Hã, isso é estranho. Deveras estranho, com efeito. Quer dizer, a Treasure é a empresa que mais sabia tirar dos recursos do Mega Drive - bem mais que até do que a Sega entendia do seu próprio hardware, pq a Sega é pateta desse jeito, um ponto que eu repito frequentemente aqui. E não sem razão os jogos da Treasure eram (e ainda são) muito reconhecidos no Mega Drive: jogos como DYNAMITE HEADDY ou GUNSTAR HEROES são jogos que fazem o console cantar fino no que ele era capaz de fazer.
E por isso mesmo é bastante estranho que justo a Treasure tenha um action RPG totalmente obscuro. E nem é que EU nunca ouvi falar (já que eu tive uma familia que me amava eu cresci com o console bom), ele frequentemente figura em lista de jogos obscuros. Mas pq um jogo logo da Treasure, que foi devidamente lançado no ocidente, seria "obscuro"?
Eu gosto como na capa japonesa do jogo nosso herói parece estar completamente de saco cheio dessa merda |
Iniciando o jogo, a coisa toda parece ainda mais estranha pq segura essa manga: em uma cidadezinha da Putaquepariu do Oeste as pessoas estão desaparecendo, então o rei chama um cavaleiro para descer na dungeon perto da cidade e macetar a porra toda. Agora, espera aí um pouco... uma cidade isolada (que serve como hub para comprar itens e falar com NPCs) onde um cavaleiro tem que ir desbloqueando níveis em uma masmorra?
Eita porra, isso é basicamente Diablo! Então a Treasure, fucking e queridinha de todos megamaniacos Treasure, fez Diablo para Mega Drive e ninguém fala disso? Que porra é essa, Jorge?
MAS OI? EU NEM FALEI NADA AGORA
Ah sim, desculpe atrapalhar o seu sono. Seja como for, o que pega aqui é que Light Crusader é um action RPG... e a ação e o RPG não são os pontos fortes do jogo. Em primeiro lugar, o termo "RPG" é usado bem abertamente aqui porque enquanto você fala com as pessoas na cidade após terminar um andar da dungeon, não é mais profundo do que você veria nas cutscenes de qualquer jogo de plataforma.
Pessoas desaparecendo não é o que eu chamaria de "amazing", mas tá né... |
E enquanto existem equipamentos para upgradear o seu personagem, vou dizer pra vocês que eu não senti qualquer diferença no jogo. Sério, a primeira espada causa tipo 11 de dano em um goblin (dá pra saber pq o jogo exibe os números na tela), a segunda causa 13. Uau, mudou minha vida heim champz?
Enfim, se a parte do RPG é basicamente inexistente, a ação beira o catastrófico: seu ataque tem um alcance ridiculo, a hit detection é pior ainda e essa camera isométrica não faz realmente nenhum favor ao jogo. Você sabe que o jogo não é um bom jogo de ação quando sua primeira reação ao encontrar um inimigo é suspirar e dizer "putz...".
Por outro lado, esse é um dos poucos jogos que eu lembro que você tem como movimento de ataque se dar uma égua voadora! |
Para adicionar ofensa a injúria, esse é um daqueles jogos que você tem que passar algumas horas grindando os inimigos para acumular itens de cura já que devido aos problemas acima mencionados (hit detection ruim e ataque com alcance curto), os chefes enormes na tela (que são verdadeiras esponjas de dano, aguentam vários minutos de porrada) devoram sua vida como se estivessem sendo pagos pra isso. Yay, fun...
Sério mesmo, olha o tamanho do chefe, o alcance dele na tela e o quanto de porrada ele toma sem perder nem um tequinho de vida... |
UAU, EU NÃO SABIA QUE A TREASURE PODIA FAZER UM JOGO TÃO CATASTRÓFICO PARA O MEGA DRIVE...
Então, aí que está a coisa Jorge, eu gostei de Light Crusader.
NANI?! MAS SE O JOGO É TÃO FRACO EM SER UM RPG E ABERTAMENTE RUIM EM SER UM JOGO DE AÇÃO...
Sim, isso tudo é verdade. Mas também é verdade que quando você não está lutando, a parte de exploração das masmorras é bem legalzinha. Isso porque você consegue ver que a Treasure realmente colocou esforço foi aí: os mapas das masmorras não apenas são interessantes, como várias salas são resolvidas através de puzzles.
Isso não é particularmente novidade, jogos como LANDSTALKER ou EQUINOX já faziam isso de você ter que "resolver a sala" pra avançar na dungeon. O que Light Crusader faz de diferente, entretanto, é que enquanto esses jogos citados usam um grid no qual o movimento de cada objeto na sala é travado e padronizado, aqui a Treasure tenta algo bem mais ambicioso: o jogo tem um sistema rudimentar de fisica onde é possível empurrar os objetos para qualquer direção (incluindo diagonais) e bem frequentemente você tem que pensar fora da caixa para macetar a física do jogo.
Aqui, me deixa dar um exemplo:
Por exemplo, combinar Terra e Agua summona uma fadinha que fica atacando os inimigos, combinar Ar, Fogo e Terra cria uma saraivada de lasers. |
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 011 (Fevereiro de 1995)