sexta-feira, 29 de abril de 2022

[#870][SNES] BIG SKY TROOPER [Outubro de 1995]

Hã, isso é estranho: um jogo da Lucas Arts lançado para o Super Nintendo do qual quase ninguém fala a respeito? E não é nem pela data de lançamento, como se ele tivesse sido lançado quando o console estava abandonado nem nada, ele foi lançado no mesmo mês que SUPER MARIO WORLD 2: Yoshi's Island, então por favor né?

Porém foi só iniciar o jogo e eu meio que comecei a entender o que acontece aqui:


Sim, é exatamente o que parece: o jogo abre com 21 vidas para o jogador. Ou seja, existem duas possibilidades: ou esse jogo é trivialmente fácil, ou o jogo faz isso porque você vai precisar das 21 vidas. Qualquer que seja a resposta, nenhuma das duas opções é realmente boa para o jogador.

Mas vamos começar do começo. E eu quero dizer realmente do começo:


Hã, o que tem o logo da Lucas Arts com um alien aleatório? Bem, eis aqui que as coisas ficam interessantes:


Agora esse é um jogo da Lucas Artas que eu conheço, já começa esculhambando com o seu próprio logo!


Ó como eles ousam ter ossos E fazer publicidade? Malditos Lucasartianos, sua falta de decencia nunca terá fim, seres odiosos?


Não posso dizer que condene os aliens aqui. Bem, seja como for, assim se iniciou a cruzada alienígina para livrar a galaxia de ossos e publicidade, não necessariamente nessa ordem. E enquanto essa é definitivamente uma causa justa, obviamente que a humanidade não cairá sem lutar.

Entretanto parece que, por algum motivo que jamais será revelado, a humanidade está sem candidatos adequados para a guerra interestelar e por isso recruta a segunda melhor coisa no lugar de marines com anos de condicionamento físico e mental para a atividade militar: um moleque assistindo uma TV de 80 polegadas.


Vou dizer que estou mais assustado com um cara com derrame hackeando minha TV que aparentemente é 3D. 


Uau, eu não vejo como isso potencialmente pode dar errado. Especialmente pq a criança que eles querem recrutar é esse moleque que obviamente tem problemas psiquiatricos, ninguém normal tem uma cara dessas:


Mas antes de ser um tropeiro do céu grande, você tem que passar por uma série de testes exigente. Um deles envolve identificar imagens o mais rápido que você puder, mas não importa o quanto você demore no fim ele diz que "ah, é pra trabalhar pro governo mesmo, então essa velocidade está bom". Eu posso respeitar esse humor Lucasartenhos.

No fim, apenas um teste é realmente um desafio: você precisa digitar seu nome usando a caixa de entrada de nome mais lenta de todos os tempos. Foi preciso concentração e resistência, mas acabei colocando meu nome de 5 letras no jogo.


Eu reconheço um golpe quando vejo um, vocês realmente não tem mais ninguém pra lutar essa guerra, né? Mas tá, vamos lá então, o quão dificil pode ser ter que salvar a Terra de uma guerra intergalactica quando eles me deram 21 vidas pra isso? Hmm, pensando bem, acho que vou me arrepender de ter dito isso...

Mas tá, introdução a parte (que tem o bom e velho senso de humor da Lucas Arts), então o jogo começa... quer dizer, mais ou menos, eu acho... bem, então, essa é a coisa: eu levei mais ou menos uns 15 minutos pra conseguir começar o jogo. 

Pq? Simplesmente pq esse é um dos jogos mais burocráticos que eu já vi na minha vida, sério, nem jogo de computador dos anos 80 era tão obtuso assim... pra apenas você começar ele. Aqui, saca só o que você tem que fazer para começar uma partida:


Você tem que ir nesse computador na sua nave e selecionar a opção "Go to Viewport", e lançar uma sonda. Você tem que apertar o botão A apenas uma vez, se apertar mais de uma ele recolhe a sonda. 


Apenas depois que você tem uma sonda deployada, você pode viajar para o planeta vizinho. Chegando no planeta vizinho, você tem que fazer duas coisas: 

a) jogar um minigame tipo Asteroids para eliminar os aliens da orbita...


b) Aí depois disso você tem que sair do computador, ir pra essa marcação no chão, apertar A e só então você pode descer no planeta e fazer a sessão de ação.


Eu já falo sobre a parte de ação daqui a pouco, mas por hora o que você precisa saber é que depois de limpar o planeta de inimigos você tem que lançar outra sonda e recomeçar todo o processo para TODO E CADA PASSO NO CAMINHO. Sério, em qualquer lugar que você queira caminha no mapa você tem que fazer tudo isso.

E qual é o tamanho do mapa, você pergunta? Quantas vezes você precisa repetir esse procedimento apenas para ir a algum lugar especifico que a quest te manda? Bem, segura essa manga:


ʜᴏʟʏ ᴍᴀᴄᴄᴀʀᴏɴɪ ᴘᴜᴛᴀ ǫᴜᴇ ᴘᴀʀɪᴜ ɴᴀ ɢᴜᴀᴄᴀᴍᴏʟᴇ! Vocês querem me enlouquecer, só pode. E para adicionar ofensa a injúria, o número de sondas que você tem é limitado então adicione o passo de que as vezes suas sondas acabam e você precisa ir até lá e recolher ela, tem essa burocracia também.

Verdade que depois que as sondas estão instaladas você pode navegar livremente dentro da rota que você já liberou, então é menos pior. Mas ainda sim, como dá pra ver, abrir caminho nessa joça é de uma morosidade que faz você se perguntar pq apenas não está jogando DOOM no Super Nintendo como qualquer pessoa normal. G-Juiz no pogobol, véi...

Esse cachorro da capa europeia tá meio zoado, heim...

Mas calma que piora. Isso pq eu falei que o jogo tem quests, e na maioria as quests são bem simples: abra caminho até o planeta determinado, mate tudo e pronto. Mas as vezes não, o jogo te joga uma bola curva e exige objetivos mais especificos como conseguir uma armadura melhor.

Como você consegue essa armadura? Bem, você desbrava seu caminho até o planeta que o jogo marcou no mapa apenas para encontrar um comerciante lá, Para conseguir a armadura ele te troca uma colher de prata pelo upgrade de armadura. Como você consegue a colher de prata? Em um planeta desses ... pq o jogo não te diz qual, vc tem que ir em cada um até encontrar algo que você NÃO SABE QUE PRECISA ENCONTRAR... tem outro comerciante que troca um anel de diamante pela colher de prata.

Como você consegue o anel de diamante? Novamente, em um planeta aleatório você precisa encontrar (sem saber que precisa) uma lampada de bronze, então levar para o primeiro comerciante e trocar a lampada de bronze pelo anel de diamante. Agora, mais uma vez, vc precisa adivinhar que tem que fazer tudo isso, tem que adivinhar em qual planeta achar as coisas e precisa adivinhar que existem coisas para serem achadas, pq o jogo não te diz nada de nada. E me permita te lembrar que o universo desse jogo é DESSE tamanho para procurar:


Isso... isso é enlouquecedor. O jogo não te diz nada e você tem que tatear no escuro torcendo pelo melhor numa porra desse tamanho. A Lucas Arts quer me enlouquecer, não tem outra explicação. Não é atoa que ninguém nunca ouviu falar desse jogo, todo mundo que jogou isso está agora num quarto com paredes acolchoadas, pq isso é a definição de insanidade, simplesmente.

E se isso tudo que eu disse não foi o suficiente para devastar a sanidade de qualquer um que esteve a 2 km² de distancia desse jogo, só então vamos falar sobre a desgraça, miséria e dor que é a parte de ação desse jogo.

MAS ESPERA, ESSE JOGO É CONSTRUÍDO COM A ENGINE DE ZOMBIES ATE MY NEIGHBORS. ENQUANTO AQUELE JOGO PODE NÃO SER ESTELAR, AO MENOS SE É JOGÁVEL O SUFICIENTE.

Então, realmente esse jogo é feito usado a mesma engine de ZOMBIES ATE MY NEIGHBORS, mas a Lucas Arts fez algumas... modificações nela. Por exemplo: "E se os tiros do jogador tivessem 1/3 do alcance, causassem 1/4 do dano... mas os inimigos se movessem com 3x a velocidade?". Sem mentira que esse foi o processo por trás da criação do jogo, pq o resultado é exatamente esse e bastam poucos segundos de jogo pra vc entender pq o jogo te dá 21 vidas no começo.


Sério, eu não consigo descrever o quanto o combate nesse jogo é uma desgraça. As hitboxes inimigas têm apenas alguns pixels de largura e o alcance do seu zapper é muito curto - problema que os inimigos não tem, a sua hitbox é gigantesca na tela e os tiros deles viajam até a putaquepariudooeste. A unica forma é chegar perto de forma que não tem como matar um único inimigo nesse jogo sem tomar dano de volta. Yay, fun...

Mas calma que piora. Eu adoro jogos que eu tenho que dizer isso a cada paragrafo... mas enfim, o que rola aqui é que seus inimigos são lesmas de vários olhos. Quando você causa dano suficiente numa lesma (heh, boa sorte com isso), ela se divide em pequenas lesminhas conforme o número de olhos que ela tem (dois, três, quatro...). Você tem então poucos segundos para eliminar as lesminhas pq senão elas se juntam de novo e você está de volta a estaca zero.


Isso significa que o cenário mais provavel é que você vai se aproximar de um inimigo, tomar dano, atirar nele até a lesma se dividir, perseguir uma das lesminhas enquanto as outras continuam atirando em você e se for uma lesma de três ou mais olhos torcer para as outras lesminhas não se juntarem de novo...

Ah, eu suponho que agora deva ser a hora que eu aviso que isso é o jogo inteiro, todos os 8 bilhões de planetas nesse jogo são apenas isso, no máximo no lugar de lesmas tem robos que precisam de 24 tricotrilhões de hits para morrer, mas não apenas você não recebe nenhuma arma melhor como os planetas em si são telas de poucos tiles de largura que ficam se repetindo em loop.


Pra você ter uma ideia do quão enlouquecedor esse jogo é, ele tem apenas um walkthrough no gamefaqs... E O CARA DESISTIU NO MEIO! Eu nunca vi isso na minha vida, eu quero dizer literalmente em 870 jogos até aqui a única pessoa que tentou fazer um detonado disso cometeu sabaku durante o processo de tão enlouquecedor que esse jogo é!

E sabe o que é realmente triste? Este jogo poderia ter funcionado. Big Sky Trooper tem algumas boas ideias, apenas as executou horrivelmente. Tem algo épico em tentar ser o Mass Effect do Super Nintendo, viajar pelo cosmos, visitar vários planetas diferentes enquanto aprimora a sua nave e a sua armadura lutando amargamente contra inúmeros inimigos e probabilidades incríveis. 


Mas pra isso o jogo não devia basear sua dificuldade no quão pouco ele te diz e a parte de ação top down shooter... eu apenas rio em desespero branco. Se você vai fazer algo assim, à la ZOMBIES ATE MY NEIGHBORS, você tem que adicionar variedade, você tem que fornecer novos desafios, você não pode simplesmente fazer a mesma coisa repetidamente e esperar manter o interesse de alguém por mais do que alguns minutos. E, mais importante de tudo, tem que pelo menos dar alguma forma do jogador atacar os inimigos sem tomar dano no processo. Pelo menos uma.

Eu achava que isso não precisava ser explicado de tão óbvio que é, mas a Lucas Arts me provou que não é tão óbvio assim pra todo mundo.

MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 077 (Fevereiro de 1995)


Edição 083 (Maio de 1995)


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 034 (Março de 1996)