domingo, 12 de julho de 2020

[ANTIGA GAMERS 001] CASTLEVANIA BLOODLINES (Mega Drive, 1994) [#431]


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E no principio, havia um contrato de exclusividade da Konami com a Nintendo. Este havia sido um contrato muito bom para ambas as partes, pois fora criado numa época em que o Nintendinho não tinha concorrencia (o Master System nem é gente) e a Nintendo garantiu que continuasse assim. Do outro lado, a Konami tinha acesso irrestrito e preferencia na publicação do maior (e único) mercado de games do mundo. 

No final de 1992 esse contrato de exclusividadeDe qualquer forma, de modo que a empresa japonesa estava finalmente liberada para criar jogos para o Mega Drive. Sendo este um fato indisputável da vida, então a Konami fez a pergunta que cabia a ser feita perante o trabalho de aprender a programar para o Mega Drive, criar uma cadeia de distribuição com as lojas, tomar dezenas de providencias legais e todo um paranaue tecnico que não é exatamente simples de se fazer, ainda mais em um mundo antes da internet:




A tão famosa "disputa entre Sega e Nintendo, a guerra dos 16 bits" que a internet adora alardear, não foi uma guerra realmente. Foi um espancamento. O Super Nintendo foi lançado dois anos depois do Mega Drive, e ainda sim vendeu praticamente o dobro de consoles. Em cinco anos de vida, o SNES vendeu aproximadamente 50 milhões de unidades. Em sete anos de vida, o Mega Drive não chegou a 30.

Então definitivamente não foi uma briga, foi a Nia Jax lutando contra a Alexa Bliss em um ringue sem nenhum truque.

"A guerra dos 16 bits", colorizado
Por isso, não é realmente nenhuma grande surpresa que a Konami não estivesse tão ávida para entrar nesse filão da Sega tanto quanto sua maior rival, a Capcom, também não estava. Quando finalmente pode fazer jogos para o Mega Drive, ela se limitou a recortar alguns trechos de jogos programados para o Super Nintendo e lançar de qualquer jeito.

TEENAGE MUTANTE NINJA TURTLES: The Hyperstone Heist  do Mega Drive é um reskin bem feito nas coxas de TEENAGE MUTANT NINJA TURTLES IV: TURTLES IN TIMETINY TOON ADVENTURES: BUSTER'S HIDDEN TREASURE é o primo preguiçoso do TINY TOON ADVENTURES: BUSTER BUSTS LOOSE e quanto menos for dito sobre a patética versão de SUNSETRIDERS para Mega Drive quando comparada com a de SNES, melhor. A Konami obviamente não tinha nenhum amor pela Sega, mas então vendo como eram os jogos do Sonic, não dá pra dizer que nema Sega amava a própria Sega.

Isso sendo dito, eventualmente a Konami decidiu mergulhar o pé nessa água porque , hey, ganhar dinheiro com o 1/3 do mercado que não era amado pelos pais ainda era melhor do que ganhar dinheiro nenhum, certo?

Dessa tentativa despretenciosa e da qual a Konami não esperava nada realmente, saiu... apenas um dos melhores jogos de plataforma jamais feitos até hoje: ROCKET KNIGHT ADVENTURES. Vendo que seu joguinho que era para ser apenas um cashgrab fácil se tornou uma masterclass de jogos de plataforma, vendeu horrores, teve capas de revistas e o diabo A4 em papel sulfite, a Konami então reagiu da única forma que qualquer um de nós reagiria diante dessa situação:


A Konami fez então algumas contas simples: se eles tinham tido aquele sucesso todo com uma franquia recem inventada, o quanto dinheiro rápido eles fariam se dessem para aquela equipe uma franquia pelos fãs e a muito esperada em consoles da Sega?

Nascia assim o único jogo de Castlevania exclusivo já produzido para um console da Sega até hoje: Casttlevania Bloodlines (ou apenas Vampire Hunter no Japão).

Agora, nossa história começa com aquela que, de longe, é uma das histórias de jogo de plataforma mais interessantes já feitas para os 16 bits e uma das melhores de toda a franquia até esta data. Veja, a coisa de Castlevania é que Dracula renasce no nosso mundo a cada cem anos, então o membro da família Belmont daquela geração deve chicotear o lafranhudo de volta até o inferno. É tipo Jojo, só que com menos homoeroticidade.


Hmm, não tanta menos homoeroticidade assim também.

De qualquer forma, a ultima ressurreição de Dracula havia sido em 1897, quando então um descendente dos Belmont chamado Quincy Morris cumpriu o legado da família e meteu estaca no vampirão-mor. A noticia boa é que funcionou, e Dracula não voltaria a ser ouvido falar até o ano de 1997 agora - curiosamente, o ano que a Skynet foi criada. Coincidencia? A notícia menos boa é que Quincy perdeu sua vida na batalha, morrendo a tradicional morte heróica dos Belmont.

Certo, mas o jogo nem começou e o Dracula já rodou? Que tipo de patifaria é essa? Calma que agora as coisas ficam interessantes.

Cerca de vinte anos após isso, uma bruxa amadora que estava tentando atingir a vida eterna fez Mesbla, e acidentalmente ressucitou ninguém menos do que Elizabeth Bartley (ou Bathory, dependendo da tradução).



A FAMOSA QUEM?

A caso da condessa Elizabeth Báthory foi uma nobre hungara na idade média, e dizem as lendas que era exatamente o que você poderia esperar de uma nobre da idade média. Os atos de crueldade absurda atribuidos a ela serviram de inspiração para inúmeras histórias - especialmente no séculos 18 e 19, quando os contos de vampiros estavam ganhando grande popularidade.

A lenda mais mais comum a respeito da Condessa Bathory era que a condessa se banhava em sangue de camponesas virgens para manter a beleza ou a juventude. Essa parte da lenda era tão popular na época que foi incorporada ao mito dos vampiros: originalmente os vampiros apenas matavam pessoas, a coisa de precisar beber o sangue para se manter jovem é uma incorporação das lendas a respeito da Condessa Bathory.

Na capa japonea do jogo, Eric Lecarde parece mais bishounen e menos o Dolph Lundgreen depois do derrame

Isso é como as coisas eram no mundo real, no universo de Castlevania a Condessa Bathory era uma nobre que foi julgada e queimada viva por vampirismo. No que seus julgadores estavam corretos, ela era realmente uma vampira. Não tão poderosa quanto Dracula, mas uma vampira mesmo assim.

Então, é, eu diria que de todas os seres do mundo que você pode ACIDENTALMENTE ressuscitar, essa seria uma das piores. Algumas pessoas, como William Perkin, queria desenvolver um remédio contra a malária e acidentalmente descobriu como fazer a cor roxa. Outras acidentalmente ressuscitam uma das nobres mais cruéis da Europa medieval.

Pois bem, tão logo Vanessa da Mata voltou a esse mundo, a primeira coisa que ela quis saber era o que tava rolando de bom e quando é que o tio dela (sim, aqui ela é sobrinha do Dracula just because) ia pintar de novo.



Suponho que não é necessário dizer que você não gostaria de ser a pessoa que deu a notícia para ela que o Dracula tinha acabado de rodar, e a próxima vinda dele seria em aproximadamente 80 anos. Digamos apenas que... ela não aceitou bem essa notícia, ok?

Betinha queria era altas pustarias, sangue e ranger de dentes porque a mulher é ruim como o cão mascando brigadeiro. E essas não são exatamente as características de quem esperaria de boa 80 anos para o tio Vlad pintar de novo, não é?

Nas horas vagas, Lecarde faz um bico como diarista limpando o teto 

Não, é claro que não. Felizmente para ela (e infelizmente para a raça humana), Betinha também era uma bruxa e sabia alguns truques para acelerar o processo. Havia um ritual para ressucitar o Draculóide que não envolvia esperar nada, porém era um ritual complexo e necessitava de uma grande, enorme, colossal quantidade de sacrificio humano.

Quanto sacrificio, você diz?



Bem, ela fez seu caminho até as altas cortes europeias do começo do século XX, onde fez contatos e começou a influenciar líderes, manipular tensões geopolíticas até o ponto que em 1917 ela mandou assassinar o arquiduque hungaro Franz Ferdinand e esse foi o estopim que faltava para acender a treta que já estava cozinhando a tempo, mais conhecida hoje como a Primeira Guerra Mundial. Era essa a quantidade de sacrificio que ela precisava para ressucitar o Drácula antes da hora.

Sim, a Primeira Guerra na verdade foi um plano para ressucitar o Drácula, e agora você sabe. E saber é metade da batalha. Isso sendo dito, não haveria jogo se ninguém tentasse impedi-la, certo? Quer dizer, existem vários jogos sobre a primeira guerra, mas acho que você entendeu o que eu estou falando. De qualquer jeito, meu ponto é: entram na história os caçadores de vampiros dispostos a chulapar a moça undead antes que ela consiga concluir o seu intento.

Terão eles sucesso? Obvio que não, é claro que eles vão ter que derrotar ela e então derrotar o Drácula recem ressucitado, porque afinal de contas isso é Castlevania e não Dostoyevski. Ainda sim, é um esforço admiravel da Konami colocar tanto esforço na história de uma franquia que basicamente era “o mal despertou, o derrote”, não acham?

Quebrar estátuas históricas que devem valer mais que o PIB de Tangamandápio apenas com a fúria de seus punhos IS TIGHT

Um dos caçadores de vampiro que se habilitam a missão é ninguém menos que John Morris, filho do mesmo Quincy Morris que matou Drácula em 1897 ao custo de sua vida. O que é motivação mais que suficiente para ele assumir o chamado, porque essa coisa de deixar apenas para o neto dele de 1997 salvar o mundo seria totalmente uma coisa super weak dude e aposto que ele seria motivo de piada na convenção centenária dos antepassados Belmont mortos. Esses caras adoram um bullying tanto quanto adoram pernas de fora, eu te digo. Sua arma é a tradicional arma da familia Belmont, o chicote Vampire Killer (não afeitos a floreios com nomes esses Belmont eram, eu te digo)

O outro personagem jogavel é o melhor amigo de John, o caçador de vampiros espanhol Eric Lecarde. Ele entra nessa aventura para ajudar o amigo, claro, porém no entanto ele não contou a John a verdadeira razão por trás da sua cruzada: a condessa transformou o amor de sua vida, Gwendolyn, em uma vampira - a qual ele teve que dar cabo com as próprias mãos *efeito sonoro dramático de novela mexicana aqui.

Me dê sua força Pegasuuuuuuuuus


Sua arma é a lança deixade de presente pelo próprio filho meio humano do Dracula para combater o mal do pai: a Alucard Spear.

Agora que você já sabe O QUE Castelo do Vania: Linhas de Sangue, veremos COMO ele é. Como eu disse, esse jogo foi feito pela Konami logo de pois do espetacular Rocket Knight Adventures. Então não é absurdo esperar que o jogo entregue resultados auditivos e visuais impressionantes, e é o que esse jogo faz. Bloodlines é um jogo realmente bonito para o Mega Drive, e volta e meia puxa um outro efeito gráfico como zoom e rotação que teoricamente o Mega Drive não deveria ser capaz de fazer. Como eles fizeram esses efeitos (ou, mais precisamente, truques visuais que dão a ilusão desse efeito) é alguma coisa que não pode ser descrito como nada senão magia negra e sacrifício de fetos em honra e glória a Pazuzu.




O jogo é quase tão bonito quanto Super Castlevania IV do Super Nintendo, com duas diferenças marcantes: a primeira é que a paleta de cores aqui é mais vibrante e quente, o que é realmente impressionante dado que o Mega Drive conhece menos cores e é capaz de exibir menos cores que o SNES. A segunda grande vantagem aqui é que esse é o primeiro Castlevania ever feito para rodar exclusivamente em um console que não era da Nintendo.

Isso significa que a Konami pela primeira vez não precisava fazer um Castlevania que não fosse family friendly, e de fato esse é o jogo mais sangrento da série. O que por si só não é uma qualidade redentora, mas que em Castlevania casa perfeitamente com a proposta do jogo.




Estou andando feliz e contente, larilarilala, quando HOLY FUCK UM CORPO ESTROPIADO TENDO SEUS PEDAÇOS SENDO COMMIDO POR CORVOS! That’s brutal!

Novamente, em uma série que é basicamente sobre chicotear o tinhoso de volta para o inferno, parece temáticamente adequado ter uma tela de título que pingue sangue. Então, é, tenho que elogiar o que foi feito para a versão de Mega Drive. A outra coisa que chama muito atenção é, acreditem ou não, a trilha sonora do jogo. Eu frequentemente digo que o chip de som do Mega Drive é composto por dois daqueles celulares do Paraguai de brinquedo que dizem “howmanytake i love you” colados com durepox. Não sou apenas eu estou ciente desse problema, como a Konami também sabia disso e trabalhou com os pontos fracos do Mega Drive.

Isso quer dizer que a trilha sonora do jogo foi composta especificamente para esse hardware, evitando as notas que soavam como um prego quente arranhando o seu ouvido (o que, no caso do Mega Drive, são quase todas elas). O resultado é uma trilha sonora que roda macia e agradavel, algo não tão comum assim no console da Sega quanto a sanidade recomenda.

O efeito da tela de fundo rotacionando enquanto você dá a volta na torre é letal, mas até hoje eu não entendi porque tem múmias na Torre de Pisa.


No campo de gameplay, a abordagem mais interessante pela Konami adotada nesse jogo - e que depois disso se tornou o padrão na série - é que eles tornaram matar os inimigos a coisa mais satisfatória possível. Vale lembrar que Castlevania é uma série bem antiga, nasceu nos anos 80 no Nintendinho, o que significa que o core do seu gameplay é bastante simples: pular e dar chicotada. Não tem muito que você possa fazer mexendo no pulo sem que Castlevania não pareça um jogo de Castlevania. O que eles podem fazer então é trabalhar com o ataque, e foi exatamente o que eles fizeram.

Quando você chicoteia um inimigo ou empala ele com uma lança, ele não simplesmente pisca e desaparece da tela, não. Ele explode em sangue e fogo com um efeito sonoro incrivelmente satisfatório, você sente como se estivesse realizando um pequeno exorcismo e mandando este filhote de cruzcredo diretamente para o inferno sentar no colo do capeta! Fuck yeah, é disso que eu estou falando baby!

 SANGUE DE JESUS TEM PODER, QUEIMA ELE SENHOR!


 A equipe da Konami tomou todos os cuidados não apenas para se acomodar aos problemas do Mega Drive, mas também para resolver os problemas do jogo anterior. Em Super Castlevania IV, do Super Nintendo, eles cometeram o erro que o chicote padrão é a melhor arma do jogo então não existe nenhum motivo para usar as armas secundárias como água benta, cruzes ou machados - talvez a característica mais marcante da série. Aqui isso não ocorre, já que as armas secundárias ganharam um revamp legal: agora cada arma secundária tem três formas, aumentando um estágio a cada vez que você pegar o mesmo item. Assim ter a arma adequada ao que a fase exige volta a ser um aspecto importante do jogo - como Deus queria que fosse quando criou os ornitorrincos.


Esse é bem o feeling que esse jogo passa: ele tenta ser a melhor versão que podia ser feita de Castlevania do Nintendinho, só que em um console mais moderno. O que funciona para o bem, como os exemplos acima, mas também para o mal de tentar ser uma franquia que já em 1994 não estava tão longe assim de completar dez anos. Isso inclui mecanicas que já eram ultrapassadas aquela época, como sua movimentação rigida. Você se move sempre na mesma velocidade, não pode alterar o curso de seus saltos no ar e é empurrado para trás com o menor toque. Como sempre foi no Nintendinho, só que agora no Mega Drive.

Eu não acho que essa cena atenda muitas medidas sanitárias
O jogo tem dois personagens, e Eric e John parecem jogar diferente já que usam armas diferentes (o primeiro usa lança e o segundo o chicote tradicional da franquia), mas a verdade é que a diferença é bem pouca na prática. Eric tem a vantagem de poder atacar para cima quando está parado e isso torna o jogo mais fácil, mas meio que é só até onde vai. Teoricamente existem trechos que só podem ser acessados se balançando no chicote e outros que só podem ser alcançados usando a lança para fazer um salto em altura, mas a verdade é que os caminhos “diferentes” sempre dão no mesmo lugar, então não importa muito realmente.

Independentemente de qual personagem você escolher, no entanto, você ainda estará preso a senso de moda terrível. John Morris não apenas usa suspensórios com jeans, mas também os usa por cima do colete. Foi a primeira vez que você se vestiu sozinho, cara?

Você pode correr, John Morris, mas não pode escapar de suas terríveis escolhas de moda
Eu não sou exatamente o maior fã de Castlevania ever, nem de perto como eu sou de Mega Man por exemplo (se mais nada porque por algum motivo as locadoras da minha região nunca tiveram esses jogos para alugar), mas não creio que precise ser um para apreciar um jogo redondinho que faz tudo certo. E, enquanto ele não tenta reinventar a roda, eu não acho que seja necessário já que foi o primeiro de sua franquia a aportar em um console da Sega. Se fosse o quinto ou sexto jogo da série em um console que já viu vários desses a história seria outra, mas como único de seu tipo acaba sendo exatamente o que o exorcista ordenou.

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ANTIGA GAMERS EDIÇÃO 001



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EDIÇÃO 056