sexta-feira, 25 de setembro de 2020

[AÇÃO GAMES 044] SKYBLAZER (SNES, 1994)[#503]


Esse jogo foi lançado em janeiro de 1994, mas graças a magia da piratagem de embalar betas vazados o jogo está na Ação Games de 1993
Em 1993 a Sony já estava secretamente trabalhando no videogame que viria a dominar o mundo pelos próximos... bem, até hoje na verdade. Porém isso não é o suficiente, você não pode realmente ser o rei dos videojogos se entender apenas de hardware, você precisa lançar alguns jogos também para pegar a manha do negócio.

Por isso volta e meia ela lançava um jogo outro, sendo o mais conhecido deles Hook, baseado no filme do Robin Willians sobre o Pedro Pão. Bem, dois anos depois a Sony decidiu fazer outro jogo de Hook porque toda engine do jogo já estava pronta e era só fazer novos desenhos, empurrar para a area e sair para o abraço.




Só que obviamente eles não poderiam usar os personagens do jogo porque como Hook nunca teve uma continuação isso seria um desrespeito artistico a integridade cinematográfica do filme... ou porque a Sony teria que pagar os direitos para usar a marca do filme a Tristar Pictures. Acredite em qual versão você achar mais plausível.

Bem, mas então como faz outro jogo de Hook sem ser Hook? Simples, desenhe novos personagens, invente uns nomes novos... ou nem invente, apenas pegue da mitologia hindu e taque a partir daí. Foi exatamente o que a Sony fez.

Mas caso você não seja um grande estudioso da cultura hindu, nada tema. O jogo te introduz ao seu universo:


Uau, Sony, sério eu apenas espero que vocês melhorem suas capacidades narrativas porque senão essa coisa de fazer eu próprio videogame não vai muito longe. Outra boa dica é não fazer aberturas no Windows Movie Maker, saibam vocês.


Ok, vocês melhoraram... eventualmente... mas bem, deixando girafinhas suadoras de olhos de lado, vamos falar desse jogo aqui. No Japão o jogo se chama Karuraou, que significa algo como "Rei Garuda". Como você pode imaginar pelo nome, aqui você joga como Garuda - a águia solar que é a montaria da deusa Vishnu. 


O que é legal, mas eu ainda prefiro a versão de Digimon:


Ah, internet, por favor nunca mude...

Enfim, nesse contexto o terrível Ravana sequestrou a deusa Vishnu para sacrifica-la e trazer de volta o demonio Asura (na verdade "asura" é o equivalente hindu a demonios, não uma entidade em especifica, mas enfim), e como você ficaria parecendo um idiota sendo uma montaria divina sem uma deusa para montar em você, cabe a Garuda resgatar Vishnu e trazer glória a toda nação indiana novamente.

Ah, e nesse jogo Garuda possui uma forma humana, levando a coisa de "montaria" a um contexto inteiramente diferente...


Oooooutro contexo. Ah, Japão, por favor nunca mude.

Porém como você pode imaginar, a mitologia hindu não é exatamente popular entre as crianças americanas. Ciente disso, a Sony da América decidiu que não fazia mal tornar o jogo mais legal mudando os nomes dos personagens para nomes mais IRADOS SEU COROA!

Dessa forma, Garuda virou Sky, Vishnu virou Ariana, Ravana virou Raglan e Ashura... continuou sendo Ashura. Esse nome soou legal para os gringos, vai entender. 


Em termos de gameplay, Skyblazer é realmente uma continuação de Hook: o mesmo gameplay, com algumas mecanicas novas. Basicamente saí a habilidade de voar usando o pó de pirlimpimpim e entra a habilidade de grudar nas paredes a lá Ninja Gaiden.

O defining trait do jogo entretanto é o sistema de magias, bastante inspirado em Mega Man. Isso porque ao derrotar um chefe você ganha um novo power up e cada magia é melhor contra um chefe em específico, tal qual o jogo do bombardeiro azul.


Contra esse chefe, por exemplo, você precisa usar essa magia porque é o único jeito de acertar o chefe E conseguir escapar do ataque dele a tempo, se você for no corpo a corpo não tem como evitar tomar dano.


Existem um total de 8 magias, cada uma com efeitos diferentes e que influenciam não apenas na matação de inimigos, como na exploração. Uma das magias dá invencibilidade temporária, por exemplo, e isso é usado para explorar areas com espinhos que te matariam de outra forma. Ou a magia que dá um dash no ar (o Comet Flash) é usado para acessar outras areas.

O level design é interessante e exige o uso das suas magias de forma legal, além de não ser ranzinza com os inimigos droparem mana. Porém não é nada excepcional também, definitivamente não é um LITTLE SAMSON, e muito menos é o fabuloso ROCKET KNIGHT ADVENTURES em como você tem que usar suas habilidades de formas criativas.


Visualmente, o jogo é topo de linha para o que ava para fazer no SNES em 1993. Apesar do visual do personagem não ser o design mais interessante do mundo, o jogo todo é impressionantemente bonito para sua época. Repare por exemplo como eles se deram ao trabalho de fazer as arvores de forma que parece que elas estão balançando com o vento, é um toque realmente de classe.

O som é de igual calibre, um dos mais limpidos e claros que existem no SNES. Mas isso não é surpresa, afinal foi a própria Sony que criou a placa de som do SNES, então é apenas esperado que eles entendam melhor do que ninguém como utiliza-la.

Mas falando em visual do jogo, tem uma coisa que me intriga, entretanto:


Espera aí ... ele não sabe quantas vidas eu tenho? Isso é novo, nunca vi um jogo tentar adicionar um pouco de mistério ao seu contador de vidas antes. Bem, mais tarde eu descobri que a primeira fase do jogo é na verdade um tutorial e você tem vidas infinitas só nessa fase, mas ainda sim foi interessante.

Falando em primeira fase, ela funciona um pouco diferente do resto do jogo. Mais ou menos como em Mega Man X, que você tem uma fase tutorial antes de começar o jogo per se. E é aqui que somos apresentados ao plot do jogo, já que a introdução não fez grandes favores sobre isso...


Raglan sequestra Ariane para usa-la como sacrificio para despertar seu mestre, porém isso não é tudo!


Ora seu mandrião, é fácil lançar pacmans de fogo em um personagem que não podemos controlar. Espere só eu estar controlando o Garuda boy e veremos quem perde vida nesse jogo! (provavelmente eu do mesmo jeito, mas esse não é o ponto aqui).

Seja como for, esse não é o fim da história. Pelo contrário, nosso herói é resgatado por um velhinho sábio que no original é o deus Brahma (todas as piadas com cerveja que eu conhecia foram feitas na época que passou Shurato), mas na versão americana é só o Velhote. Tell me about downgrade, huh?


O que se segue então é um dos grandes momentos da tradução dos videogames. Quer dizer, eu acho que a culpa é da tradução, eu não acho que alguém possa estar drogado o suficiente para escrever o texto abaixo e viver para contar a história (e como não tem nenhum "in memoriam" nos créditos do jogo...)

VELHO: Despertai-vo, filhote. Existem problemas maiores do que as suas dorezinhas
SKY: Devo... deter Ashura... *levanta* Ele capturou a jovem feiticeira Arianna!
- Tu tem não o poder para salva-la! Ora, tu mal sobreviveu a uma única batalha!
- Você não sabe quem eu sou? Eu sou conhecido como Sky.
- Tu é do sangue do feiticeror [N.T. sim, ele diz "sorceror"] Sky-Lord. Hmmm.... filhote, tu pode ter uma chance de vitória afinal
- Eu irei humilda-lo, como fizeram meus ancestrais antes de mim!


VELHO: Ao custo da sua vida. Tu faltas a habilidade dele e o poder. Ele foi uma arma forjada nas chamas da batalha
SKY: Eu não falharei. Ashura deve ser detido!
VELHO: Então olhe os padrões, jovem, e lembre-se...


SKY: Irá esse padrão místico me ajudar a preservar minha busca?
VELHO: Mas é claro, filhote! Porque gazeteias por aqui? Vá!
SKY: Considere que eu já fui...
*Sky sai da sala alguns segundos depois*
VELHO (falando sozinho): Espero que seu seio carregue um coração estóico, filhote


Após esse dialogo de algumas palavras que fariam muito mais sentido no original japonês onde os personagens são deuses hindus, o jogo apresenta o mapa do mundo onde você pode escolher as fases ao estilo Mario 3. Curiosamente, eles nem deram um tema próprio ao mapa, o jogo ainda está tocando a música da última cena - que é o do tom genéricamente indiano que permeia o jogo.



Uma coisa que conta bastante a favor da divertibilidade do jogo é que, ao contrário do que era comum na época, ele não caga com fúria e trovão sua dificuldade. Na verdade o jogo é bastante generoso com vidas de uma forma até abusiva: colecionar 100 gemas dão uma vida, e é bastante fácil farmar gemas grandes que contam 10 de cada vez. Em alguma salas você pode entrar, pegar as gemas grandes, sair e entrar de novo que elas reabastecem - então faltar vidas não é realmente um problema nesse jogo.

Os checkpoints também são bastante justos, então esse jogo é perfeitamente terminavel. Algo um tanto quanto raro para sua época.

E sabe, acho que isso define bem esse jogo. Ele é competente e faz tudo certinho, mas não vai muito além disso também. Não é ruim, mas com muita boa vontade chega a um 8 e olhe lá. O único aspecto negativo que realmente me incomodou é que o alcance do seu ataque é bem ridiculo de curto. O que também não é a pior coisa do mundo, já que o jogo dá muitas ferramentas através da movimentação do personagem e das magias para contornar os inimigos. Meh, já vivi piores.