terça-feira, 2 de junho de 2020

[AÇÃO GAMES 051] CLIFFHANGER (SNES, Sega CD, Nintendinho, 1994) [#389]




Se eu te pedisse para, nesse exato momento, fechar os olhos e descrever um filme dos anos 90 você provavelmente descreveria Cliffhanger mesmo sem nunca ter visto o filme. Um astro de ação da decada famoso por ser machão pra caralho, ação ridicula de tão over the top, vilões maus como pica paus, tantos dialogos bregas que você até acha que está assistindo uma paródia, todos os dramas executados da forma mais cafona que você pode imaginar... ou seja, boa diversão.

Pra ter uma ideia do quão tacky é a coisa, aqui Stalonne trabalha numa equipe de resgate nas montanhas e logo na primeira cena do filme ele perde alguém que ele deveria resgatar (com direito a mulher caindo no penhasco em camera lenta e tudo)... que por acaso era a noiva do seu melhor amigo. 

ADRIAAAAAANNNNNN NOOOOOOOOOOO!!!!!
Agora alguns meses depois ele é um homem atormentado por ter falhado em proteger uma vida, mas é chamado de volta a ação quando um grupo de terroristas tenta roubar um carregamento aereo de notas de 1000 dolares (mas oi?) e o avião cai nas montanhas que ele trabalhava. Os bandidos fazem então a equipe de resgate como refem enquanto Sly tem que recuperar as malas de dinheiro que se perderam nas montanhas para eles.

É um filme bem ridificulo e repleto de cenas que você pensa "uau, isso é muito anos 90", mas também é divertido. As cenas de ação realmente são bem feitas, e se ele não foi filmado em precipicios reais ao menos engana muito bem. Adicionalmente tem o Michael Rourke fazendo dupla com o Stalonne, então não tem como realmente dar errado.

Para ser 10/10 só faltou ele dizer que era a Mary Poppins
Se você for ver, o filme é basicamente Die Hard só que em penhascos. Com efeito, eu descobri que eu não sou o único que se sentiu assim vendo esse filme e que na verdade tem uma subgenero de filmes chamados de "Die Hard Scenario". 

Os bandidos assumiram algum local ou veículo, geralmente mantendo vários reféns e quase sempre em um espaço fechado ou local inacessível, mas, sem o conhecimento dos vilões, o herói está se escondendo debaixo do nariz deles deles, planejando sua derrubada. Pelo menos um refém será um membro da família do herói e outro será executado ao tentar negociar com os vilões.



Como eu disse, esse filme acaba sendo melhor do que ele tem o direito de ser. O que é uma expressão estranha, mas enfim. Agora, sabe o que não pode faltar associado a um grande blockbuster dos anos 90? Um não menos igualmente grande jogo merda para 16 bits, é claro! Quer dizer, chamar esse jogo de merda é uma severa ofensa a todas as merda que já foram defecadas até hoje, então eu me desculpo antecipadamente com todos os churrilhões lendo isso.

Vamos lá: Cliffhanger é um filme sobre Stalonne escalando montanhas congeladas só de camisa, usando nada senão suas mãos e o poder da sua macheza dos anos 90. Qual a melhor forma de adaptar isso para um jogo? Talvez um jogo de plataforma com elementos de escalada, ao estilo Ninja(s) Gaiden (há!) ?

A esquerda, uma pessoa normal jogando Cards Against Humanity. A direita, eu
É, eles poderiam ter feito isso. Faria sentido. Mas porque fazer algo que faz sentido quando você pode apenas fazer o pior beat'm up de todos os tempos? Não parece algo que você preferiria fazer?

Bem, definitivamente foi a escolha que a Malibu Interactive (do não menos sofrível Dinosaurs for Hire) fez aqui.

Na cara não pra não estragar o velório, seu Silvestre

A primeira coisa que você vai notar a respeito desse jogo é que ele tem os PIORES controles da história dos beat'm ups. Não é APENAS que tem um lag entre você apertar o botão e o Stalone na tela responder, demora tanto que você acaba instintivamente fazendo força no controle para esse saco de estrupice se mexer. O resultado é que você sai com as mãos fisicamente esgotadas. 

Sem mentira, eu nunca tinha jogado um jogo que deixa você cansado de tão ruim que ele é! Isso é uma coisa inédita, são novos patamares na ruindade videogamistica! A NASA tem que deixar os brasileiros de lado e estudar esses caras, porque estamos atingido niveis de ruindade que não pareciam ser fisicamente possiveis!!!

Como é que isso funciona mesmo?

E seu personagem ser uma abominação no espaço-tempo de controlar é piorado pelo fato que a estratégia padrão dos inimigos é te cercar e gangbanguear o Sylvestrinho até não poder mais. Sério, o jogo inteiro tem dois ou mais mamelucos fazendo a dança do maxixe com você sem o bonus que você não ganha nenhum sanduíche.

VOCÊ SABE QUE ESSA MÚSICA NÃO É SOBRE LITERALMENTE FAZER UM SANDUÍCHE, NÃO É?

Por que você vive em função de destruir  meus sonhos, Jorge?

Enfim, esse jogo é basicamente o equivalente videogamistico de ter paralisia do sono, um beat'm up que não é recomendado para pessoas claustrofóbicas é algo que eu nunca tinha experimentado antes. Sério, esse jogo é tão ruim de formas tão inovadoras que eu realmente ficaria surpreendido de uma forma até positiva... se eu não tivesse tido que jogar isso...



Tirando essas inovações impressionantes em como fazer um jogo bosta, a Malibu Interactive também entrega todo o checklist tradicional de como estragar o dia de alguém. A chamar a detecção de acerto de "aleatória" é uma ofensa ao gerador de improbabilidade do Douglas Addams, seus chutes e socos tem o alcance menor que o PIB do burgundi porém essa característica não é compartilhada pelos inimigos: eles alcançam bem mais longe do que os seus bracinhos curtinhos de Stallone tiranossauro.

E se voce disser que entendeu como a decisão de prioridade (quando voce e o inimigo se atacam ao mesmo tempo, como o jogo decide quem vai levar o dano) funciona então eu sou legalmente obrigado a te chamar de mentiroso. Voce sabe, all the good stuff.

Mas então voce pode estar pensando: "espera, mas isso não pode estar certo". De fato, não está. Tem muita coisa errada nesse jogo. "Quer dizer, esse é um jogo de Cliffhanger e voce não pula e nem escala coisas? Quer dizer, esse é o defining trait do filme!".



Então... parece que alguém na Malibu Interactive também pensou isso (foi voce, não foi Jorge?) e entre as partes de beat'm up o jogo usa seus controles QUE CONFIGURAM CRIME DE ÓDIO para voce pular em toras decendo o rio, escalar paredes enquanto bandidos atiram ou mesmo fugir de avalanches e... morcegos ensadecidos? 

Sério, se os controles apenas para andar em linha reta e socar inimigos já são injogaveis, tendo que fazer estripulias são algo que força alguma na Terra vai me convencer que não foi feito como protesto pelos desenvolvedores da Malibu contra as péssimas condições de trabalho. Nenhum ser humano que não trabalhe acorrentado no porão tendo que brigar com ratos por pão mofado seria capaz de cometer uma atrocidade desse tamanho.

Porque não basta o jogo te exigir pulos no pixel exato com esses controles hediondos, claro que não! Ele tem que fazer isso... E TE RESPAWNAR DENTRO DO BURACO! ESSE É O NÍVEL DA COISA AQUI!


De todas as pessoas, poucas serão mais a favor do que eu de ver o nosso garanhão italiano favorito correndo de uma avalanche. Se voce me dissesse que um jogo faz isso e não seria divertido, eu diria que voce é louco. Mas com esses controles... cara, não com esses controles...


E eu não vou sequer mencionar sobre quando o jogo espera que voce pule sobre toras em movimento descendo o rio ao custo de uma vida por tentativa. Em nenhuma das diversas vezes que o jogo exige isso.

Eu poderia ainda discorrer sobre como o jogo é cansativo já que o cenário é sempre o mesmo e parece que voce está jogando apenas uma única fase de uma hora (todas imagens nesse texto não são da mesma fase, embora pareçam). Claro, tem que o filme se passa em um cenário só sendo um Die Hard Scenario, mas então talvez isso signifique que esse não seria o melhor filme para ser adaptado como um jogo, apenas dizendo. Enfim, eu poderia falar sobre isso, mas não vou.

PARECE QUE VOCE ACABOU DE FAZE-LO

O que voce saberia sobre isso, Jorge, seu arruinador de sanduíches? De qualquer forma, acho que a única coisa boa que eu tenho a falar sobre esse jogo é que... hmm... bem... então, eu realmente gosto da tela de final dele na versão de Game Boy:


Tem algo de mágico em ler "E eles compartilharam o beijo de suas vidas" com esse gráficos. Yep, de fato essa é a melhor coisa que há para ser dita sobre a tragédia que foi jogar esse jogo.

VERSÃO PARA SNES


VERSÃO PARA SEGA CD


VERSÃO PARA NINTENDINHO


PREVIEW NA EDIÇÃO 038