domingo, 20 de fevereiro de 2022

[#834][PC] FX FIGHTER [Maio de 1995]


E com esse quarto dia consecutivo de loucura Gameristica, encerramos nosso tour pelos porões sombrios dos jogos de luta para computador com um jogo um bocado menos obscuro que os demais. Estou falando do jogo de luta para computador que você quase ouviu falar - FX Fighter.

Esse jogo é relativamente famoso porque ele foi desenvolvido pela Argonaut, a mesma empresa que conseguiu a façanha de fazer um jogo 3D rodar no Super Nintendo com STARFOX. O que, mesmo com ajuda de um novo chip de processamento no cartucho, não é uma façanha pequena. Logo, todo mundo estava curioso para ver o que a Argonaut faria a seguir e sendo no meio dos anos 90 que estamos falando, é claro que seria um jogo de luta.

O puro suco do marketing dos anos 90

Nascia assim o projeto de FX Fighter, batizado justamente por causa do chip Super FX que permitia os gráficos 3D no SNES. O jogo chegou a ser apresentado pela Nintendo na CES do começo de 1995. O problema é que depois disso o desenvolvimento do Nintendo 64 atrasou, e para segurar as pontas a Nintendo decidiu portar KILLER INSTINCT para o Super Nintendo - um jogo que originalmente seria exclusivo do Nintendo 64.

A CES do começo de 1995, dias loucos aqueles

O que foi um problema para a Argonaut, porque a Nintendo não era burra de lançar dois jogos de luta para competir consigo mesma (esse tipo de coisa burra é a Sega que costuma fazer) e como KILLER INSTINCT é infinitamente mais bonito e já tinha um renome no arcade... FX Fighter subiu no telhado.


A Argonaut ficou com cara de tacho, olhando o jogo parcialmente pronto numa mão e a pilha de boletos a vencer na outra. Eles fizeram então o que qualquer um faria no seu lugar: sairam desesperados achando alguém que bancasse a distribuição do jogo até a metade do ano, que é até onde eles tinham dinheiro para viver e depois dependeriam das vendas do jogo para o SNES (que foi cancelado).

O que eles conseguiram, nesse prazo, foi que a GTE lançasse o jogo para PC e após algumas noites dormindo embaixo das proprias mesas para portar o jogo para PC a tempo, FX Fighter foi lançado na data prevista.


Então enquanto hoje pouca gente ouviu falar e menos gente ainda se importa com um jogo de luta 3D para computador, por muito pouco mesmo ele não foi a resposta da Nintendo a VIRTUA FIGHTER, ou seja o jogo que KILLER INSTINCT acabou sendo.


Além desse FX Fighter, outro jogo cancelado da Nintendo com a Argonaut eram Starfox 2 (que foi sacrificado porque o Miyamoto queria ele proprio fazer Starfox 64 e como dito, a Nintendo não compete com ela mesma), embora o jogo estivesse pronto o suficiente e acabou sendo lançado mais tarde... quer dizer, mais tarde MESMO, ele foi lançado em 2017, apenas 22 ANOS DEPOIS. E também tem Comanche que foi cancelado... que  não tem nada haver com a Argonaut e nem com essa história.

Mas bem, essa história de lado e isso sendo dito, e o joguetim, é bão? Melhor do que você esperaria, isso tem que ser dito. Porque ontem mesmo, em SAVAGE WARRIORS, eu disse que fazer um jogo de luta 3D no PC não era viavel porque exigiria configurações de máquina que provavelmente só a NASA teria. O que continuava sendo era verdade... exceto que a Argonaut tinha experiencia em, olha só que coisa interessante, fazer jogos 3D com hardwares limitados!

Porque por mais chocolante e chocoliciante que o Super Nintendo fosse... era um aparelhinho de 1990, não é como se você pudesse fazer computação quantica com ele. Então apesar de fazer jogos de luta 3D fosse bem pouco prático no PC, especificamente no caso da Argonaut eles tinham o know-how, a manjaria, o skindolele de fazer isso funcionar. Então, ta-da, eis o lendário, único, polivante e exclusivo jogo de luta 3D para computador de 1995!


TÁ, A HISTÓRIA É LEGAL E TUDO MAIS... MAS VOCÊ NÃO RESPONDEU SE O JOGO É BOM

Ah, é mesmo, o jogo né? Então... o jogo em si é bem mais ou menos na real, mas já chegaremos a isso.

A história aqui é que um alien chamado Rygil desafia os melhores lutadores do universo em um torneio, onde quem for capaz de derrotá-lo ganhará o planeta de Rygil (o fato da coisa parecer e funcionar como a Estrela da Morte de camelô a torna uma casa de veraneio bem popular). Só que aqueles que perderem terão seus planetas destruídos. E não é claro se os lutadores procuram entrar no torneio ou são recrutados a força, mas eu gosto de imaginar que alguém se dispos a sacrificar a Estonia para ter uma Estrela da Morte para chamar de sua.

Olha Rygil, tenho que dizer que não parece um premio tão incrível assim, mas admiro sua empolgação ao vender a ideia

No cast você tem um humano sem camisa, uma mulher roxa, uma amazona, um louva-a-deus, um monstro de lava, uma mulher-gato e um robô. Alguns desses conceitos parecem bem legais no papel, e às vezes o jogo faz uso desses conceitos para movimentos especiais que um lutador humano típico não poderia fazer. Cyben, o robô, por exemplo, pode girar seu tronco para atacar os oponentes, enquanto Venam, o louva-a-deus, mastiga seus inimigos.

Onde o jogo começa a dar errado é que o jogo usa dois botões para lidar com socos e chutes. Até aí normal, essa não seria a pior configuração para um jogo de luta 3D... exceto pelo fato de que a defesa é feita segurando o botão de soco. Sim, EXATAMENTE como ULTIMATE BODY BLOWS.


Quando você está copiando ULTIMATE BODY BLOWS, é de se parar e refletir suas escolhas de vida. Então, é, para defender você tem que segurar o botão de soco e apertar para trás, o que é uma das coisas mais contraintuitivas que você pode exigir em um jogo de luta.

Um outro aborrecimento é que, embora cada personagem tenha pelo menos um agarrão especial como em TEKKEN, nenhum deles tem o mesmo comando. Esses problemas significam que o jogo não é exatamente ruim, mas nunca é realmente confortável de se jogar. Os controles parecem meio ... frouxos, sei lá, é realmente desconfortável lidar com eles também. Às vezes eles demoram a responder, e frequentemente é dificil fazer os golpes saírem.


Fora isso, é um jogo de luta 3D bem regular que tem todos os golpes que você pode esperar do genero. Todo personagem é capaz de executar chutes com salto, pular em oponentes caídos e fazer rasteiras e se jogar de cabeça quando estão se levantando de serem derrubados. Entre os lutadores individuais, as listas de movimentos não são tão longas quanto as que você encontraria em VF ou Tekken, mas geralmente são aceitáveis. Há muito menos sequências de combos do que alguns jogos do gênero, com alguns personagens não tendo nenhum na verdade. Existem até alguns movimentos de disparar magias (ou projeteis nesse caso), algo raro nesse estilo de jogo, mas geralmente são tão fracos e lentos que não valem a pena usar. 

Enfim, tirando que cair pra fora do ringue é bem mais fácil (não sei se a arena é menor ou se os golps empurram mais, provavelmente ambos), esse jogo é basicamente um Tekken do homem pobre. E, claro, com a IA da máquina roubadaça, como é padrão em jogos de luta medíocres.


No geral, o não tem nenhuma falha catastrófica e mesmo suas falhas podem ser perdoadas já... bem, não é como se jogadores de PC tinham outra opção se quisessem um jogo de luta 3D nessa época.. Então enquanto é um pouco medíocre como jogo de luta, apenas o fato de funcionar tão bem é uma maravilha técnica que justifica sua existencia. 

Para a época e para o contexto, definitivamente valia a pena dar uma olhada se era esse tipo de jogo que você queria - embora provavelmente não fosse algo que prendesse a atenção por muito tempo.

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