sábado, 2 de maio de 2020

[AÇÃO GAMES 031] R.C. PRO-AM II (Nintendinho, 1993) [#365]

 
 

Lançado para o Nintendinho em 11 de dezembro de 1992, R.C. Pro Am II é talvez o jogo de NES mais ambicioso que eu já vi até esta data. O que também não quer dizer tanto assim, já que os jogos de corrida do Nintendinho tendem a ser uma bosta mesmo. 

Mas sim, a Rare fez o que foi possível para entregar o melhor jogo de corrida já feito para 8 bits, e eu realmente acredito que eles chegaram muito perto de entregar uma obra prima - não fosse por um único detalhe. O quão perto e que detalhe é esse, é algo que veremos a seguir.


Em primeiro lugar tem que ser dito que RCPA2 é um jogo enorme para os padrões do Nintendinho. São 33 pistas, cada qual suas próprias configurações de rampas e perigos - como um avião que decide bombardear a pista apenas porque ele é muito cuzão. O jogo tem mais ou menos a duração que Micromachines (o outro jogo de corrida bom para o NES), mas não tem como não levar em conta que enquanto no jogo não licenciado da Codemasters a visão é de cima, RCPA2 tem a visão isométrica e as rampas e descidas da pista interferem muito na sua corrida. Você pode estar vindo a milhão e saltar numa rampa para ser jogado fora da pista, ou voar como uma águia voltando de Mordor apenas para cair na frente do seu oponente porque foda-se ele, águias ruleiam!

Uiiiiiiiii !!!
Uma coisa que Micromachines não faz, entretanto,  e que na verdade quase nenhum jogo de Nintendinho faz, é que você pode chamar quatro parças (sim, e jogar de cinco pessoas né sua anta?) três parças e jogar multiplayer. Poucos jogos foram lançados fazendo uso do multitap de Nintendinho, e menos ainda jogos bons (sendo este e Bomberman, que eu lembro de cabeça agora). Então ter uma opção para jogar com outros quatro três  bros realmente é um plus a mais que poucos jogos na oitobitagem podem se orgulhar.

Jogar com 4 jogadores é muito divertido, mas necessariamente precisa de três amigos ou gatos altamente treinados. Coisa que muitos de nós (ou eu, mais especificamente) não tinha acesso durante a infancia.
Alias mesmo com 4 jogadores a velocidade do jogo não desacelera ou dá flickering, o que tecnicamente é muito impressionante para o  hardware que estamos falando.

Mas eu sei o que você está pensando, que jogo pode ser realmente divertido entre quatro coleguinhas se não houverem as devidas ferramentasa de sacaneação da colegagem? Ora, nada tema, meu treteiro amigo! 

Pois a Rare previu seus temores e nisso você está coberto. RCAP2 ... acho que errei a sigla mas não vou voltar para olhar agora ... é o precessor espiritual de Rock'n Roll Racing (caso você não tenha percebido ainda, as semelhanças são meio obvias) e tem todos os apetrechos de sacaneação que você pode sonhar em suas fantasias mais loucas. Estou falando de oleo na pista, estou falando de misseis, estou falando de minas terrestres, estou falando de tiros que invertem os controles do coleguinha, estou falando de tiros que fazem os outros carros droparem o dinheiro deles!



Como você pode ver, RADOUKEN2 tem até mesmo mais ferramentos de tretagem que Rock'n Roll Racing, tudo a serviço de semear a discórdia e a inimizade como Jesus queria que fosse. Infelizmente o NES tem um sério problema de falta de botões, então não existe realmente uma forma de selecionar qual ferramenta de treta você está utilizando. Apenas aperte e torça pelo pior para os outros.

Infelizmente² mais ainda, o mesmo botão também é utilizado para o nitro - então você não tem como escolher quando usar o nitro e quando disparar um missil. Infelizmente³ a vingança, o jogo sequer tem um mostrador para mostrar sua munição e recursos, isso é uma coisa lame realmente.

Falando em armas, isso não é a única coisa que você pode upgradear em seu carro: com o dinheiro coletado na pista você pode upgradear seu motor ou pneus, e é possível também trocar de carro mas interessantemente isso não é feito com dinheiro. Existem letras para coletar na pista (assim como munição e dinheiro, sempre tem algo legal para se pegar na pista) e se ao longo das várias corridas voce coletar as letras que formam a palavra RC Pro Am II seu carro mega digivolve para outro carrinho de controle remoto mais possante


Você pode estar pensando que esse jogo parece realmente delicinha de se jogar, ainda mais se considerarmos que não existem muitos jogos de corrida no Nintendinho. Só que aí começa o grande problema do jogo, que é justamente o motivo de não haverem muitos jogos de corrida no NES.

Acontece que, obviamente, o Nintendinho não tem muita memória e mal dá conta de lidar com todas as coisas que aparecem na tela, quanto mais gerenciar coisas fora da tela. Só que em um jogo de corrida, mais do que qualquer outro, você precisa continuar computando a movimentação dos personagens - em que posição da pista ele está, a que velocidade, se ele cometeu erros.

Em um jogo de futebol, por exemplo, o NES pode apenas saber que o jogador de defesa fica por no quadrante 36A do campo e ele ativa quando o player chega com a bola perto dele. Não precisa fazer muito calculo. Em uma corrida, você precisa calcular o que acontece na pista o tempo todo - mesmo o que está fora da tela - e o NES simplesmente não aguenta isso.


Mas então como RCPRONATEC 2 (e Micromachines) fazem? Eles usam um expediente que é chamado de "rubberband effect". Quando um carro é ultrapassado e sai para fora da tela, o jogo não continua calculando a posição e o comportamento dele. O que o jogo faz é estilinga-lo de volta para a pista, como se tivesse um elástico de borracha na borda da tela.

Isso quer dizer que, por melhor que você seja, você nunca consegue realmente abrir vantagem para o computador porque todo mundo que você ultrapassa eventualmente recebe um boost do jogo para voltar para a tela e é desnecessário dizer o quanto isso torna o jogo frustrante e dificil.

REALMENTE frustrante e REALMENTE dificil, e isso é realmente uma grande pena que diminui a diversão do jogo.  Eu não vejo como esse problema poderia ser resolvido - e aparentemente ninguém, já que os 8 bits terminaram sem resolver esse problema - então suponho que algumas coisas apenas não nasceram para ser.