Com a progressão dos jogos para o modelo 3D, meio que foi também o fim da era de ouro dos point'n click - muitos de seus elementos migraram para generos com mais ação, mas os PnC entraram em fase de extinção e hoje só existem se reproduzidos em cativeiro. Isso não quer dizer que nunca mais veremos um jogo do genero (ou que nunca mais veremos um grande jogo do genero), mas é seguro dizer que vai chegando ao fim essa fase de ver um por varejo e um por atacado.
E é curioso que justamente essa fase final é marcada pelas duas maiores competidoras do genero - a Lucas Arts e a Sierra - lançando seus jogos na mesma revista. Nenhum dos dois particularmente brilhante, diga-se de passagem, o que comprova o ponto que esse genero já tava perdendo o gás da Coca mesmo. E enquanto eu falei ontem de THE DIG, hoje é dia de falar do representante da Sierra: Busca Espacial 6 - Rogerio Wilco na Espinha Final.
A grosso modo, a Sierra tem três linha principais de Point'n Click: KING'S QUEST é a linha "séria" da empresa com aventuras em fantasia medieval, LEISURE SUIT LARRY vai pelo caminho das sex comedy (você sabe, como Porky's ou American Pie) e por fim SPACE QUEST é o sci-fi paródia. Em comum, todos esses jogos tem que o desig de puzzles da Sierra transcende os limites da insanidade, e a dificuldade do jogo é algo que Dark Souls ficaria pálido de ver - os jogos da Sierra não tem a menor vergonha de criar um beco sem saída do qual é impossível vencer o jogo pq 3 horas atrás você avançou por uma tela sem recolher um item. E daí pra pior.
Então, como dá pra ver pela minha introdução, eu não sou exatamente fã dos jogos da Sierra. Eu não gosto do game design deles de que o jogador é um inimigo a ser destroçado pelos programadores, seus puzzles são feitos para só serem solucionados se vc estiver com um walkthrough e o humor dos seus jogos não é lá essas coisas.
Alias não sou só eu que acho isso, dado que a Sierra se esforçou nos ultimos dias para mudar e ser mais amigavel - como dá pra ver em LEISURE SUIT LARRY 5: PASSIONATE PATTI DOES A LITTLE UNDERCOVER WORK que eles estão realmente tentando. Mas é dificil ensinar truques novos a um cachorro velho, e é mais dificil ainda convencer alguém que já não seja fã que seus jogos não odeiam o jogador com a fúria de 1000 sois amarelos e a muito tempo a Sierra deixou de ser relevante no mundo dos jogos.
Isso sendo dito, esse último Space Quest é o que mais perto chegou de ser um jogo bom da Sierra: o humor é quase engraçado, os puzzles são quase não enlouquecedores e a dificuldade é quase não filha da puta. Quase.
Mas vamos começar falando de coisa boa Tecpix que é onde o jogo é quase engraçado. Pra começar o jogo tem uma vibe muito forte de filme do Leslie Nielsen, e em alguns momentos isso realmente funciona. Como quando o comandante da Estação aparece na televisão para agradecer a todos que participaram de uma missão muito importante, mas ele faz isso literalmente: ele agradece a cada um que está assistindo a transmissão pessoalmente.
Cara, isso é muito o tipo de humor que veriamos em um filme tipo "Corra que a Policia vem aí". Adicionalmente a isso tem um monte de paródias, algumas divertidas outras apenas obvias. Tipo vc encontrará um ET bêbado dormindo em uma loja de bebidas, que ficará feliz em lhe mostrar seu dedo brilhante, se você tentar falar com ele (você também pode puxar o dedo dele para obter os resultados esperados.) Ou então um personagem obscuro no estilo Blade Runner que é preguiçoso demais para fazer seu próprio trabalho e uma criatura parecida com um Alien perseguindo uma viajante espacial solitária. Tem um minijogo chamado Stooge Fighter 3, que é uma paródia de Street Fighter com os Três Patetas
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E o “ciberespaço” no universo Space Quest consiste basicamente de entrar dentro do Windows 3.1. O comandante de Roger, o leão antropomórfico Kielbasa, também parece um Kilrathi – embora amigável – do WING COMMANDER. E a sua nave, a Deepship 86 na forma de uma cueca voadora é uma paródia de STAR TREK DEEP SPACE NINE. Bem, vc entendeu a ideia.
Em adição a isso, Gary Owens arrsa como narrador tornando os comentários mais triviais em algo ridiculamente épico:
No geral é engraçadinho e seria uma excelente cereja do bolo em um jogo bom de se jogar... o que imho nunca foi o forte da Sierra. Space Quest 6 pode ser menos obtuso que o seu tradicional Point'n Click da empresa, mas holy canelonni, isso é tipo dizer que fazer uma neurocirurgia usando luvas de cozinha é mais fácil do que usando luvas de boxe: sim, é, mas continua uma humanamente impossível.
Uma de suas primeiras tarefas é capturar um androide fugitivo, que está escondido no fundo de um bar. Você precisa congelá-lo com uma explosão de nitrogênio, como o T-1000 no Exterminador do Futuro 2. O problema é que você não pode simplesmente ir até ele e usar um item. Não, é claro que não.
Em vez disso, tem uma série tediosa de etapas para executar a explosão de gelo através de uma série de tubos. Em um ponto, você precisa resolver um quebra-cabeça desmontando um dispositivo eletrônico, substituindo alguns chips e acionando alguns interruptores. Era para ter uma tira de quadrinhos no jogo para dizer como fazer isso, mas foi removida do produto final. Em vez disso, foi impresso no manual - que não vem em algumas cópias do jogo, incluindo edições como "Space Quest Compilation". Bem, o resumo é que leva aproximadamente meia hora para você fazer todo o procedimento - isso sabendo como fazer, tateando no escuro são horas e horas - até conseguir explodir o nitrogenio liquido. E isso com você sabendo que tem que fazer isso!
E isso é apenas a primeira área do jogo! Mais pra frente você consegue ouvir sua sanidade derretendo enquanto os puzzles vão ficando progressivamente mais insanos e complexos. Você também deve procurar uma cópia da Tabela Periódica dos Elementos por conta própria e mantê-la à mão, e não se esqueça de anotar os nomes dos bandidos que você conhece - confie em mim. E não se esqueça de ler todo o banco de dados ComPost e anotar todos os números que você vê lá. Ou, você sabe, apenas usar um walkthrough. Heh, fun...
Seguindo um walkthrough ojogo demora aproximadamente duas horas pra ser terminado, deixado a sua própria sorte são mais de dezenas de horas - a maior parte delas não se divertindo e sim tateando no escuro. Heh, double fun...
E se os puzzles são aquela coisa da Sierra, a história... é quase inexistente. A história começa com Roger Wilco diante de um tribunal da StarCon, sendo punido pelas inúmeras regras e regulamentos que ele quebrou durante o SPACE QUEST 5: THE NEXT MUTATION, terminando com ele sendo destituído de seu posto de capitão. Entretanto sua exibição de heroísmo o impede de ser expulso do serviço completamente, e ele logo é transferido para o DeepShip 86 para servir como zelador.
O problema o encontra mais uma vez, no entanto, durante uma licença em terra no sombrio Polysorbate LX, Roger é sequestrado por forças misteriosas. Antes que ele consiga descobrir o criminoso e acabar com seu esquema maligno, Roger precisará explorar fisicamente a Superestrada da Informação em busca de dados sobre seus sequestradores, investigar as profundezas do espaço em busca do vilão que os enviou e encolher ao estoçp Viagem Fantástica para entrar no trato intestinal de uma amiga e, esperançosamente, salvar sua vida.
Tudo isso leva muito tempo para acontecer, no entanto, já que a aventura final de Roger sofre com uma séria falta de momentum. Na maior parte do tempo parece mais uma série de sidequests do que uma narrativa legítima. Quando você controla Roger pela primeira vez, você está no Polysorbate LX sem meta ou objetivo declarado. A história ainda não começou e só começará daqui a algumas horas.
A única maneira de progredir é vagar pela cidade sem rumo até encontrar um Endodroid Runner (que aparece aleatoriamente) para lhe dar uma quest. Depois de completar sua tarefa - uma série bastante longa de quebra-cabeças que tem pouca relevância para qualquer coisa - sua segunda fase de perambulação sem rumo começa. Depois de tropeçar no próximo gatilho de progresso e completar outra série de quebra-cabeças, você pode finalmente desbloquear a área no Polysorbate LX em que foi sequestrado e começar o enredo real do jogo.
... para fazer mais outras séries de puzzles que não tem muita relação com nada antes da história dar mais dois passos. E assim por diante até o fim do jogo.
Embora os gráficos sejam legais (definitivamente sempre tem algo interessante para ver na tela), a narração é boa e o humor é consistente com a franquia como um todo, o design sem objetivo, enredo e personagens fracos e quebra-cabeças absurdamente difíceis fazem do Space Quest 6 um jogo difícil de recomendar a qualquer um, exceto aos mais hardcore fãs da Sierra. Mas eu recomendo evitar recomendar qualquer coisa a qualquer um desses caras, eles não batem muito bem da cabeça.
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 098
