Sabe o que eu estava pensando? É relativamente normal haverem apreciadores de filmes ruins, filmes tão ruins, mas tão ruins que são um espetáulo divertido de se assistir devido a espetacularidade da sua ruindade. Estou falando de filmes nível The Room, The Happening ou Resident Evil: Welcome to Raccon City que tal qual um acidente particularmente gráfico na beira da estrada, não tem como desviar o olhar de sua desgraça hipnótica.
Em videogames isso é mais raro, quando não inexistente. Não é muito dificil entender o porque: enquanto um filme ruim ainda é um filme no fim do dia - ou seja, não importa o quão ruim ele seja tudo que você precisa fazer é sentar e assistir - um jogo ruim é essencialmente um brinquedo quebrado. Um jogo necessita que você interaja com ele, que use seus sistemas para conseguir progredir e usufruir daquela experiencia... e se os sistemas são fundamentalmente quebrados essa tarefa se torna bastante exaustiva.
Por exemplo, enquanto eu posso rir do level design desnecessariamente obtuso e cruel de RAYMAN, ao ponto que não tem como não imaginar os criadores do jogo rindo como o Dr. Evil ao ver a fase que eles criaram... rejogar a mesma sessão do jogo pela vigésima oitava vez é bem menos engraçado.
Achar um bom jogo ruim que seja genuinamente divertido de se jogar devido a sua ruindade e não enlouqueça o jogador a níveis Cthullunianos é uma tarefa bem mais dificil do que suas contrapartes do cinema, mas aqui e ali, quando as estrelas estão certas, acaba se encontrando uma dessas perolas raras de bons jogos ruins.
E é nessa categoria que Battle Monsters se encontra.
Battle Monsters frequentemente habita as listas de piores jogos de luta do Sega Saturn, ou algumas vezes, de piores jogos de luta de todos os tempos e não é realmente dificil ver o porque: esse é mais um dos jogos de luta que tentou entrar na moda de "vou fazer um Mortal Kombat de baixo orçamento pra ver se cola" e quando você se coloca na mesma prateleira que perolas como WAY OF THE WARRIOR ou KASUMI NINJA... não tem como evitar o calafrio na espinha.
Vendo o jogo rodar o calafrio se torna no Chaves na casa da Bruxa do 71:
Isso porque, e eu não estou de sacanagem com vocês, os sprites mais mal recortados da história dos videogames. Sério, olha só isso:
Olha essas imagens recortadas cheia de pontas sobrando, com certeza alguém tinha um "sobrinho que mexe com computadores" e um moleque de 12 anos cortou as fotos no paint em troca de nudes da Cindy Laupert e um chocolate Surpresa da Nestle.
Mas por mais porca que sejam as digitalizações desse jogo, esse problema é quase imperceptível devido ao simples fato que a camera não fica parada tempo suficiente pra você ver os problemas desse jogo. Com efeito, entre ir no banheiro vomitar pq esse zoom desgraçado te deu tontura e voltar, os sprites mal recortados são a menor das suas preocupações.
E como dá pra ver pela imagem acima, enquanto seus olhos lacrimejam e imploram misericordia, Battle Monsters é um DAQUELES jogos onde a sensação de peso não faz nenhum sentido. Os personagens se movem no chão a 0,00014km/h de modo que leva quatro eras glaciais para chegar no seu oponente, então a solução lógica é ir pulando - só que ao pular você descobre (além desse zoom in zooom out desgraçado) que os personagens estão na Lua ou alguma coisa porque eles voam com a fúria de mil filmes de wire fu!
Olha só isso! Olha só isso!
Iupiiiiiiii! Aero Frankenstein, aí vamos nós! Porque é claro, pq não tentar copiar a mecanica de super pulos de
X-MEN CHILDREN OF THE ATOM no seu jogo que tenta copiar Mortal Kombat? Faz todo sentido do mundo!
Como dá pra ver, esse jogo marca todos os checkboxes que alguém poderia esperar de um jogo de luta ruim. O que ele é, Battle Monsters é um jogo de luta ruim... porém ele é tão tão ruim, tão fabulosamente ruim que chega a ser genuinamente divertido!
Quer dizer, sério, olha só essa seleção de personagens!
Pra começar nós abrimos a seleção de personagens com um Shao Khan de baixo orçamento chamado Makarayudo, que nome fanstástico para nosso amigo caralhudo! Ao lado do caralhudo se juntam um monstro feito em ... cara, eu não faço ideia do que é isso, suponho que deva representar um monstro de bosta sei lá eu... e eu acho que pode ser massinha de modelar em stop motion, é dificil dizer... que se chama Geléia de Morango e então os gemeos palhaços /mimicos que lutam como um personagem só Chilli e Pimenta - o que é uma ideia original para um jogo de luta, tenho que dar isso a eles.
Então nossa seleção de personagens tá, óh, uma diliça... mas calma que melhora!
Heart-Heat-Harn é um cara que não apenas luta segurando sua cabeça, como arremessa ela como projetil durante as lutas. Quando eu vejo esse tipo de coisa, eu sempre me pergunto o que ele vai fazer se alguém apenas pegar a cabeça dele e sair correndo, não parece um bom movimento de combate.
La Pa é uma dançarina, e o que isso tem haver com qualquer coisa nesse jogo? Bem, é a única mulher que eles conseguiram convencer a participar dessa tosqueira e ela tinha uma roupa de ballet da apresentação da escola em casa que queria usar... então vai, né?
Temos ainda Ki-Ba, que é o primo bombado do Spinal e eu ainda não entendi como essas coisas são feitas pq os gráficos são bem ruins, mas estou seriamente inclinado pelo claymation.
Kuja é possivelmente meu personagem favorito em um jogo de luta de todos os tempos, não apenas porque sua fantasia de homem-passaro é ridicula mas principalmente porque ele claramente está sem folego usando essa mascara e colocar um cara com dificuldades de respirar no jogo é o tipo de tosqueira que queremos nos nossos jogos ruins!
Deathmask é o monstro de Frankenstein genérico e por isso alguém colocou uma máscara de Halloween na roupa que veio de casa usando, e os gráficos desse jogo não são claros o suficiente pra que qualquer um consiga entender o que caralhas é o Kap-Ka.
Naga é a medusa do elenco e eu não ponho minha mão no fogo que não é um cara com as pernas de fora, Albiole é... é alguma coisa, isso com certeza é, provavelmente uma hag eu sei lá e Shion é o Liu Kang genérico.
Então, colocando simplesmente, esse é um dos elencos mais deliciosamente toscos e disfuncionais que eu já vi em um jogo de luta. Quer dizer, supostamente o tema do jogo são monstros (vide o nome) e de fato alguns monstros clássicos esperados estão no CD como um monstro de Frankenstein, um monstrão feito de bosta e um Medusa... mas aí claramente temos personagens que foram feitos no "ah, já que tem essa roupa manda ver igual" como uma dançarina e o Shao Khan genérico.
|
Esses stage fatality tem sons estupidamente grotescos, o que torna a coisa muito mais divertida |
A coisa foi feita tão no "foda-se, taca qualquer merda" que os personagens sequer tem história na verdade. O critério foi literalmente "mete uma roupa e vamo que vamo", isso demonstra o nível de interesse na produção desse jogo.
Mas aí temos um jogo com movimentação bizarra, camera tenebrosa e uma seleção de personagens bolada após uma noite de Burguer King e pizza de Cheetos. Ou seja, é um jogo ruim de carteirinha... não fosse o fato que o jogo não é realmente ruim enquanto jogo.
A jogabilidade é um problema, verdade, se você procura por complexidade: não importa como você olhe para este, o jogo quase sempre se transforma em um exercício de apertar botões tentando "fazer combos" - meio que lembra jogar com o Eddy Gordo em Tekken 3, você apenas aperta botões e espera pelo melhor.
Pessoalmente, devo dizer que a natureza de esmagar botões desse jogo funciona bem ao que ele se propõe a fazer. Espancar outros monstros é estranhamente satisfatório apenas socar os inimigos como se não houvesse amanhã. Somado a isso aos golpes ridiculos de cada personagem (como os gemeos mimicos usando um ao outro como projetil, ou a medusa se transformando em cobras), e temos um jogo que é serviçavel. Não é algo que se diria "bom", mas é funcional o suficiente.
Claro, se você está procurando um jogo de luta tática no estilo
THE KING OF FIGHTER'S 95 você vai se desapontar, mas então eu não diria que esse jogo é catastrófico enquanto gameplay.
Meu sentimento geral deste jogo é que esse jogo parece muito pior do que ele é realmente. Não que ele não tenha vários elementos de jogo ruim nele e não é de outro mundo julgar esse jogo como horrendo, mas jogando a coisa não é tão feia quanto parece. É um jogo de luta clássico? Não. É uma estranheza divertida que você pode dar algumas risadas das bizarrices dele? Definitivamente.
Na época, Battle Monsters vendeu bem o suficiente - justamente porque sua tosqueira atraia atenção - para justificar uma sequência no PS1 chamada “Killing Zone”. Não vou visitar Killing Zone hoje, mas posso afirmar que esse sim é um jogo realmente terrível.
Apesar das vendas razoaveis, entretanto, ele foi detonado nas reviews da época de uma forma um tanto injusta, embora falho, esse jogo definitivamente tem algum charme e alguns personagens criativos, com certeza. É bastante okay para jogar sem ter ideia do que está fazendo e ver que bizonhice acontece.
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 018
MATÉRIA NA GAMERS
Edição 005