Okay, o caso de hoje é... peculiar. Ontem mesmo falamos da página da Super Game Power dedicada aos primeiros jogos da série Metal Gear. Só que o segundo jogo que eles falam é uma coisa tão bizarra, tem uma história tão anoma-la que eu decidi fazer um post separado para ele - logo vcs entenderão o pq e concordarão comigo.
No episódio anterior, contamos como Hideo Kojima usou as limitações do MSX2 para criar um novo genero de jogos - os jogos de furtividade - e isso não apenas foi um grande sucesso no próprio MSX2 como foi um sucesso maior ainda para o Nintendinho apesar do seu port ser uma desgraça maluca feita por estagiarios em 3 meses.
Mas muito que bem, passamos essa história e agora as coisas estavam melhores para nosso menino Hideo-magia. Após terminar o primeiro Metal Gear e ter um sucesso cavalistico, ele teve liberdade da Konami para escolher seu próximo projeto e estava feliz e contente trabalhando na visual novel que viria a ser conhecida como SNATCHER - um jogo que tem bem mais a cara do Kojima e suas Kojimices do que o primeiro Metal Gear.
Num dia desses, Kojima estava lá, feliz e contente voltando pra casa do trabalho de trem quando ele encontra um colega de Konami no trem, mais especificamente um colega do time que tinha feito o port do jogo para o Nintendinho, alguém que não fazia parte do time direto dele. Ele se aproxima do colega pra dar um oi - o que faz do Kojima o japonês mais sociavel de toda história do Japão - e o colega dele responde todo sem jeito. Intrigado com a reação do colega, ele começa a conversar e então em dado ponto o colega dele diz que se sentia bastante desconfortável com o que estava acontecendo.
"Mas o que estava acontecendo?" Kojima perguntou, e então seu colega disse que ele não achava certo eles estarem trabalhando numa continuação de Metal Gear sem a participação dele. Ao que Kojima reagiu da seguinte maneira:
Como assim "continuação" de Metal Gear e ele não estava sabendo de porra nenhuma? Você sabe, ele, o criador do jogo original? No dia seguinte ele foi até a Konami, chutou a porta e perguntou que merda era essa de continuação do jogo dele que ele não tava sabendo de nada.
Os chefões da Konami então responderam que o jogo era DELEs e eles não precisavam da autorização dele para fazer nada, o time que fez o port que do jogo para o Nintendinho faria uma continuação e se ele achasse ruim que fizesse ele uma melhor - sim, vc achando que a Konami era babaca apenas hoje em dia, eles meio que sempre foram os cuzões que conhecemos hoje. Bem, foi exatamente o que ele fez: Kojima ficou full putaço e em paralelo ao seu trabalho com
SNATCHER começou a trabalhar numa continuação para Metal Gear, a SUA continuação.
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Oh, btw, apesar de eu sempre reinterpretar a história de uma forma colorida por aqui, essa história do trem aconteceu mesmo, ela foi contada pelo próprio Kojima em entrevistas |
Só que como triggeraram o modo full pistola do Kojima, Metal Gear 2 (o dele) é uma versão monstruosamente melhor que o jogo original e muito mais parecido com o
METAL GEAR SOLID que viriamos a conhecer anos depois no PS1. O sistema de furtividade foi imensamente expandido e adicionado o radar que todos conhecemos e amamos, trocando o spawn aleatório de inimigos por posições fixas para os inimigos fora da tela, a narrativa passa a ser o novelão dramalhesco brega pra caceta Kojimianos que todos conhecemos e amamos, vários minutos em conversas tergiversivas pelo Codec, chefes iconicos com histórias bregas, all the good stuff.
Metal Gear 2: Solid Snake é uma continuação que estabelece todos os pilares da franquia que viriam a se tornar o Metal Gear que todos conhecemos e definitivamente o jogo que eu esperava encontrar quando joguei o anterior. Tá, legal, mas... e a OUTRA continuação de Metal Gear?
Você sabe, a que a Konami começou a fazer sem a participação do Kojima para o Nintendinho? Então, Metal Gear do MSX acabou tendo duas continuações: "Metal Gear 2: Solid Snake" feita pelo próprio Kojima para o MSX, e o jogo que falaremos hoje, a continuação para Nintendinho "Snake's Revenge" feita sem o conhecimento do homem.
Mas... isso sendo posto, o que será que o próprio Kojima acha da outra continuação feita na época? Bem, primeiro - já que estamos nisso - vamos ver o que o homem pensa do port do seu primeiro jogo para o Nintendinho:
É, eu acho que ele não gostou muito. Apenas acho. Isso sendo dito do que ele considera uma "abominação injogável", o que então ele pensa da sequencia feita sem ele?
Hã, interessante. Kojima odeia com a furia de mil sóis amarelos o jogo que faz um port porco do seu jogo original, mas não se importa muito com a continuação que tenta fazer a sua própria coisa. Algumas pessoas pegam o recorte que ele diz na entrevista que Snake Revenge é lixo, mas não foi esse o contexto que ele falou. Ele disse que considera Snake's Revenge um kusoge (jogos que são divertidos justamente pelo quão ruins ou bregas, tipo o The Room dos jogos), e isso vindo do Mr. Kusoge em pessoa é um elogio, pq afinal o que é
METAL GEAR SOLID senão rei de todos os kusoges?
Estará ele Eu joguei ambos e posso dizer que meus sentimentos são exatamente opostos ao do mestre Hidão aqui: eu acho o port do primeiro jogo para Nintendinho ruinzinho mas jogavel, agora se alguma coisa na vida merece ser chamada de "abominação injogável", SEM OR, com certeza é essa desgraça aqui.
Então, sem mais delongas, vamos abordar a outra continuação de Metal Gear original, Snake's Revenge! ... pensando bem, vamos fazer uma delonguinha sim pq eu absolutamente PRECISO mostrar a história desse jogo no manual:
Espera, O QUE? O vilão aqui é HIGHROLLA KOCKMAMIE que tem uma base em ISHKABIBIL? Mano, sério, a unica explicação que eu consigo pensar é que o cara teve um AVC enquanto escrevia esses nomes e caiu de cara no teclado, pq desde já eu declaro absolutamente intankavel o Altorrola Mamacock da republica de Xisquebab. Não dá, vei, na boa, simplesmente ainda mais intankavel o Ishkabibil.
Mas sabe o que é melhor nisso tudo? O que é verdadeira e genuinamente melhor aqui? É que nada disso está no jogo realmente. E eu não estou me referindo a coisas do tipo "a história é contada apenas no manual", o que era comum para a época, mas sim que o que está no jogo é radicalmente diferente do que está escrito no manual.
Então não apenas não uma única vaga menção ao Mamacock, como o chefe final do jogo é na verdade o Big Boss do jogo anterior, porém aqui mantido vivo por uma armadura/suporte de vida. Ao ser derrotado nessa forma, ele então assume sua VERDADEIRA forma que não apenas o deixa completamente invulnerável como o faz virar...
O ROBOCOP! Sim, Big Boss vira o Robocop e está completamente invulnerável! Oh noes!
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"Every night I can feel my leg, my arm, even my fingers. The body I've lost, the comrades I've lost, won't stop hurting. It's like they're all still there. You feel it too, don't you?" |
Porém, a verdade que o Big Boss Robocop não é inteiramente invencível, ele tem sim um ponto fraco!
Sim, taí algo que vc não sabia que o único ponto fraco do Big Boss são as solas dos seus pés. O que quer dizer que vc deve derrota-lo usando minas terrestres, embora pecinhas de Lego seriam um substituto adequado pq o Big Boss claramente ainda não sofreu o suficiente nessa vida
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Tá fácil sua vida não, heim Big Boss |
Mas enfim, esse é o nível de tolice que podemos esperar desse jogo e eu suponho que esse final no estilo "Aha! O Big Boss vira o Robocop!" é algo que te prepara bem para o que esperar encontrar por aqui. Isso, é claro, e o manual do jogo que mostra os membros do seu time que vc encontrará durante o jogo:
Uau. Apenas uau. Sério, é só o manual do jogo e eu já estou sem palavras pra explicar o que eu estou vendo aqui. Pq não apenas os caras chamaram o sobrinho de alguém "que sabe mexer com essas coisas de desenho" para ilustrar o manual (você sabe, da continuação do jogo que vendeu mais de um milhão de cópias para uma das maiores desenvolvedoras de games do Japão), como eles apenas trocaram a "imagem" do Solid Snake e do J.T. Muitas aspas para imagem.
E eu definitivamente tenho que dizer que minhas definições do que seria uma "espiã sensual" são meio diferentes das do cara que desenhou a Jennifer X. Eu realmente não acho que tentar colocar olhos em um traço mais realista em um desenho que parece feito por uma criança de 8 anos ajude muito, sabe?
Mas enfim, chega de falar de tolices acessórias e vamos falar do jogo em si que... oh boy... esse é um daqueles.
Bem, a boa noticia é que logo na intro do jogo já tem um Metal Gear, o que faz desse um jogo com 100% mais Metal Gear do que o jogo anterior do Nintendinho e olha que se passaram apenas 3 segundos com o console ligado! Um bom começo, hã?
Bem, a nossa história aqui (a história de verdade dentro do jogo, não a maluquice de Xorofompila que está no manual) é que a Vingança de Snake... não tem nenhuma vingança realmente. Apenas apareceu um novo Metal Gear e como ele é o cara com mais experiencia na firma, mandam ele pra parada.
Só que para isso agora lhe são dados dois assistentes, olha só que plano de carreira top!
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Por alguma razão, a faca do Snake faz o TCHWIN do Mega Man quando ele guarda ela |
Sua equipe é composta então pelo filho do Che Guevara com o Usopp, e por um menino negro que claramente não mais do que 8 anos de idade. Porém duvido que eles serão necessários, pq o próprio Snake andou tomando umas paradinhas do jogo anterior pra cá. Bração saiu da jaula, heim mermão?
Para não ser injusto dizer que esse jogo não faz NADA certo, Snake’s Revenge volta e pega emprestado do Metal Gear original coisas que foram cortadas da versão NES. Existem agora dois níveis de alerta, e dar um soco nos inimigos faz com que eles dropem rações e munição. Com o nível de alerta elevado, passar para a próxima tela não é suficiente para fazer com que todos se esqueçam de você. Em vez disso, você tem que matar um número suficiente deles para convencer o resto a não vir atrás de você. Gosto da lógica de argumentação do Snake, isso tem que ser dito.
E honestamente, o jogo parece mais visualmente atraente do que a primeira versão do NES. Os gráficos são mais limpos e os sprites mais bonitos, e a hit detection está muito melhor. Verdade que agora Snake parece mais o Schwarzenegger do que o espião slim que nos acostumamos a ver, mas então eu entendo que é algo que um menino de oito anos consideraria legal na época. Snake agora é o Rambo e isso não é o fim do mundo também.
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Eu não tenho certeza que deixar seus prisioneiros ao ar livre no meio de três veículos é a melhor forma de manter refens, mas o que eu sei realmente? |
Outra coisa que o jogo acerta é que ele abandonou seu mundo interconectado em favor de fases mais lineares. O que é uma coisa boa, se você não é um gênio como o Kojima e não se garante fazendo um mapão da porra interconectado, faz o simples e fica com fasezinhas fechadas mesmo, é louvavel que os desenvolvedores entendam os seus limites e não forcem a amizade tentando coisas que eles não conseguiriam executar, então esse jogo ser mais linear é bom na verdade.
Porém de todas as coisas que mudaram do jogo anterior, eles decidiram manter justo a mais irritante de todas: o sistema de troca de chaves foi mantido. A coisa, de longe, que mais irrita no Metal Gear original é que vc pega oito chaves numeradas ao longo do jogo e nenhuma delas se torna obsoleta: cada vez que você se depara com uma porta trancada, você precisa entrar no menu e equipar uma por uma até encontrar a que abre a porta.
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Vamos lá caras, eu tenho certeza que eu tenho mais balas do que vocês tem soldados |
Não existe indicação na porta, não existe sequer um sistema de cores, vc pode estar a duas telas do ultimo chefe e ainda sim tem que testar todas as chaves até descobrir que a que abre a porta é a card key 5 das 8 que você tem. Isso era ruim no primeiro jogo, mas terem mantido isso em Snake’s Revenge parece ter sido feito por puro despeito.
Sério, perto do final do jogo você chega a uma série de salas que cada um possui três portas e apenas uma delas pode ser aberta. E estão todas trancadas, obviamente. Então a única a única maneira de descobrir se a porta abre é testar as oito chaves uma por uma em cada uma delas, sendo que em duas você vai testar todas as chaves e nenhuma vai funcionar. Se isso não foi feito de proposito apenas pelo prazer de ser um filho da puta, então eu não sei mais o que seria.
Falando em ser filho da puta, a adição mais estranha a essa continuação fórmula é a inclusão de seções de plataforma. Não que incluir sidescrolling num jogo com visão de cima seja o maior crime do mundo (
THE LEGEND OF MYSTICAL NINJA 2 faz isso e tudo bem), porém Snake’s Revenge faz da pior forma possível.
Os controles são a coisa mais pavorosamente dura que eu já em uma fase de plataforma, a movimentação do boneco foi desenhada usando os piores sprites possiveis e por alguma razão você pode rastejar seu caminho inteiro já que os guardas não conseguem olhar para baixo. Eu não sei pq o inimigo empregou guardas com colar servical obrigatório, suponho que precisava preencher as vagas de PCD, mas isso não os tornam realmente eficientes.
Em adição a isso, essas fases de ação lateral tambem tem sessões de agua onde descobrimos que sem o respirador Snake consegue prender o folego por menos que três segundos e se afoga imediatamente. Que Solid Snake era o maior agente secreto asmático do mundo, taí algo que eu realmente não sabia.
Falando em coisas erradas que esse jogo faz, os chefes também chegam bem perto de serem ofensivos. Verdade que seus ataques baseados em padrões e é tecnicamnte possível vencer eles, mas seus ataques são difíceis de evitar e causam danos massivos quando você é atingido. A forma mais comum de jogar esse jogo é vencer os chefes comendo rações como se Snake tivesse desistido de sua resolução de perda de peso de Ano Novo. Não é excessivamente difícil, nem o jogo é como um todo, e honestamente os chefes não a coisa mais vai te matar. A maioria das vidas que vc perde são para os malditos buracos instantaneos que surge debaixo de vc pq o "AHA! TE PEGUE!" da versão anterior de NES volta com a furia de um vulcão que entra em erupção, sua lava vai espalhar e verá toda fúria do dragão!
Sério, eu já vi muitos jogos que baseiam toda sua dificuldade no programador gritando "AHA! TE PEGUEI!" para o jogador, mas em todos esses anos nessa industria vital poucas vezes eu vi um jogo que fizesse isso com tanto ardor quanto Snake's Revenge.
Ainda sim, eu preciso dizer que, como um todo, eu já vi piores. Tipo, bem piores. Qualé caras, eu já joguei
BLADES OF VENGEANCE, com certeza os buracos de Snake's Revenge são uma bosta mas uma vez que vc aprende a esperar eles... continuam sendo uma bosta, mas vá lá, dá pra viver.
SABE, DO JEITO QUE VC ESTÁ COLOCANDO ESSE JOGO PARECE RUIM, MAS NÃO TÃO RUIM ASSIM
E meio que é isso mesmo, Jorge. Certamente não é um jogo top tier ou sequer é um jogo bom, mas não é a bastardização que algumas pessoas fazem parecer. Verdade que parece um trabalho de criança de terceira série perto de Metal Gear 2: Solid Snake que o Kojima lançou apenas três meses depois desse jogo, mas como uma continuação do jogo original - especialmente o do Nintendinho - ele faz okayzinho. Claro que eu seria mais feliz se eles largassem de mão a porra do sistema de chaves, mas de modo geral ele é uma versão melhorada e mais jogável do port de NES do primeiro jogo.
Hoje, todo mundo caga ba cabeça desse jogo especialmente pq existe um Metal Gear 2 de verdade, mas foi colocado um certo esforço aqui e ele não é ofensivamente horrível. Quer dizer, a primeira área (a selva) é realmente ofensivamente horrível e uma aula de como uma primeira fase ruim pode fazer os jogadores desistirem do jogo pra sempre. Sério, o posicionamento desses holofotes combinado com a mudança de tela foi uma péssima ideia, e eu totalmente entendo que a maior parte das pessoas desiste na primeira fase pq ela é absurdamente frustrante.
Porém para aqueles que passarem essa prova de sofrimento e dor, bem, o resto de SR não é tão ruim assim. De verdade. E se alguma coisa, ao menos esse jogo é o responsável direto por Kojima ter pilhado em continuar fazendo mais jogos de Metal Gear e apenas por isso esse jogo já vale a sua existencia.
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
EDIÇÃO 056 (Novembro de 1998)