Tenho que dizer que não tankei esse Hulk másculo estivador capa de romance para donas de casa
Existem três, e apenas três, certezas certas, liquidas e inabalaveis sobre a vida: a morte, impostos, e que se um jogo fez sucesso a Capcom vai tentar transformar ele em uma franquia anual. Não é por acaso que hoje existem 29 jogos do Mega Man, 22 jogos de Street Fighter e 25 jogos de Resident Evil - mesmo suas franquias menos consagradas, como Devil May Cry, já somam um total de seis jogos.
Então com o grande sucesso de X-MEN CHILDREN OF THE ATOM no finalzinho de 1994, a Capcom olhou para o seu relojão maneiro e disse "olha a hora, hora de lançar um patch de atualização desse jogo na forma de um novo jogo!". Porque, você sabe, é assim que a Capcom rola.
MAS ISSO É UMA COISA RUIM?
Hã, depende muito do caso, Jorge. Pagar o preço de um jogo novo por algo que hoje você baixaria um update de 2gb e nem notaria muita mudança definitivamente não era algo legal, mas não pode ser dito também que a Capcom efetivamente não sempre melhorava os seus jogos nessas atualizações.
Por exemplo, o jogo dos Homens-X Filhos do Átomo (e alguém não é filho seres atomicos?) é um jogo maravilhindo que eleva mecanica de DARKSTALKERS: The Night Warriors (que por sua vez já era uma atualização de SUPER STREET FIGHTER 2 TURBO, que por sua vez... isso vai longe, heim) a um novo patamar, mais dinamico, mais rápido, mais fluído... mas como dizem no teatro: "está bom, mas pode ir além".
Por exemplo, a habilidade de poder dar um porradão no oponente para ele sair voando pra cima e você poder pular e emendar um combo é muito legal... na teoria. Na prática o que acontecia é que o laucher... bem, launchava o cara e era dificil alcançar. Agora isso foi ajustado e é perfeitamente possível emendar aquele combão da massa.
Alias os próprios combos foram ao mesmo tempo simplificados, para que novatos possam pegar e se divertir com o jogo, e nerfados para que veteranos não vençam o jogo com um mega giga combo que não dá chance do adversário lutar de volta. Esse pequeno tipo de ajuste que eu digo que hoje se faria em um patch, mas que na época gerava essas continuações anuais da Capcom.
Então espere um jogo ainda MAIS bem animado que o dos X-Men, com lutadores ainda MAIS bem balanceados, os super especiais parecem MAIS super e tudo que você puder imaginar MAIS MELHOR DE POLIDO E REFINADO, que é o que você tem quando uma equipe talentosa passa um ano polindo um jogo que já era muito bom em primeiro lugar.
Então esse Marvel Super Heróis é o fino do que se conhecia de jogos de luta ne época, o creme do creme, o suprasumo da beligerancia, o brioche que vinha de de brinde na marmita...
TENHO QUE DIZER QUE OS SEUS ADJETIVOS ESTÃO CADA DIA MAIS ESTRANHOS
Obrigado... eu acho. Seja como for, todo mundo sabe que no fim do dia um jogo de luta vive ou morre pela qualidade dos seus personagens e é aqui que a parceria da Marvel com a Capcom funcionou tão bem para ambas já que lançar uma atualização do jogo com os mesmos personagens pareceria apenas... bem, uma atualização do jogo com os mesmos personagens, dã.
Outra opção é gastar uma barra de especial pra quebrar um combo, o que pode salvar uma partida contra um combeiro experiente
Felizmente para isso a Marvel tem um acervo praticamente infinito de personagens para serem usados, o que significa que a Capcom podia se dar ao luxo de manter apenas dois personagens do jogo anterior (os mais populares: Wolverine e Psylocke, populares por motivos bem óbvios cada um) e então ter todo um elenco novo.
Bem, talvez não novo noooovo porque Magneto e Juggernaut estavam no jogo anterior, mas eles eram chefes não selecionaveis no arcade e agora são gente como a gente. E especialmente no caso do Juggernaut, ele é abusivamente grande e rápido, então dá pra fazer um estrago puta satisfatório.
Só o Magneto caindo como um saco de batatas já vale esse jogo
De qualquer forma juntam-se ao elenco dos X-Men remanescentes figuras de peso na Marvel como Homem-Aranha, Capitão América, Homem de Ferro e Hulk - todos os quais completamente dispensam apresentações a esse ponto. Verdade que na época o Homem de Ferro era um bebum bilionário desconhecido para o grande público e o Capitão América era visto como um escoteiro sem graça pra quem não era dos quadrinhos... como as coisas mudaram, não?
Mas enquanto eu não preciso apresentar os personagens, é realmente dizer o quanto a animação deles e as dublagens ficaram realmente boas aos personagens. Principalmente pq agora os ícones da Marvel gritam seus golpes especiais enquanto dão o golpe (é até dificil imaginar um jogo de luta sem isso hoje) e fica do caralho quando a coisa entra e você acerta aquele basilhão de hits! PROTON CANNON!!! ...GAMMA CRUSH!!! ... MAXIMUM SPIDER!!! Todos esses são agora golpes especiais lendários e atemporais que qualquer gamer que valha o seu peso em sal conhece e ama. Sério cara, o Hulk salta e pega a porra de um meteoro pra amassar o cara, como não amar isso?
A dublagem desse jogo é tão iconica que a voz do Cal Dodd como Capitão América ficou por muitos anos sendo a versão definitiva do personagem, até a interpretação do Chris Evans algumas decadas depois.
E o que falar da animação então? Se liga nesses movimentos do Homem-Aranha e me diz se não é a coisa que mais parece com o Homem-Aranha que já vimos em um jogo até aquele momento:
Esses movimentos do Aranha todo curvado com chutes altos e tal são realmente baseados em como são desenhadas as lutas do personagem nos quadrinhos:
Então Marvel Super Heroes era o que todos queriamos em 1995: um jogo de luta grande e vistoso da Capcom, com golpes satisfatórios para lutarmos com nossos personagens favoritos em um videogame - personagens esses bem representados através de animação e dublagem, como eu já disse.
Bem, quer dizer, nossos personagens favoritos e esses dois caras, pq para compor o rooster do jogo a Marvel aproveitou a popularidade dos jogos para dar um boost em dois personagens recem criados por ela: Shuma-Gorath e Blackheart.
Shuma-Gorath é basicamente um dos Great Old Ones, porque se você acha mesmo que existe alguma obra no multiverso que não tem as abominações lovecraftianas em algum ponto, então você está muito enganado (no universo da Marvel, Lovecraft foi um cara que teve visões dessas abominações cósmicas mais antigas que o próprio universo e que existem em alguma dimensão por aí). Alias ele vai estar no próximo filme do Dr. Estranho (apropriadamente subtitulado "no multiverso da loucura"), apenas com outro nome pq a Disney não tem certeza se tem 100% dos direitos sobre o nome do personagem (que como tudo de Lovecraft, já foi usada em várias outras obras), então para vender parafernalhas eles decidiram não correr o risco.
Suponho que eu não precise dizer que ele foi "um pouco" nerfado aqui para caber em um jogo de luta, né? Na verdade não faz muito sentido ele estar nesse jogo, mas enfim...
O outro personagem adicionado a pedido da Marvel foi a coisa mais anos 90 que a Casa das Ideias criou em todos os tempos. Sim, muito mais do que o Venom e o Carnificina. Estou falando, é claro, de Blackheart e só com esse nome dá pra ver que eu não to brincando quando digo que esse é o personagem mais anos 90 de todos os tempos.
Se apenas o nome não lhe parece anos 90 o suficiente, segura essa manga: no universo Marvel não apenas o Inferno literalmente existe, como o próprio Lucifer é um personagem nesse universo. Ou seria, se ele não tivesse picado a mula muito tempo atrás e ninguém sabe que fim levou - o que se sabe, no entanto, é que os vários demonios deixados por ele lutam entre si para ver quem se torna o Rei do Inferno e Mephisto é um dos mais fodelões.
Porém nas guerras e jogos de poder contra seus colegas capirotos, Mephisto está sempre tentando criar novas e melhores armas e um dia ele teve a ideia de fazer um filho. Isso quer dizer que ele pegou uma succubus e meteu um boneco na coitada? Bem, não exatamente... isso não seria anos 90 o suficiente, seria? Claro que não.
O que ele fez foi ir até a Terra, numa região particularmente bocada de Nova York onde várias pessoas já tinham sido assassinadas ao longo de séculos e então usar a maldade e o ódio permeados naquele lugar para criar o seu Mephisto Jr. Então, sim, Blackheart é literalmente feito de ódio. Chupa essa uva, Sasuke.
Entre todos os poderes que você pode esperar de um vilão da Marvel (hiper inteligencia, superforça, velocidade, alterar sua forma fisica, disparar energia DUMAUUUU), ele tem uma habilidade em particular que Mephisto não tem: ele pode tomar a alma de uma pessoa a força, enquanto o capeta véio precisa que a pessoa faça um pacto para vender sua alma voluntariamente.
E, como você poderia imaginar a esse ponto, o plano de Mephisto de criar um ser DUMAUUU feito literalmente de MALDADE para ser sua arma deu ruim e volta e meia o Jr. tenta tomar o inferno do seu coroa - as vezes ele precisa até pedir ajuda para heróis da Terra, pq Mephisto pode não ser um cara bacana mas ao menos ele não é um maníaco que quer transformar tudo num infernão só. Show de bola campeão, pai do ano.
Ah, ele aparece no filme do Motoqueiro Fantasma mas acho que todos podemos concordar que esses filmes nunca existiram realmente. Alias pensando nisso, Shuma-Gorath e Blackheart tradicionalmente são inimigos do Dr. Estranho e do Motoqueiro Fantasma, mas enquanto os vilões estejam no jogo, os seus respectivos heróis correspondentes só viriam a aparecer em um videojogo decadas depois. Curioso.
Bem, seja como for, tá aí nosso cast único de rapazes (e uma moça) supimpas em um jogo supimpa, o que mais poderiamos querer de um jogo de luta? Hmm, que tal uma mecanica única? É, isso seria legal. Pois bem, então vou meter esse mertiolate: esse jogo é baseado na saga das Jóias do Infinito.
Bam. Assim, do nada. Aposto que você não esperava essa, heim?
Isso quer dizer que não apenas Thanos é o chefão final do jogo, como as seis jóias do infinito são uma ferramenta de gameplay importante aqui: você começa com uma, e conforme vai derrotando adversários no modo campanha vai ganhando outras. Mas o que elas fazem, em termos de jogo?
Bem, se você estiver com uma joia e fizer o comando meia lua pra trás e três socos, o personagem ativa o poder dela por alguns segundos. Eis o que cada jóia faz:
TEMPO: aumenta a velocidade do seu personagem
PODER: aumenta o dano do seu personagem
ESPAÇO: aumenta a defesa, e seus ataques não podem mais ser interrompidos
MENTE: enche a barra de especial
ALMA: recupera HP
REALIDADE: dispara projeteis aleatoriamente
Não apenas isso, mas cada personagem tem uma afinidade especial com uma das joias e tem um efeito bacana quando o personagem usa a joia correspondente. Quando o Hulk usa a jóia do Tempo, por exemplo, ele vira o Hulk cinza e fica com o dobro de velocidade que qualquer outro personagem usando a mesma jóia. Ou o Homem-Aranha usando a jóia do Poder cria clones de si mesmo para ajudar no porradeamento.
O mais legal, no entanto, é que as jóias não são fixas: você começa a luta com todas as que você já conquistou e o inimigo tem a dele (se ele tiver uma). Só que uma porrada bem dada e a jóia sai rolando pela tela, ficando no chão e aí quem pegar pegou. Então fica aquela putaria de jóia rolando pra todo lado, você querendo gastar as suas e tentando impedir que o adversário pegue pra ele (especialmente a jóia da Alma, tudo que você não quer em um jogo de luta é que o adversário recupere vida). Ou seja, é uma bagunça puta divertida.
Só que quando chega no Thanos acabou a putaria e ele não apenas rouba todas as jóias pra ele, como todas as jóias com ele tem efeitos especiais. Pior ainda: pra arrancar uma jóia dele só acertando um ataque especial, golpes normais não funcionam pra fazer derrubar jóias.
Falando em Thanos, outra grande novidade bem vinda aqui é que a dificuldade foi bem mais balanceada e esse é um dos raros casos que eu não senti que o arcade é um desgraçado feito para comer fichas como se não houvesse amanhã. Eu diria até que a dificuldade é... justa. Em um arcade, acredita nisso?!
Então esse MSH realmente tem um modo campanha divertido de se jogar, mesmo que os chefões finais Thanos e Dr. Destino sejam fogo na roupa... definitivamente para os padrões de arcade são totalmente acessíveis.
Bem, e agora, nesse exato momento, eu sei EXATAMENTE o que você está pensando: "uau, tudo isso que você falou parece maneiro e tudo mais, mas... sabe o que deixaria esse jogo REALMENTE legal, de verdade? Ter um personagem secreto completamente insano. Quer dizer, todos jogos da época estavam fazendo isso, seria meio lame MSH não ter um, certo?"
NÃO, TENHO QUE DIZER QUE NÃO PENSEI NENHUMA DESSAS COISAS REALMENTE...
Bem, não tema meu Jorgelitico amigo! Isso porque se o jogo dos X-Men pegou todo mundo de calça arriada ao colocar o Akuma de personagem secreto... bem, repetir o truque não teria graça, teria? Então esse jogo tem sim um personagem secreto: a Anita.
Sono toori, a mesmissima em toda creepice e poderes psiquicos.
Okay, essa foi uma escolha de cast incrivelmente bizarra... mas então, quando mais teriamos a chance na vida de ver o Thanos apanhando na maria-mole pra uma menininha psiquica creepy? Capcom 1x0 MCU, hora de correr atrás Disney!
Enfim, pra encerrar eu só queria dizer que esse jogo é fucking awesome. Os personagens, a música, os cenários ... cara, os cenários são espetaculares! O cenário do Magneto é numa estação espacial com o chão de vidro e a estação se aproximando do Sol, o da Psylock é sobre um trem em movimento Toquio e o do Blackheart é literalmente no inferno com pessoas sendo torturadas queimadas ao fundo... é maravilhoso. Digo, de olhar, as pessoas envolvidas não devem estar achando... Enfim, tudo nesse jogo é chocolatante. Foi o melhor jogo de luta lançado até aquele momento, elevando tudo que já era bom no jogo dos X-Men ao nível 11.
Eu lembro de quantas vezes eu matei aula pra jogar esse jogo no Playstation por 1 real a hora, e é bom ver que decadas depois ele envelheceu bastante bem.
