sábado, 30 de abril de 2022

[#871][SNES/MD] AAAHH!!! REAL MONSTERS [Novembro de 1995]

De todos os cartoons dos anos 90, eis um aqui que eu tinha bastante curiosidade de conhecer pq eu não sabia absolutamente NADA sobre ele. Mas nada de nada mesmo! GARGOYLES, por exemplo, eu nunca tinha assistido um único episódio na vida mas fazia ideia do sobre o que se tratava.

Já "Aaahh!!! Real Monsters"... eu sabia que existia um jogo pq o nome me chamou atenção no listão de fim de ano da Ação Games, e eu vi algumas vezes a fita na locadora. Era tudo que eu sabia sobre esse desenho, bem, isso e que envolvia monstros de alguma forma.

Por isso para a review de hoje era meu dever cívico e moral aprender algo sobre esse desenho, e por isso eu assisti a primeira temporada. O que me levou a conclusão... que eu não tenho muita certeza do que eu acho realmente. Então vamos começar do começo...

O casal de animadores Arlene Klasky e Gábor Csupó ficaram interglobalmente famosos no meio da animação no final dos anas 80, tendo sido os animadores-chefe das primeiras três temporadas dos Simpsons. Não é pouca bosta, de fato. Por isso mesmo a Nicklodeon os contratou a peso de Toblerones de aeroporto para sua recem-criada divisão de animações originais, como eu já contei essa história no texto do THE REN & STIMPY SHOW.

A primeira animação capitaneada pelo casal foi um sucesso interpolitetraglobal, tanto que Rugrats (que foi lançado como "Os Anjinhos" no Brasil) ta aí até hoje. Então após ter tanto sucesso quanto se poderia esperar nos sonhos mais loucos da Nick, para sua segunda animação Klasky e Csupó tiveram carta branca da emissora para fazer qualquer porra eles tivessem na cabeça... e isso foi literalmente o que eles fizeram.

"Aaahh!!! Monstros As Vera" é um cartoon sobre monstros. Dã, no shit Sherlock. Sim, mas não é isso que eu quis dizer, e sim que os monstros deles parecem monstros MONSTROS mesmo. Aqui, me permita ilustrar o caso:


Monstros S.A. Todo mundo conhece, ama e os catatau... só que esses "monstros" não são "monstros". São plushies fofinhos e adoraveis prontos para serem vendidos nas lojas de brinquedos de shopping, não é isso que me vem a mente quando eu penso na palavra "monstro". O que eu penso é algo mais  tipo...


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Essa é a coisa desse cartoon: desde os tempos das primeiras temporadas dos Simpsons, mas especialmente em Rugrats, o estilo Klasky-Csupó sempre foi meio feio. Na verdade eu diria que a grande identidade visual de Rugrats é justamente ter esse traço esquisito e torto.


Os monstros aqui são bem feios, mas esse é  meio que o ponto pq eles são MONSTROS. Então esse estilo é perfeito para a proposta, e isso é acentuado por alguns dos designs de monstros mais criativos da televisão dos anos 90 dado que nessa proposta a imaginação é literalmente o limite. 


Quer dizer, o que eu estou olhando aqui, exatamente? Pq esse cara tem um nariz que parece um dedo de bruxa e pra que ele usa um cinto? Bem, because monsters. Então eu diria que o visual é o ponto alto da animação...

... e essa é meio que a coisa que pega aqui: o estilo parece certo, mas o conteúdo do show é apenas okayish. As piadas não são muito engraçadas, mas suponho que foi feito para crianças afinal - então espere humor escatologico o suficiente para as crianças acharem "radical", mas não demais a ponto de incomodar os pais. É um "nojento família", o que eu vejo funcionando com seu publico alvo nos anos 90, mas não é algo que eu diria que envelheceu muito bem.


Quanto às personalidades dos personagens, elas são okay. Eu não achei nenhuma particularmente interessante, mas elas são passaveis - especialmente pq eles não são genéricos e unilaterais. Até onde cartoons dos anos 90 vão, eles são okay. 

Ickis é o protagonista relacionável e tímido, vivendo sob a sombra do seu pai que é uma lenda no mundo dos monstros enquanto ele é um monstro meio bosta, Oblina é a tradicional "menina voz da razão do grupo", porque alguém tem que ser a Hermione da party, com a diferença que por algum motivo ela é surpreendentemente mais forte do que os dois meninos (o que é diferente, especialmente nos anos 90) e Krumm é... bem, o Krumm. Eu não saberia dizer qual é o ponto do seu personagem para ser honesto. Ele esta ali basicamente para fazer o toilet humor, eu acho?


Pensando sobre isso, agora eu reparei que esse cartoon tem essencialmente a estrutura de Harry Potter, com o protagonista despretensioso, sua amiga inteligentes e pé-no-chão, o melhor amigo não tão brilhante mas de bom coração e o professor antagônico que pega no pé de todos eles. O que não é uma formula particularmente complexa ou única, verdade seja dita.

Seja como for, enquanto os personagens são passáveis, a coisa que eu realmente me desapontei com o show foi o quanto o enredo e a escrita pareciam bem genéricos. Embora a premissa do cartoon sejam monstros que vivem de lixo aprendendo a monstrear pq a existencia deles depende de assustar pessoas (né, Pixar?)... honestamente, muitos dos episódios poderiam ser colocados em qualquer desenho sem muito esforço.


Vários episódios de A!!!RM poderiam ser episódios de Hey Arnold ou Rugrats sem mudar praticamente nada, e isso passa uma sensação que o cartoon funciona bem como background noise, mas nada que prenda particularmente atenção. Até pq, como eu disse, o humor na maioria das vezes não era nada de especial, mesmo que houvesse algumas partes que me fizessem dar um sorriso não é nada de extraordinário.

A!!!RM não é um cartoon ruim por nenhuma medida, mas não é realmente surpreendente que tenha caído no esquecimento depois da sua exibição nos anos 90. O que, de certa forma, é o mesmo que pode ser dito do seu jogo licenciado para SNES/Mega Drive obrigatório: não é um jogo ruim RUIM, mas passa muito longe de ser grandioso também.


Pra começar, o jogo certamente se parece com o cartoon não apenas em sprites parados, mas também em como os personagens se movem e agem - o que é bom. Você pode alternar entre qualquer um dos três personagens a qualquer momento, sendo que teoricamente cada um deles tem uma habilidade especial única.

Ickis pode ser arremessado pra frente pra fazer pulos mais longos, Oblina pode empilhar os monstros para pular mais alto e Krumm pode arremessar seu olho para ver o que tem a frente. O que parece mais interessante na teoria do que é na prática, pq o level design praticamente não usa essas habilidades, é muito pontual quando você realmente precisa de um personagem especifico. 


Então embora no papel o jogo soe como THE LOST VIKINGS (que é um ótimo jogo) com cada personagem tendo uma habilidade para progredir na fase, a real é que o "gimmick diferenciador" desse jogo é completamente irrelevante.

Então, como uma adaptação, o jogo certamente funciona em um nível visual… pq fora disso, é um jogo de plataforma beeeeem genérico e esquecível sem nada para o diferenciar de qualquer outro jogo senão seus personagens licenciados.


Como um jogo de plataforma, A!!!RM consegue fazer um checklist em praticamente todos os pecados de um jogo de plataforma medíocre e esquecível: o salto é excessivamente flutuante, com danos de queda inconsistentes (às vezes você toma dano por cair menos de meia tela, outras vezes você pode despencar grandes distâncias e bater no chão, sem nenhum efeito negativo), e todos sabemos o quanto amamos jogos de plataforma com dano de queda por aqui... SQN.

A invencibilidade pós-dano que é padrão nos jogos de plataforma também é incrivelmente curta, levando alguns inimigos a drenar sua vida de maneiras ridículas - especialmente os chefes que são grandes na tela, então não é incomum eles drenarem metade da sua vida só com um encostão antes que você tenha a chance de reagir.

Tirando raros momentos que você precisa pular alto, não existe motivo pra não usar apenas Ickis o tempo todo já que ele é mais rápido e pula mais longe naturalmente

Mas também não é nada fabulosamente ruim a ponto de ser digno de um "worst of", é mais "whatever, this is bullshit and i dont care". Fica claro que foi um jogo que só foi feito pra embolsar alguns tututis com a marca licenciada - o que eu temo que será cada vez mais recorrente daqui pra frente no SNES e Mega Drive, já que estamos agora em 1996 e só vale a pena lançar um jogo para esses sistemas que começam a definhar se você tiver um diferencial.

Se você for um fã hardcore de Aaahh!!! Monstros (que é como esse cartoon foi lançado no Brasil, embora nunca passou na TV aberta) de verdade esse jogo pode realmente valer a pena, mas... sério, alguém no mundo é? Tal como o jogo, o cartoon original meio que existiu e foi okayish pro seu tempo, mas meio que é isso. O que faz dessa uma adaptação bastante fiel ao espirito do material-fonte. Não um jogo bom, mas definitivamente fiel.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 085 (Junho de 1995)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 024 (Março de 1996)