quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

[AÇÃO GAMES 026] CLUE (SNES, 1992) [#321]

 

 
Eu cresci jogando Banco Imobiliário sozinho, criando personagens para cada jogador e até roubando para as personas que eu gostava mais (sim, o retrato da solidão, eu sei), mas embora eu também tivesse Detetive esse foi um jogo que eu joguei muito menos na minha vida. O principal problema o jogo de tabuleiro era que o mesmo necessita de no minimo três jogadores para Detetive, ou seja, isso é dois amigos a mais do que eu tinha na época. Ou mesmo hoje. Mesmo com dois jogadores você ainda está vagando em salas e fazendo sugestões, mas como cada jogador aprende as mesmas pistas ao mesmo tempo, não há como jogar um jogador contra o outro. Você está apenas marcando as coisas na sua ficha e esperando que o mistério se desenrole.

A versões para videogame resolveria esse dilema ao adicionar um numero ilimitado (limitado a seis) de players controlados pelo computador. Agora, finalmente, eu poderia jogar Clue em toda sua honra e glória sem os meus amigos inexistentes.


Só que diferente de Banco Imobiliário, que é o mesmo jogo de tabuleiro transposto para o Super Nintendo, Detetive utiliza as características únicas de ser um videogame para ser um jogo diferente do que é no tabuleiro. Você não está competindo contra os outros jogadores tanto quanto você está jogando um enorme jogo de dedução contra a própria casa.



No jogo de tabuleiro você entra em um comodo, faz uma acusação de um personagem e uma arma naquele lugar. Os outros jogadores devem checar se têm as cartas correspondentes a este suspeito, cômodo e arma. Caso tenha uma das três cartas na mão, o jogador à sua esquerda será o primeiro a mostrá-la para você. Se ele não tiver segue a ordem até alguém mostrar uma das cartas - e se ninguém tiver as cartas, você já sabe o que está dentro do envelope do mistério!

A versão de Super Nintendo funciona levemente diferente. Ao dar uma sugestão em um comodo, o jogo dá uma resposta mais vaga sobre a questão. Digamos que você acuse o Coronel Mostarda de ter usado o castiçal no Hall: o jogo então vai dizer que o Coronel Mostarda tinha o castiçal - ou seja, SE foi ele, então essa é a arma que utilizou. Na dificuldade mais dificil, o jogo diz que o castiçal não estava no hall (ou que o Coronel Mostarda não estava no Hall) e você tem que ir eliminando as possibilidades.

Eventualmente você descobre que o Coronel Mostarda não estava no Hall, na biblioteca, no escritório, na cozinha e em nenhum lugar. Ora, se ele não estava em nenhum lugar não pode ter sido ele! Ou então você descobre que o castiçal estava no Salão de Jogos, então se foi o Salão de Jogos o lugar então tem que ter sido o Coronel Mostarda com o castiçal lá!


O jogo do Super Nintendo é mais sobre fazer deduções com suas anotações do que riscar suspeitos de uma lista, como no jogo de tabuleiro. Duas vezes por partida, entretanto, você pode fazer "interrogatórios" que funcionam como as coisas são no jogo de tabuleiro: você dá um palpite e se alguém tem a carta tem que mostrar. Isso ajuda a dar uma acelerada nas suas investigações, eliminando um local, suspeito ou arma sem você ter que fazer todo rodeio de descobrir onde as coisas e pessoas NÃO estavam.

É uma mudança ousada alterar o fluxo do jogo para o videogame, mas eu gosto como o jogo melhora a essencia do que Detetive é usando o computador como narrador do jogo. Eu gostaria mais se o jogo providenciasse uma forma de você fazer suas anotações usando a interface do próprio jogo, mas ao menos o manual providenciava uma tabela para você fazer suas anotações.


Visualmente, Clue no SNES é muito bom também. Há cortinas de veludo vermelho que sobem e descem, cenas cutscenes bem animadas e muitos trocadilhos ruins: "The Ballroom was filled with the echoes of parties long since dead…". Entendeu, a expressão a "festa morreu" quando estamos investigando um assassinato, hã? Hã?

Eu também gosto de como eles se deram ao trabalho de codificar algumas linhas para quando você descobre o assassino e ele é o seu próprio personagem. "Foi o Coronel Mostarda na Cozinha com a Chave Inglesa, é claro! Não, espera, EU sou o Coronel Mostarda, oh meu deus, o que foi que eu fiz!". Uma adaptação menos cuidadosa certamente teria ignorado isso.


Enfim, Detetive é um jogo mecanicamente limitado para os padrões de hoje - foi desenvolvido por um soldado inglês durante a Segunda Guerra Mundial para passar o tempo com os colegas nas trincheiras entre um tiroteio e outro, mas dentro do que é possível melhorar o jogo eu acho que a versão de Super Nintendo faz o que era possivel ser feito.

A Sculptured Software não é das minhas empresas favoritas (eu já escrevi sobre alguns jogos deles como Super Star Wars, Town & Country II: Thrilla's Surfari e Bart's Nightmare), mas kudos onde kudos são devidos. Não dava para fazer com Detetive muito mais do que foi feito nesse jogo, realmente.