segunda-feira, 18 de março de 2024

[#1257][Ago/98] THE KING OF FIGHTERS: Kyo


A primeira vista, a ideia de KoF: Kyo não parece apenas ridícula como um cashgrab desesperado. Quer dizer, uma visual novel de King of Fighters? Serião mesmo? Mas então, se vc pensar melhor sobre isso, na verdade faz bastante sentido sim.

Vamos lá: a história da saga de Orochi, que engloba os eventos de THE KING OF FIGHTERS 95THE KING OF FIGHTERS 96 e THE KING OF FIGHTERS 97, é uma saga épica e bastante interessante criada pela SNK contada ao longo desses três jogos. O problema é que The King of Fighters é um jogo de luta e contar uma história complexa é... complexo. Para pegar toda a história vc tem que terminar o jogo várias vezes com combinações especificas de personagens.

Por exemplo, para ver o final canonico de KoF 97 vc precisa especificamente terminar o jogo com um time formado por Iori, Kyo e Chizuru. O que é bem contramão de fazer nas versões caseiras do jogo, porém no arcade é absolutamente inviavel esperar que o jogador termine o jogo várias vezes com times específicos.

O resultado disso é que vc tem uma história bem interessante, porém contada de uma forma não tão simples assim. Logo, vc começa a entender o pq uma visual novel faz sentido! Depois de tudo dito e feito nos jogos de luta, essa visual novel conta de uma forma linear (kinda of) os eventos que se passam após THE KING OF FIGHTERS 96 até o final de THE KING OF FIGHTERS 97.

Para saber o que é a saga de Orochi, o que são os Hakeshuus e toda história certinha, recomendo ver meu texto sobre THE KING OF FIGHTERS 97 pq eu conto essa história lá. Ela é meio grande e eu não vou explicar aqui de novo

Com efeito, o jogo se passa durante um prazo de trinta dias anteriores ao começo do THE KING OF FIGHTERS 97 e o jogo tem um sistema que é bastante similar aos social links da série Persona: vc tem uma cidadezinha com lugares para ir, rolam ceninhas, de vez em quando vc tem que fazer escolhas de dialogo que dão ou tiram pontos de afeição com determinado personagem.

É, a melhor forma de descrever esse jogo como um "Persona de KoF" e na teoria isso soa uma coisa awesome (se vc não odeia visual novels, isso é). Na prática, hã... a teoria meio que é outra.

Nessa tela vc pode ver os lugares para visitar, e quantos dias falta para começar o torneio (sendo que vc gasta dias visitando os lugares e tal)

O que rola aqui é que durante 1 mês viveremos a vida Kyo Kusanagi e as coisas que acontecem com ele como pessoas o desafiando pra briga (já que ele é famoso por ser o vencedor do THE KING OF FIGHTERS 96), ele aprendendo mais sobre a lenda de Orochi, tendo uma rotina escolar com Athena, Sie e Shingo como colegas na escola, visita a Coreia do sul e encontra Kim, Choi e Chang, conhece Chin ao visitar a China, viaja para a América e participa de uma treta dos irmãos Bogard e Blue Mary investigando as tretas de Geese Howard, conhece o Art of Fighting Team no México (Ryo e Yuri Sakazaki, e seu amigo rico Robert Garcia), irmãos Bogard e Blue Mary na America, ele é atacado pelos Hakeshuus de Orochi que ainda sequestram a sua namorada.

Como dá pra ver, é muita coisa acontecendo em apenas um mês e esse é o maior problema da visual novel: ela meio que não consegue decidir se quer contar a história da saga Orochi, ou se quer ser um fan service para mostrar personagens queridos da franquia, tenta fazer os dois ao mesmo tempo e não faz nenhum particularmente bem.

Não é terrível TERRÍVEL, mas o jogo gasta muito tempo para ceninhas que não vão levar a lugar nenhum, apenas para mostrar o Choi Bounge. Verdade que existem algumas que são interessantes - esse provavelmente é o único jogo da história que mostra a Mai Shiranui vestida como uma pessoa normal no dia-a-dia - mas na grande parte do tempo vc sente que não está indo a lugar algum realmente.

A parte de visual novel então alterna entre o que é bastante bacana (especialmente as partes com a Chizuru e explicando o que é a treta com Orochi, e definitivamente o pai do Kyo é uma figuraça) e partes que vc sente que isso não está indo a lugar nenhum (como toda a ladaia que a prima dele é ensinada a usar poderes de Orochi pelos Hakeshuus). É okay.

O que é menos okay é o sistema de combate desse jogo, pq já que sendo uma visual novel que se passa no universo de KoF é claro que tudo se resolve no tiro, porrada e bomba.

Athena tentou dar um punhetaço em Chris, mas AQUI NÃO BARANGA

A questão é que vc não resolve as coisas como um jogo de luta e sim como um RPG. 
Cada turno vc tem algumas opções para selecionar: dá pra avançar ou recuar na tela, defender, carregar a barra de mana, dar um ataque físico ou soltar um ataque especial (que consome mana). 

Tirando a coisa que o posicionamento na tela importa (vc tem que estar a X distancia para um golpe funcionar), funciona exatamente como um RPG japonês com uma pequena diferença, e essa diferença que é o problema aqui.

Quando um movimento é selecionado, o jogo faz uma rolagem aleatória da velocidade contra o movimento do oponente e isso é influenciado por vários fatores, incluindo velocidade do movimento (cada um tem o seu próprio stat), distância entre os personagens e o movimento selecionado. Só o golpe que vence na iniciativa é que é executado, então pra vc conseguir executar um golpe lento se o adversário escolheu um golpe rápido, vc vai precisar de alguma sorte na rolagem aleatória do jogo.


Então um soco simples usualmente é mais rápido que um ataque especial e frequentemente ganha na prioriade, porém não tira nada de dano - é uma escolha que vc tem que fazer, tentar interromper o especial do adversário ou causar dano. Tem também os movimentos de esquiva e defesa que se funcionarem, fazem o adversário gastar a mana do especial dele mas vc não toma dano.

O maior problema é isso é essencialmente um sistema de pedra-papel-tesoura onda é quase impossível determinar se os ataques serão bem-sucedidos ou falharão – há muitos fatores, mas o jogo nunca deixa claro quais são exatamente. 

Mai Shiranui vestida como uma pessoa normal, taí uma coisa que não se vê todo dia

Tipo você usa o seu especial fodido, mas não tem como saber que o adversário vai dar um soquinho e ganhar na iniciativa, se vai esquivar ou se vai usar o especial dele que pode ou não ser mais rápido que o seu, vc não tem como saber nada, é tudo na sorte. Tudo o que o jogador pode fazer é se esquivar (para ganhar speed up) e memorizar a distância dos diferentes ataques, e torcer para que eles acertem. Dada a natureza aleatória do sistema, é difícil criar qualquer estratégia real, especialmente se continuarmos a falhar nos movimentos (o que também esgota a barra de mana).

E um sistema de combate que depende exclusivamente da aleatoriedade não é exatamente um sistema de combate feliz - quer dizer, existe um motivo pelo qual campeonatos de jokenpo não são transmitidos na televisão, né? Eu particularmente consigo tankar uma visual novel que alterna entre o medíocre e o interessante, porém esse sistema de combate baseado em aleatoriedade me quebra muito. E não ajuda muito que os combates sequer cenário tem, parece muito um sistema de baixo orçamento gambiarrado de ultima hora.

Sério, o pai do Kyo é uma figuraça (e que alias o Saisyu era um dos chefes em THE KING OF FIGHTERS 95

Adicione a isso que a arte desse jogo não é a arte oficial dos personagens e sim um traço que tem uma bastante de doujin amador, e essa é uma visual novel com bem menos interessante do que poderia ser. A dublagem é okay e as músicas também (embora o sintetizador no PS1 de alguma forma soe pior do que no Neo Geo, mas okay), mas no fim do dia a grande atração do jogo é para pessoas interessadas na lore de KoF que querem todos os colecionaveis da série. Nesse sentido, Kof:Kyo está no mesmo patamar de jogos como ULTRAMAN FIGHTING EVOLUTION que é mais um colecionável para fãs do que um jogo por seus próprios méritos.

Então para aqueles interessados ​​no enredo de KoF e familiarizados com o japonês (ou espanhol, já que existe uma tradução de fãs - que foi o que eu usei para jogar), The King of Fighters Kyo é uma maneira legal de aprender mais sobre os personagens e suas origens, mas no final das contas são apenas várias ceninhas de visual novel semi-conectadas (ao menos completar a sidequest habilita o personagem para ser recrutado para o seu time no torneio KoF97 no final do jogo, então alguma coisa vc ganha com isso) por algumas cenas de luta terríveis.

Bem, ao menos todos personagens tem um ataque especial com cenas de anime, o que é bonitinho


MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
EDIÇÃO 048 (Março de 1998)


EDIÇÃO 056 (Novembro de 1998)


MATÉRIA NA GAMERS
EDIÇÃO 027 (Fevereiro de 1998)


EDIÇÃO 035 (Novembro de 1998)