sexta-feira, 22 de abril de 2022

[#865][SNES] BREATH OF FIRE 2 [Dezembro de 1994]

Como eu tenho dito regularmente nos ultimos tempos, nessa época da metade dos anos 90 a Capcom estava com a bacurinha em chamas e envolvida em trocentos projetos ao mesmo tempo. Quer dizer, eu literalmente falo disso aqui frequentemente pq todo o ponto desse blog é falar justamente desse projetos (entre outros). Pois bem, então chegamos hoje em um caso que eu estava bastante curioso para atingir: o dia que a Capcom tentou fazer um jRPG. 

Bem, tecnicamente essa não foi a primeira PRIMEIRA vez que a Capcom fez um jRPG mas o primeiro BREATH OF FIRE tinha o problema de ser um DAQUELES jogos japoneses que foram traduzidos com a bunda e são absolutamente ilegiveis. Você sabe, jogos como ILLUSION OF GAIA ou ROBOTREK que você tem apenas ignorar o texto... o que é meio que um problema em justamente um RPG.

Pois bem, a boa notícia é que... de alguma forma a tradução desse jogo consegue ser pior ainda. Eu quero dizer, eu nem sabia que isso era humanamente possível, mas esse segundo jogo não foi traduzido apenas com a bunda: foi traduzido com a bunda usando o bing. Sério, a versão americana desse jogo é de uma atrocidade indescritível!

Sério, é um jogo que consegue errar o som de alguém dormindo... ou essa pessoa dorme com muita raiva...

Essa cena não envolve nenhuma salada sendo arremessada, e sim uma dríade sendo exibida em um freak show. É, esse é o nível da coisa...

Eu não vou nem fingir que faço ideia do que o jogo está tentando me dizer aqui...

TUDO ISSO É MUITO INTERESSANTE, MAS... COMO ISSO É UMA COISA BOA, EXATAMENTE?

Então, não. Not at slightest. MAS é bom pq a coisa é tão nonsense que em 2008 um grupo de fãs decidiu fazer algo a respeito e retraduziu o jogo do zero. Não apenas isso, como até mesmo adicionar uma abertura usando a música usada no comercial do jogo... o que ficou muito bonito, na verdade:


Então a tradução desse jogo é tão ruim, mas tão ruim que literalmente ficou boa! Yay! Assim sendo podemos jogar finalmente o jRPG feito pela Capcom, mas... então, o que a Capcom sabe realmente sobre jRPGs? Bem, nada realmente. O que é uma coisa boa, até certo ponto.

E COMO ISSO PODE SER BOM?

Pq saber que você não sabe sempre é uma coisa boa. Assim sendo, a Capcom trancou um bando de funcionários em uma sala com dezenas de Final Fantasy, Dragon Quest e um pote de Doritos até eles aprenderem a fazer um jRPG.

O resultado disso é que Breath of Fire era tão tradicional quanto um jRPG pode ser tradicional. Todos os clichés de salvar o mundo de uma força maligna do mal que odeia o bem estão lá - mas ainda sim impressionou graças ao seu mundo interessante onde raças hibridas são comuns e sua pixel art bonita para um jogo de 1993.


E sendo um jogo da Capcom, isso quer dizer que no ano seguinte teriamos uma sequencia maior porque é assim que a Capcom rola: faz um jogo e então relança a mesma engine anualmente até as pessoas não aguentarem. A boa notícia é que, ao contrário de apenas jogar seguro como normalmente faz em suas continuações, Bafo de Fogo 2 é um jogo bem mais ambicioso que seu predecessor - tanto mecanica quanto narrativamente.

Para começar, cada um dos membros do seu grupo tem uma habilidade especial que pode ser usada fora do combate, principalmente para ajudá-lo a navegar pelo mundo. Um membro se transforma em um sapo gigante e nada pelos lagos. Outro caminha por florestas intransitáveis. Outro permite você caçar monstros - o que é uma boa fonte de dinheiro e itens de cura, e por aí vai.

Os personagens também tem habilidades únicas para serem utilizadas em combate, mas essa parte é menos interessante porque as habilidades ou são inuteis ou atuam diretamente contra o personagem - como a personagem que tem o comando taunt para obrigar inimigos a ataca-la... o que seria interessante, exceto que a personagem não tem defesas boas e não existe nenhuma situação possível que é interessante pra você obrigar a ataca-la. Nenhuma mesmo. 


Porém a característica mecanica do jogo pelo qual ele é mais famoso é que você vai fundar sua própria cidade, e ao longo do jogo poderá recrutar NPCs para acrescentar lojas e serviços para a sua cidade. Por exemplo, o protagonista Ryu pode pescar e dois de seus colegas podem caçar carne e isso pode ser cozinhado em itens raros se você tiver um chief na sua cidade.

Então legal a iniciativa de tornar os personagens únicos como em FINAL FANTASY 6, mas a execução... meua migo... 

Reviews sinceronas no Trip Advisor

Outra característica mecanicamente ambiciosa do jogo é que você pode recrutar xamãs que seus poderes aos membros do seu grupo, resultando em bonus de atributos. Porém não é só isso, combinações diferentes de xamãs podem adicionar magias e até mesmo mudar completamente o visual do personagem.

Então se tem algo que não falta nesse jogo são colecionaveis, sidequests e sistemas complexos para afundar os dentes mais do que no primeiro jogo - ou que eu não consigo lembrar em qualquer RPG dessa época... talvez exceto por OGRE BATTLE: The Marsh of the Black Queen, mas quanto menos for dito sobre esse jogo melhor, né?

O que, suponho que todos podemos concordar nisso, é interessante o bastante para uma empresa sem experiencia em jRPGs. Ao invés de apenas jogar seguro eles estão realmente tentando coisas e isso é incrível!

Em BoF2 os NPCs respondem as proprias perguntas, pq ninguém tem tempo a perder não!

E mais incrível ainda é que narrativamente BoF 2 também se esforça para ir além do básicão, até porque o jogo começa mais forte do a maioria dos jRPGs que eu joguei até então (embora não FF6, obviamente): o jogo começa quando Ryu é o filho do pastor da cidadezinha e por um motivo qualquer ele briga com sua irmã e ela foge de casa.

O pequeno Ryu então vai atrás da irmã dele no bosque perto da cidade - ele logo a encontra, eles fazem as pazes quando ambos são atacados por monstros e o pai deles os salva. O pai de Ryu e sua irmã então voltam pra casa e Ryu vai logo atrás no bosque. Quando ele volta para a cidade, entretanto, algo realmente estranho acontece: não é apenas que ele não encontra seu pai e sua irmã, ninguém na cidade sequer ouviu falar deles ou mesmo do próprio Ryu, que é encaminhado para o orfanato local como uma criança de rua perdida.

Você recebe um cascudo por responder não pro seu pai, 10/10 pelo realismo

Isso é... diferente de tudo que eu já vi em jRPGs, tenho que dizer. E interessante, Bafo de Fogo 2 definitivamente é um começo interessante. Seja como for, Ryu e seu colega de orfanato Bosch crescem e dez anos depois são mercenários em busca de fama, dinheiro e colecionaveis Elma Chips - que é quando o jogo começa de verdade.

E não é apenas no conceito principal da história que a Capcom colocou esforço, a caracterização dos personagens é muito boa também. Embora pela data de lançamento do jogo não dê pra dizer que eles jogaram muito FF6 antes de fazer esse jogo, as comparações são possíveis e isso é uma boa coisa a ser dita a respeito de BoF2, definitivamente.

O capacete que tem pra comprar é uma tigela de salada. Eu posso respeitar isso.

Meu personagem favorito desse, por exemplo, jogo é o macaco Sten. Quando você conhece Sten, ele é um trambiqueiro de rua que dá em cima de qualquer femea que ficar parada tempo o suficiente para ouvir suas cantadas, então você não realmente dá muita coisa por ele.

Porém quando o grupo de Ryu visita a cidade dele por uma necessidade maior, você vê que ele fica claramente desconfortável e sai da party. O motivo é bastante curioso: seu povo tem toda uma cultura belicista (sim, é um reino de macacos espartanos, lide com isso) e Sten era um general no seu reino. Porém em dada batalha seu pelotão foi massacrado diante dos seus olhos e diante do horror de ver seus irmãos de armas serem despedaçados... ele se desesperou e fugiu por sua vida.

Por isso ele vive desse jeito vagabundo hoje, pq ele internalizou para si mesmo que ele perdeu sua honra ao desertar, então ele se comporta como alguém sem honra. Isso é... bastante profundo para um jogo de Super Nintendo, em níveis como eu disse que eu só lembro de ter visto similar em Final Fantasy 6.


Mesmo os personagens que tem uma pegada mais comica e menos dramática são bastante interessantes. Quando você conhece Jean, por exemplo, ele pede sua ajuda porque uma bruxa o transformou em um sapo gigante. Aí você vai, resolve a treta com a bruxa e cura ele da sua maldição... apenas pra descobrir que ele era membro de um raça de sapos o tempo todo.

Bruh.


Então o plot é interessante, os personagens são interessantes, tem mecanicas únicas, o combate é sólido (não mirabolante, mas sólido), os gráficos são okay para 1994 (não state of art, mas decentes)... esse jogo é um “The Best of” fácil né?

Hã... seria, não fosse o fato que a Capcom cagou a porra toda com a fúria de 147 sois amarelos como eu não via a Capcom fazer desde os tempos de YO! NOID. Eu não sei pq, eu não sei o que aconteceu aqui, só sei que não é comum ver a Capcom foder a porra toda a esse nível de fodelança - não em 1994, pelo menos. Mas enquanto eu não sei dizer o POR QUE tanta desgraça aconteceu nesse jogo, definitivamente posso falar O QUE aconteceu.

Pra começar, tem a questão da tradução que eu já falei. Isso por si só já inviabiliza a versão ocidental do jogo e é game over man, RPG sem conseguir ler não dá. Porém digamos que por algum motivo você é fluente em japonês, ou que jogou a retradução de 2008 como eu, e que jogou o jogo mesmo assim. Aí é que os problemas começam de verdade... Aqui, deixa eu te mostrar uma coisa:


Em primeiro lugar, holy guacamoly esses nomes... entenderam o que eu quis dizer que não tem como jogar com essa tradução? Sério a armadura que apenas seria "Clothing" virou "Bum_SCl" porque foda-se você. Porém o objetivo aqui não é falar da tradução e sim que para equipar seu personagem na cidade inicial você precisa de 670 dinheiros para comprar uma arma e duas armaduras - são 4 slots de itens de defesa no total.

Tá, beleza, mas... isso significa o que? Esse número sozinho não importa, e sim quantas lutas você precisa para juntar 670 dinheiros? Eis a resposta do quanto uma luta te dá de dinheiro em média nessa região:


SETE dinheiros. SETE. Ou seja, pra equipar um personagem (UM) na cidade inicial você precisa de NOVENTA E CINCO lutas. Não, eu não to zoando. Lutando com os inimigos na região inicial (e essa foi uma luta com dois inimigos, eu quis mostrar isso) você precisa de NOVENTA E CINCO lutas.

E agora eu gostaria de lembrar que sua party é composta de quatro membros, então pra equipar inteiramente sua party você precisa de um número de lutas que faz você apenas rir em descrédito. Que a Capcom fodeu a porra toda não é apenas o understatement do século, a própria Capcom reconhece isso que eles fizeram merda.

Como eu sei isso? Pq no remake do jogo para Gameboy Advance as mudanças que a  Capcom fez no jogo foram as seguintes:

Gameplay changes:
- 2x experience and 3x zenny won per fight
- Auto-dash function
- Suspend save function
- Spell "Ag-Up" (Agility Up) is fixed and properly temporarily raises Agility
- Several new anime-style stills by Tatsuya Yoshikawa
- New menu portraits, also by Yoshikawa
- New title screen with an orange flame effect
- New title logo
- Redesigned battle menu interface (Looks similar to BoFIV's)
- Redesigned main menu interface
- Typewriter sound effect while dialogue scrolls
- Brighter graphics to suit the original, non-backlit GBA
- Slightly poorer music quality
- New "Exchange" option on the title menu--trade items with another player
by using a link cable
- Minor bug when picking up food in the item creation mini-game; sometimes, the game will have you talk to the chef's husband instead of pick up your item.
If that happens, you'll have to press the A Button twice to receive your
creations
- Another bug where you can access Night Rider Island early by sailing toward
it and getting off on an invisible beach
- 5 new items, gotten randomly from Exchange: SoulArms, SoulSprd (Soul Spread), SoulRobe, E.Bean (Energy Bean), and M.Bean (Magic Bean)
DUAS VEZES O XP e TRÊS VEZES O DINHEIRO. Você sabe que fodeu muito a porra quando para equilibrar o jogo (não é pra deixar fácil, é pra deixar jogavel) você aumenta em DUAS VEZES O XP e TRÊS VEZES O DINHEIRO. Para balancear o jogo. 

Sim, balancear, pq deixa eu explicar como o XP do jogo funciona: esse é um daqueles jogos que só os personagens da party ganham XP, os reservas não. Em 94 os jRPGs melhores não faziam mais isso pq vc apenas desistia de usar os outros, mas aqui não. Vc precisa usar em um trecho obrigatório de história (e o jogo tem vários desses) um personagem que não era da sua party principal?

That's what she said

Bem, vc tem a opção de grindar tipo 10, 20 níveis com ele ou... hã, não tem outra opção. É isso ou o jogo termina pra vc. Isso quando dá pra grindar né, as vezes o jogo te obriga a jogar com um personagem especifico, as vezes com ele sozinho e não tem o que fazer. Se não tava upado te fode, cabou o jogo.

Carai biridim, fizeste merda, heim? Mas o que mais eles podem fazer para te irritar ainda mais, vc pergunta? Então... 


ENCONTRO ALEATÓRIO A CADA QUATRO SEGUNDOS. Taqueopareo mermão, tu faz ideia do quão frustrante é o jogo ficar parando pra encontro aleatório a cada quatro segundos? QUATRO?!? Ah cara, sério!

Olha, eu amo jRPGs e posso lidar com grind e encontros aleatórios melhor do que a maioria das pessoas, mas caramba! A cada 2-4 segundos há uma batalha aleatória em que você apenas usa o recurso de batalha automática para a maioria das lutas é um exercicio de insanidade!

Hoje todo RPG tem um minigame de pescaria, até onde eu sei esse foi um dos primeiros. Basta você equipar seu LOD... você sabe, o "rod" só que a tradução do japonês...


Olha, esse tipos de batalhas por turnos em RPGs raramente são tão interessantes, mas eu joguei jogos em que fiquei feliz em encontrar inimigos porque cada encontro era uma chance de subir de nível uma habilidade, copiar suas magias ou roubar seus sapatos, ou alguma coisa. Qualquer coisa. Eu tinha meus próprios objetivos e as lutas eram um meio para alcançá-los. Aqui é apenas um obstáculo que você tem que aguentar, porque sequer o dinheiro e o XP são suficientes para valer a pena. As lutas aqui são apenas um desperdício triste do meu tempo. A cada 3 segundos de caminhada seguidos de 30 segundos de luta.

 Num jogo de aproximadamente 20 horas (se você souber o que fazer), são pelo menos 8 horas de NADA SENÃO O JOGO INTERROMPENDO. Vc não faz nada, é só o jogo trava, vc pega auto battle e é isso. Porra véi, não tem quem guente! Não dá!


Para adicionar ofensa a injúria, por algum motivo a Capcom odeia healers em seus jRPGs, aparentemente. Aparentemente, alguém da Capcom entendeu que a healer de BoF1 era overpower ou algo assim, porque eles decididiram não iria ter nenhum healer dedicado no grupo. 

O que temos no BoF2 (e até onde eu sei, no 3 e 4 também) são no máximo healers híbridos. Em BoF2, existem apenas 4 personagens com magias de cura: o Herói (falarei sobre ele aqui em um minuto), Bow (que é o único curador decente), Rand e Spar. 

Esse texto faz sentido em japonês porque o controle do Super Famicom é colorido (o de cima), já traduzir literalmente para o Super Nintendo no ocidente... bruh.


Bow, por razões de enredo, está ausente em mais de um terço do jogo. Você tem ele no começo, então ele desaparece da party e volta terrivelmente underleveled. Rand é um tanque e atacante físico que tem uma lista impressionante de curas... só que não tem MP e pode usar bem poucas magias antes de ficar sem. E Spar... é o único caster com magia de cura, então ele tem o MP... o que ele não tem são as magias. Suas curas são fracas porque ele tem apenas magias nível 1 ou 2, então ele é inútil como healer, exceto fora de combate. 

Então, você acaba moendo o gold para curar com itens em vez de usar MP para curar porque MP neste jogo é tão precioso que você não ousa desperdiçá-lo. Eu nunca usei tanto item de cura em um jRPG, justo naquele que é mais cuzão com dar gold ever! Cacete! E sim, existem itens de recuperar MP, mas o custo de gold por MP recuperado é tão... olha, nada diz mais o quanto esse jogo te odeia do que fazer essa conta, ok?

"Eu apenas espero que você é sua mãe sinta o mesmo". Classic BoF2.


Ah, eu tinha citado o protagonista, então me permita explicar: então o Herói ficou um pouco overpower no BoF1 pq ele podia virar um dragão e foda-se (por isso a série se chama Bafo de Fogo, o protagonista é sempre descendente de dragões ou algo assim). No BoF2, eles mudaram para que ele não se transformasse em um dragão, mas sim summonasse um por uma rodada. Uma. Rodada. E isso gasta TODO o seu MP em um ataque (UM. Ataque.) e o dano que ele causa depende se você usou ou não o elemento certo (a única maneira de descobrir isso é fazer outro conjurador testar os elementos ou olhar em um FAQ, não existe uma magia scan nessejogo) e quanto MP ele tinha. Se você usar o ataque especial com 50% de MP sobrando, ele causa 50% de dano. Isso significa que você não pode usar o MP do Herói para nada, e você deve torcer para que ele não ganhe um nível antes do chefe ou ele causará dano abaixo do ideal com sua habilidade principal (que, novamente, só pode ser usado uma vez).

Deus, Capcom, qual é o problema de vocês? Mecanicamente esse jogo faz tudo em seu poder para te conduzir a insanidade - desde os problemas citados aqui a níveis completamente estapafurdios de backtracking, passando por vários segmentos de "se você não tem o detonado na Nintendo Power nem tente descobrir onde ir a seguir pq é perda de tempo".

MAS É GADO DEMAAAAAAAAAAAAAIS IRMÃO

Alias, não, eu ia só passar por cima, mas preciso falar sobre isso: para avançar na história as vezes a coisa só anda se você falar com um NPC especifico... usando um membro especifico da party como primeiro do grupo. O problema é que não apenas o jogo nunca te diz sobre essa mecanica do "primeiro da party faz diferença", como qual NPC falar e com qual personagem para a história avançar nem sempre é ... intuitivo. Então a menos que você tenha comprado uma revista com o detonado, sua outra opção é falar com todo mundo usando todos os 10 personagens do jogo. 

A esse ponto eu não tenho dúvidas que a Capcom fez um pacto de sangue para me enloquecer, pq nada mais explica as escolhas tomadas aqui. Porra, é dificil pra caceta essa vida e a Capcom não me ajuda...


Então...

Bafo de Fogo 2  é um DAQUELES RPGs em que o plot principal é basicamente não-existente. Durante 4/5 do jogo você é apenas um mercenário normal fazendo fetch quests que não tentam atingir nenhum objetivo maior em particular. Sabe aquela introdução que eu falei que é super legal onde do nada nosso herói se vê em um mundo onde ele a família dele aparentemente nunca existiram? Então, esquece isso pq jamais será tocado novamente até a última hora de jogo, durante todo percurso da partida Ryu é apenas um mercenário.

"O mundo vai começar a perecer quando o demonio remexer". Hã, é uma ameaça bastante... pitoresca, tenho que dizer.


Durante o primeiro terço do jogo o parsa de Ryu é acusado de um crime que ele não cometeu e vc precisa rodar de cidade em cidade atrás do real criminoso. Cada cidade tem a sua treta particular acontecendo sem nenhuma conexão maior com nada e é isso - o tipo de RPG que eu menos gosto, essa estrutura de aventuras episódicas que poderiam se encaixar genericamente em qualquer jogo.

No segundo terço, você como mercenário recebe o chamado para derrotar um monstro que apareceu e ninguém tá dando conta e começa uma série de fecht quests para você conseguir faze-lo: vc precisa da espada de chupapedra do reino Buruleque, mas o rei só vai te dar se você resolver o problema do reino e para isso você precisa da flauta de Gamora e do travesseiro de pedra, e para conseguir cada um deles...

Entende o problema aqui? Não é como se o jogo parecesse ter um grande plot em mente, apenas vai empilhando sidequests até dar o tempo de jogo que a Capcom achou bom e era isso.

UÉ, MAS EU LI AS REVIEWS DESSE JOGO E TODO MUNDO FALA DE UM PLOT AMBICIOSO EM QUE A RELIGIÃO É QUESTIONADA E UM MONTE DE QUESTÕES MORAIS DE QUESTIONAR O STATUS QUO DA SOCIEDADE E...

Não é bem assim. Embora seja verdade que o "Deus" desse mundo seja o vilão, as descrições poderiam fazer você imaginar que está jogando algo tipo LUNAR 2: Eternal Blue em que a igreja corrompida é parte presente e fundamental da narrativa desse jogo... e não é assim. As igrejas nesse jogo são apenas locais onde você salva a partida, elas sequer tem dialogos únicos ou algo do tipo.

Então dizer "aquele prédio que era só cenário agora retroativamente na última hora de jogo é uma parte importante do plot" não é algo relevante a história. Até onde consta o ultimo chefe podia ser um monstro genérico inventado na hora que o resultado seria o mesmo. 

É o que, meu amigo?

Isso definitivamente fecha com o tom de "cidade do dia" sem nenhuma ambição  maior que permeia o tom desse jogo, mas não é algo particularmente interessante enquanto narrativa - colocando esse jogo muito mais perto de VAY do que EARTHBOUND no espectro das narrativas de RPG e... cara, isso não é uma coisa interessante. Definitivamente.

BoF1 já fazia isso, mas BoF2 vai com sede no pote da sensação de quests levando do nada a lugar nenhum. Tá, tudo bem, era uma marca registrada dos RPGs antigos faziam e apenas alguns bolinhos especiais CHRONO TRIGGER ou FINAL FANTASY 6 colocavam esforço em fazer uma narrativa com um objetivo.



Isso não quer dizer que o jogo não tenha cenas individualmente interessantes, todo o capítulo final de Evrai é muito bem escrito e algumas cenas bem impactantes e até mesmo comoventes (a cena de "matar os hereges" é particularmente brilhante). 

Mas por mais legal que isso seja, isso são tipo as ultimas duas horas de um RPG com mais de 20, e eu não posso fingir que as outras 18 horas de nada levando do nada a lugar nenhum. Sério. 



A grande verdade é que você realmente não pode esperar jogar este jogo para fins de história, porque quando não está sendo um JRPG estereotipado, é uma bagunça complicada de sidequests dentro de sidequests dentro de sidequests. Chupa essa manga: você faz três sidequests para recrutar um novo membro do grupo porque ele consegue falar com plantas, aí você usa o cara para falar com uma árvore mas a arvore precisa de um “Dream Pillow” para relembrar algo importante. 

Fomos até onde estava o “Dream Pillow”, mas nenhum dos cidadãos quis falar conosco porque não tínhamos uma flauta mágica. Por acaso, o macaco Sten sabia onde conseguir uma, então fomos para sua cidade natal. Muitas confusões depois pegamos a flauta, voltamos para a cidade onde o “Dream Pillow” estava, tivemos que conseguir mais um item em outro canto do mundo para recrutar um heremita (daaaaalhe backtracking), o heremita pede mais dois itens em OUTRO canto do mundo e então tivemos que entrar dentro da regente gorda da cidade para lutar contra a gordura dela... tudo isso para só então pegar o tal do "Dream Pillow" e falar com a porcaria da arvore e depois de todo aquele trabalho a árvore antiga nos disse que os demônios estavam matando a floresta.

DA FUQ ACABOU DE ACONTECER?!



Porra caceta, que demonios estão matando o mundo eu sei! Literalmente teve uma cutscene mostrando isso antes dessa quizumba toda começar! Não precisava ter feito 8 gincanas do Gugu pra alguém me dizer que demonios estão ressecando o mundo! E tudo isso para conseguir um travesseiro dos sonhos pra de uma árvore desmemoriada ... porra, pra que uma arvore precisa de um travesseiro em primeiro lugar? 

Cês tão de sacanagem comigo, só pode. Dez horas de quests inúteis fazendo missões de busca completamente aleatórias... para "descobrir" algo que uma cutscene já tinha me mostrado antes disso tudo. Inacreditável...

É o que, meu amigo?


E isso tudo, como eu disse, se você SABE o que fazer. Pq o jogo não diz. Olha, okay, eu entendo, eu não gosto que o jogo segure minha mão e mastigue tudo o tempo todo. Tudo bem. Às vezes você precisa explorar um pouco, conversar com NPCs ou seguir uma dica que alguém deu mais pra trás no jogo. Eu entendo isso, de verdade.

O problema é que BoF2 não é assim. Ele não se preocupa em ter a cortesia de dar alguma dica, ele parece um fucking point'n click da Sierra em que você tem que adivinhar magicamente o que os programadores estavam pensando. 

Nada de pontos cardeais, nada de “visite as montanhas”, nada de “falar com as pessoas da cidade”, nada de nada. Na maioria das vezes, você completa uma masmorra e fica sentado lá, coçando a cabeça, imaginando para onde deve ir em seguida.

Mais reticencias do que em um fanfic

A certa altura, um NPC disse “Vá aprender sobre St. Eva”. Que, aliás, é uma abreviação de St. Evan. Tudo neste jogo é abreviado, o que é totalmente irritante, mas divago. O que diabos você acha que isso significa? “Vá aprender sobre St. Eva.”, tá, como eu faço isso?

Bem, saca só: isso significa que você precisa ir a uma igreja especifica de uma cidade especifica e conversar com um padre cerca de 20 vezes até doar uma pequena fortuna.  Não existe nenhum dialogo diferente indicando que você tem que insistir com aquele NPC, ele é igual a qualquer outro NPC do jogo. Mas enfim, depois de doar uma certa quantia de dinheiro, você ganha uma bíblia grátis pela sua contribuição! 

Repito: o padre não dá a entender que ele vai te ensinar sobre St. Eva ou te dar um prêmio pelas suas contribuições, ou mesmo um indicio de dialogo diferente, nada. É tudo totalmente aleatório, vc tem que por motivo nenhum encarnar em  um NPC e doar uma tonelada de seu dinheiro suado sem motivo. Quando eu disse que esse é um DAQUELES jogos feito para vender revistas de detonado.

É oficial: tem um jogo com uma referencia a espancar o macaco em um jogo do Super Nintendo

Eu nem vou falar do conteúdo opcional (tipo tem um carpinteiro que pode transformar sua cidade em uma fortaleza voadora, mas ele é um inimigo e vc não pode matar ele no combate... sem nenhuma dica de que vc deve fazer isso) pq beleza, não é o ideal mas passa. Agora o básico de jogar o jogo vc deveria ter como conseguir por conta própria! Caceta, não é dificil!

Mas isso tudo, mais uma vez, supondo que você fala japonês ou está pelo menos em 2008 jogando a tradução de fãs, pq lembrando que o jogo originalmente lançado é ininteligível. Esse é um ponto muito importante sobre esse jogo.

Ninguém que tenha a compreensão de leitura de um aluno da terceira série da língua inglesa revisou esse jogo antes de dar o aval. Eu nem estou falando de luxos como pontuação e gramática, e sim de coisas minimamente básicas como quando quando você tenta fundir seus xamãs “Não” significa “Sim” e “Sim” significa “Não”. Como você erra a tradução de "sim" e "não" é algo que sequer pode ser compreendido.

Mudar o visual do personagem é algo muito raro em RPGs antigos, e por isso mesmo legal

As descrições dos itens então tendem a ser inúteis ou ininteligíveis. Ao pairar sobre uma espada, a descrição diz: “É uma lâmina afiada”. Jura? Uma espada é afiada, hein? Caralho, que interessante isso... Só que o eu preciso saber é se ela tem propriedades especiais ou atributos elementais! Você sabe, informações básicas que no original você tem ao invés de "é uma lamina afiada"! Caceta!

Meu favorito é uma das descrições dos acessórios diz “Erase the Spell”. Hum, como é que é? O que isso possivelmente poderia significar? O que ao menos isso significa? Bem, o que esse item faz é que ele aleatoriamente tem uma chance de absorver dano mágico (bem raramente, alias, item bosta), mas algo me diz que isso é um pouco complicado demais para a inépcia do tradutor. 

Some isso a atributos que nem o jogo nem o manual te dizem o que faz (foi preciso fãs fazerem engenharia reversa da programação do jogo para descobrir o que "Will" faz, e eu não estou zoando), mecanicas que não funcionam (a opção “fugir” usa o turno de todos e não funciona quase nunca, mesmo quando você está no nível 25 e está tentando escapar de Slimes de nível 1 - literalmente, isso não é um exagero) e você tem um jogo que abertamente te odeia.

Usando sua cidade pra impressionar as novinhas like a boss

Eu quase desisti. Várias vezes. Este jogo sai tanto do seu caminho pra te irritar que eu tive que largar o controle e respirar fundo vezes o suficiente pra me dar um doutorado em yoga. Em vez de desistir (porque isso feriria permanentemente meu orgulho de mestre supremo dos games) eu tive que fazer longas de terapia jogando Zero Escape (Gamepass beijo me liga) e assistindo Dark. 

Esse jogo tem tantas falhas (tanto técnicas quanto conceituais), que é difícil acreditar que BoF2 passou por qualquer tipo de processo de revisão antes de ser colocado no mercado. Às vezes eu senti que o objetivo dos desenvolvedores era fazer com que eu quebrasse meu nariz batendo ele contra o controle repetidas vezes, pq não tem explicação isso.



Eu cogitei seriamente fazer isso. BoF2 não é divertido. Dificilmente é jogável. Para tentar entender o quão desesperador esse jogo é, tente conceituar um filho nascido de uma noite tórrida de entre um masoquista automutilante que não consegue descobrir em que direção cortar o pulso e um garoto de 15 anos que acha que sabe escrever mas não consegue sequer uma crítica positiva no fanfiction.net.

Breath of Fire 2 é pior que isso. Com encontros aleatórios a cada 4 segundos.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 103 (Maio de 1996)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 023 (Fevereiro de 1996)




MATÉRIA NA GAMERS
Edição 007 (Março de 1996)