, mas também tinham dezenas de histórias e até mesmo revistas dedicadas a mutantes menos famosos.
Tinham os Novos Mutantes (que deve ganhar um filme de terror 2020, btw), a Geração X, os "Novos X-Men", e os "Jovens X-Men". Tinha também o X-Factor, que basicamente são mutantes que trabalham para o governo e caçam mutantes não legalizados, a X-Force (um grupo de mutantes reunidos pelo Cable para fazer com que os outros mutantes se comportassem e evitasse o futuro apocaliptico do qual ele veio acontecesse... e que de alguma forma depois se tornou liderada pelo Deadpool), a X-Statix (um grupo de mutantes que eram super-heróis comercial da palavra: eram queridinhos da midia, usavam roupas coloridas e tinham agentes para lidar com toda sua fama, iate e cem mil dolares), a Excalibur (a versão britanica dos X-Men), a Alpha Flight (a versão canadense dos X-Men) e a lista segue.
Então David e Ron perceberam que havia espaço sim para mais um grupo de mutantes, pq não? Nascia assim os Ex-Mutants. Mas o que são os Ex-Mutants?
Bem, quando eu era criança eu costumava dizer que os X-Men eram um grupo de transexuais porque eles eram ex-homens. Com palavras menos polidas do que essas, os anos 90 não foram uma época legal, gente. Sério, não foi. Bem, Ex-Mutants é uma piada nesse sentido: eles são literalmente ex-mutantes.
Em um futuro apocalíptico, a humanidade foi pro vinagre e as guerras aliadas a um consumo excessivo de batatinhas Lays tornaram os humanos em mutantes. Não mutantes legais e cools como o Gambit ou o Geraldo da Rivia, mas mutantes no sentido mundo real da palavra.
Então um mutante cientista decidiu que tava bom de todo ser nojento e feio e decidiu trabalhar em uma forma em fazer as pessoas voltarem a serem humanos novamentes. Assim ele pegou 5 mutantes novinhos e os transformou em ex-mutantes!
Claro que como essa série foi escrita foi nerds solitários, os cinco ex-mutantes são um cara aleatório manezão e quatro cocotinhas, porque tudo fica melhor com o elenco de um anime de harém, eu te digo! Tudo!
Para surpresa de zero pessoas, Ex-Mutants não foi exatamente um sucesso de critica e rodaram por pelo menos três editoras diferentes em dez edições. Só que esses contratos foram escritos em guardanapos da JK Rowling e no fim todo mundo acabou na justiça para saber a quem pertencia essa porcaria.
O resultado é que os criadores fizeram as contas, perceberam que não valia a pena pagar o processo e deixaram a coisa enterrada mesmo. Fim da história.
Ou seria isso, não fosse o fato que nos anos 90 a Malibu Comics adquiriu as editoras envolvidas, e sendo tudo dela, ela tinha certeza que poderia voltar a publicar Ex-Mutants sem tomar um processinho de si mesma. Agora, você pode se perguntar, que interesse uma editora mediana (o maior sucesso da Malibu Comics foram os quadrinhos dos Homens de Preto, que alguns anos mais tarde seriam adaptados como filme) teria em um quadrinho da decada passada que nunca fez tanto sucesso assim?
Essa é uma pergunta muito válida, e uma que já é respondida logo na primeira página da primeira edição da versão reformulada dos novos Ex-Mutants:
E por primeira página, eu quero dizer literalmente: no verso da capa da primeira edição tem essa propaganda do jogo de Mega Drive. Sim, Ex-Mutants foi revivido exclusivamente para ser um joguinho licenciado e fazer uma grana rápida em todos que queriam um jogo de X-Men (que até o momento de produção deste game, não havia nenhum) sem ter que pagar um centavo para a Marvel.
A versão reformulada dos anos 90 tem algumas alterações, sendo a mais notavel é que agora a série não é mais um harémzão da massa sim uma equipe composta por três mulheres, dois caras e o obrigatório menino mala do grupo.
Hãn... okay...
Outra diferença é que o cientista que transformou os trubufus mutantes em humanos saradões agora é um robo, que gastou suas ultimas energias no processo e agora está morrendo por falta de bateria - então as aventuras de nossos heróis envolvem saquear o império do mal do senhor de tudo que é ruim SLUGGO (que, sim, parece uma lesma) para manter seu mentor vivo afim de que ele trabalhe numa cura para transformar todo o mundo de volta em humanos.
Você pode argumentar que "não ser um cancer gigante" dificilmente seria um poder adequado para combater o mal, mas essa é a mensagem aqui: todos nós somos heróis. Exceto aquelas crianças do cancer infantil, aqueles já eram.
Um fato curioso é que eventualmente a Malibu Comics foi comprada pela Marvel, o que significa que hoje todos os peladões acima são personagens da Disney. Não que eles possivelmente serão usados algum dia, mas apenas para saber como TUDO pertence a Disney de uma forma ou outra hoje em dia.
Mas agora que você sabe quem são os ex-mutantes, vamos ver o motivo sob o qual eles foram revividos: o joguim de Mega Drive.
A primeira coisa que chama atenção nesse jogo é, bem, o quanto ele NÃO chama atenção. Os gráficos são borderline jogo do Amiga, e a paleta de cores do Mega Drive ser capaz de gerar menos cores do que eu já comi de craions na vida não ajuda muito a não fazer o jogo parecer, bem, chato.
Os dois personagens que você pode escolher, Shanon e Akroyd (sim, o líder dos Ex-Mutants se chama Akroyd... e depois se perguntam pq isso não decolou) são visualmente desinteressantes de se olhar e a coisa toda dá sono. Ackroyd é só um cara musculoso em um casaco marrom com uma cabeça pequena e Shannon parece ter a constituição de uma ginasta de 14 anos sem rosto.
Eu não quero parecer muito exigente com um jogo de 1993, mas pelo amor de Deus, pelo menos CINCO anos antes este sprite de 8 bits já tinha mais personalidade do que esses dois pedaços de barro mal animados e de cores opacas!
E se os gráficos parecem sem graça, a animação do jogo é hedionda! Novamente, eu tento não implicar muito com gráficos de jogos antigos, mas puta merda, os inimigos mal têm quadros de animação, parece que você está batendo contra bonequinhos que encalharam nas lojas até que eles decidem cair para fora da tela!
Como os inimigos não se mexem muito, eles o ataque deles genericamente consiste em disparar bolas de ... bem, honestamente eu não sei o que estão atirando em você. E não acho que eu queira saber.
Eu já vi hentão suficiente pra saber como isso termina |
E se os gráficos não são lá essas coisas, o som... olha, eu não vou medir palavras: este é o jogo de Mega Drive com o pior som que já joguei. A qualidade do som do Mega Drive costuma ser pifia comparada com a do Super Nintendo, mas você sempre pode confiar no Mega Drive para produzir efeitos sonoros de latão que podem ser bem utilizadas em algumas situações... não neste caso. A trilha sonora de Ex-Mutants é composta basicamente por barulhos de peido e um sintetizador Casio de 1983 que teve a laringe cortada com um canivete enferrujado!
Se seus ouvidos pudessem vomitar, eles o fariam. Provavelmente eles o fizeram. Eu mal consigo entender os comentários espirituosos anos 90 que eles proferem, e todos os inimigos, tanto faz se você está atingindo uma torre, uma cabeça de leão ou uma bolha pulsante de parede, emitem o mesmo "Uergh !!" e "Uagh !!" que parece uma versão de Capitão America and the Avengers com 1/100 do orçamento.
O level design se divide entre fases de ir pra direita e não precisar pular (um primo bem pobre de Altered Beast, que já não é grande coisa) a fases labirinticas. Pior ainda que não bastasse ter que achar a saída da fase, você tem que achar baterias para manter o seu mentor ligado. Porque claro né, como tornar uma fase labirintica mais divertida? Faça você ter que achar não uma mas DUAS coisas. Fun, yay!
O pior é que as porcarias das baterias que o robo lesado precisa são pequenas, então é um saco ter que achar isso!
Outro aspecto frustrante é que os Ex-Mutantes não têm invulnerabilidade temporária quando são atingidos! Isso é essencial para tirar a sua bacurinha de roubadas! Em vez disso, um grupo de inimigos pode encostar em você e drenar toda sua vida e não tem nada que você possa fazer para se salvar!
Ex-Mutants certamente não possui um grau de polimento e talento que tornam esses estilos de jogos memoráveis, mas está longe de ser horrível. É bem mediano. Não se destaca em nada, nada soa impressionante (exceto um inimigo chamado “Beefcake”), mas faz o suficiente para torná-lo... jogavel. E ei, se você era fã de quadrinhos, esse é um que você vai poder se gabar para seus amigos quadrinhofilos pela obscuridade. Enfim, mesmo em um console como o Mega Drive tem jogos melhores mesmo se você quiser algo baseado em quadrinhos, como Vector Man, Comix Zone, ou Adventures of Batman & Robin. Ex-Mutantes é daqueles jogos que você já esqueceu antes de terminar de assistir os créditos finais.