[MEGA DRIVE] DUNE: Battle for Arrakis (Agosto de 1993)[#602]
"I must not fear.
Fear is the mind-killer.
Fear is the little-death that brings total obliteration.
I will face my fear.
I will permit it to pass over me and through me.
And when it has gone past I will turn the inner eye to see its path.
Where the fear has gone there will be nothing.
Only I will remain."
Existem obras boas, existem obras que são as melhores de seu genero, existem obras que mudam o mundo para sempre... e então existe Duna. Duna não é apenas um livro espetacular, ou mesmo o melhor livro que eu já li. Não, Duna é... algo além disso, é algo especial que mesmo a visão interior não consegue enxergar claramente a explicação na neblina cinzenta das encruzilhadas do tempo. Duna é... algo mais.
Porque veja, existem livros que depois de lançados mudaram o cenário literario, mudaram as regras de como a literatura funciona. Duna é um desses livros, mas então existem outros livros que também mudaram a literatura em seu tempo como Senhor dos Anéis ou Harry Potter. Eu realmente acho Duna o melhor livro que eu já li na vida, mas essa é apenas a minha opinião e como tal é subjetiva.
A capa americana do jogo não é lá essas coisas, mas essa capa europeia não poderia ser mais genérica nem que fosse paga pra isso
O que torna Duna realmente especial, o que objetivamente não é subjetivo (até porque é isso que a palavra significa), é que Duna mudou a literatura. Como outros livros fizeram antes dele e outros fizeram depois.
Aí então tentaram adaptar Duna para o cinema... e Duna mudou o cinema para sempre, até hoje você vê o legado de Duna em vários filmes, a própria forma com que pensamos a cultura pop passa necessariamente por Duna. Então nos anos 90 fizeram um videogame sobre Duna (que é o motivo desse texto, afinal) e... você não precisa ser um mentat para perceber um padrão aqui. Os videogames mudaram para sempre também.
If you know, you know
Como isso é possível? Como uma obra pode ter tamanho poder em qualquer mídia que ela passe? É sobre o que eu vou falar aqui, mas não tenho certeza se eu vou conseguir explicar com fidelidade o que se passa sob o inclemente sol arrakino.
"A beginning is the time for taking the most delicate care that the balances are correct. This every sister of the Bene Gesserit knows."
E NO COMEÇO, HAVIA ARRAKIS, O MUNDO INFORMALMENTE CONHECIDO COMO "DUNA"
Antes de eu começar a falar do livro escrito em 1965 por Frank Herbert, é necessário explicar o contexto que esse livro foi escrito. Até os anos 60, ficção cientifica não era um genero exatamente... respeitado. Huh, homenzinhos verdes, robos, armas laser, beep-bop. Ninguém levava sci-fi a série como alta literatura. Claro que existiam uns caras muito fora da curva como H.G. Wells, Isaac Asimov ou mesmo Aldous Huxley, mas eles eram exceções a regra.
Porém a partir dos anos 60 uma coisa bastante interessante aconteceu: a geração que cresceu lendo os pioneiros da ficção cientifica passou a escrever seus próprios livros a respeito (mais ou menos o mesmo fenomeno que ocorreu quando a primeira geração que cresceu jogando videogame passou a criar os próprios jogos) e, somado ao assunto do momento que era a corrida espacial na guerra fria, tivemos um grande boom do sci-fi como genero literário.
Só que esses caras não queriam falar apenas sobre naves espaciais, poderes mentais, aliens e pew pew raios laser... tá, TAMBÉM queriam falar sobre isso porque é legal pra caralho né... mas eles queriam se expressar, expressar sua visão de mundo sobre política, religião, filosofia e as relações humanas em geral - expandindo o que os pioneiros antes deles fizeram, como por exemplo Mary Shelley propos questões interessantes sobre o que realmente te faz humano em Frankenstein.
E é justamente aí que a ficção cientifica faz com facilidade essa coisa de criar cenários fantasticos onde as questões humanas podem ser abordadas através dessa situação através de metáforas ou diretamente. Então havia nos anos 60 toda uma safra de novos escritores querendo usar as coisas que eles gostavam para falar das coisas que eles achavam importantes, e é nesse contexto que Duna nasce.
Mas... o que é Duna?
Duna in a nutshell
Bem, o universo de Duna se passa no futuro... beeeeem no futuro, tipo uns 20 mil anos no futuro, onde em algum ponto houve a inevitavel rebelião das máquinas e de alguma forma miraculosa, a humanidade venceu. Disposta a não incorrer no mesmo erro duas vezes, toda tecnologia computacional foi banida e a raça humana passou a desenvolver o próprio cerebro para substituir o que os computadores faziam.
A boa noticia é que após gerações e gerações e gerações de cruzamentos genéticos especificos isso deu certo e assim nasceu toda uma sociedade baseada em humanos com mentes tão avançadas que desenvolveram até mesmo poderes psíquicos como controlar outras pessoas ou prever o futuro.
ESPERA, ONDE EU JÁ VI ALGUMA COISA ASSIM?
Pois é, mas eu já chego lá. Então, a noticia ruim, no entanto, é que esses altos níveis de consciencia que permitem as pessoas verem brevemente o futuro ou fazer calculos complexo de hypersalto espacial dependem necessariamente do uso de uma substancia chamada de "spice" (traduzido como "especiaria", o que é uma tradução muito feliz e logo você vai entender porque) que acontece de só existir em um único planeta: o inóspito mundo desértico de Arrakis, chamado popularmente de "Duna".
Então temos um universo em que personagens com níveis de inteligencia Death Note, em um universo que bruxas psiquicas tentam atingir o suprasumo da evolução humana (chamado na religião delas de "Kwisatz Haderach") enquanto o Imperador da porra toda e as casas maiores da galáxia brincam de Game of Thrones com o planeta mais valioso do universo.
Hmm, o que podemos adicionar a isso para deixar MAIS LEGAL? Ah, já sei! Os desertos de Arrakis - onde o Spice deve ser coletado - são habitados por MINHOCOS MONSTROS GIGANTES e entre eles vive uma população de NINJAS DO DESERTO.
ESPERA, ESSA COISA DE VERMES DO DESERTO EU JÁ...
Sim, eu sei. A gente já chega lá. Mas então, como dá pra ver Duna é uma mistura de coisas awesome que resulta em um produto final mais awesome ainda. Quer dizer, é basicamente a jornada do herói que junta Akira, Game of Thrones, Death Note, espiões supergênios e saiba que o conceito de choosen one que transcende a realidade de Matrix é tirado daqui também. E aí você pergunta... como pode ficar melhor que isso?
EU NÃO PERGUNTEI NADA DISSO, PORQUE JÁ PARECE REALMENTE AWESOME A ESTE PONTO.
Ah, mas você deveria, Jorge. Porque Frank Herbert não queria apenas escrever a história mais awesome ever, ele queria se expressar artisticamente a respeito das coisas do seu tempo... e é aqui que as coisas ficam interessantes.
Porque vejamos: uma terra que possui a riqueza mais importante para aquela sociedade, mas o lugar é um buraco inóspito pela natureza e seus exploradores estão cagando para o lugar desde que tirem os recursos que precisam... isso parece com alguma coisa que você já tenha ouvido falar?
Então, todo cenário de Duna é fortemente inspirado no colonialismo do oriente médio e o primeiro ato do livro é todo narrado sob a ótica dos colonizadores: as casas maiores disputando seus altamente complexos jogos de poder enquanto desconsideram a população local como um bando de selvagens supersticiosos.
Mais precisamente, a inspiração do cenário é no oriente médio do século 20, mas a execução - em como os personagens agem e na estrutura política - parece muito com o colonismo britanico do século 19, tem muito a coisa do "olhe que selvagem pitoresco enquanto tomamos chá e discutimos coisas importantes e civilizadas" que se tornou até mesmo um genero de literatura com obras como THE JUNGLE BOOK, Tarzan e Robinson Crusoé" - e justamente por isso a substancia ser a "especiaria" não é um acidente linguistico e sim uma referencia direta.
Porém é apenas no segundo ato do livro que isso é desconstruído e vemos como os Fremen (a população nativa de Arrakis) possui uma cultura milenar e profundíssima fervilhando entre as necessidades de sobreviver aquele ambiente insobrevivel e um frenesi religioso de que alguém vai cair do céu para resolver a vida de merda que eles levam. E que se ignorada (ou piorada, na verdade) pelos colonizadores, vai apenas levar a uma jihad que incendiará todo o universo.
Hã, mais uma vez, você já ouviu falar de alguma coisa assim?
E que os colonizadores ultra civilizados e iluminados são na verdade uns caras de mamão que não fazem ideia de porra nenhuma.
ISSO... PARECE UMA HISTÓRIA INCRIVELMENTE AMBICIOSA DE SER CONTADA.
E é. Só que não acabou aí. Em meio a tudo isso, ainda tem um grande desenvolvimento filosofico-religioso sobre o que significa ser humano e o que é a percepção do tempo e se existe um destino, já que o protagonista da história no meio dessa zona toda ainda é o chosen one que vai ir full Akira e despertar sua mente ao máximo do seu potencial.
Todo o lado dramático do personagem é justamente sobre como manter a sua humanidade quando você não é mais como nenhum outro humano?
TIPO O DOUTOR MANHATTAN?
Mais um legado de Duna.
E essa é a maior força de Duna, porque ele entrega numa escrita magistral tudo que a premissa se propõe a fazer. Todos esses elementos se costuram em uma teia de tramas dentro de tramas dentro de tramas que nas mãos de um autor menos habilidoso ficaria apenas ridiculo (acredite, Death Note tenta fazer isso e tem sua boa cota de cenas ridiculas), mas aqui não porque Herbert consegue fazer ficar tão fluído e tão organico que mesmo a cena da criada apresentando a casa nova a sua "senhora" acaba sendo tensa porque tem muita coisa em jogo ali de pelo menos uns três lados envolvidos.
Uma coisa que eu sempre digo é que escrever é simples. E por isso mesmo precisa de mais esforço do que as outras midias para ter valor. Por exemplo, se eu escrevo a frase "o bebê chutou a bola", isso não tem valor nenhum, é só uma frase e eu posso fazer isso quinhentas vezes com pouco esforço.
Agora se eu agregar mais complexidade a esse conceito e colocar imagens - digamos filmar ou melhor ainda, animar um bebe chutando uma bola que é muito mais complicado - então o seu valor inato aumenta porque não é tão simples assim. Se eu acrescentar mais complexidade ainda e fizer, digamos um jogo disso, então o valor aumenta ainda mais.
Isso é uma faca de dois gumes porque por um lado as outras midias precisam fazer menos que a literatura para ser impressionante devido ao grau de complexidade inato ao processo. O que pode parecer uma critica minha, mas não é, porque por outro lado a literatura - justamente por ser simples no ato de faze-la - oferece um grau de liberdade que nenhum filme, seriado ou jogo pode sonhar em atingir.
E se você explorar ao máximo essa liberdade que a ausência de complexidade trás (tanto ao ponto que o ato de escrever se torna complexo) somado ao espaço generoso que a midia oferece, então temos algo realmente único. Duna é a literatura levada ao melhor que ela pode ser, e como resultado temos algo tão complexo em tantas camadas diferentes que Duna jamais poderia ser um filme ou mesmo um jogo, não sem perder profundidade no processo.
E de alguma forma Duna consegue ser complexo sem deixar por um momento deixar de ser interessante. Se dada a opção de escolha, eu prefiro histórias que tem personagens mais desenvolvidos do que a trama (claro que em um mundo ideal eu teria os dois, mas não é realista esperar ambos). Duna não tem exatamente os melhores personagens do mundo, mas sua trama, o seu mundo, o seu worldbuilding é tão rico e tão interessante que você fica viciado em saber no que aquilo vai dar mesmo assim.
Duna é a literatura sendo o melhor que ela pode ser, e mais nada pode ser o que ela é.
O COMEÇO É UM MOMENTO MUITO DELICADO
“Deep in the human unconscious is a pervasive need for a logical universe that makes sense. But the real universe is always one step beyond logic.”
Como eu disse a dois paragrafos atrás, Duna é a literatura levada ao seu máximo potencial. Duna não pode ser um filme, não pode ser um jogo, não pode ser um boardgame sem mudar o que ela essencialmente é. Duna precisa ser um livro.
Mas... Duna também é a série de ficção mais vendida de todos os tempos, com muita justiça, então é inevitavel que cedo ou tarde alguém tentasse fazer um filme disso. E é aqui que a história fica realmente louca.
Na metade dos anos 70 os estudios estavam morrendo de vontade de abocanhar esse mamão no ponto, mas a verdade é que isso não é uma tarefa fácil. Duna não é um livro como qualquer outro, e não vai funcionar como qualquer outra adaptação de livro. E é aqui que a história do cinema muda para sempre.
Porque nessa loucura surge o cineasta chileno Alejandro Jodorowski que pensou o seguinte: "esse é o maior livro de todos os tempos, então não pode ser adaptado como nada senão o maior filme de todos os tempos!". Bem, Jodorowski era um tanto... excentrico... mas ele não estava errado realmente. E nem estava brincando no que ele se propos a fazer, a adaptação de Duna de fato foi ambicionado como o maior filme de todos os tempos.
Pra começar, o script original de Jodorowski tinha de 10 a 14 horas de filme. Só aí já seria um exagero, mas isso era apenas o começo: ele procurou os maiores artistas de cada area da época e talkeou eles a entrarem no projeto... e eles aceitaram!
Então a pré-produção do filme tinha, por exemplo, todo o storyboard desenhado pelo maior quadrinhista europeu de todos os tempos, Jean "Moebius" Giraud. A trilha sonora? Apenas Pink Floyd (que tinha acabado de lançar "Dark Side of the Moon". O artista francês HR Giger. Elenco? Mick Jaeger, David Carradine, Orson Welles e para interpretar o Imperador ninguém menos que Salvador Dali. Sim, aquele Salvador Dali.
Dalí, alias disse a Jodorowsky que estava interessado, mas que tinha alguns problemas. O trono do imperador tinha que ser “uma privada feita de dois golfinhos que se cruzavam”; Os próprios amigos de Dali teriam que interpretar os cortesãos do imperador; e ele não leria o roteiro de Jodorowsky. “Minhas ideias são melhores do que as suas”, argumentou Dalí. O preço de trabalhar com um gênio, eu suponho...
O filme ficou dois anos e meio em pré-produção e gastou mais de dez milhões de dolares só nisso antes que qualquer cena fosse filmada, até que os estudios chegaram a conclusão que se esse filme realmente saísse ele seria impagavel. E essa é a parte importante.
Porque depois que o projeto foi cancelado, Jodorowski mandou ele para outros estúdios e todos fizeram a mesma coisa: colocaram o projeto na gaveta e disseram "se aparecer alguma coisa a gente te liga". O que normalmente seria o fim da história, exceto que agora todos os estúdios de Hollywood tinha na gaveta mais de dez horas de material de pré-produção da adaptação de um dos maiores livros de todos os tempos com trabalho de alguns dos melhores artistas de cada area. E os estúdios usaram isso.
Quando, por exemplo, um tal de George Lucas apresentou seu script de um tal de "Guerra nas Estrelas", o executivo disse pra ele "esse teu material é legal, mas posso te dar umas ideias?". Star Wars ser sobre monges psiquicos em um planeta deserto não é coincidencia, acredite. Ou que o Jabba de Hut seja um mafioso com obesidade mórbida que lembra muito o Barão Harkonnen.
A equipe de arte conceitual que Jodorowski montou, liderada pelo tal HR Giger, continuou trabalhando junta e muito provavelmente você deve ser bem familiariazado com o trabalho deles - muito inspirado nas artes conceituais que eles tinham feito para Duna:
Moebius e Dan O'Neal também continuaram trabalhando juntos, até que encontraram outro grande fã de Duna chamado Riddley Scott e apresentaram algumas ideias de efeitos especiais para ele que seriam usados em Duna. O resultado:
E que tal a profecia de um escolhido que sua mente transcende a percepção da realidade envolvendo muita filosofia e religião no meio? The Matrix é Duna até o talo também. E que foi o filme que explodiu a carreira do Keanu Reeves, olha como Duna torna o mundo melhor!
Alias as irmãs Watchowski são tão fãs de Duna que em 2015 tentaram fazer seu próprio "politica intergalactica simulator" em Jupiter Ascending... o que resultou em um filme horrível em que a Milla Kunis limpa privadas porque ninguém dá oportunidade pra ela. Aham, claro.
Eu poderia passar um bom tempo falando sobre as influencias de Duna nos filmes de ficção, mas você pegou a ideia. A coisa dos vermes gigantes da areia - a imagem mais iconica de Duna - se tornou tão arraigada nacultura popular que você sabe do que eu to falando mesmo sem nunca ter visto nada a respeito de Duna.
Então de certa forma o filme de Duna originalmente pensado nunca foi feito, mas suas ideias se fragmentaram em milhares de ideias que até hoje você não consegue dar meia duzia de passos na cultura pop sem esbarrar em algo e pensar "espera, isso veio de Duna, não?"
Bem, pra dizer que nunca teve um filme de Duna, em 1984 foi feito um mas é tão ruim que o próprio diretor (David Lynch) evita falar sobre ele. Agora para 2021 é para estrear um dirigido por Denis Villeneuve, e depois que ele fez um filme legal pra caralho sobre alfabetizar aliens eu não duvido de mais nada desse cara. Eu ainda não vejo como adaptar Duna pra um filme de duas horas, mas se pode ser feito por alguém, eu apostaria nesse Villeneuve.
“When religion and politics travel in the same cart, the riders believe nothing can stand in their way. Their movements become headlong - faster and faster and faster. They put aside all thoughts of obstacles and forget the precipice does not show itself to the man in a blind rush until it's too late.”
E ENTÃO HOUVE O PLAY
Se uma adaptação de Duna para filmes é muito dificil, o que dirá então para videogames? Ora, super easy, barely an inconvenience! Lembra o que eu disse antes? Por ser uma midia com mais complexidade intrinseca a sua natureza, videogames podem se dar ao luxo de fazer algo mais simples e se safar com isso. Então fazer um videogame de Duna não é de todo inviavel, até porque sempre houveram jogos de guerra e você escolher uma facção e controlar tropas é algo que seria viavel em Duna.
E foi o que a Cryo Interactive fez em 1992, um war game de Duna. Clique em suas unidades, clique no adversário, pew pew pew, nice and easy. Verdade que esse jogo em particular tem elementos de ainda de visual novel e point'n click, mas não é tão revolucionário quanto a descrição sugere
EU ACHEI QUE VOCÊ TINHA DITO QUE DUNA MUDAVA TUDO PARA SEMPRE POR ONDE PASSAVA, ATÉ MESMO NOS VIDEOGAMES
Ah, mas mudou. Definitivamente mudou, só que não foi com ESSE jogo. O jogo que eu me refiro é Dune II, lançado alguns meses depois. Veja, a Westwood (que entendia só de fazer point'n clicks como THE LEGEND OF KYRANDIA: Book Two - Hand of Fate) foi incumbida pela Virgin de fazer um novo jogo de Duna.
O problema é... que eles estavam sem ideias realmente. Quer dizer, eles não podiam fazer um point'n click contando a história do livro porque era meio que o jogo anterior tinha feito. Eles podiam fazer um jogo de guerra, eu suponho, mas... meh, ia ficar bem genérico fazer um jogo de guerra qualquer e só colocar os nomes das casas do livro.
Então estava lá a Westwood nesse impasse, pensando no que fazer da vida e jogando SIM CITY 2000 (algumas versões dizem que era SID MEYER'S CIVILIZATION, mas dá no mesmo) quando lhes ocorreu uma ideia louca: E SE, veja bem, E SE eles fizessem um jogo de guerra... mas ao invés de ganhar unidades para derrotar o oponente... você tivesse que coletar recursos para você mesmo construir as suas coisas?
Quer dizer, coletar recursos é o grande tema da vida em Arrakis, ficaria perfeito nesse jogo! Então você começa o jogo com alguns peões, eles coletam especiarias, com isso você constrói bases que formam soldados, constrói novos prédios que fazem outras coisas como uma estação de radar que mostra areas no minimapa, silos para poder aumentar seu limite máximo de spice (que é o dinheiro do jogo), fabricas de unidades motorizadas de combate ou windtraps que fornecem energia eolica para alimentar a sua cidadezinha e zaz!
Como eu disse, uma cruza de Sim City com war game.
Só havia um problema: ninguém nunca tinha feito um jogo desse tipo antes... não, espera, isso não é um problema, isso era uma puta de oportunidade! Batalha em tempo real com gerenciamento de recursos, nascia assim um genero de jogo de estratégia inteiramente novo - hoje conhecido como RTS (Real Time Strategy). E honestamente, é muito divertido!
Imagine que é tipo jogar Sim City, você constrói sua cidadezinha e tal, só que tem um modo de guerra e você explode seus vizinhos! Po, que ideia boa! Claro que esse Dune 2 não é perfeito porque é o primeiro jogo do seu genero jamais produzido e muitas coisas seriam melhoradas depois (como a IA, por exemplo, que se você enfrentar mais de uma facção no mesmo mapa elas ignoram uma a outra e se unem para fazer bangbang em você), mas a ideia é realmente boa!
Eu realmente gostei de como eles incorporam detalhes do cenário, como os vermes que engolem unidades que ficam dando mole na areia (sempre pare sobre as pedras) e as construções tomarem dano pelas intempéries do clima porque Arrakis não é para principiantes.
Olha o MINHOCO! Perdeu preiboi!
O genero recem nascido fez tanto sucesso que posteriormente a Westwood se especializou nesse tipo de jogo, ficando bastante conhecida pela série Command & Conquer. Mas, mais importante que isso, Dune 2 fez tanto sucesso que outros estúdios viram isso e pensaram "po, taí um genero que a gente pode trabalhar". O que incluia um pequeno estúdio da California que tinha acabado de fazer The Death and Return of Superman
Uma tal de Blizzard, que lançou um RTS de fantasia chamado "Warcraft: Orcs and Humans". Agora pense nisso: sem Duna, não haveria RTS. Sem RTS, não haveria Warcraft. Sem Warcraft, os MMORPGs teriam morrido em 2005 como uma modinha passageira. Então Duna é responsável direta não apenas por um, mas por DOIS generos de videogames inteiros!
Cê achou que eu tava de sacanagem quando eu disse que Duna mudava tudo por onde passava, hã? Quando os fãs de Duna dizem que é mais fácil achar alguma coisa que NÃO foi influenciada pela obra de Frank Herbet, ninguém tá de sacanagem!
Bem, esse foi o meu breve resumo da história de Duna através das midias, assim como também foi o primeiro texto publicado em 2021, então por isso eu reservei para postar algo realmente especial aqui - e não tem como ser muito mais especial que Duna.
Uma coisa muito legal nesse jogo é que as construções do computador funcionam com as mesmas regras que as suas, então você pode atacar as windtraps do inimigo para ele ficar sem energia e não conseguir mais usar as bases dele, ou destruir as fabricas de soldados para ele não poder mais produzir novas unidades. Ou, melhor ainda, mandar foottroops e tomar a instalação pra vc!
E se você chegou até aqui parabéns: você sobreviveu a 2020. A única coisa que podemos esperar para esse ano é que as coisas fiquem melhores... mas mesmo que não fiquem, ainda sim estaremos aqui jogando e postando textinhos.