Existem alguns jogos que são tão icônicos dentro do seu gênero que é realmente dificil falar de algo da categoria sem cita-lo. Reviews de jogo de luta invariavelmente citam STREET FIGHTER II: THE WORLD WARRIOR ou MORTAL KOMBAT. Jogos de tiro em primeira pessoa? DOOM. Point'n click? THE SECRET OF MONKEY ISLAND. Você pegou a ideia.
Bem, e como não poderia deixar de ser, todo jogo de tiro com visão de cima é comparado com SMASH TV. E tá certo, SMASH TV é um jogo que exemplifica como didatismo o que podemos esperar de um jogo do genero: um bilhão de inimigos na tela que morrem com um (ou poucos) tiros para compensar pela quantidade, batidão no som e pipoco rolando na tela sem parar.
SMASH TV é um arcade de 1990, porém se você imaginar esse jogo modernizado e recauchutado tecnologicamente para ser um jogo de Playstation ... o que você teria é essencialmente o que Loaded é.
Embora o jogo não tenha uma história dentro do disco, a Interplay fez um acordo com a DC Comics que providenciou uma história em quadrinhos de 12 páginas que vinha junto com o CD contando a história do jogo. E é uma história beeeem... hã, ela é, definitivamente, ela é.
Ter o nome do Garth Ennis na capa já devia te preparar, pq esse cidadão tem coisinhas na cabeça... |
O que rola aqui é que F.U.B. (abreviação de "Fat Ugly Boy") foi uma vez um oficial de refeitório com os fuzileiros. Em dada ocasião, F.U.B. e seu regimento ficaram presos e sem suprimentos em um deserto estéril. Não querendo desapontar "seus meninos" e incapaz de encontrar qualquer carne, F.U.B., cozinhou suas próprias pernas e as serviu em um caldo. Apesar de ser o melhor prato que ele já havia criado, o pessoal do exército ficou ... hã, preocupado ... em ter alguém com esse quadro mental na linha de frente e F.U.B. foi ... realocado... em um lugar onde ele poderia causar menos estrago.
O que seria como diretor do planeta-prisão Raulf para condenados com perturbações mentais. Tipo o Asilo Arkham encontra ALIEN 3. Nesse sanatório/prisão, os seis personagens jogáveis têm as mais diferentes perturbações psiquiatricas, mas o que eles têm em comum é que todos são criminosos psicóticos que não estão satisfeitos com o tratamento que receberam do diretor F.U.B.
Capa japonesa do jogo |
O jogador (ou dois, no modo de dois jogadores) deve escapar de Raulf, caçar F.U.B. e meter pipoco nele. Já F.U.B. por sua vez acha essa ideia deveras divertida e decided soltar todos os prisioneiros que tem que lutar entre si para chegar até ele, e aquele que conseguir mata-lo tem a sua liberdade. Pq pareceu uma ideia divertida, é claro.
Isso sendo dito, Loaded apresenta sem dúvida a gama mais original de personagens em top down shooter e questionavelmente de qualquer jogo, talvez comparável apenas aos da série Twisted Metal. Senão vejamos, nós temos:
1. Um cara vestido roxo de vovó com lança-chamas que se chama Butch.
2. Um palhaço psicótico com o título colorido de FWaNK (que é o que aparece na capa e na maior parte das artes do jogo).
3. Cap N cumpre a função do pirata ciborgue com duas garruchas.
4. Mamma, é um cara grande e gordo com a mentalidade de um bebê.
5. Bounca que é um bouncer com mandíbula de aço.
6. E finalmente, Vox, uma DJ que... parece não ter nada de errado com ela! O que ela está fazendo neste jogo, então? Bem, suponho que eles sentiram que precisavam ter a personagem feminina de sempre: rápida, mas com uma arma fraca.
Embora, infelizmente, não exista nenhuma história durante o jogo em si - ou sequer um final diferente para cada persoangem - os personagens pelo menos tem armas, velocidades e dano recebido para cada personagem, e eu diria que tem uma diferenciação de jogabilidade decente entre eles.
O lança-chamas tem o alcance mais curto mas mata mais rápido, em compensação os tiros de garrucha vão longe mas não aparecem na tela para ajudar o jogador a mirar. Não é nada muito mirabolante a diferença, mas é diferente o suficiente entre eles. O problema do jogo é que, diferente de SMASH TV, vc não tem armas adicionais nesse jogo: vc precisaria trocar de personagem, pq cada um só usa a sua e isso tira muito da variedade do jogo. Ah, e as bombas de limpar a tela são visualmente únicas para cada personagem - mas é uma coisa mais estética já que o efeito é sempre o mesmo.
E se os recursos dos seus personagens são apenas o básico do básico... os inimigos também não são muito melhor que isso. Existem alguns tipos humanos, alguns robôs e alguns inimigos critters-irritantes como ratos rápidos, caranguejos-aranha e coisas que eu não sei descrever exatamente, mas definitivamente envolvem partes de barata.
Embora a variedade de inimigos seja bem pobre, pelo menos o jogo tenta compensar isso fazendo algumas coisas interessantes. Pra começar, nos primeiros níveis tem os prisioneiros lutando entre si, o que é algo que eu sempre acho muito legal em jogos - pena que é apenas nas primeiras fases.
Agora o aspecto legal, e pelo qual Loaded é mais lembrado, é por sua ultraviolencia: quando você atira em criminosos da prisão eles não caem, não senhor. Eles literalmente explodem em sangue vermelho brilhante que decora o chão como uma pintura renascentista. E se você usa o lança-chamas ao invés de sangue fica uma marca de corpos carbonizados, joinha por esse detalhe.
Se você tem uma enorme propensão para a violência (estilo de vida que provavelmente será sua ruína um dia), você ficará satisfeito enquanto ouve os sons do SCHLOP dos seus inimigos virando pudim de sangue. Agora, se você não consegue imaginar nem mesmo soltar uma estranha risada horrorizada com esse espetáculo, acho que posso dizer com segurança que Loaded não é um jogo pra você.
Então na atenção aos detalhes Loaded é um jogo satisfatório ao que se propõe a fazer, é nos termos mais amplos que Loaded vacila. O level design é okay (ao invés das salas fechadas de SMASH TV, você tem labirintos que precisa achar chaves coloridas como em DOOM), a falta de variedade no gameplay torna a experiencia massante para um jogo tão longo.
SMASH TV foi um jogo que nasceu nos fliperamas, o que significa que ele foi pensado para você jogar por no máxio 3 minutos antes de perder a ficha. Para esse proposito, atirar em tudo na tela e sobreviver o quanto puder é um conceito bastante okay. Agora fazer a mesma coisa durante 4 horas sem variação no gameplay, sem powerups, sem fases muito diferentes... aí cansa o caboclo.
Isso somado a dificuldade do jogo puxa o nível da experiencia pra baixo. A dificuldade brutal do jogo é o tipo de coisa que faz com que os jogadores queiram jogar frisbee com o CD muito antes de terminarem o jogo. O desafio não seria tão ruim se você pudesse superá-lo com gameplay e estratégia mais inteligentes, mas há tão pouco que se pode fazer de diferente nesse jogo que a sobrevivência geralmente se resume a correr loucamente, esperando que você possa matar os inimigos antes que eles o matem ou você possa encontrar um power-up de saúde. Felizmente, há uma infinidade de códigos de trapaça, se você quiser, e uma vez ativados você não precisa digitá-los novamente.
A melhor coisa que posso dizer sobre Loaded é que a trilha sonora ainda é muito boa. O batidão eletronico constante é o que você esperaria de um jogo de Playstation com essa temática, sendo um predecessor de jogos estilo Hotline Miami que são sobre mandar pipoco fazendo headbanging.
Os gráficos, por outro lado, não vão impressionar ninguém. Os designs básicos dos personagens são legais, mas a visão de cima significa que você mal consegue distinguir seus recursos no jogo - com efeito, eu não consigo nem lembrar com qual personagem eu joguei o jogo. Sei que foi o do lança-chamas, mas eu tive que pesquisar pra lembrar qual era ele. Todos os níveis também parecem muito uns com os outros: todas fase de prisão parecem a mesma só com cores diferentes, todos os níveis de portos espaciais parecem idênticos e todos os níveis externos parecem idênticos, apenas com layouts diferentes.
Seguindo a tonica do jogo: se a ideia macro não é muito interessante, no micro tem coisas que valem a pena: os efeitos de fonte de luz ainda são a melhor parte da apresentação, se você levar em conta quando o jogo foi lançado. Em 1995, era super legal ver suas balas iluminando um corredor escuro. Infelizmente, a versão de Saturn tem muito slowdown sempre que tem muitos inimigos na tela (o que é sempre), no original do PlayStation isso acontece bem menos.
No fim do dia, Loaded é um produto do seu tempo. Eu gosto da ideia original para os personagens, e o tom de batião eletronico com gore pastoso. Mas o tédio realmente mancha a experiência geral. Horas gastas vagando atrás de chaves, muitos inimigos sobre os quais você não pode fazer nada... Você descobrirá que existem alguns níveis que você nunca mais vai querer jogar, o que o levará a usar o truque Skip Level - e se o jogo precisa de um truque para você jogar ele menos tempo... isso não é uma coisa boa.
Enquanto Loaded é legalzinho em doses curtas ou com um amigo (caso vc tenha um, ao contrário do meu caso), dificilmente é o melhor título para jogar pelas 3 a 4 horas que ele exige. Como disse a Next Generation: "15 fases de carnificina são suficientes. Ou talvez mais do que suficientes: enquanto as fases podem parecer diferentes, o gameplay é sempre o mesmo - atire em tudo que se mexe, exploda o que não se mexer e encontre os poucos itens que você precisa pra seguir em frente. Um pouco mais de variedade e imaginação teriam feito desse jogo algo mais do que a experiencia superficial que ele é"
MATÉRIA NA AÇÃO GAMES
Edição 099
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