quinta-feira, 14 de maio de 2020

[AÇÃO GAMES 032] PAPERBOY 2 (SNES e Mega Drive, 1993)[#371]

 
 

Ok, Hollywood, preste atenção e preste bem: nos próximos instantes eu vou te dar um bilhão de dolares absolutamente de graça. Interessada? Bem, deveria. E como eu vou fazer isso? Bastante simples, vou lhes dizer qual é o videogame perfeito para ser adaptado como filme e, melhor ainda, uma que vai sair quase de graça pois ninguém hoje dá a minima para este jogo hoje.

Ou seja, vocês querem um novo Guardiões da Galaxia, fazendo um sucesso estrondoso com uma marca que as pessoas não parariam para mijar em cima se estivesse pegando fogo? Então façam um filme de Paperboy. Não, sério, eu não estou brincando.


Paperboy é um arcade criado pela Atari em 1985 com  uma ideia assaz simples: você é um entregador de jornais (o que voce jamais imaginaria pelo nome do jogo) e precisa entregar jornais na sua bicicleta arremessando eles na caixinha de correio ou no capacho da porta. Muitos de vocês jovens não devem fazer ideia do que é um jornal, então recomendo que postem essa pergunta no canal do Felipe Neto.

Enfim, é isso o jogo. Você anda com sua bicicletinha, atira jornais para a direita e para esquerda, as pessoas recebem sua dose diária de pessimismo e noticias que não farão a menor diferença para elas (duvido você me dizer UMA utilidade de saber qual o nome do presidente). Para dar uma apimentada nas coisas a Atari fez o arcade ser controlado com um guidão de bicicleta, e foi o que aconteceu.


Seis anos depois a Atari (agora reencarnada como Tengen) decidiu tirar mais leite dessa vaca e lançou uma continuação para os consoles domésticos da época. Sai a coisa de controlar sua possante com guidão, entra a oportunidade de jogar com uma Papergirl.

Porque uma garota de 10 anos estaria entregando jornais de bicicleta ao invés de apenas ganhar coisas de graças de homens com o número adequado de cartões de crédito é algo que eu jamais entenderei, entretanto
Todos comigo até aqui? Ótimo. Então, você pode estar se perguntando como, exatamente, isso daria um grande filme Hollywoodiano? Não parece a coisa mais emocionante do mundo... até você começar a reparar no contexto.


Existem 9999 ruas neste jogo, e seu objetivo em qualquer uma delas é joga-la para fazer o máximo de pontos que puder - porque esse jogo ainda é basicamente um arcade só que sem comer fichas agora. O grande pulo do gato é que existem formas de maximizar sua pontuação.

Nem todas as casas da rua são assinantes do jornal. Se você atirar um jornal errado e quebrar uma janela de um assinante,você perde a assinatura dele para a próxima run nessa rua. Mas e como você ganha assinantes? Bastante simples: quebre as janelas de quem não é assinante, isso vai ensinar uma lição a estes não-inscritos de uma figa!

Agora, vamos pensar como isso funciona... estamos em um mundo dominado pelas grandes midias, onde ela literalmente age como uma máfia fazendo as pessoas assinarem seu jornal, senão... não apenas isso por si só já daria um grande filme do Martin Scorcese.

Vai atirar pneu na tua mãe pra ver se quica!

Porém não é apenas um mundo dominado pelas máfias da imprensa onde as pessoas não tem escolha se quiserem ter janelas, mas ele se passa durante as terríveis guerras suburbanas! Uma história de máfia durante a guerra!

Porque, como o jogo de simulador de entrega da Segunda Guerra Mundial Suburbana que estamos revendo esta semana nos mostra, poucos meninos e meninas vivem mais de alguns dias nesse emprego. A maioria deles morre na bicicleta, morta por uma das inúmeras ameaças violentas escondidas no coração feroz e cruel de um quarteirão residencial comum.

Tudo nessa rua quer o seu sangue. Dos perigos normais de uma vizinhança, como... você sabe ...

 

... desde fantasmas e gárgulas que disparam a laser, até os perigos mundanos do ciclismo em geral, como colidir com uma cerca ou ser atropelado por um Monster Truck:


Não é incomum que o adolescente que entrega jornal acabe perdendo todas as suas 5 vidas no primeiro dia de trabalho! (Especialmente se você não jogar muito bem). Mas que efeito essa guerra pelo espaço urbano tem sobre adolescentes americanos, que entregam jornais de bicicleta? Será que ver os horrores da rua em primeira mão terá impacto em como estes jovens lutam de volta?

É isso mesmo, eles se tornam delinquentes juvenis violentos!

Nenhum passeio tipico de bike realmente está completo sem uma mão de monstro saindo do esgoto para te pegar ou trigêmeas creepy reencenando aquela cena de "O Iluminado"
 Nenhum vizinho está a salvo dos mísseis de papel lançados por essas máquinas de destruição movidas a pedais!

Digamos que eles se deparam com alguém cidadão honesto, trabalhando diligentemente sob seu automóvel terrivelmente rosa! O que um entregador de jornal deve fazer? Só há uma resposta correta!


E essa resposta é "acertar o macaco com um jornal e esmagar o pobre Sr. Johnson embaixo do chassi de seu próprio automóvel", pois tal é a mente distorcida desses criminosos de jornal sem remorsos!

Certamente, porém, eles devem respeitar a idade - por exemplo, um casal de idosos balançando no balanço da varanda de sua casa acessível a deficientes?


Como as crianças dizem hoje, "dá no pé, Jacaré!". Ou eu acho que é isso que os jovens falam, enfim. O ponto é que um jornal cuidadosamente mirado e suas mais recentes vítimas geriátricas estão lançando seus sapatos ortopédicos no ar, agarrando-se por suas vidas a beira do balanço da varanda, olhando horrorizados a queda de meio metro de altura que sem dúvida poderia quebrar um quadril!

Sim, desde jogadores de basquete a homens com chapéus de chef, assando leitões inteiros em um churrasco no quintal, ninguém está a salvo de nossos entregadores enlouquecidos!


Mas serão nossos meninos e meninas do jornal são maus além da redenção?

Bem, às vezes nossos anti-heróis fazem algo de bom, como impedir um assalto à mão armada do "PB MARKET" (possivelmente um mercadinho especializado em prateleiras cheias de nada senão jarra após jarra de manteiga de amendoim), ou ocasionalmente dão uma jornalzada em um carrinho de bebê partindo em disparada, o detendo no processo (e possivelmente matando a criança com uma jornalada de um jornal que derruba macacos de carro, mas pelo menos o carrinho não será prejuízo)



Claro, alguém poderia argumentar que esses são atos de bondade "acidentais". Afinal, se você der uma arma a um macaco cego, surdo e louco e o largar na Alemanha dos anos 40, ele sem dúvida mataria alguns nazistas, mesmo que por acidente. Além disso, você teria (evidentemente) criado uma máquina do tempo que funciona apenas com primatas portadores de limitações sensoriais, ou então você teria escolhido um dos candidatos menos adequados para viagens no tempo na história, e deveria ter vergonha de si mesmo .

A pergunta que realmente importa é: será o nosso paperboy (girl) bom, mau ou apenas um produto dos horrores que ele testemunhou na rua? Essa é a questão fundamental do jogo, e exatamente por isso esse jogo seria um grande filme! Questões humanas existenciais profundas e molhar mulheres tomando banho de sol, o que há para não gostar?



Olha, estou começando a entender por que o Daily Sun tem que usar táticas de Mafia para conseguir assinantes. Sua primeira página parece reservada para relatar as façanhas da SUA PRÓPRIA EQUIPE DE ENTREGA!

Sabe, se colidir com cercas, ser mutilado por veículos a motor ou a mão tateante do monstro do esgoto não acabar com o seu reino de terror, indubitavelmente o desinteresse do leitor é o que realmente matará o pobre Daily Sun e terminará de uma vez por todas por toda a estranha relação simbiótica entre o jornal, o policial obeso mórbido e a ousada, porém psicótica, entregadora (ou garoto) de jornal que voava muito perto do sol com asas de papel.

Falando sério um pouco agora, Paperboy 2 é um jogo absurdamente simples (é essencialmente um arcade dos anos 80), porém que consegue se manter mais interessantedo do que seria esperado com as várias formas de sacanear a vizinhança, além de todas as coisas bizarras que a rua joga contra você. É legal também que o jogo reservou um espaço para representar algumas das suas conquistas (ou fracassos) na capa do jornal do dia seguinte


Porque quando há uma luta nas ruas, as ruas sempre vencem.