O período de troca de geração entre os consoles era marcado por muitas coisas, mas uma das mais pitorescas da época era que as revistas recebiam muitas cartas pedindo para continuar falando dos sistemas que estavam sendo aposentados (nesse caso no começo de 1996, o Super Nintendo e o Mega Drive)... mas não tinha muito mais o que falar sobre eles realmente.
O SNES até tinha um pouco de lenha pra queimar pq o Nintendo 64 ainda não havia chegado, mas o Mega Drive amargava um fim melancólico. Mas como as cartas continuavam chegando, o que as revistas faziam então era desencavar jogos antigos e republica-los só pra fazer volume... e foi assim que um jogo de meados de 1993 apareceu na SGP quase três anos depois do seu lançado. E, diga-se de passagem, dá pra notar que é um jogo de meados de 1993. Mas vamos começar do começo...
Ao longo dos anos eu já gastei muita energia falando dos meus sentimentos a respeito dos eurojanks do começo dos anos 90, em especial jogos que tem AMIGA tatuado na testa e Tinhead é tão eurojank quanto eurojank pode ser.
Porém, isso sendo dito, Tinhead é um dos menos piores dessa subcategoria nefasta e ele genuínamente tenta o melhor das suas habilidades para lidar com os problemas inerentes a esses jogos.
Isso quer dizer que os itens que você pega fazem algum sentido, existe uma lógica no level design (as plataformas não são apenas coladas aleatoriamente na tela), o jogo não se move a 8 bilhões de quilometros por hora, os inimigos não spawnam infinitamenta (na verdade eles sequer respawnam, você pode realmente limpar a fase para explorar), o jogo não faz tudo avançar pra cima do seu boneco desesperadamente como se estivesse sendo pago pra isso...
... ou seja, a imensa maioria das coisas que te dá vontade de mandar aquele bom e velho AHVAPAPUTAQUEOPARIU nos jogos de plataforma europeus não está aqui. Com efeito, Tinhead é quase um jogo bom, por parível que incressa.
O jogo até tem a cortesia de te dar passwords a cada duas fases, o que para um jogo de plataforma de mais de duas horas é de uma decencia humana que certamente causou furor na Europa, dado que eles não fazem esse tipo de cortesia em seus jogos.
As fases são grandes e não lineares nos quais você viajará para frente, para trás, para cima e para baixo em busca de uma estrela dourada, que geralmente está escondida em um canto do nível, exigindo uma quantidade razoável de pesquisa para encontrar (mas como eu disse, dá pra limpar os inimigos da fase, então não é tão terrível quanto poderia ser).
Ao obter a estrela, você deve encontrar o teletransportador de saída, que também tende a ficar escondido em uma determinada área da fase - o que pode ser um pouco frustrante se você conseguir encontrar a saída, mas não encontrar a estrela, ou vice-versa. No entanto, normalmente é simples o suficiente, então enquanto não é um sistema que eu ame, eu posso viver com isso.
Então, como eu disse, Tinhead é um jogo de plataforma europeu que é quase bom - definitivamente o mais perto que qualquer jogo desse genero maldito já chegou - mas... vamos falar então sobre a parte do "quase".
O maior problema desse jogo é sua jogabilidade, especificamente os pulos - o que, em um jogo de plataforma é um grande problema. Tinhead pode saltar bem alto, mas no meio do salto ele cai como chumbo, como se a gravidade tivesse subitamente sido ativada com a fúria de mil sóis amarelos embaixo dele. Sério, isso é muito esquisito, todo pulo que você tenta dar parece que o buraco do nada te suga na direção dele e isso é muito desagradavel de acontecer em um jogo que consiste basicamente disso.
Então enquanto os pulos fazem você ficar desgraçado da cabeça, o ataque dele... também não vai fazer você ficar exatamente feliz. Tinhead dispara projéteis em inimigos que parecem pequenas bolas de pinball, e ele pode fazê-lo de três maneiras diferentes: atirando em linha reta, diagonalmente para cima e em um arco que parece que ele tá mijando.
Os inimigos podem ser destruídos com qualquer coisa entre um e cinco hits, e na maior parte do tempo funciona bem o suficiente. É uma mecanica bem simples o gimmick desse jogo ser mudar o angulo que você atira, mas definitivamente funciona e isso dá um feel único ao jogo.
O que é frustrante nisso está na quantidade de projéteis que você pode disparar de uma só vez. Você começa podendo atirar uma bolinha de cada vez (o que obviamente não é suficiente), mas pode pegar itens para upgradear para até 5 tiros em sequencia. O problema é que cada vez que você toma um hit, perde um ponto de vida e seu tiro diminui em um também, então você é punido duas vezes - mas não recupera os dois juntos, itens de vida e de aumento de disparo são coisas separadas.
Isso é realmente porque é muito dificil matar qualquer coisa sem tomar dano se você tem apenas um ou dois disparos (você não mata os inimigos rápido o suficiente), então o jogo cria uma espiral da morte que você é punido duas vezes por tomar dano e o jogo fica mais dificil por causa disso, tendendo a fazer você tomar mais dano ainda e assim ladeira abaixo.
Apenas como curiosidade, fiel a suas raízes eurojank tem também uma enorme abundância de tralhana tela que não servem para nada além de aumentar a pontuação, o que não lhe dá nenhuma vida extra ou qualquer coisa útil - a paixão que esses devs europeus tem com pontuação inútil nos seus jogos não é brincadeira...
Ah, e também de vez em quando, você também coleta itens especiais que podem equipá-lo com coisas como um jetpack, um helicoptero ou... um pogobol em forma de urso... mas não adianta muito pq você se move MUITO rápido com esses itens e tende a esbarrar em inimigos muito facilmente dessa maneira, fazendo com que você perca esse power up em cerca de 5 segundos.
Eu sei que tudo isso soa extremamente negativo, mas Tinhead é um jogo apenas medíocre e não dolorosamente ruim - o que é um enorme feito para um jogo desse tipo. Tem problemas notáveis nos seus pulos e o design do ataque é falho em sua essencia, mas ainda sim é jogável e não é a pior experiencia que alguém poderia ter. Acredite, eu já joguei jogos o suficiente dessa laia pra saber.
Quem sabe, talvez, se Tinhead tivesse algumas sequências, ele poderia ter encontrado seu passo e se tornado um jogo de plataforma genuinamente bom. Se até o fucking Bubsy teve continuações, não vejo por que Tinhead não poderia ter tido.
MATÉRIA NA SUPER GAME POWER
Edição 024 (Março de 1996)